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2.3. Análise Emergética

2.3.2. Utilização da Análise Emergética

A Análise Emergética tem sido utilizada em diferentes países, considerando diferentes cadeias e produtos, para avaliar e comparar diferentes modelos de produção agrícola, em especial para avaliar a sustentabilidade destes sistemas. Comar (2000) avaliou a produção de hortaliças em Botucatu e, utilizando os índices de metodologia emergética, comparou os impactos de dois métodos de cultivo, tradicional e orgânico.

Lefroy e Rydberg (2003) utilizaram a Análise Emergética para comparar três métodos de cultivo agrícola: cultura anual de grãos, cultura perene de forrageiras e um sistema consorciado de grãos e forrageiras. O estudo mostrou que o cultivo de forrageiras apresenta maior renovabilidade e a menor taxa de carga ambiental, devido à menor perda de solo (recurso não renovável), o sistema consorciado apresentou resultados intermediários e o sistema de cultivo de grãos é aquele com maiores impactos ambientais.

Lagerberg (2000) utilizando a análise emergética comparou dois métodos de cultivo de tomates em estufa, convencional e orgânico, e avaliou o impacto do tipo de fertilizantes e do combustível utilizado para o aquecimento da estufa na sustentabilidade do sistema. O sistema convencional apresentou maior consumo de recursos, tanto naturais como provenientes da economia, apresentando renovabilidade inferior a 1%.

produzido no Kansas (USA), Blackberry produzido em Ohio (USA) e um sistema de policultura praticado por grupos indígenas em Chiapas (México). O objetivo do trabalho era comparar o uso de recursos naturais, os impactos ambientais e a sustentabilidade geral dos sistemas. Os autores salientam que, apesar das diferenças significativas entre os sistemas estudados, a AE permitiu sua comparação nas mesmas bases. O sistema mexicano apresentou melhores índices emergéticos do que os sistemas americanos, dependentes da utilização de grandes volumes de fertilizantes, combustível e água para irrigação, portanto mais dependentes de recursos da economia.

Cavalett et al. (2006) estudaram a produção integrada de grãos, suínos e peixes em pequenas propriedades familiares no sul do Brasil e demonstraram, através da comparação dos índices emergéticos de diferentes sistemas estudados, que o sistema integrado é mais eficiente em termos energéticos, devido a reciclagem de materiais internamente ao sistema. Os autores propõem o uso dos índices emergéticos para auxiliar na formulação de políticas públicas.

Castellini et al. (2006) compararam, através da Análise Emergética, a produção orgânica e convencional de frangos na Itália. Os resultados mostraram que o sistema orgânico tem desempenho melhor em termos ambientais, porém os autores salientam que há necessidade de mais pesquisa nesta área, especialmente considerando-se a produção orgânica, e que devem ser desenvolvidos protocolos específicos para a atividade agropecuária.

Além de ser utilizada para a avaliação de produção agrícola, a AE também tem sido empregada para avaliar processos industriais. Em especial, quando se trata de um produto de origem agrícola, como os alimentos e os biocombustíveis, esta metodologia permite uma visão integrada do sistema produtivo, avaliando a relação entre a utilização de recursos naturais, sem custo monetário, com aqueles provenientes da economia.

Lanzotti et al. (2000) realizaram a análise emergética de uma usina de álcool de cana-de-açúcar do estado de São Paulo. Os resultados do estudo mostraram que a cana- de-açúcar pode ser considerada como uma cultura energética porque o sistema apresentou razão de rendimento emergético (EYR) superior a um. Entretanto, a renovabilidade obtida foi baixa, somente 11%. Os autores portanto reconhecem a necessidade de novas avaliações para melhor entendimento do sistema.

A produção de etanol de cana-de-açúcar também foi avaliada através de AE por Ortega et al. (2001). O estudo comparou a produção comercial em larga escala,

caracterizada por extensivas e intensivas áreas agrícolas fornecendo grandes volumes de cana para usinas com grandes capacidades de esmagamento, e uma usina integrada e diversificada de tamanho médio, ou seja com capacidade para produção de álcool e também de alimentos, como cereais, legumes, carne e leite. A usina integrada de médio porte apresentou melhores indices emergéticos do que a usina de grande porte, porém ainda considerados baixos. A renovabilidade, por exemplo, foi de apenas 18%.

Bastianoni e Marchettini (1996) combinaram AE, análise energética e análise de emissão de carbono para comparar a produção de biocombustível produzido a partir de cana-de-açúcar, nos Estados Unidos e no Brasil, e a partir de uvas, na Itália. Os resultados indicaram que estes sistemas, apesar de apresentar resultados considerados

positivos, como por exemplo as reduções em emissões de CO2, não são sustentáveis no

longo prazo. Os autores salientam que a sustentabilidade depende de vários fatores e que o impacto ambiental local, como perda de solo, não podem ser desconsiderado. Assim, o uso da AE complementa outras avaliações, permitindo uma visão mais completa do sistema e de seus impactos.

A Análise Emergética, além de utilizada para avaliação de unidades e sistemas produtivos, permitindo assim um entendimento mais apurado do equilíbrio, ou desequilíbrio, entre o sistema avaliado e os ecossistemas associados (Ulgiati et al., 1995; Bastianoni e Marchettini, 1996; Brown e Ulgiati, 2004; Cuadra e Rydberg, 2006), pode também ser utilizado para outros fins, pois seus índices podem ser utilizados por processos de certificação de produtos e na avaliação de custo de externalidades.

Bastianoni et al (2001) estudaram sistemas agrícolas da região de Chianti, Itália utilizando a análise emergética com o objetivo de obter indicadores de sustentabilidade no caso de sistemas produtivos complexos. Neste estudo foram avaliadas diferentes propriedades e seus resultados foram comparados com a média nacional.

Ortega et al. (2002) utilizaram a metodologia emergética para comparar e analisar a produção de soja no Brasil realizada por quatro métodos diferentes de cultivo: familiar ecológico, orgânico, agro-químico (intensivo no uso de maquinaria agrícola e de insumos industriais) e plantio direto com uso de herbicida. Neste estudo utilizaram a renovabilidade parcial dos recursos da economia e introduziram novos índices emergéticos (baseados no tipo e fluxo de mão de obra) para avaliar o desempenho social das unidades em estudo. A partir de seus resultados sugerem que Análise Emergética seja adotada na certificação de produtos, uma vez que seus índices podem ser utilizados tanto na avaliação dos impactos

ambientais causados pelo sistema, como seu desempenho em termos sociais.

Panzieri e colaboradores (Panzieri et al., 2002; Panzieri et al., 2003) propuseram o

uso de índices emergéticos, entre outros, nas certificações ambientais do tipo EMAS3 e

EPE4 da União Européia e justificaram sua escolha pelo fato de a análise emergética

identificar todos os fluxos energéticos e de materiais que circulam pelo sistema e classificá-los em termos de origem e renovabilidade. Os autores salientam também que se trata de uma metodologia relativamente fácil de executar e entender, apesar de estar baseada em sólidos conceitos teóricos.

A AE foi utilizada para estimar o custo da perda de solo devido à erosão (Cohen et al., 2006). Neste estudo os fluxos correspondentes ao solo erodido devido à atividade agrícola expressos em joules de energia solar, seJ, foram divididos pela razão emergia/dinheiro, Em$, do país expressa em seJ/$, para a obtenção do custo real do recurso. Assim, recursos sem um valor monetário definido, podem ser comparados em bases monetárias coerentes com outros recursos da economia.

Adotando o mesmo procedimento, Cuadra e Rydberg (2006) utilizaram a AE como uma forma de avaliar o comércio justo (Fair Trade) de café produzido pela Nicarágua e exportado para a Holanda. O preço justo do café e seus produtos, considerando que a transação fosse feita em bases emergéticas, foi estimado em até três vezes o preço realmente pago. Os pesquisadores sugerem que a AE seja utilizada para detectar desequilíbrios no comércio internacional e que a Razão de Intercâmbio de Emergia (EER) e os preços expressos em emvalues sejam utilizados para se alcançar o comércio justo e o desenvolvimento sustentável.

Em todos os trabalhos mencionados, a metodologia emergética foi capaz de avaliar o uso de recursos naturais e de estimar seu consumo, além de permitir a avaliação das chances de sobrevivência do sistema ao longo do tempo. Entretanto, durante muito tempo esta metodologia não considerou as externalidades produzidas pelo sistema em análise. Ou seja, ela contabilizava o trabalho incorporado, tanto da economia formal como da Natureza, porém não considerava a necessidade de trabalhos posteriores decorrentes do processo de produção. Para que a análise seja completa, e represente o real custo de produção, é necessário incorporar à metodologia emergética mecanismos que

3Eco-Management and Audit Scheme

contabilizem os custos da etapa posterior de produção. Somente recentemente os estudos de AE passaram a incluir as externalidades geradas pela operação do sistema (Ortega et al., 2002; Brandt-Williams e Pillet, 2003).