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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Dimensão Ecológica

4.1.2 Utilização da Terra

Entre as estratégias de desenvolvimento da atividade piscícola, como em outras atividades, é extremamente necessário haver planejamento do uso da terra, ou seja, um zoneamento ecológico, como forma de garantir uma ocupação sustentável.

Consideram Pillay (1996) e Boyd (1998) apud Assad et al. (2000, p.44), "que é possível reduzir os impactos negativos ao meio ambiente, possibilitando a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas". As conseqüências negativas do uso do solo podem ser atribuídas a um planejamento deficiente, a uma escolha inadequada das áreas de cultivo, procedimentos incorretos de manejo e a pouca atenção dada à proteção do meio ambiente.

Podemos citar, por exemplo, que áreas de mangue e outras áreas úmidas não são locais ideais para aqüicultura. Os solos, nessas regiões, são freqüentemente de elevada acidez e com grande quantidade de matéria orgânica. Isso dificulta a drenagem e a secagem do solo e, consequentemente, a utilização de tecnologia padrão de construção dos viveiros. Esses ecossistemas são frágeis e com importante papel no ciclo de nutrientes e no suporte de uma enorme biodiversidade. O comprometimento desses ecossistemas pode afetar e tornar inviáveis a aqüicultura e outras atividades econômicas da região, devido as suas funções de proteção da costa: berçário para importantes recursos pesqueiros, absorção de sólidos e líquidos efluentes, purificação da água e remoção de contaminantes (Boyd et al., 1998; Macgin, 1998).

A aqüicultura, assim como as demais atividades que são usuárias dos recursos naturais, necessita de um conjunto de normas, critérios e instrumentos legais que balizem seu desenvolvimento, tornando-a sustentável.

De acordo com Proença et al. (2000, p. 144) as atividades da aqüicultura, "guardam estreita relação com as leis de uso da terra, das águas, dos recursos pesqueiros, do meio ambiente e da saúde pública".

A legislação brasileira ainda não atende a todas as necessidades do setor aqüícola, embora venha apresentando uma rápida evolução nos últimos anos. É notória uma tendência de proteger o meio ambiente contra os possíveis danos que podem ser causados pelos projetos

aqüícolas, porém não são previstas as formas de proteção do aqüicultor contra os efeitos adversos aos seus cultivos oriundos de alterações provocadas no meio ambiente.

Na maior parte dos casos, um alto nível de burocracia para os processos, implica em atrasos às vezes inaceitáveis para tornar viáveis os empreendimentos.

Alguns documentos legais como a Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965, institui o novo Código Florestal, o qual estabelece alguns princípios balizadores de interesse da piscicultura. Em seu Art. 2º., considera as florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente quando situadas: a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto, em faixa marginal cuja largura mínima seja: 1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura; 3) de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros.

A faixa de preservação ao longo da margem dos mananciais, aumenta de acordo com a largura do corpo hídrico, conforme prescreve o Art. 2º do novo Código Florestal. São áreas de preservação permanente ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de águas naturais ou artificiais. Da mesma forma nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados olhos d'água, qualquer que seja a situação topográfica num raio de 50 (cinqüenta) metros de largura. Esta lei define os afastamentos necessários dos mananciais hídricos para a instalação de qualquer empreendimento.

Conforme os dados do questionário realizado a campo, podemos constatar o perfil referente à ocupação da terra para construção do viveiro para a piscicultura na fazenda Princesa do Sertão a partir da figura 09 abaixo.

Figura 09 - Viveiro da Fazenda Princesa do Sertão Fonte: Dados da Pesquisa ( novembro de 2002).

São viveiros construídos com o apoio de assistência técnica. Quanto aos recursos investidos, parte desse investimento veio através de financiamento mas, a maior parte foi recurso do próprio piscicultor. Toda a tecnologia utilizada é adequada para este tipo de atividade.

Os materiais utilizados nos tanques-redes são todos reciclados; eles reaproveitam o ferro, para separação de um tanque e outro na hora da comercialização do peixe e o plástico (canos PVC) para o abastecimento de água, A figura 10 mostra esses materiais.

Figura 10 - Tanque -rede da fazenda Princesa do Sertão Fonte: Dados da Pesquisa (novembro de 2002)

Constatamos que o manejo sustentável do solo em qualquer atividade deste porte, faz-se necessário o uso adequado através de práticas de conservação do mesmo, garantindo portanto, sua fertilidade. Para que isso aconteça é necessário alguns procedimentos para não comprometer outras atividades.

A atividade piscícola é realizada em solo arenoso. Nesse aspecto, tivemos a oportunidade de constatar a preocupação do piscicultor em atividade quanto à conservação do solo nas áreas utilizadas para tais atividades exercidas.

Figura 11 - Iniciando o processo de secagem do viveiro Fonte: Dados da Pesquisa (novembro de 2002)

A figura 11 acima, mostra que, após à reprodução do peixe, os mesmos são passados para um outro tanque, onde inicia-se portanto, o processo de limpeza do viveiro. Na primeira etapa do processo, faz-se a drenagem do solo, na segunda etapa, o piscicultor passa a grade do trator no viveiro e, assim, é feito uma correção de solo. Espera-se o solo secar completamente (em torno de 10 a 15 dias), para então, dar início a um outro processo de reprodução neste mesmo viveiro.

Notamos que o piscicultor respeita as normas técnicas exigidas para a condução de um sistema de cultivo economicamente eficiente e ecologicamente sustentável, tais como: possui um controle total da entrada e saída da água e controla totalmente o volume de aporte da matéria orgânica.

Na figura 12 abaixo, podemos visualizar o perfil de um viveiro totalmente seco e sem o excedente de matéria orgânica que fica no fundo do viveiro.

Figura 12 - O viveiro totalmente seco

Fonte: Dados da pesquisa (novembro de 2002)

Através de pesquisa empírica junto ao piscicultor, observamos que todo o excedente de matéria orgânica dos viveiros são transportados para o plantio de palmeira real. Através da figura 13, podemos visualizar um outro tipo de atividade exercida na fazenda.

Figura 13 - Cultivo de Palmeira Real

Fonte: Dados da Pesquisa (novembro de 2002)

Hopkins and Bowman (1993), "descrevem a metodologia de estudos sobre a integração da aqüicultura com a agricultura e concluíram que essa integração pode reduzir custos operacionais de ambas as atividades, proporcionando condições de sustentabilidade com o adequado aproveitamento dos resíduos".

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