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Utilização de resíduos da indústria pesqueira para fabricação de rações de organismos aquáticos

Uma boa alimentação deve satisfazer as necessidades nutricionais das espécies cultivadas, como também ser de fácil digestão e com uma boa perspectiva custo-benefício (LEMOS et al., 2004).

A determinação de fontes proteicas de menor custo e que promovam bom crescimento, é vantajoso tanto para a indústria de rações, como também para os aquicultores (COYLE et al., 2004). Sendo assim, vários estudos têm sido realizados para avaliar novas fontes proteicas que poderiam ser usadas na fabricação de rações (JACKSON et al., 1982; GABER, 1996; OLVERA-NOVOA et al., 1997; OLVERA-NOVOA et al., 2002; PLASCENCIA-JATOMEA et al., 2002; EL - SAIDY e GABER, 2003; GABER, 2006, LEAL et al., 2009). Tais recursos devem garantir os mesmos ou melhores resultados de produção, sanidade do animal, crescimento e qualidade do produto.

37 O crescimento da indústria de pescado tem gerado uma grande quantidade de resíduos e subprodutos que representam um desafio para os empresários do setor e para a comunidade científica especializada, em buscar estratégias para que essa atividade seja sustentável e ecologicamente viável. Segundo Arruda (2004), cerca de 50 % do pescado mundial produzido em 2000 transformou-se em resíduo. Supondo-se que esse percentual tenha-se mantido, dos 154 milhões de toneladas de pescado produzidos em 2011 (FAO, 2012), 77 milhões teriam sido descartados ou subutilizados, constituindo-se em uma fonte significativa de desperdício de recursos e de contaminação ambiental.

Ao longo dos anos, diversos têm sido os esforços empreendidos por pesquisadores em todo o mundo para desenvolver métodos que possibilitem a transformação desses resíduos em produtos passíveis de utilização tanto na nutrição humana quanto na animal (ARMENTA e GUERRERO- LEGARRETA, 2009; CHEN et al., 2011; CAHÚ et al., 2012).

A produção de farinha, hidrolisado proteico ou silagem de camarão a partir de subprodutos das indústrias pesqueiras (Figura 5) representa uma excelente alternativa para o incremento da oferta de proteína animal (MACKIE, 1982; HAARD, 1992; KENT, 1997; CAVALHEIRO et al., 2007), já que estes subprodutos são usualmente descartados.

Figura 5: Resíduos da indústria de camarão.

Fonte: Juliana Ferreira dos Santos

No entanto, o uso de farinha de cabeça de camarão na formulação de alimentos para organismos aquáticos não é recomendado devido a sua alta concentração de fibras e cinzas, o que resulta na formação de péletes fracos com uma baixa estabilidade em água (CAVALHEIRO et al., 2007).

38 Uma alternativa seria a produção de proteína hidrolisada. Vários são os métodos empregados para obtenção do hidrolisado proteico dos produtos e subprodutos pesqueiros (GILDBERG, 1993). A presença de enzimas proteolíticas no trato digestório de animais aquáticos tem uma influência significante na produção de hidrolisados, que podem ser obtidos empregando o processo de autólise ou um método de hidrólise, através da adição de enzimas (SHAHIDI et al., 1995). Gilberg e Stenberg (2001) demonstraram que a proteína dos subprodutos do camarão pode ser hidrolisada por proteases comerciais e recuperada como hidrolisado proteico com alto conteúdo de aminoácidos essenciais. A hidrólise utilizando substâncias exógenas permite um melhor controle das propriedades dos produtos resultantes. No entanto, os custos das substâncias (enzimas, ácidos e solventes) são um obstáculo para a viabilidade do processo. Plascencia-Jatomea et al. (2002) relataram que as condições ácidas em que o hidrolisado de silagem de camarão é produzido faz com que haja perda de nutrientes lábeis, como o triptofano.

A autólise é um processo enzimático que pode ser usado como uma alternativa aos processos que empregam substâncias exógenas, além de haver a possibilidade de recuperar moléculas bioativas, tais como quitina (para a produção de quitosana) e carotenóides (ARMENTA e GUERRERO-LEGARRETA, 2009; CHEN et al., 2011;. CAHÚ et al., 2012).

No processamento do camarão, geralmente são removidas a cabeça, o exoesqueleto e a porção posterior (Figura 6). Estes subprodutos correspondem a aproximadamente 50% do seu peso total, o que torna importante seu aproveitamento do ponto de vista econômico, industrial e ambiental (HEU et al., 2003).

Figura 6: Desenho esquemático de camarão identificando os resíduos da indústria pesqueira passíveis de utilização na produção de proteína hidrolisada.

39 De acordo com Leal et al., (2009) a composição de hidrolisado proteico de camarão mostrou ser uma fonte adequada de triptofano, lisina, leucina, arginina, fenilalanina, valina e metionina.

De fato, a qualidade nutricional da proteína hidrolisada pode estar relacionada com a elevada concentração de pequenos peptídeos e aminoácidos essenciais, como também de compostos que estimulam a resposta imune nos peixes, promovendo assim crescimento e resistência a doença (GILDBERG e STENBERG, 2001). Segundo Silvestre et al. (1994), é preferível utilizar hidrolisado em dietas do que misturas de aminoácidos, uma vez que di e tripeptídeos são absorvidos pelo intestino mais rapidamente do que os aminoácidos livres. Estes peptídeos são também aceitos como atrativo alimentar devido à estimulação química que eles podem produzir em larvas e juvenis, contribuindo para o consumo de dietas artificiais nas fases iniciais de cultivo.

De acordo com Muhlia-Almazán et al. (2003) e Lundstedt et al. (2004), mudanças na origem e quantidade de nutrientes podem afetar as concentrações ou as expressões gênicas das enzimas digestivas. No entanto, Ezequerra et al. (1997); Moraes e Bidinoto (2000) sugerem que os animais aquáticos podem adaptar os níveis enzimáticos de acordo com mudanças na alimentação.

A inclusão de hidrolisado proteico na dieta de animais aquáticos tem sido amplamente estudada, principalmente avaliando seus efeitos sobre o crescimento, sobrevivência e atratividade (KOLKOVISK et al., 2000; PLASCENCIA-JATOMEA et al., 2002; SAVOIE et al., 2006 ). No entanto, existe pouco conhecimento sobre o efeito de hidrolisados proteicos sobre as enzimas digestivas de organismos aquáticos. Autores como Córdova-Murueta e García-Carreño (2002); Cahu et al. (2004); Zambonino-Infante e Cahu (2007) e Kotzamanis et al. (2007) realizaram estes estudos, contudo ainda são necessários mais pesquisas para fornecer a comunidade científica e aos produtores respostas mais conclusivas.

Kotzamanis et al. (2007) avaliaram o efeito da inclusão de hidrolisado proteico (dietas contendo 10 e 19% de proteína hidrolisada) sobre as atividades de enzimas digestivas em larvas de

Dicentrarchus labrax (L.). Não foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos nas

atividades de amilase e tripsina. No entanto, a atividade de aminopeptidase foi maior na concentração de 10% de hidrolisado proteico. Cahu et al. (2004) verificaram que a secreção de tripsina foi maior em larvas de D. labrax alimentadas com dietas contendo 14% de proteína hidrolisada, sendo reduzida a concentrações crescentes (46%).

O efeito da inclusão de proteína hidrolisada de camarão sobre as enzimas digestivas de tilápia do Nilo não estão descritos na literatura. Esta informação pode contribuir para um melhor

40 entendimento do modo de regulação destas enzimas e de possíveis adaptações da tilápia do Nilo na digestão de ingredientes alternativos.

3. OBJETIVOS

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