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Capítulo 3 – A Fitoterapia na Prevenção e Tratamento de Infeções do Trato Urinário

5. A Fitoterapia

5.2 Plantas medicinais na prevenção e tratamento da ITU

5.2.1 Vaccinium Macrocarpon

Vaccinium Macrocarpon, pertence à família Ericaceae e é comummente designado como

Arando Vermelho ou, em inglês, Cranberry. É originário da América do Norte e caracteriza-se por ser um arbusto rasteiro (5 a 20 centímetros de altura) e comprido (2 metros de comprimento). Apresenta pequenas folhas verdes, flores num tom rosa escuro e o fruto é uma baga que nasce branco tornando-se vermelho à medida que vai amadurecendo (Figura 4) [82– 84].

Figura 4: Arando Vermelho [82].

O inicio do uso do arando como planta medicinal remonta ao século XVII, sendo que a sua maior utilização clinica incide na prevenção de ITU recorrentes [82]. Este fruto é constituído por componentes inorgânicos, água e sais minerais, e componentes de origem orgânica, destacando-se a glucose, frutose, vitamina A e C, ácidos orgânicos (ácido cítrico) e os compostos polifenólicos antioxidantes (taninos). As proantocianidinas (PAC) (figuras 5-7), taninos condensados, representam os compostos com maior relevância terapêutica para a prevenção e tratamento das ITU [83,85,86].

A virulência causada pela E.Coli processa-se através das fimbrias presentes na bactéria que aderem ao trato urinário. Esta adesão é conseguida através da ligação das lectinas presentes na superfície das fimbrias aos hidratos de carbono complementares do tecido do hospedeiro [87,88]. O arando contém PACs do tipo A e B, classificadas de acordo com a ligação entre os monómeros. As PACs de tipo A contêm uma ligação do tipo C4-C8 acrescida de uma ligação éter entre o grupo hidroxilo do carbono 5 ou 7 do anel A e o carbono 2 do anel pirânico (Figura 5). As PACs de tipo B possuem somente ligações interflavanólicas covalentes entre o carbono 4 de uma unidade flavan3-ol e o carbono 8 (Figura 6) ou 6 (Figura 7) da outra unidade. As PACS do tipo A detêm capacidade para inibir a adesão bacteriana ao trato urinário. Esta inibição pode ocorrer através do impedimento do desenvolvimento das moléculas adesivas ou do bloqueio da sua expressão celular [85,89–91].

O primeiro estudo que demonstrou que o consumo de sumo de arando reduzia a presença de bactérias na urina foi conduzido por Avorn e colaboradores, 1994 [92]. Incluía 192 participantes aos quais foi recolhida uma amostra mensal de urina durante um período de seis meses, durante o qual os participantes consumiram 300 ml diários de sumo de arando. Os resultados demonstraram que ocorre bacteriúria e piúria em 28% dos participantes pertencentes ao grupo placebo em comparação com 14% do grupo que bebeu o sumo de arando [92].

Em 2016, Singh e colaboradores [93], conduziram um estudo com o objetivo de avaliar o efeito do extrato de arando nas propriedades bacterianas in vitro do uropatogénico E.Coli e a sua eficácia e tolerabilidade em doentes com ITU recorrente. Neste ensaio participaram 72 pessoas, divididas em dois grupos de 36 participantes cada. O grupo I tomou as cápsulas de arando contendo 60mg de PAC-A duas vezes por dia, durante um período de 12 semanas. O grupo II recebeu as cápsulas de placebo. No final do estudo verificou-se uma diminuição da aderência da bactéria E.Coli in vitro e no número de episódios de ITU recorrente nos participantes do grupo I quando comparados com os participantes do grupo placebo [93].

Figura 5: Proantocianidina do tipo A [90].

Figura 7: Dímeros C4-C6 da Protoantocianidina do tipo B[90]. Figura 6: Dímeros C4-C8 da Protoantocianidina do tipo B[90].

Muitos outros estudos foram realizados no sentido de provar a eficácia terapêutica do arando na prevenção e tratamento de ITU, encontrando-se os principais resumidos na tabela 6.

Tabela 6: Estudos realizados para analisar a eficácia do arando na prevenção e tratamento de ITU.

Autores Ano Estudo

N.º

voluntários Conclusões Avorn et

al[92]

1994 Determinação do efeito do consumo regular de sumo de arando na bacteriúria e piúria em idosas

192 Foram verificados episódios de bacteriúria e piúria em 28% do grupo com placebo e apenas 14% no grupo de consumidores do sumo.

Bailey et al[94]

2007 Examinação da capacidade de uma preparação concentrada de arando para prevenir ITU em mulheres com história de infeções recorrentes.

12

Nenhuma das participantes teve episódio de infeção durante o estudo.

Lavigne et al[95]

2007

Efeito de cápsulas de arando na aderência bacteriana ao epitélio urinário.

8

Participantes que consumiram cápsulas de arando demonstraram uma significante redução dose-dependente na aderência da E. Coli ao epitélio.

Gupta et al[96]

2007 Efeito de pó de arando e extrato de proantocianidinas na aderência de P-fimbrias de

E.Coli.

In vitro

Foi demonstrada a inibição in vitro da aderência de E.Coli ao epitélio urinário.

Howell et al[97]

2010 Efeito da dose de pó de arando contendo proantocianidinas na adesão de E.Coli.

32

Diminuição dose-dependente da presença de E.Coli na urina.

Sengupta et al[98]

2012 Avaliação da Eficácia de Proantocianidinas em ITUs.

60 Diminuição significativa da presença de E. Coli na urina.

Takahashi

et al[99] 2012

Efeito preventivo do sumo de arando em pessoas com ITUs recorrentes.

213

Sumo de arando preveniu ITU recorrente num grupo limitado de mulheres com consumo da bebida durante 24 semanas.

Foxman et al[100]

2015 Eficácia terapêutica de cápsulas de arando na prevenção de ITU após cirurgia.

160

Redução de episódios de ITU.

Singh et al[93]

2016 Avaliar o efeito do extrato de arando nas propriedades bacterianas do uropatogénico E.Coli e a sua eficácia em doentes com ITU recorrente.

76

Diminuição da aderência de E.Coli ao epitélio e dos episódios de ITU recorrente.

Adicionalmente à prevenção e tratamento da ITU, alguns estudos indicam que o arando demonstra possuir propriedades anticancerígenas, sendo utilizado como adjuvante no tratamento de algumas neoplasias, representa também um papel importante na prevenção de patologias cardiovasculares e é um potente antioxidante [101–103].

O tratamento com o arando demonstrou ser seguro, bem tolerado e sem interações farmacológicas significantes, mesmo durante a gravidez [93,104].