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CAPÍTULO 3 – VALORAÇÃO AMBIENTAL

3.1 VALOR ECONÔMICO DO MEIO AMBIENTE

Segundo Marques (1996), a necessidade de conceituar valor econômico do meio ambiente, bem como de desenvolver técnicas para estimar este valor, decorre basicamente do fato incontestável de que a maioria dos bens e serviços ambientais e das funções providas ao homem pelo ambiente não é transacionada pelo mercado.

Na economia tradicional, os preços são comensuráveis, pois admitem uma medida comum de valor mediante fatores que definem preços de bens e serviços, como: custos de insumo, custos de mão-de-obra, impostos, lucros, situações de concorrência, disponibilidade tecnológica, dentre outros.

Não existem mercados que determinem diretamente o valor da grande maioria dos bens e serviços ambientais. De acordo com Merico (2002), é possível apenas estabelecer processos de comparação, semelhantes às aplicadas para gerar os preços-sombra ou

shadow price – preço que prevaleceria na economia se esta estivesse em perfeito equilíbrio

num mercado competitivo – e derivar a partir daí valores monetários.

Assim, a problemática ambiental tem sido tratada, dentro da economia, no âmbito da microeconomia. Quando se refere à natureza dos valores ambientais medidos pelas perdas ou ganhos do excedente do consumidor16, a análise econômica distingue dois tipos de valores: os valores de uso e os valores intrínsecos.

Para se estimarem os benefícios da conservação, é empregada a expressão: VALOR ECONÔMICO TOTAL = VALOR DE USO + VALOR DE NÃO-USO Onde:

Valor de Uso (VU) = VU direto + VU indireto

Valor de Não-Uso (VNU) = Valor de opção + Valor de Existência

16 Uma mudança de preço gera alterações no nível de bem-estar da sociedade. Os consumidores serão

beneficiados quando houver uma redução de preços via aumento de consumo, denominado de excedente do consumidor (Motta, 1996) que também pode ser definido como a diferença entre a despesa efetiva que o consumidor paga pela utilização de um recurso e o máximo que ele se dispõe a pagar pelo recurso, ou seja, é o valor líquido do recurso que ele usufrui (Tolmasquim, 1995).

Para Tolmasquim (1995), o valor de uso total compreende dois componentes. O primeiro inclui os valores de uso real que são os benefícios de que usufruem efetivamente os usuários de um recurso ambiental. O segundo inclui os valores de opção que estão relacionados ao uso potencial de um recurso preservado (não utilizado) para posterior utilização em longo prazo. A essa opção podem-se adicionar valores de legado (para as gerações futuras) ou valores altruístas (para outros indivíduos), ou seja, uma opção pelos outros, com motivações humanitárias que permitam conferir-se um preço à conservação de um patrimônio.

O Valor de Uso contempla o valor dos fluxos de bens e serviços de um ecossistema e subdivide-se em Direto e Indireto. O Valor de Uso Direto – como por exemplo, o valor relativo à extração de madeira de uma floresta ou o valor relativo ao consumo das frutas – é calculado em função do fluxo de bens atualmente utilizados e potencialmente exploráveis do ecossistema, sendo que o mesmo recurso ambiental pode ter vários usos distintos e assim vários valores de uso direto. O Valor de Uso Indireto corresponde aos fluxos de serviços ou funções ecológicas do ecossistema (Pearce, 1993) – por exemplo, contenção de erosão.

Ortiz (2003), recomenda ter cuidado no sentido de não se adicionar valores mais de uma vez ou, ainda, não somar valores que não seriam possíveis se outro uso do recurso tiver sido considerado na valoração econômica.

Tolmasquim (1995), expressa o Valor de Opção como a soma entre o valor de legado (herança) e o valor altruísta. Já Ortiz (op. cit), define-o como a disposição a pagar de um indivíduo pela opção de usar ou não o recurso no futuro, por exemplo, o benefício advindo de terapias genéticas com base em propriedades de genes ainda não descobertos de plantas em florestas tropicais.

Os valores intrínsecos não correspondem nem ao uso efetivo, nem à opção de uso; eles referem-se ao valor dado à existência própria de um patrimônio ou recurso sem levar em consideração a possibilidade de usufruto direto ou indireto, isto é, o Valor de Não-Uso (ou de existência ou intangível), refere-se aos valores atribuídos à conservação da qualidade dos bens e serviços ambientais, ou ainda, está relacionado à satisfação pessoal

em saber que um objeto está lá, sem que o indivíduo tenha vantagem direta ou indireta dessa presença.

Motta (1998), ressalta que apesar de haver uma controvérsia na literatura com relação ao valor de existência representar o desejo de um indivíduo em manter certos recursos ambientais para que seus herdeiros possam usufruir seus usos diretos e indiretos (bequest value), isto não é de suma importância, pois o desafio na valoração ambiental é a atribuição que os indivíduos dão ao recurso independente do uso fruto.

De acordo com este autor, o Valor Econômico do Recurso Ambiental (VERA) pode ser classificado como: a)Valor de Uso, que pode ser direto ou indireto ou de opção.

Assim, uma expressão geral seria: VERA = (VUD + VUI + VO ) + VE

O Valor de Uso Direto (VUD) são os bens e serviços ambientais apropriados diretamente da exploração do recurso e consumidos hoje. Por exemplo, na forma de extração, de visitação ou outra atividade de produção ou consumo direto.

Valor de Uso Indireto, (VUI) são os bens e serviços ambientais gerados de funções ecossistêmicas e apropriados indiretamente. Por exemplo, a contenção da erosão e reprodução de espécies marinhas pela conservação de florestas de mangue;

Valor de Opção (VO) são bens e serviços ambientais de usos diretos e indiretos a serem apropriados no futuro.

Valor de Não-Uso ou Valor de Existência (VE) é o valor não associado ao uso atual ou futuro e que reflete questões morais, culturais, éticas ou altruísticas. Um exemplo claro deste valor é a grande mobilização da opinião pública para salvamento dos ursos panda ou das baleias mesmo em regiões em que a maioria das pessoas nunca poderá estar ou fazer qualquer uso de sua existência.

Para se fazer opções entre os diversos, e até mesmo conflitantes, usos e não-usos dos recursos ambientais Motta (1998), atenta para a necessidade de se estabelecer valores, os quais precisam ser mensurados, ou seja, quando um tipo de uso ou de não-uso exclui, necessariamente, o outro. Por exemplo, o uso da Baía de Guanabara para diluição de esgoto elimina (ou pelo menos limita) seu uso para recreação. Verificados estes usos e não- usos, pode-se então proceder a sua valoração.

O valor econômico total apresenta alguns obstáculos, difíceis de resolver, tais como: a) irreversibilidade – que ocorre quando o impacto gera conseqüências com pouca ou nenhuma chance de regeneração das condições ambientais pré-existentes; b) incerteza, pois o futuro é desconhecido, tornando impossível saber o preço de algum tipo de bem num futuro muito longínquo; c) singularidade é a impossibilidade de saber, a qualquer tempo, qual o valor de uma perda, por exemplo, ecossistema único (ou de animais em extinção) ou obras de arte, históricas, entre outros (Bellia, 1996).