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VALOR-NOTÍCIA E CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE

No documento barbarabastosdelimaduque (páginas 56-62)

Ilusração 9 – Gráfico com o demonstrativo de pesquisas em rede

4.6 VALOR-NOTÍCIA E CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE

Traçaremos neste texto um panorama sobre o caminho do acontecimento até a notícia. O intuito é mostrar que tipo de acontecimento (de um modo geral) interessa à mídia e quais fatores ele deve apresentar para que ganhe o status de notícia. A importância deste levantamento para o trabalho é perceber que tipo de acontecimento gerou as notícias/reportagens da revista MFC, apontando, desta forma, um caminho para perceber os fatores mais valorizados pelo jornalismo de ciência no Brasil, tendo a revista como amostragem.

Os valores-notícia, que os jornalistas frequentemente sugerem ser algo de intrínseco aos acontecimentos, para serem deduzidos utilizando o sentido noticioso, são códigos culturalmente específicos de contar estórias. São precisamente os valores que qualquer contador de estórias utiliza ao criar um conto (TRAQUINA, 1993, p.268).

É importante frisar que os valores-notícia no jornalismo não são tratados por todos os estudiosos da mesma forma, ou seja, cada pesquisador deste campo define uma lista de valores que, segundo eles, caracterizam o acontecimento como noticiável. Para amparar teoricamente este trabalho, deixaremos sempre claro os autores utilizados e os valores que adotados na análise foram selecionados com base naqueles que tiveram maior destaque em toda a pesquisa. Nesta citação de Traquina, o autor coloca as diferenças entre os termos “valores-notícia” e noticiabilidade, para nos amparar no decorrer do texto.

Podemos definir o conceito de noticiabilidade como o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico; isto é, possuir valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo ‘valor-notícia’ (TRAQUINA, 2005, p. 63). Devido à vastidão de conceitos em relação ao processo de seleção dos fatos noticiáveis, buscamos com os autores aqueles que, segundo nossos estudos, mais se adequam ao jornalismo científico. Lembrando que, como defende Gislene Silva (2014), para a definição das regras de noticiabilidade, existe a influência de diversos fatores e não só as características dos fatos, como:

[...] julgamentos pessoais do jornalista, a cultura profissional da categoria, condições fornecedoras ou limitantes da empresa de mídia, qualidade do material (imagem e

texto), relação com as fontes e com o público, fatores éticos e ainda circunstâncias históricas, políticas, econômicas e sociais (SILVA, 2014, p.52).

No embasamento teórico, iremos nos concentrar no tratamento dos fatos, como a importância das vozes na notícia (inclusive oficiais), na hierarquização das informações no texto, na presença de dados estatísticos.

A noticiabilidade é um conjunto de regras práticas que abrangem um corpus de conhecimento profissional que, implícita ou explicitamente, justifica os procedimentos operacionais editoriais dos órgãos de comunicação em sua transformação dos acontecimentos em narrativas jornalísticas. Reúne o conjunto de qualidades dos acontecimentos que permitem uma construção narrativa jornalística e que os recomendam enquanto informação jornalística (HOHLFELDT, 2001, p.209).

Para definir os parâmetros da nossa análise, vamos nos basear no estudo de Gislene Silva e elencar os principais valores-notícia para o jornalismo; analisaremos os valores expostos no texto e a ordem de abordagem. Optamos pela pesquisadora em função do estudo desenvolvido por ela no qual avalia treze autores estudiosos e referências no assunto: Stieler, Lippman, Bond, Galtung e Ruge, Golding-Elliot, Gans, Warren, Hetherington, Shoemaker, Wolf, Erbolato, Chaparro e Lage. Com base neste levantamento, a autora desenvolveu um modelo que nos pareceu adequado e embasado o bastante para ganhar destaque acadêmico.

O referido estudo sistematiza esses critérios para melhor operacionalizar as análises das notícias. Estudar o modo de seleção de notícias além dos relatos feitos por meio de entrevistas implicaria em investigar fatores como diretrizes editoriais, escolhas pessoais dos jornalistas, interferência das fontes e expectativas do público-alvo; desta forma, vamos nos ater aos valores-notícia que amparam o jornalismo e verificar quais os fatores que são mais relevantes quando a ciência é o que inspira a notícia.

Voltando às considerações de Silva (2014), a autora separou a noticiabilidade inicialmente em macro-valores-notícia e micro-valores-notícia. Segundo ela, o principal valor para o jornalismo é a atualidade. “A atualidade seria o fator determinante para a conversão de um acontecimento em notícia, ao ponto de o jornalismo se distinguir por difundir enunciados sobre acontecimentos atuais” (FONTCUBERTA, 1993, p. 21). Devemos perceber que esse critério tem um caráter abrangente, ele pode tanto se referir a algo que aconteceuem uma data específica, como a algo que vem acontecendo, como o surto de uma virose.

Em seguida, explora a importância e o interesse, também considerados por ela como macro valores. O importante seria aquilo que todos deveriam saber, e o interessante, o

que todos querem saber, algo agradável. Usaremos também essa perspectiva para avaliar o enquadramento das reportagens da revista MFC. Traquina (2005) conceituou que notícia é tudo aquilo que é importante ou interessante. Dentro da lista de macro valores elencados por Silva (2014) está a repercussão, que seria a consequência das notícias; fatos de repercussão nacional são naturalmente mais noticiáveis do que os demais. Segundo Lorenzo Gomis, se uma matéria é publicada por mais de três veículos é sinal de que foi bem escolhida. “A antecipação da audiência real pelos valores-notícia permite aos jornalistas e às organizações um melhor planejamento e realização do trabalho” (GOMIS apud GUERRA, 2014, p.43).

Outros fatores apontados pela autora são o negativismo e a imprevisibilidade;estessão dois critérios muito destacados pelos especialistas quando se trata de influenciar na escolha dos fatos que devem virar notícias. De acordo com esse estudo, o inesperado é sempre algo valiosocomo notícia e, caso seja um acontecimento “negativo”, o valor-notícia atinge seu clímax. Não é por acaso que os noticiários estão cheios de tragédias, notícias ruins, fatalidades, mortes e violência.

Dizem que um fato negativo, que representa uma ruptura social, é mais fácil de ocorrer, exige menos tempo, é menos ambíguo e se desenrola integralmente entre duas edições de jornal ou entre dois telejornais, sendo assim, mais noticiável. Por outro lado, acontecimentos positivos são por natureza mais lentos (como o desenvolvimento econômico, por exemplo) mais banais, mais esperados, mais programáveis e, por conseguinte, menos noticiáveis (MOTTA,1997, p. 311).

O que é comum e normal tem pouco valor de notícia. O autor Patrick Charaudeau (2006) defende que para um acontecimento se tornar midiático é necessário inicialmente que seja insólito; para ele, o principal valor-notícia de um fato é ser inesperado. A jornalista Fabiane Moreira (2006), em sua dissertação, fez um apontamento que julgamos de grande valia para este trabalho. Ela atrelou ao critério de imprevisibilidade o fator “excepcionalidade”, referindo-se a fatos incomuns, diferentes dos habituas, isto é, uma ruptura.

Essa ruptura pode dar-se de várias formas. Por isso, o valor foi dividido em ‘incomum, insólito e singular’, que indicam fatos diferentes, fora do ‘padrão’ esperado. Depois temos ‘extraordinário/sensacional’, indicando uma exacerbação daquilo que já é insólito, ou seja, algo fantástico (MOREIRA, 2006, p.103).

Analisar a imprevisibilidade desta forma nos conduz a aplicá-la não só para a seleção dos fatos, como para o tratamento que esses recebem na matéria, já que algo inesperado pode se tornar extraordinário, dependendo da interferência do jornalista.

Por fim, o critério coletividade, que aponta a importância de o fato noticioso envolver um grupo maior de pessoas. Quanto mais gente aquele acontecimento impactar, maior seu poder de noticiabilidade. Os fatos devem ter relevância dentro de um determinado ecossistema, o que varia dependendo do interesse de cada veículo. Esses macro valores são apresentados como regentes dos demais, ou seja, um critério pode ser baseado na associação de vários macro valores. Com base em uma avaliação dos atributos apontados por diferentes autores, Gislene Silva (2014) montou uma tabela de valores-notícia para operacionalizar análises de acontecimentos noticiados ou noticiáveis. Esses dados já foram testados em outras pesquisas, e a autora sugere que para ganhar mais impacto acadêmico é necessário que sejam aplicados outras vezes, como faremos aqui, para aumentar sua validação. Iremos explorar tais critérios como basilares da análise do material selecionado.

Impacto Número de pessoas envolvidas (no fato)

Número de pessoas afetadas (pelo fato) Grandes quantias (dinheiro)

Proeminência Notoriedade

Celebridade

Posição Hierárquica

Elite (indivíduo, instituição, país)

Conflito Guerra Rivalidade Disputa Briga Greve Reinvindicação Tragédia/Drama Catástrofe Acidente

Risco de morte e morte Violência/crime Suspense Interesse humano Proximidade Geográfica Cultural Raridade Incomum Original Inusitado

Surpresa Inesperado

Governo Interesse nacional

Decisões e medidas Inaugurações Eleições Viagens Pronunciamentos Polêmica Controvérsia Escândalo Justiça Julgamentos Denúncias Investigações Apreensões Decisões judiciais Crimes Entretenimento/ Curiosidade Aventura Divertimento Esporte Comemoração Conhecimento/ Cultura Descobertas Invenções Pesquisas Progresso

Atividade e valores culturais Religião

Tabela 1 – Proposta de valores-notícia para operacionalizar análises de acontecimentos noticiados ou noticiáveis (SILVA, 2014, p.65-66).

Vale ressaltar que os conceitos de valores-notícia não funcionam isoladamente, mas em diferentes combinações; são mutáveis, ou seja, ao longo do tempo vão sofrendo alterações, não são valores universais. Silva, citando Rodney Tiffen, aponta as limitações das teorias dos valores-notícia:

O argumento de muitos estudiosos de que não existe uma fórmula universal; a pouca consistência desses valores, considerados muito vulneráveis e mutantes; e o fato de que não só diferentes organizações como até mesmo repórter e editor de uma mesma empresa discordam entre si e percebem diferentemente o que são valores-notícia (TIFFEN apud SILVA, 2014, p.67).

Buscamos, por meio de entrevista, verificar alguns pontos desse caráter subjetivo para definição da relevância dos fatos no objeto investigado (MFC) por meio de entrevistas com alguns membros da equipe. Disponibilizamos a íntegra dessas entrevistas no final deste trabalho. Apesar de não ser nosso objetivo fim avaliar tais aspectos, julgamos válido trazer as informações para conhecimento do leitor.

5 JORNALISMO DE REVISTA

O meio no qual o texto jornalístico se ancora pode trazer uma série de características peculiares à notícia/reportagem, fatos esses de substancial importância na análise pretendida por este estudo. Entendendo que meios diferentes, com características textuais e editoriais diferentes, atingem o público de formas específicas. Ressaltaremos as nuances da forma deseleção, produção e emissão dos conteúdos. E, por isso, iremos abordar as especificidades do jornalismo de revista.

Uma das principais características desse veículo é o fato de não conseguir o imediatismo das notícias dadas pelas TVs, rádios e nem pelos jornais. A Minas faz ciência, por exemplo, tem uma tiragem trimestral, fato que exige dela uma outra forma de tratamento dos fatos reportados. O veículo tem que utilizar de diferentes artifícios para conquistar seus leitores, como usufruir o tempo maior de produção para confirmar, explicar e aprofundar a história muitas vezes já vista em outros veículos com periodicidade mais curta.

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