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3.4 Valoração de serviços de ecossistemas

3.4.4 Valoração econômica local de serviços ecossistêmicos

O cálculo do valor de serviços ecossistêmicos (SE) em escala local é objeto de estudo de uma série de pesquisadores da Economia Ecológica em todo o mundo. Nos Estados Unidos, Loomis et al.(2000) calcularam o valor de cinco SE principais em uma bacia hidrográfica localizada no Estado do Colorado: diluição de efluentes, purificação natural da água, controle da erosão, habitat para peixes e animais selvagens, e recreação. Utilizando-se do Método de Valoração de Contingente, os autores concluíram que a disposição a pagar pelos serviços supracitados em sua conta de água seria de US$ 21 mensais, por domicílio.

Na Costa Rica, o Programa de Pagamento por Serviços Ecossistêmicos, estimou a quantia em dinheiro que os proprietários recebem diretamente pelos serviços ecológicos que suas terras produzem quando adotam técnicas de manejo de florestas e uso do solo que não produzem impactos negativos no meio ambiente e melhoram a qualidade de vida das pessoas. Malavasi e Kellenberg (2002) afirmam que são quatro os serviços considerados para os ecossistemas florestais: mitigação de gases de efeito estufa; serviços hidrológicos,

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incluindo a provisão de água para o consumo humano, irrigação e produção de energia; conservação da biodiversidade; e provisão de beleza cênica para a recreação e ecoturismo. Os contratos de pagamento foram diferenciados em três tipos: conservação de floresta, manejo sustentável de floresta e reflorestamento. Em um período de cinco anos, os proprietários recebem um único pagamento, que equivale a US$ 210, US$ 327, e US$ 537 por hectare, respectivo a cada tipo de contrato, valores que indicam indiretamente o valor relativo aos serviços ecossistêmicos prestados.

Em ecossistemas de florestas temperadas úmidas do Chile, Nahuelhual et al. (2006) estimaram o valor de quatro serviços ecossistêmicos. A produção de madeira em manejo sustentável foi calculada através dos preços existentes no mercado para o metro cúbico da madeira no ano de 2004, e o valor encontrado foi de US$ 3742 ha-1.ano-1, em florestas secundárias. Os serviços de recreação foram estimados pela disposição a pagar dos turistas durante a visitação desta região natural; os valores variaram de US$ 1,60 a US$ 6,30 por hectare, em um ano. A manutenção da fertilidade do solo foi o terceiro serviço avaliado e, através da abordagem de Custos de Reposição de nutrientes, caso a mata nativa fosse convertida em área agrícola; estimou-se um benefício de US$ 26,30 ha-1.ano-1 gerado pelo ecossistema. Por fim, os serviços de abastecimento de água foram estimados pela abordagem de Produtividade Marginal de água pelo ecossistema avaliado; tomando como base o preço de mercado da água potável, multiplicou-se o valor do volume de água produzido por área de floresta, obtendo-se um valor médio de US$ 235 ha-1.ano-1.

No Brasil, Andersen (1997) realizou um estudo do valor dos serviços ecossistêmicos na Amazônia Legal, estimando valores para os serviços de manejo sustentável de madeira, turismo, reciclagem da água, reciclagem dos nutrientes, proteção contra o fogo, proteção das nascentes, estocagem de carbono, proteção de biodiversidade, valor recreativo e valor de existência. O valor econômico total associado aos serviços ecossistêmicos da Amazônia Legal, no ano de 1990, apresentava-se em uma faixa de US$ 18000 ha-1.ano-1 a US$ 4481 ha-1.ano-1 , para as taxas de desconto de 2% e 6%, respectivamente.

Fearnside (1997) realizou uma avaliação dos serviços ambientais proporcionados pela Floresta Amazônica, considerando as funções ligadas ao ciclo hidrológico, à manutenção dos estoques de carbono e à preservação da biodiversidade, utilizando os

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métodos de Disposição a Pagar e Produtividade Marginal para os dois primeiros. As estimativas apontam para o valor de US$ 390,40 ha-1.ano-1 para o agregado dos serviços ecossistêmicos.

Santos et al. (2000) avaliou o valor dos serviços ecológicos em Mata Atlântica, localizada na Estação Ecológica de Jataí, no município de Luiz Antônio, Estado de São Paulo. Os serviços contabilizados em termos monetários foram: prevenção da inundação, prevenção à erosão e sedimentação, armazenamento ou reciclagem de nutrientes e matéria orgânica, controle biológico de pragas e proteção da natureza. Somando-se todos eles, o valor local estimado para a Mata Atlântica foi de US$ 621,70 ha-1.ano-1 (ver tabela 4).

Camphora e May (2006) reuniram os diversos trabalhos voltados para a valoração de serviços ecossistêmicos no bioma Mata Atlântica, em diversas regiões do país. Holmes et al. (1998, apud. Camphora e May, 2006) avaliaram as áreas florestais na Reserva Biológica do Una no Sul da Bahia, estimando a disposição a pagar (DAP) dos turistas brasileiros pelo acesso a novos parques naturais com características semelhantes, obtendo- se um valor de US$ 9,08 ha-1.ano-1.

Obara et al. (2000, apud. Camphora e May, 2006) também avaliaram a Estação Ecológica do Jataí em relação aos serviços de recreação, valores de existência e valor de herança. Utilizou-se o método de valoração de contingente (MVC) para a determinação da disposição a pagar pelas populações urbana e rural do município aos bens e serviços ambientais oferecidos pela Estação Ecológica. O valor obtido foi de R$ 19,33 ha-1.ano-1 , atualizado para o ano 2005.

Medeiros (2000, apud. Camphora e May, 2006) realizou uma análise que priorizou os benefícios líquidos anuais diretos, indiretos e de existência da conservação da biodiversidade e das funções ecossistêmicas no Parque Nacional do Superagui, no litoral norte do Estado do Paraná. A estimativa dos respectivos valores econômicos foram baseados nas despesas com pessoal, veículos, equipamentos, materiais de consumo, etc. para as atividades relacionadas à fiscalização, conservação e apoio à recepção de pessoas, visando a preservação do parque e à elucidação de sua importância para a sociedade. O valor estimado foi de R$ 357,00 ha-1.ano-1, atualizado para o ano de 2005.

Ortiz et al.(2001, apud. Camphora e May, 2006) realizaram uma análise de Custos de Viagem para estimar o valor de uso recreativo do Parque Nacional Iguaçu, no Estado do

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Paraná. Baseado nos gastos de turistas domésticos e estrangeiros, o valor deste serviço provido pela Mata Atlântica foi estimado em US$ 155,53 ha-1.ano-1 .

Adams et al. (2003, apud Camphora e May, 2006) aplicaram o MVC para estimar o valor associado à importância da preservação e da recuperação das áreas de Mata Atlântica no Parque Estadual do Morro do Diabo para uma população que não usufruía direta ou indiretamente de seus benefícios. Os resultados indicaram que a população da cidade de São Paulo apresentava uma disposição a pagar que totalizava o equivalente a R$ 243,07 ha- 1

.ano-1, em valor atualizado para o ano de 2005.

Mikhailova e Barbosa (2004) estudaram o Parque de Estadual do Rio Doce, que é o maior remanescente de Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais. Os autores utilizaram os métodos de valoração de contingente e custos de viagem para avaliarem os serviços recreativos e de fornecimento de informações culturais, educativas e científicas. O valor dos serviços recreativos foram estimados em US$ 116,6 ha-1.ano-1 .

Tabela 4. Valores econômicos para os serviços ecossistêmicos em Mata Atlântica.

Unidade de Conservação

Valor estimado (ha-1.ano-1)

Referência

Reserva Biológica do Una (BA) US$ 9,08 Holmes et al. (1998) Estação Ecológica de Jataí (SP) R$ 19,34* Obara et al.(2000) Parque Nacional Superagui (PR) R$ 357,00* Medeiros (2000) Estação Ecológica de Jataí (SP) US$ 621,70 Santos et al.(2000) Parque Nacional do Iguaçu (PR) US$ 155,53 Ortiz et al. (2001) Parque Estadual Morro do Diabo (SP) R$ 243,07* Adams et al. (2003)

Parque Estadual Rio Doce (MG) US$ 42,14 Mikhailova e Barbosa (2004)

Baseado em Camphora e May (2006). * Valor atualizado pelo IGP-DI (2005).

Camphora e May (2006) afirmam que os diferentes valores atribuídos ao hectare de Mata Atlântica oficialmente protegido derivam principalmente da tendência de uso do MVC para as avaliações, o que contribui para a significativa flutuação dos resultados estimados. De fato, o sistema de valoração neoclássico é criticado por Brown e Ulgiati (1999), e propõem a existência de um outro modelo que desconsidere as preferências

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humanas embutidas nos métodos de valoração de contingente, disposição a pagar, custos de reposição e outras abordagens semelhantes.

Brown e Ulgiati (1999) não sugerem que os seres humanos não sejam importantes, mas afirmam que a teoria neoclássica – e sua confiança nos valores utilitários humanos – não pode ser utilizada para debates envolvendo alocação de recursos e preservação dos ecossistemas da biosfera. A justificativa é de que as preferências humanas não podem atribuir valor aos processos ecológicos e recursos ambientais que estejam fora da esfera econômica.

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