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Nesse tópico, a fim de ampliar a visão acerca do futsal, descreveremos com maior enfoque os valores do esporte no clube e na escola, para assim facilitar a posterior discussão e comparação da adesão, aderência e o abandono entre a iniciação ao futsal extracurricular e o clubístico, o que acreditamos contribuir para esses dois ambientes.

O esporte na escola, segundo Paes (1998), pode ser importante por razões como ser a escola uma agência de promoção e difusão da cultura, e até mesmo por uma questão de justiça social, por oportunizar diferentes esportes aos alunos, uma vez que em outros cenários o acesso ao mesmo será restrito a um número reduzido de crianças e de jovens, clientes de academias, ou atualmente das escolinhas de esportes. O autor adiciona que:

O esporte é uma representação simbólica da vida, de natureza educacional, podendo promover no praticante modificações tanto na compreensão de valores, como de costumes e modo de comportamento, interferindo no desenvolvimento individual, aproximando pessoas que tem, neste fenômeno, um meio para estabelecer e manter um melhor relacionamento social. (PAES, 1998, p.112).

Barbieri (2001) possui ideias similares as de Paes (1998), pois enquadra o esporte como expressão cultural da humanidade, e assim, deveria ser ensinado baseado em valores que buscam a identificação do aluno em cooperação e solidariedade com o outro, apoiados nos princípios da totalidade, coeducação, emancipação, participação, cooperação e regionalismo.

FIGURA 2.1 - JOGO DE FUTSAL ENTRE JOVENS. FONTE: Arquivos do autor (2011).

A (FIGURA 2.1) possui a intenção de mostrar como pode acontecer a prática de jogo do futsal entre jovens e podemos perceber que é possível ser desenvolvidas algumas ideias abordadas pelos autores referentes aos valores do esporte. Por exemplo: o companheirismo pode ser desenvolvido no futsal numa situação de defesa, ou marcação, na qual é necessária a participação de todos os alunos da equipe para assim evitar a possibilidade de gol da equipe adversária; o coleguismo, ou noção de coletividade, pode ser desenvolvida no sistema de ataque da equipe, pois para fazer o gol, muitas vezes os integrantes precisam cumprir o que foi treinado e jogar com todos os colegas, ou seja, passar a bola para aquele companheiro melhor posicionado e assim esta equipe têm maior possibilidade de conseguir o gol. A (FIGURA 2.1) revela a presença do árbitro e no futsal este

posiciona-se na parte lateral da quadra, com a intenção de fazer valer as regras do esporte. Desse modo, os jovens participantes precisam entender e respeitar o que é permitido ser feito numa aula ou jogo de futsal. Observamos nesse contexto, o fato de nem todos os alunos participarem do jogo, pois na (FIGURA 2.1) há alunos que estão no banco de reserva e ao entrarem na partida, espera-se deles, que ajudem seus colegas. Enfim, no futsal podemos ter inúmeros exemplos relacionados com os valores do esporte e devem ser estimulados durante as aulas e jogos, com a finalidade de contribuir para a formação do aluno/atleta quanto cidadão.

Demo (2003) comenta que a escola tende naturalmente a reproduzir a sociedade e dada as circunstâncias mais favoráveis pode promover a cidadania crítica dos alunos em diferentes disciplinas. Rúbio (2007), afirma que o esporte praticado nos colégios em horários extracurriculares tem sido uma proposta de inúmeras instituições de ensino para ensinar crianças e jovens a serem competitivos e isso representa um comportamento comum de uma parte da sociedade atual. Sendo assim, a autora comenta que o esporte passa a ser praticado nas escolas cercado de valores somente para uma formação específica, onde muitas vezes visa ganhar títulos e preparar os jovens para uma vida adulta. Com isso o que temos como esporte na escola, pode ser compreendido, confundido, também como esporte performance e a esse processo denomina-se pedagogia do rendimento.

Partindo-se da estrutura esportiva competitiva que leva a uma busca constante por resultados e ao aprimoramento do gesto técnico, as crianças são levadas a rapidamente se inserir em modalidades esportivas, e a viver cada vez mais precocemente a especialização. Muitos programas de iniciação esportiva direcionam aqueles que se destacam, ou mesmo aqueles que tem biótipo adequado para uma modalidade, para clubes e federações que visam atender ao esporte competitivo. (RÚBIO, 2007, p. 115).

Frente a esta realidade, a autora alerta que o esporte tanto pode ser entendido como algo saudável com uma meta educativa, quanto pode reproduzir as características da cultura vigente. Aponta que devemos nos preocupar com sua utilização sem prejuízos físicos e psicológicos aos envolvidos e, considerar valores como a cooperação, participação e criatividade. Para Freire (2012) o esporte não é somente aquele das competições, da aptidão física, como por exemplo – Copa do Mundo e Jogos Olímpicos – as quais assistimos pelos meios de comunicação, ou presencial, em estádios, ginásios e quadras. Para o autor, esporte é algo que inicia-se em diferentes lugares e distante dos cenários midiáticos, mas com grande

importância na formação de qualquer cidadão e geralmente tal fato sequer é dado valor pelas autoridades esportivas.

Devemos entender que o movimento que a criança realiza num jogo, tem repercussões sobre todas as dimensões dos seu comportamento e mais, que esta atividade veicula e faz a criança introjetar determinados valores e normas de comportamento. (BRACHT, 1992, p. 66).

Sendo assim, o ensino do esporte para o jovem, deve ir além da performance esportiva. Campestrini (2009) destaca a relação entre esporte e educação, na qual contribui sobremaneira para as condições de desenvolvimento humano. Segundo o autor o papel da escola é fundamental e está interligado com o processo de formação do jovem. Ainda discute se os clubes exercem ou não praticas de relações sociais com os jovens e salienta que a formação clubística deveria ser ampla, voltada para formar cidadãos mais críticos e responsáveis pelas suas escolhas.

Coelho e Silva e Garcia da Silva (2003), abordam na discussão de um tópico denominado de “Clubes Esportivos Escolares”, sobre o esporte na escola e no clube deveriam corresponder às motivações, necessidades das crianças e dos jovens em relação à cultura motora, o que estimularia diferentes práticas formativas, lúdicas (SCAGLIA, 2003) e desportivas, sem perder de vista que o esporte não é somente para os mais dotados, antes de tudo constitui um elemento fundamental na formação pessoal e social dos mais jovens. Coelho e Silva e Garcia da Silva (2003) argumentam que o treino na escola ou no clube não prejudica a formação do jovem atleta, pelo contrário, estimula valores em crise no sistema educativo como: autodisciplina, assiduidade, pontualidade, auto-superação e competitividade com regras. Os autores identificaram em Portugal, na ilha do Fail, que o clube esportivo é a principal estrutura de participação social, bem a frente da catequese, música, teatro, folclore, escoteiros, tendo se estimado em 55% os adolescentes que praticam ou já praticaram algum esporte organizado.

Segundo Freire (2006), o papel que caberia a escola, ou ao esporte, na superação de desafios e barreiras referentes ao processo de adesão ao esporte, dá se, sobretudo na contribuição dos valores positivos como respeito, amizade, superação e excelência.

Além de ensinar futebol a todos e ensinar bem, a tarefa educacional supõe preparar sempre para algo mais que a atividade específica da escola. Quem

aprende futebol pode desenvolver um acervo de habilidades em muitos outros esportes. Além disso, poderá estar aprendendo a conviver em grupos, a construir regras, a discutir e até a discordar dessas regras, a mudá-las, com rica contribuição para seu desenvolvimento moral e social. (FREIRE, 2006, p. 09).

Conforme Brandão (1994), a educação não se limita a certo lugar, ou instituição. O autor assegura que:

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, ou na escolar, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com educação. (BRANDÃO, 1994, p. 07).

Em paralelo a afirmação acima Damo (2005) argumenta que:

A prática e a contemplação esportiva podem ser consideradas atos educativos, sejam eles atinentes aos domínios das técnicas corporais, das sensibilidades estéticas ou dos controles/descontroles emocionais. Educativo tenderia a ser antes de tudo um juízo associado ao ponto de vista dos atores sociais e, portanto, relacionado ao significado da ação – da prática do futebol, por exemplo. (DAMO, 2005, p. 25).

Nesta dissertação designamos os pais, professores, alunos e diretores, do clube e da escola, de atores sociais, pois fazem parte da iniciação esportiva desses cenários e podem determinar como funciona tais ambientes esportivos. Mesquita (2005, p. 23), ao desenvolver na sua tese de doutorado a educação por meio do

esporte, afirma que: “[…] na atualidade a relevância dos valores educacionais está

constantemente em evidência nas diversas culturas e têm despertado o interesse de

vários dos segmentos da sociedade […]”. Desta forma autores, como alguns

discutidos acima, legitimam a tendência educativa incorporada nas práticas esportivas (BRANDÃO, 1994; SCAGLIA, 2003; DAMO, 2005; FREIRE, 2006; RUBIO, 2007) e nesse estudo poderemos evidenciar, na formação de atletas de futsal.

De um modo geral, ao pensarmos na adesão e aderência em programas esportivos, esperamos que o esporte escolar atenda as características dos alunos,

sendo papel da instituição como um todo, pensar sempre em novos programas1, os

1No site do Ministério do Esporte: www.esporte.gov.br, encontram-se alguns projetos: Projetos Esportivos Sociais, Segundo Tempo, que possuem como um de seus objetivos, desenvolver os valores do esporte nos jovens alunos que aderem à esses programas.

quais estimulem valores e contemplem generosidade, respeito a regras e ao próximo. Conforme Busso (2009), as ações esportivas discentes, de interação na escola e extraescola revelam que há acordos e saberes estabelecidos no início, meio e encerramento de cada jogo.

Os valores que privilegiam o coletivo são imprescindíveis para a formação do humano o que pressupõem compromisso com a solidariedade e o respeito, a compreensão de que o jogo se faz a dois, e de que é diferente jogar com o companheiro e jogar contra o adversário. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 71)

Antes de iniciar o jogo, tem de haver certa sociabilidade e preocupação com o próximo, no sentido de formação de grupos, pois a escolha de equipes – na escola, ou fora dela – muitas vezes acontece por grupos de interesses sustentado na amizade, num universo relacional em que a interação desempenha um papel crítico na concepção e na dinâmica dessa organização social. Deste modo, como o futebol/futsal pode perpassar em diferentes cenários, pois os jovens jogam em casa, na rua, em condomínios, em clubes e na escola com pessoas que consideram como amigas e a escolha dos grupos representa saber também como a pessoa joga, ou se comporta durante os jogos.

Para acrescentar e contribuir ainda mais com a discussão dos valores do esporte, tanto o escolar quanto o clubístico, podemos nos deter aos conceitos do Olimpismo, que busca a simbiose entre o esporte, a cultura e a educação. Para Gomes (2004), o Olimpismo não é sinônimo de Jogos Olímpicos nem tão pouco de Olimpíada, ou esporte de rendimento. É uma forma de vida baseada na alegria do esforço, no ensino de valores relacionados ao bom exemplo e no respeito pelos princípios éticos universais, uma filosofia de vida proposta por Pierre de Coubertin no final do século XIX e início do XX. Coubertin ao instituir os Jogos Olímpicos Modernos em 1896, procurou reviver os Jogos da Antiguidade Clássica com a perspectiva de busca da paz entre os povos, entendendo o esporte romanticamente como celebração da compreensão mútua e da paz universal. Portela (1999) complementa sobre o Olimpismo:

[…] é um conjunto de valores universais, que servem como linha diretriz para a formação dos princípios e comportamentos dos atletas. Nestes termos a moral do esporte, conhecida como Fair Play e incorporada pelo Olimpismo, também possui alguns valores que norteiam a construção do

seu código, dentre as quais a racionalidade, igualdade, liberdade ou entendimento mútuo e a justiça. (PORTELA, 1999, p.35).

Assim podemos dizer que o conceito de Fair Play está associado à adesão voluntária às regras da competição e aos princípios de justiça envolvidos, resultando na obtenção da vitória pela pelo esforço e perseverança. Por esse caráter, o Fair

Play é considerado elemento essencial do potencial educativo dos Jogos Olímpicos

(TAVARES, 1999). Ainda assim, como aponta Gebauer (1990), no esporte a ação prática é o que realmente mais conta, sendo importante impulsionar estudos nas

questões morais para o entendimento dos conceitos do Fair Play, ou Olimpismo, na

qual muitas vezes são amparados somente por situações empíricas, tendo em vista os processos multifacetados da adesão aos valores sociais.

Para enriquecer a discussão, optamos também em apresentar posteriormente as características das instituições envolvidas neste estudo, pois avaliamos que fazem parte do contexto atual da modalidade e auxiliam na caracterização do esporte. Dessa forma esta pesquisa também propõe-se a buscar compreender os objetivos, valores educacionais dessas instituições, bem como a perspectiva nesse esporte, de professores, pais, diretores e alunos e com isso levantar fatores no clube e na escola relacionados com a adesão, aderência e o abandono no futsal.