Schwartz (2005) explica que é importante ter consciência de que cada indivíduo detém
numerosos valores, com variados graus de importância. E, que um valor particular pode ser
importante para uma pessoa, mas não para outra.
Identifica cinco principais características dos valores, a saber: 1) são crenças intrinsecamente
ligadas à emoção: quando os valores são ativados, com ou sem consciência, eles provocam
sentimentos positivos e negativos; 2) são um construto motivacional: referem-se a metas
desejáveis que as pessoas se esforçam por obter; 3) transcendem situações e ações específicas
e, por isso, são considerados objetivos abstratos; 4) guiam a seleção e avaliação de ações,
políticas, pessoas e eventos, servindo como padrões e critérios; 5) são ordenados pela
importância relativa aos demais (SCHWARTZ, 1992). Tomando como ponto de partida os
estudos realizados por Rokeach, apresenta uma teoria de valores básicos, valores estes que
indivíduos de quase todas as culturas reconhecem (SCHWARTZ; BILSKY, 1987;
SCHWARTZ, 1992).
O modelo de valores básicos tem como pressuposto a existência de aspectos da estrutura
psicológica humana - as necessidades -, que são consideradas pré-existentes em todos os
indivíduos. São elas: as necessidades biológicas, de ação social coordenada e de
sobrevivência e bem-estar dos grupos (SCHWARTZ; BILSKY, 1987).
Apesar de praticamente existir consenso entre os autores de que os valores são representações
cognitivas das necessidades, Schwartz foi o primeiro a propor uma estrutura de valores
baseada na motivação humana (TAMAYO, 2007). Sua elaboração percorreu trajetos de
ida-e-volta, movimentos incessantes entre a teoria e a realidade observada (TAMAYO, 2007). O
modelo foi proposto inicialmente com 8 tipos de valores (SCHWARTZ; BILSKY, 1987).
Depois de análises estatísticas e reflexões, passaram para 11, até finalmente ser validado com
10 tipos motivacionais (SCHWARTZ, 1992; 2005), conforme apresentado no Quadro 1.
Quadro 1: Tipos Motivacionais de Valor
Tipo Motivacional Meta Central Necessidades
Poder Status social sobre as pessoas e recursos Interação/Grupo
Realização Sucesso pessoal mediante a demonstração
de competência, segundo critérios sociais
Interação/Grupo
Hedonismo Prazer e gratificação sensual para si
mesmo
Organismo
Estimulação Entusiasmo, novidade e desafio na vida Organismo
Autodeterminação Pensamento independente e escolha da
ação, criatividade, exploração.
Organismo/Interação
Universalismo Compreensão, apreço, tolerância e atenção
com o bem-estar de todas as pessoas e da
natureza
Grupo/Organismo
Benevolência Preservação ou intensificação do bem-estar
das pessoas com as quais se está em
contato pessoal freqüente
Organismo/Interação/Grupo
Tradição Respeito, compromisso e aceitação dos
costumes e idéias oferecidas pela cultura
tradicional ou a religião
Grupo
Conformidade Restrição das ações, tendências e impulsos
que possam incomodar ou ferir os outros e
contrariar expectativas ou normas sociais
Interação/Grupo
Segurança Segurança, harmonia e estabilidade da
sociedade, das relações e de si mesmo
Organismo/Interação/Grupo
Os dez tipos motivacionais, representam um continuum de motivações que dá origem a uma
estrutura circular, conforme contemplado pela Figura 1 (SCHWARTZ, 2005).
Hedonismo
Estimulação
Autodeter-minação
Realização
Poder Segurança
Conformidade
Tradição
Benevolência
Universalismo
ABERTURA
A MUDANÇA
AUTOTRANS-CENDÊNCIA
AUTOPRO-MOÇÃO
CONSER-VAÇÃO
Figura 1. Estrutura Circular dos Tipos Motivacionais
Fonte: Schwartz (2005, p.30)
A natureza desse continuum fica esclarecida quando se percebe a ênfase compartilhada pelos
tipos de valor adjacentes (SCHWARTZ, 2005; 2006):
• Poder e realização: superioridade e estima social;
• Realização e hedonismo: satisfação pessoal;
• Hedonismo e estimulação: desejo do despertar afetivo;
• Estimulação e autodeterminação: interesse pela novidade e domínio;
• Autodeterminação e universalismo: confiança no próprio julgamento e conforto com a
diversidade da existência;
• Benevolência e conformidade: comportamento normativo que promove as relações
próximas;
• Benevolência e tradição: devoção ao próprio endogrupo;
• Conformidade e tradição: subordinação do indivíduo em favor de expectativas sociais
impostas;
• Tradição e segurança: preservação dos acordos sociais existentes para dar segurança à
vida;
• Conformidade e segurança: proteção da ordem e da harmonia nas relações;
• Segurança e poder: controle das relações e dos recursos.
As ações na busca de determinados tipos de valor têm conseqüências que podem conflitar ou
ser congruentes com a busca de outros. A aproximação de dois tipos motivacionais demonstra
as semelhanças existentes entre eles e o distanciamento por sua vez, traduz o antagonismo das
motivações subjacentes (SCHWARTZ, 2005).
As oposições entre tipos motivacionais antagônicos foram resumidas por meio de quatro
valores de segunda ordem, organizados em duas dimensões bipolares. Como mostra a Figura
1, uma dimensão contrasta “abertura à mudança” e “conservação”. Essa dimensão captura o
conflito entre a ênfase no pensamento e ações independentes do indivíduo, que favorecem a
mudança (autodeterminação e estimulação) e a auto-restrição submissa, preservação de
práticas tradicionais e proteção da estabilidade (segurança, conformidade e tradição). A
segunda dimensão contrasta “autopromoção” com “autotranscendência”. Essa dimensão
captura o conflito entre a ênfase na aceitação dos outros como iguais e a preocupação com seu
bem-estar (universalismo e benevolência) e a busca pelo próprio sucesso e domínio sobre os
outros (poder e realização). O hedonismo tem elementos tanto de abertura à mudança quanto
de autopromoção (SCHWARTZ, 2005).
Para a validação da teoria, Schwartz (1992) utilizou o instrumento conhecido como Inventário
de Valores de Schwartz (SVS). Testado empiricamente em 210 amostras de 67 países, a
pesquisa incluiu um total de 64.217 participantes de diversos continentes, permitindo uma alta
diversidade no que se refere à geografia, cultura, língua, religião, idade, gênero e ocupação.
Foi possível comparar amostras múltiplas de uma mesma sociedade, possibilitando dessa
maneira a comparação intracultural de valores em um mesmo contexto empírico e a estrutura
de relações entre eles (SCHWARTZ, 2005).
A primeira versão do SVS, publicada em 1987, incluía 56 itens. A edição revisada em 1994,
com 57 itens, abandonou um item que era freqüentemente mal interpretado e adicionou outros
dois (SCHWARTZ, 2005). Ambas versões foram divididas em duas listas, uma vez que
tomou como ponto de partida as listas de valores terminais e instrumentais de Rokeach.
O SVS foi traduzido em 46 línguas. As traduções foram preparadas em cada país, baseadas na
versão em inglês, assim como em versões em línguas cognatas. O SVS tem sido o
instrumento mais utilizado para medir os 10 tipos motivacionais básicos (SCHWARTZ,
2005). No entanto para superar a especificidade abstrata característica do SVS, Schwartz
desenvolveu um instrumento adicional denominado PVQ - Portrait Values Questionnarie,
contribuindo dessa forma para verificar se a teoria é válida independentemente do instrumento
utilizado. Os itens descrevem objetivos, aspirações ou desejos que implicitamente apontam
para a importância de um tipo motivacional (SCHWARTZ, 2005).
A validação desse segundo instrumento foi feita a partir de 14 amostras de adultos, estudantes
universitários e adolescentes de sete países: Chile, Alemanha, Indonésia, Itália, Peru, Polônia
e Ucrânia, em um número total de 7.480 participantes. As oposições entre abertura a mudança
e conservação e entre autopromoção e autotranscendência estiverem presentes em todas as
amostras. O único desvio significativo da estrutura teórica foi uma reversão de posições entre
universalismo e benevolência em metade das amostras (SCHWARTZ, 2005).
Os resultados obtidos por meio do PVQ permitiu concluir que a teoria de valores, entendida
aqui como a oposição entre os valores de segunda ordem, independe do método de
mensuração, confirmando-se dessa maneira que os valores básicos são, de fato, quase
universais (SCHWARTZ, 2005).
No presente estudo foram adotados o conceito de valores e a teoria de valores pessoais de
Schwartz (2005). Tal teoria é empregada em estudos de valores organizacionais, construto
também contemplado nesta pesquisa apresentado na seqüência deste referencial teórico.