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Capítulo VI – A valorização turística do património cultural imaterial: O caso das Festas

6.3. Objeto de estudo Festas Nicolinas

6.3.2. Análise e interpretação dos resultados

6.3.2.3. Valorização Turística das Festas Nicolinas

A cidade de Guimarães é um centro de cultura patrimonial e tradicional que atraí turistas a nível nacional e internacional. Foi objeto de estudo a relação entre o património cultural imaterial e o turismo sendo o património cultural imaterial importante na identidade e na memória da comunidade vimaranense. O património cultural imaterial é cada vez mais usado para fins turísticos, apesar das vantagens económicas e socioculturais existem também receios na perda de identidade e significado ao tornar o património imaterial um produto turístico.

Todos os entrevistados estão conscientes que uma possível candidatura à UNESCO, as Festas Nicolinas poderão ganhar maior visibilidade e com isso tornar-se uma atração turístico-cultural, ou seja, existir uma valorização turística da história local pois uma candidatura aumenta a visibilidade externa das Nicolinas e por consequência o aumento do turismo. Será ainda benéfico para a cidade de Guimarães, o aumento do turismo numa época baixa e o aumento da visibilidade da cidade e da região, consistindo num factor adicional da atração turística para Guimarães. Para além de ser vantajoso para o comércio devido ao aumento do fluxo de turistas, também é saudável para as pessoas com o aumento de trocas de experiências entre a comunidade e os turistas. A divulgação da cidade ainda estimula o desenvolvimento da região, portanto promovem a imagem e o fluxo económico das regiões, nomeadamente na época baixa impulsionando o desenvolvimento e o crescimento local sustentável, ou seja, beneficiar de forma

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democrática a comunidade local (Getz, Anderson & Sheehan, 1998; Raj, 2003; Kohler & Durand, 2007; Beni, 2007; Ribeiro & Ferreira, 2009) (imagem 3).

Imagem 3 - Festas Nicolinas uma atração turístico-cultural

Fonte: elaboração própria com base nas entrevistas realizadas

Na entrevista realizada à direção da AAELG/VN verificamos a importância da cidade se promover enquanto imagem e que, juntamente, é essencial dar a conhecer a existência das Festas Nicolinas que são uma tradição centenária, única e singular. E nesse sentido, a AAELG/VN com a colaboração da Câmara Municipal de Guimarães está a elaborar um roteiro das Festas Nicolinas, no qual realça a sua simbologia. Esse roteiro é para ser distribuído pelos turistas como forma de os informar das festas e dos

Aumento da visibilidade Aumento do Turismo local

Benéfico para a cidade

Aumento do fluxo de turistas numa época

baixa

Possível candidatura a Património Oral e Imaterial da UNESCO

 Vantajoso para o comércio local

 Aumento da troca de experiências entre comunidade local e os turistas

locais onde se realizam. Para Augusto Castro e Costa (presidente da direção da AAELG/VN), “ (…) é um património que é nosso, que as pessoas podem vir e usufruir em liberdade e cada vez vem mais pessoas como se tem visto e gente de fora, garantem que gostam disto e que gostam da festa pela festa.”.

Portanto, Miguel Bastos (primeiro secretário da direção da AAELG) refere que é essencial que as Festas Nicolinas sejam incluídas como património imaterial vimaranense e que as pessoas, da cidade e de fora, saibam que existe este evento mas, não vê necessidade de promoção turística. Ricardo Gonçalves (2º vogal da direção da AAELG) acrescentou ainda que as Festas Nicolinas, sozinhas, não movimentam uma massa crítica que possa ter impacto turístico, apesar de existirem sempre pessoas com interesse, antropólogo e cultural, em conhecer as festas.

No entanto, a AAELG/VN e a ACFN não consideram benéfico para as próprias Festas Nicolinas torná-las numa atração turística. Miguel Coelho Lima (Presidente da direção da ACFN) refere que os números nicolinos pouco ganham a nível da tradição e dos costumes, pois as festas são do povo para o povo de Guimarães. Portanto, “(…) são feitas de nós para nós (…)”, isto quer dizer que, são do povo para o povo da cidade berço logo, realizadas de baixo para cima. Sendo que as pessoas podem assistir e participar nas festas, mas de uma forma informal. E Ricardo Gonçalves (2º vogal da direção da AAELG/VN), acha que as pessoas “(…) podem não perceber ou sentirem o que é verdadeiramente o espirito nicolino. Pois o espírito nicolino é entrega, abertura, fraternidade entre todos os antigos e novos estudantes.”.

Existe uma preocupação na questão de tornar as Nicolinas num produto turístico pois há o medo em perder a identidade e a saudade que a tradição transmite e que lhe é tão característica, ou seja, leva-nos ao problema da autenticidade e do reconhecimento das festas pelos turistas (tabela 14). Nessa linha de pensamento Getz (1989), Dunstan, (1994), Macnnell (1976), Wang (1999) Raj (2003) e Pedro & Dias (2008) referem para preservar a originalidade e a autenticidade na realização das festas nem sempre é recomendável tornar a tradição num produto comerciável pois o foco passa a ser o interesse que desperta no turista e não a realização das festas de forma autêntica. Nesse sentido, é importante evitar que as festas se transformem em produtos turísticos clichés e vulgares (tabela 12).

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Tabela 12 – Obstáculos em tornar as Festas Nicolinas num produto turístico

Números nicolino pouco ganhariam a nível da tradição e dos costumes Perda de identidade e da saudade que a tradição transmite

Problema da originalidade, autenticidade e do reconhecimento das festas pelos turistas

Festas Nicolinas poderiam tornar-se num produto turístico vulgar Fonte: elaboração própria com base nas entrevistas realizadas

A AAELG/VN e ACFN consideram que a existência de um programa turístico tornaria as Festas Nicolinas rígidas, no sentido que ficavam cristalizadas, podendo impedir mudanças e adaptações à atualidade. As mudanças realizadas às festas, aos longos dos tempos, é um tema sensível e tornar as Festas Nicolinas numa atração turístico-cultural pode transformar as comemorações num evento fixo. No entanto, segundo nº1, do art.º 2 da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, “ (…) este património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio envolvente, da sua interação com a natureza e da sua história, e confere-lhes um sentido de identidade e de continuidade, contribuindo assim para promover o respeito da diversidade cultural e a criatividade humana.” Logo, esse problema não se coloca porque, por um lado, não existe nenhum impedimento à evolução e transformação das festas e a sua adaptação aos tempos. Por outro lado, as mudanças das festas são atrativos para os turistas no sentido que existe algo novo para presenciar e experimentar.

Em suma, a opinião dos entrevistados relativamente à potencial valorização turística das festas difere. De facto, enquanto, uns consideram que as festas, como elemento identitário podem contextualizar-se no desenvolvimento do turismo cultural do concelho, outros entrevistados, continuam a destacar a identidade das ditas festas mas, sendo dos e para os residentes (locais). Contudo, esta última perspetiva referenciada não põe em causa a importância turística das festas. De facto, apenas reforça que estes agentes se identificam com as festas numa lógica de respeito e preservação da autenticidade bem como associado a um sentimento de pertença relativamente a este património, o que em si é um elemento determinante para que ele seja algo de ‘vivo’ e consequentemente distintivo de uma cultura. E como se salientam no enquadramento

teórico do presente trabalho estas são as premissas de um turismo cultural, na verdadeira aceção do conceito.

A afirmação dos entrevistados relativamente a que a subordinação das festas a um programa turístico tornaria as festas “rígidas” realça a sensibilidade que já existe para os princípios da sustentabilidade aplicados ao desenvolvimento turístico. Os entrevistados revelam assim, que o turismo deve assentar nas premissas de um desenvolvimento sustentável, o qual entre outros aspetos enfatiza a necessidade de preservação e conservação das práticas não desvirtuando as festas em função das exigências do mercado turístico. O facto sublinha as festas enquanto prática não subordinada às perniciosas tendências da mercantilização da cultura, uma vez visam sim uma relação simbiótica entre turismo e cultura e não uma relação que propicie a eventual adulteração da cultura em função de potenciais exigências mercantis.