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Capítulo III – Plataformas químicas

III.3 Variáveis de análise

Todos os fatores levantados até então – definições, fatores característicos, dinâmica de competição, desafios e dilemas – levam à definição de variáveis de análise

que permitem classificar e distinguir diferentes estratégias adotadas pelas empresas produtoras de plataformas químicas frente aos dilemas enfrentados como forma de superar os seus desafios e permitir o desenvolvimento comercial destas. O estudo do posicionamento estratégico de uma empresa com base nessas variáveis permite também identificar, com base no modelo de desenvolvimento comercial apresentado na seção anterior, o quão perto estão os seus produtos de uma plataforma química. Apesar de não apresentar um aspecto favorável e desconsiderar o dinamismo desse processo, o modelo criado pela Succinity (2014) traz fatores essenciais ao desenvolvimento de plataformas que poderão ser considerados, em conjunto, base para a conclusão deste processo.

Estas variáveis podem ser identificadas como movimentos estratégicos e, portanto, foram definidas com base nas 4 alavancas citadas por Gawer e Cusumano (2002) apud (GAWER, 2010; GAWER e CUSUMANO, 2013) aplicadas para o caso específico das plataformas químicas:

i. Background: Definição do histórico da empresa produtora da plataforma no

sentido da sua criação como forma de compreender o modelo estratégico ou arranjo empresarial adotado. Esse arranjo permite supor, caso a caso, o modelo de incorporação da plataforma na indústria e analisar a atratividade da empresa a investidores;

ii. Design tecnológico: Definição do composto químico propriamente dito e do processo produtivo no que inclui matéria-prima, rota tecnológica e eventuais vantagens comparativas;

iii. Escopo interno da empresa: Definição dos elos da cadeia de valor integrados na empresa produtora da plataforma, ou seja, nível de verticalização do processo produtivo no que inclui integração para frente e para trás e definição de eventuais estratégias de expansão horizontal para outros compostos. A partir dessa estrutura produtiva interna define-se também o modelo de comercialização do(s) produto(s);

iv. Estratégia de valor (criação e apropriação): Definição do grau de abertura à inovação e das estratégias de apropriação de valor no que inclui diversificação na

forma de gerar receitas e implantação de custo de acesso à tecnologia por patenteamento e/ou licenciamento de tecnologia. Essa variável trata a forma como a empresa lida com o dilema grau de abertura versus apropriação de valor.

v. Relacionamentos externos (competição e colaboração): Definição da dinâmica de relações de cooperação e dos comportamentos oportunistas entre as produtoras de uma mesma plataforma, entre uma produtora e agentes complementadores e entre uma produtora e o end user. Essas parcerias, a depender do grau de maturação da plataforma, permitem compreender o encadeamento entre elos da cadeia e o modelo de governança e liderança por trás dessa dinâmica.

A partir dessas variáveis é possível estudar e comparar não só diferentes plataformas químicas como também diferentes posicionamentos de empresas produtoras de uma mesma possível plataforma química no sentido da concretização desta no mercado. É possível observar através da consolidação das informações para todas as empresas produtoras as estratégias competitivas e colaborativas que convergem para o desenvolvimento de um produto como plataforma química. Essas estratégias evidenciam quais os fatores considerados essenciais por cada empresa para impulsionar a adoção dos mercados pelos seus produtos inovadores e o quão vêm se esforçando nesse sentido.

A figura III-4 apresenta um quadro analítico que resume o desenvolvimento teórico proposto neste capítulo. Este quadro apresenta as cinco variáveis para o estudo do posicionamento de empresas focais - background, design tecnológico, escopo interno, estratégia de apropriação e relacionamento externos - e os principais fatores tecnológicos e estratégicos a serem considerados nessa análise. Estes fatores englobam os desafios a serem enfrentados nesse processo e as supostas formas de superá-los e de ganhar vantagens comparativas frente à concorrência. Desta forma, as opções adotadas por um líder de plataforma química quanto a cada um desses fatores permite compreender o estágio de evolução da plataforma, ou seja, permite supor o quão próximo se está de permitir a difusão no mercado deste novo intermediário.

Por fim, quando da superação dos desafios e atendimento às condições necessárias para que um composto químico se comporte como plataforma, é possível observar que

são diversas as vantagens do desenvolvimento de novas plataformas químicas, muitas das quais semelhantes às identificadas para plataformas de produto na seção II.2 e outras mais específicas às particularidades químicas. Pode-se citar: larga aplicabilidade; versatilidade de uso final; economia em custos fixos; possibilidade de aproveitamento de economias de escala e escopo em produção e em fornecimento; vantagens ambientais e criação de oportunidades de investimento permitindo a exploração de cadeias antes não promissoras. Estes dois últimos pontos são verificados no caso de plataformas a partir de biomassa em função da possibilidade de produção de derivados com potencial como substitutos a petroquímicos convencionais atingindo inclusive mercados antes não alcançados por limitações de custo e/ou ambientais.

Desta forma, com base em toda a análise realizada – apresentando desde características e vantagens intrínsecas às plataformas químicas até as estratégias para posicionamento das empresas quanto aos dilemas inerentes ao processo evolutivo de forma a superar desafios em um ambiente extremamente competitivo –, todo este capítulo oferece base para o estudo de plataformas químicas, antes extremamente vago na literatura, permitindo a comparação entre diferentes casos e a identificação do quão próximo de uma plataforma química está um composto químico em desenvolvimento a partir da análise dos ecossistemas de inovação e movimentos estratégicos envolvidos.

Figura III-4 Quadro analítico –Estudo de plataformas químicas Fonte: Elaboração própria

Capítulo IV –

O bio-ácido succínico como plataforma