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3.4.2 Identificação de eficiência

3.4.2.3 Variáveis dos modelos DEA

O comportamento dos indicadores de desenvolvimento pode estar relacionado, de alguma forma, com o comportamento das despesas públicas. Em função disso, dada a superioridade de arrecadação orçamentária dos municípios arrecadadores de CFEM em relação aos não-arrecadadores, pressupõe-se superioridade, também, dos indicadores sociais dos primeiros. De acordo com Enríquez (2007), os anos de estudo, por exemplo, se associam diretamente com os gastos em educação, enquanto que a taxa de analfabetismo possui uma associação inversa com investimentos públicos, sendo que ambos se correlacionam positivamente com o crescimento da renda.

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Para melhor compreensão dos fenômenos envolvendo a gestão pública, procurou-se identificar, neste estudo, a eficiência técnica por área de atuação – social e econômica – dos dois grupos de municípios9 (arrecadadores e não-arrecadadores de CFEM), nos anos de 2003 e 2007. Portanto, serão apresentados quatro modelos de eficiência, relacionados às seguintes áreas temáticas: educação, saúde, saneamento e atividades econômicas. Estas últimas são atividades distintas à mineração, como efeito da diversificação produtiva dos municípios, a saber: agropecuária, indústria e serviços.

É importante ressaltar que, em função da dimensão da amostra utilizada neste estudo, os municípios que apresentaram escores compreendidos no intervalo de 0,9010 a 1,00 foram considerados eficientes

Assim sendo, para a análise de eficiência técnica, com base nos determinantes do comportamento da despesa pública e na classificação dos gastos públicos segundo Rezende (1997), foram escolhidas as variáveis apresentadas a seguir, conforme área temática. Para a construção dos modelos, os recursos financeiros destinados à melhoria das condições social e econômica foram utilizados como insumos e os resultados gerados pelas aplicações desses insumos foram utilizados como produtos.

Ressalta-se que todos os dados são anuais, corrigidos à base de 2007, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA11.

Educação

• Insumos (X): Despesas com Educação per capita (DEDUCpc), representando a medida para a melhoria da situação educacional.

• Produtos (Y): Taxa de Rendimento (TXREND), Alunos por Turma (ALTURMA), Número de Docentes por Escola (NUMDOCESC), representando os resultados gerados pela aplicação dos recursos.

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Por rigor analítico, procedeu-se, previamente, a análise da eficiência técnica por estratos de municípios, de acordo com o porte. No entanto, em atendimento so pressupostos do modelo DEA, não foi possível acatar os resultados.

10 A aceitação do escore 0,90 como eficiente é explicada como margem de segurança para suprimento de erros,

considerando a abordagem não-paramétrica e sensível a outliers.

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Este índice é adotado, oficialmente, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e abrange famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 (hum) e 40 (vinte) salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos e residentes em áreas urbanas das regiões.

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Saúde12

• Insumos (X): Despesas com Saúde per capita (DSAUDEpc), representando os recursos destinados à melhoria das condições de saúde dos munícipes.

• Produtos (Y): Inverso do Percentual de Óbitos de Nascidos Vivos (INVPERCOBIT), Inverso da Mortalidade Infantil por Nascidos Vivos (INVMORTINF) e Percentual da População Atendida pelo Programa de Saúde da Família (PERCPSF), representando os resultados concebidos pela alocação dos recursos da saúde.

Saneamento

• Insumos (X): Despesas com Saneamento per capita (DSANpc), representando os insumos ora direcionados à efetivação de melhorias das condições básicas de saneamento.

• Produtos (Y): Percentual de Residências com Lixo Coletado (LIXCOLET), Percentual de Residências com Serviços de Esgoto (PSERVESG), Percentual de Residências com Tratamento de Água (PTRATAGUA) e Percentual de Residências com Energia Elétrica (PENELET), representando os resultados gerados pela aplicação dos recursos destinados ao saneamento.

Atividades produtivas

• Insumos (X): Receita Tributária per capita (RECTRIBUTpc), Transferências Intergovernamentais da União per capita (TRANSFUNIÃOpc) e Transferências Intergovernamentais do Estado per capita (TRANSFESTADOpc), representando recursos, ainda que parcialmente disponíveis, para investimentos em outras atividades produtivas distintas à mineração.

• Produtos (Y): Valor Adicionado da Agropecuária per capita (VAGROPpc) Valor Adicionado da Indústria per capita (VAINDpc) e Valor Adicionado dos Serviços per capita (VASERVpc), como fatores resultantes de investimentos públicos nestas atividades econômicas.

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Por rigor analítico, houve a tentativa de incluir, como produto, os serviços prestados pelos Consórcios Intermunicipais de Saúde na análise deste modelo. Entretanto, por insuficiência de dados, não foi possível tal inclusão.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Variações das receitas orçamentárias e de CFEM

Neste item, são apresentadas as variações das receitas orçamentárias per capita e de CFEM per capita dos municípios arrecadadores de royalties minerais (Figura 6), integrantes da amostra deste trabalho, no período compreendido entre 2003 e 2007, conforme resultados constantes do Apêndice F. -2 0 0 2 0 4 0 6 0 8 0 10 0 12 0 2 00 3-20 04 20 04 -20 05 20 05 -20 06 20 06 -20 07

R eceita o rça m entá ria p er ca pita R eceita C FEM p er ca pita

Fonte: Elaboração da autora, a partir de dados da Secretaria do Tesouro Nacional (2008) e do Departamento Nacional de Produção Mineral (2008)

Figura 6 – Variações (%) das receitas orçamentária per capita e de CFEM per capita dos municípios arrecadadores do Estado de Minas Gerais, 2003 a 2007.

Na Figura 6, observa-se que as receitas orçamentárias per capita dos municípios de base mineradora sofreram evolução de 16,2%, durante o período 2003 a 2004, enquanto as arrecadações per capita de CFEM apresentaram uma variação de 94,4%, no mesmo período.

Segundo o DNPM (2008), o mercado de commodities, no ano de 2003, apresentou-se fortemente influenciado pelo aumento do fluxo de comércio externo da economia. O setor primário da economia se destacou com (1) a indústria extrativa mineral, apresentando 2,8% de crescimento, devido ao desempenho da produção de petróleo, ferro e bauxita; e (2) a agropecuária, impulsionada em 5% pela exportação.

Além disso, os índices de preços das principais commodities minerais tiveram, em 2003, expressivos movimentos de recuperação, reflexos positivos associados à forte depreciação do dólar e às incertezas sobre o patamar de equilíbrio. A propósito, vale destacar a notável valorização do ouro. Adicionalmente, deve-se associar à apreciação dos preços das

51 commodities, em particular dos metálicos, o ritmo do crescimento da economia chinesa, que

respondeu pela importação de 21% de alumínio, 23% de minério de ferro e 24% de zinco (DNPM, 2008).

Em relação ao período de 2004 a 2005, percebeu-se comportamento semelhante. As receitas orçamentárias evoluíram 36,2% e as receitas de CFEM confirmaram aumento de 73,7% (Figura 6).

Este fato pode ser explicado em razão da crescente participação da CFEM, a partir de 2004, no total da receita orçamentária per capita dos municípios de base mineradora. Segundo o DNPM (2008), a indústria extrativa mineral ampliou-se em 10,9% devido, principalmente, à manutenção dos preços altos das commodities minerais derivadas do boom minero-econômico internacional, enquanto a indústria, a agropecuária e o setor de serviços cresceram, nesta ordem, 2,5%, 0,8% e 2,0%. O resultado da indústria de extração mineral foi beneficiado, principalmente, devido ao aumento das quantidades extraídas de carvão mineral (12,7%), petróleo e gás natural (11,4%) e minérios ferrosos.

Entre 2005 e 2006, a expansão das receitas orçamentárias per capita foi de 3,52%, apenas, enquanto para as receitas de CFEM per capita identificou-se queda de 13,8% (Figura 6). Segundo o IBGE (2008), a economia brasileira apresentou resultados positivos nesse período. Os três setores da economia apresentaram o seguinte desempenho: Indústria, 2,6%, com destaque para a extrativa mineral (6,7%), Serviços, 2,3% e Agropecuária, 0,3%. No entanto, os valores de CFEM per capita, repassados aos municípios beneficiados, não acompanharam o comportamento econômico da atividade de extração mineral durante este período.

No período de 2006 a 2007, as receitas orçamentárias sofreram um acréscimo de 8,6%, enquanto a arrecadação per capita de CFEM apresentou uma evolução de 20,2%. Assim, manteve-se perceptível a crescente dependência dos maiores municípios mineradores em relação à receita de royalites do minério.

A arrecadação da CFEM ao longo dos primeiros seis meses de 2006 continuou favorecida pela valorização das commodities minerais, pelo aumento da produção de bens minerais, estimulado pela forte expansão do comércio mundial, especialmente pelo consumo na Ásia (em particular China e Índia). As matérias-primas minerais contribuíram, no primeiro semestre deste ano, com US$7,6 bilhões no saldo comercial, com reflexos positivos na formação da arrecadação de CFEM pelo minério de ferro (60%), alumínio (7%), cobre (4%), ouro (4%), caulim (3%) e calcário (2%). No ranking estadual de arrecadação de CFEM, em

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2006, mantiveram hegemonia Minas Gerais, com 52,1%, e o Pará com 27,55%, seguidos por Goiás (3,5%), Sergipe (2,8%) e Amapá (2,7%) (DNPM, 2008).

No entanto, em 2007, observou-se certa deterioração das expectativas quanto à continuidade da intensidade da demanda por minerais, em função do desaquecimento das principais economias desenvolvidas mundiais, embora o consumo de países emergentes asiáticos tenha se mantido robusto. A indústria extrativa mineral cresceu 2% e 0,3%, respectivamente, nos dois últimos trimestres de 2007, abaixo da variação da indústria, que foi de 5% e 4,3% nesses trimestres.

É importante ressaltar que o setor de petróleo e gás representa 65% da composição do PIB indústria extrativa mineral, sendo que o minério de ferro participa com 25%. O valor adicionado a preços básicos da indústria extrativa mineral, no segundo semestre de 2007, foi equivalente a R$ 24.063 milhões, representando a participação de 2,1% no PIB total do país. Em igual período de 2006, essa participação foi de 2,5% (DNPM, 2008).

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