• Nenhum resultado encontrado

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.3 VARIÁVEIS ESTUDADAS

Essas variáveis foram utilizadas para comparar os diferentes momentos e a diferença entre os grupos, seguindo assim uma padrão de análise e verificando a eficácia e a diferença entre as técnicas.

3.3.1 Avaliação radiográfica do ângulo do platô tibial (APT)

O ângulo do platô tibial (APT) foi avaliado entre M0 a M5. Os espécimes foram radiografados em projeção médio-lateral, mantendo-se os côndilos femorais sobrepostos e a articulação tíbio-társica flexionada a 145°, para avaliação do platô tibial. Projetou-se uma linha longitudinal entre o centro do talus e a eminência intercondilar, denominando-se de eixo funcional da tíbia. O platô tibial foi orientado por uma linha tangencial às inserções tibiais dos ligamentos cruzados cranial e caudal, e o APT mensurado entre a diferença angular da linha projetada pelo platô tibial e a linha perpendicular ao eixo funcional da tíbia (Figura 13) (MORRIS; LIPOWITZ, 2001; FETTIG et al., 2003; ZELTZMAN et al., 2005; FUJITA et al., 2006; LINS, 2006; HEADRICK et al., 2007).

Figura 13 – Imagem digitalizada de radiografia em projeção médio-lateral. O eixo funcional foi projetado em uma linha longitudinal entre o centro do talus e a eminência intercondilar. O platô tibial foi orientado por uma linha tangencial às inserções tibiais dos ligamentos cruzados cranial e caudal e o APT mensurado entre a diferença angular da linha projetada pelo platô tibial e a linha perpendicular ao eixo funcional da tíbia. O ATP é o encontro da linha do platô tibial com a linha projetada paralelamente ao ligamento patelar.

3.3.2 Avaliação radiográfica do ângulo do tendão patelar (ATP)

O platô tibial foi orientado por uma linha tangencial às inserções tibiais dos ligamentos cruzados cranial e caudal e o encontro com a linha projetada paralelamente ao ligamento patelar formou o ângulo interno denominado de ATP (Figura 13) (TEPIC; MONTAVON, 2004; HOFFMANN et al., 2006; LINS, 2006; LAFAVER et al., 2007; APELT; KOWALESKI; BOUDRIEAU, 2007), que foi mensurado em M0, M1, M2, M3, M4 e M5.

3.3.3 Avaliação radiográfica do deslocamento cranial da tíbia

Para determinação do deslocamento cranial da tíbia, uma folha de acetato milimetrado foi sobreposta às imagens radiográficas, individualmente, em cada momento (M0, M1, M2, M3, M4 e M5), onde as linhas horizontais foram posicionadas paralelas à alma distal do parafuso cortical com arruela de PVC de maior comprimento, inserido no porção caudal do côndilo femoral.

Para quantificar o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur foi mensurada a distância horizontal entre duas linhas verticais paralelas, perpendiculares à linha horizontal, projetadas sobre os parafusos identificadores: femoral e tibial (Figura 14). O deslocamento tibial (Si) foi calculado pela fórmula Si = x0-xi, sendo x0 a distância horizontal separando os parafusos identificadores, no momento inicial (M0), e xi a distância em cada momento subseqüente (M1 a M5), conforme descrito por Warzee et al. (2001), Kowaleski et al. (2005), Pozzi et al. (2006), Lins (2006) e Apelt, Kowaleski, Boudrieau (2007).

Figura 14 – Imagem digitalizada da radiografia sobreposta por folha de acetato milimetrada, demonstrando as linhas horizontais paralelas à alma do parafuso de maior tamanho na região do côndilo femoral e fabela. Circunferências em vermelho localizando os parafusos identificadores que foram sobrepostos por duas linhas azuis, paralelas verticalmente, para mensuração entre as mesmas e quantificação do deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur, em diferentes momentos.

3.3.4 Deslocamento do menisco medial

Para determinação do deslocamento do menisco medial, uma folha de acetato milimetrada foi sobreposta às imagens radiográficas, individualmente, em cada momento (M0, M1, M2, M3, M4 e M5), onde as linhas horizontais foram posicionadas paralelas à alma distal do parafuso cortical com arruela de PVC de maior comprimento, inserido no porção caudal do côndilo femoral.

Para quantificar o deslocamento das bordas cranial e caudal do menisco, foram utilizados como pontos de referência, os fios de aço radiopacos fixados previamente no preparo dos espécimes, objetivando quantificar os efeitos gerados sobre as forças de carga no deslocamento do menisco medial. O deslocamento meniscal (Ri) foi computado com a fórmula Ri = Li-L0, sendo L0 a distância horizontal separando as linhas verticais projetadas sobre as porções do ápice dos identificadores meniscais, no momento inicial (M0), e Li, a distância horizontal em cada momento seqüencial (M1, M2, M3, M4 e M5) (POZZI et al., 2006 ).

3.3.5 Rotação interna da tíbia

A rotação interna da tíbia foi avaliada pelas imagens fotográficas digitalizadas da porção caudal dos espécimes, comparando o ângulo interno formado pelo encontro das linhas projetadas sobre os pinos Steinmann pré-fixados no fêmur e tíbia, em cada momento seqüencial (M0, M1, M2, M3, M4 e M5). A mensuração do ângulo foi realizada com um transferidor sobre a imagem digitalizada, onde a linha de 90° posicionava-se sobre a linha femoral, objetivando quantificar os efeitos gerados sobre a rotação interna da tíbia em relação ao fêmur (Figura 15), sob o efeito da força de carga.

Figura 15 – Ilustração da imagem fotográfica digitalizada da face caudal do espécime 8 (GII) no M2, na projeção próximo-distal. O ângulo interno formado pelo encontro das linhas projetadas sobre os pinos Steinmann pré-fixados no fêmur (fita adesiva) e tíbia foram mensurados por transferidor sobre a imagem digitalizada, onde a linha de 90° posicionava-se sobre a linha femoral.

3.3.6 Análise estatística

A análise de variância para medidas repetidas (ANOVA) seguida pelo teste de Tukey, foi utilizada para comparar as variavéis do APT, ATP, deslocamento cranial da tíbia, rotação interna da tíbia e liberação do menisco medial, nos diferentes momentos, dentro de cada grupo e entre grupos. O teste de Pearson foi usado para correlacionar o deslocamento cranial da tíbia com o APT, o ATP e a rotação interna da tíbia, em diferentes momentos do experimento. Foi considerado o nível de significância de 5%.

4 RESULTADOS

4.1 Avaliação radiográfica do deslocamento cranial da tíbia

Ao exame radiográfico, avaliou-se o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur, nos diferentes momentos (Figura 16). Em ambos os grupos, não houve diferença significativa entre o M0 e M1. Porém, houve diferença significativa entre M0 e os outros momentos e, também, entre M1 e os outros momentos, em ambos os grupos. Entre o M2 e os momentos posteriores, em ambos os grupos, não houve diferença significativa.

Os espécimes 09 e 11, pertencentes ao GII, apresentaram neutralização do deslocamento cranial da tíbia no M4, ou seja, o deslocamento cranial foi igual a zero, mas no M5, houve novamente o deslocamento cranial da tíbia.

A comparação entre os grupos GI e GII não apresentou diferença significativa entre as médias dos grupos avaliados, nos diferentes momentos. As médias e os desvios padrão referentes ao GI e GII, nos diferentes momentos, encontram-se na Tabela 3.

Ao avaliar-se os coeficientes de correlação pelo método estatístico de Pearson, observou-se que houve correlação entre o deslocamento cranial da tíbia com o ATP, no M1, do GII. E que, no GI, a correlação entre o deslocamento cranial da tíbia foi inversa ao ATP.

Tabela 3 – Médias e desvios padrão do deslocamento cranial da tíbia em cm, nos diferentes momentos. Valores (Mínimos / Máximos) do deslocamento cranial da tíbia em cm, nos diferentes momentos. M0 M1 M2 M3 M4 M5 Grupo I 0±0 0,10±0,56 (-0,4/1,2) 1,02±0,27ab (0,6/1,4) 0,90±0,33ab (0,5/1,4) 0,93±0,24ab (0,6/1,2) 1,03±0,30ab (0,6/1,4) Grupo II 0±0 -0,08±0,16 (-0,4/0) 1,05±0,56ab (0,3/2,0) 0,78±0,57ab (0/1,5) 0,75±0,69ab (0/1,7) 0,87±0,65ab (0,2/1,9) A - As médias e os desvios padrão seguidos de “a” diferem significativamente de M0 (p<0,05). B - As médias e os desvios padrão seguidos de “b” diferem significativamente de M1 (p<0,05).

Figura 16 – Imagem radiográfica digitalizada do joelho, em projeção médio-lateral, ilustrando o deslocamento cranial da tíbia, em diferentes momentos, do espécime 8 (GII). Observa-se que, em M2, ocorreu deslocamento cranial da tíbia e, nos momentos subseqüentes, o deslocamento cranial da tíbia foi minimizado, sem neutralização.

4.2 Avaliação radiográfica do ângulo do platô tibial (APT)

Ao exame radiográfico, avaliou-se o APT nos diferentes momentos (M0 a M5) (Figura 17). No GI, as médias dos momentos não apresentaram diferença significativa entre os mesmos.

No GII, não houve diferença significativa do APT entre os momentos M0, M1 e M2; porém, houve diferença significativa entre M0 e M3, M4, M5; entre M1 e M2, M3, M4, M5 e entre M2 e M3, M4, M5. Não houve diferença significativa entre M3 e os momentos posteriores, no GII.

A comparação entre os grupos, GI e GII, não apresentou diferença significativa entre as médias dos grupos avaliados nos diferentes momentos. As médias e os desvios padrão referentes ao GI e GII, em diferentes momentos, encontram-se na Tabela 4.

Tabela 4 – Médias e desvios padrão do APT, em graus, em diferentes momentos. Valores (Mínimos / Máximos) do APT, em graus, nos diferentes momentos.

M0 M1 M2 M3 M4 M5 Grupo I 22,1±3,1 (19/27) 22,0±3,5 (18/27) 22,0±3,3 (19/27) 15,0±3,5 (10/20) 15,0±3,5 (10/20) 15,0±3,5 (10/20) Grupo II 22,1±5,1 (15/28) 22,3±4,5 (16/28) 22,1±5,1 (15/28) 14,1±6,1abc (8/24) 14,1±6,1abc (8/24) 14,1±6,1abc (8/24) A - As médias e os desvios padrão seguidos de “a” diferem significativamente de M0 (p<0,05). B - As médias e os desvios padrão seguidos de “b” diferem significativamente de M1 (p<0,05). C - As médias e os desvios padrão seguidos de “c” diferem significativamente de M2 (p<0,05).

Figura 17 - Imagem radiográfica digitalizada do joelho, em projeção médio-lateral, ilustrando o APT, em diferentes momentos do espécime 11 (GII). Observa-se que, em M0 a M2, não houve diferença do APT e, após M3, o APT foi reduzido para 8°.

4.3 Avaliação radiográfica do ângulo do tendão patelar (ATP)

Na análise estatística, GI e GII não apresentaram diferença significativa entre M0 e M1. Em ambos os grupos, as médias apresentaram diferença significativa entre M0 e M2, M3, M4, M5 e entre M1 e M2, M3, M4, M5 (Figura 18). Em GI e GII, após a ressecção do ligamento cruzado cranial (M2), não houve diferença significativa entre os momentos, mesmo após a realização da técnica de TTO (M3, M4 e M5).

A comparação entre os grupos, GI e GII, não apresentou diferença significativa entre as médias dos grupos avaliados, nos diferentes momentos. As médias e os desvios padrão referentes ao GI e GII, nos diferentes momentos, encontram-se na Tabela 5.

Tabela 5 – Médias e desvios padrão do ATP, em graus, em diferentes momentos. Valores (Mínimos / Máximos) do ATP, em graus, em diferentes momentos.

M0 M1 M2 M3 M4 M5 Grupo I 110,1±1,9 (107/113) 106,5±1,7 (104/109) 93,3±9,0ab (91/108) 90,8±5,1ab (84/100) 88,1±4,5ab (83/96) 85,3±5,7ab (78/94) Grupo II 108,8±4,7 (101/115) 107,1±5,0 (98/112) 91,8±4,6ab (86/100) 88,5±7,7ab (80/101) 87,6±7,3ab (82/101) 85,5±8,4ab (75/100) A - As médias e os desvios padrão seguidos de “a” diferem significativamente de M0 (p<0,05). B - As médias e os desvios padrão seguidos de “b” diferem significativamente de M1 (p<0,05).

Figura 18 - Imagem radiográfica digitalizada do joelho, em projeção médio-lateral, ilustrando o ATP, nos diferentes momentos, do espécime 11 (GII). Observa-se que o ATP é influenciado durante a carga e, com a realização da RLCCr e a TTO, o ATP manteve-se próximo de 90°.

4.4 Deslocamento do menisco medial

Em ambos os grupos, observou-se que os identificadores meniscais aproximaram-se ao sofrerem carga (M1), porém, após a ressecção entre as bordas cranial e caudal, observou-se distanciamento entre os identificadores meniscais (M5) (Figura 19). Na análise estatística, não houve diferença estatística entre M0 e M1, para ambos os grupos. Nos GI e GII, as médias nos momentos após a liberação do menisco medial foram significativamente maiores ao comparar M2, M3, e M4 ao M5.

A comparação entre os grupos, GI e GII, não apresentou diferença significativa entre as médias dos grupos avaliados nos diferentes momentos. As médias e os desvios padrão referentes ao GI e GII, nos diferentes momentos, encontram-se na Tabela 6.

Tabela 6 – Médias e desvios padrão do deslocamento do menisco medial em cm, nos diferentes momentos. Valores (Mínimos / Máximos) do deslocamento do menisco medial em cm, nos diferentes momentos.

M0 M1 M2 M3 M4 M5 Grupo I 0±0 -0,03±0,05 (-0,1 / 0) -0,10±0,11a (-0,2 / 0,1) -0,12±0,12a (-0,2 / 0,1) -0,17±0,12a (-0,3 / 0) 0,15±0,14 (-0,1 / 0,3) Grupo II 0±0 -0,07±0,12a (-0,3 / 0) -0,12±0,08a (-0,2 / 0) -0,07±0,08a (-0,2 / 0) -0,08±0,04a (-0,1 / 0) 0,15±0,16 (0 / 0,4) A - As médias e os desvios padrão seguidos de “a” diferem significativamente de M5 (p<0,05).

Figura 19 – Imagem digitalizada radiográficas do joelho do espécime 11 (GII), em projeção médio-lateral, em diferentes momentos, evidenciando fios metálicos fixados nas bordas cranial e caudal do menisco medial; em M5, observa-se o distanciamento do Ri, quando comparado aos momentos anteriores.

4.5 Rotação interna da tíbia

Nesta avaliação, os espécimes 5 e 9 foram descartados, pois no transcorrer do experimento os pinos de Steinmann deslocaram-se de suas respectivas inserções ósseas.

Entre M0 a M2, não houve diferença significativa entre as médias dos momentos e entre os grupos. No GII, houve diferença significativa entre o M0 e M3, M4, M5 e entre M1 e M5. A partir do momento da realização da técnica de TTO (M3, M4 e M5), observou-se diferença significativa entre GI e GII.

As médias e os desvios padrão referentes ao GI e GII, nos diferentes momentos, encontram-se na Tabela 7.

Tabela 7 – Médias e desvios padrão da rotação interna da tíbia, em graus, nos diferentes momentos. Valores (Mínimos / Máximos) da rotação interna da tíbia, em graus, nos diferentes momentos. M0 M1 M2 M3 M4 M5 Grupo I 0±0 3,00±3,74 (0/8) 5,60±5,22 (1/14) 2,20±1,30 (1/4) 3,80±2,39 (0/6) 5,00±3,00 (1/8) Grupo II 0±0 5,20±4,66 (2/13) 7,00±6,36 (1/16) 11,20±3,11ax (6/14) 11,60±2,07ax (9/14) 12,6±2,07abx (10/15) A - As médias e os desvios padrão seguidos de “a” diferem significativamente de M0 (p<0,05). B - As médias e os desvios padrão seguidos de “b” diferem significativamente de M1 (p<0,05). X - As médias e os desvios padrão seguidos de “x” diferem significativamente do grupo 1 (p<0,05).

5 DISCUSSÃO

O LCCr é uma estrutura anatômica importante na biomecânica do joelho, pois, quando há lesão do mesmo observa-se deslocamento cranial da tíbia em decorrência as forças de compressão tibial, conforme observado neste estudo e nos de Warzee et al. (2001), Kowaleski et al. (2005), Pozzi et al. (2006), Apelt, Kovaleski e Boudrieau (2007) e Kipfer et al. (2008). O LCCr impede, de forma passiva, o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur durante o apoio do membro, neutralizando a força de deslocamento cranial da tíbia (HENDERSON; MILTON, 1978; SLOCUM; DEVINE, 1983) limitando o movimento de rotação medial e a hiperextensão do joelho . Quando há RLCCr, as forças de rolamento do côndilo femoral sobre o platô tibial geram deslocamento cranial da tíbia (SLOCUM; SLOCUM, 1998; JERRAM; WALKER, 2003; BRUCE et al., 2007) e são amplificadas quanto maior for o APT (SLOCUM; SLOCUM, 1998). Porém, os resultados do estudo populacional de Venzin et al. (2004) demonstraram que o APT não amplificava o deslocamento cranial da tíbia. A neutralização biomecânica do deslocamento cranial da tíbia pode ser feita pelo posicionamento do platô tibial perpendicular ao eixo funcional tibial, teoria de Slocum e Devine (1983) ou, mantendo o tendão patelar perpendicularmente ao platô tibial, teoria de Tepic, Damur e Montavon (2002).

Estudos biomecânicos vem sendo utilizados no aprimoramento e avaliação da eficácia das técnicas cirúrgicas para o tratamento da RLCCr. Patterson et al. (1991) avaliaram e compararam a eficácia de quatro técnicas cirúrgicas, por equipamento biomecânico eletrônico, estudando o deslocamento cranial da tíbia, simulando o exame de gaveta. Romano (2006) e Oda (2008) realizaram ensaio biomecânico semelhante, utilizando-se de equipamento biomecânico eletrônico simulando, o exame de gaveta, para avaliar o deslocamento cranial da tíbia, após a ressecção do LCCr e a realização da sutura fabelo-tibial. Chailleux et al. (2007) avaliaram os deslocamentos tibiais cranial e caudal e rotação tibial, comparando a técnica de TPLO com a sutura fabelo-tibial, em diferentes momentos de flexão do joelho, utilizando-se de equipamento biomecânico eletrônico. O exame de gaveta avalia a instabilidade cranial da tíbia em relação ao fêmur, devido a uma força gerada caudocranialmente na porção caudal da tíbia; diferentemente, o exame de compressão tibial mimetiza as cargas e forças musculares geradas durante a deambulação do paciente, proporcionando deslocamento cranial da tíbia, semelhante ao observado quando o paciente

apóia o membro no chão (SLOCUM; DEVINE, 1983). Neste ensaio biomecânico de carga não eletrônico, preconizou-se a mensuração do deslocamento cranial da tíbia pelo método de compressão tibial, pois desta forma foram simuladas as cargas geradas sobre o joelho, durante o apoio do membro, possivelmente demonstrando resultados próximos do que acontece no paciente.

Apesar da diversidade de técnicas existentes, ainda não foi possível estabelecer a superioridade de alguma delas, baseando-se em evidências clínicas (ARAGON; BUDSBERG, 2005). Diversos são os trabalhos comparando biomecanicamente as técnicas, porém os resultados são muito variados, uma vez que os protocolos experimentais, também, não são muito bem estabelecidos. Com o intuito de padronizar a metodologia foi utilizado neste estudo um protocolo baseado nas características biomecânicas dos ensaios realizados por Warzee et al. (2001), Kowaleski et al. (2005), Pozzi et al. (2006) e Apelt, Kovaleski e Boudrieau (2007), nas técnicas de TPLO e TTA.

O equipamento de ensaio e o posicionamento dos espécimes, neste estudo biomecânico, não duplicaram todas as forças musculares que agiriam sobre o joelho, onde, somente havia replicação das forças dos músculos gastrocnêmico e quadríceps, forças geradas durante o apoio do membro, como idealizado no estudo de Warzee et al. (2001). O ensaio biomecânico realizado neste experimento simulou as forças de rolamento, que agem entre os côndilos femorais e o platô tibial, do cão, durante o apoio, como observado no teste de compressão tibial. Segundo Reif, Hulse e Hauptam (2002), ao promover-se à contração do músculo gastrocnêmio, ocorre a compressão tibial entre o tarso e os côndilos femorais, simulando a sustentação do peso do joelho. Vários estudos citaram que, em cães sadios, o membro pélvico, durante a locomoção, atinge uma força em torno de 100% do peso corpóreo (CONZEMIUS et al., 2005); porém, neste estudo foi preconizada a carga de 30% do peso corpóreo, como padronizado nos experimentos de Warzee et al. (2001), Kowaleski et al. (2005) e Apelt, Kowaleski e Boudrieau (2007), apesar de não justificarem a carga estipulada. A escolha de carga de 30% foi proposta para avaliar o joelho com carga superior à estimada in vivo. Acredita-se que as forças de carga geradas pelo peso poderiam ser dividas nos quatro membros, onde cada membro deveria receber a carga média de 25% do peso corpóreo quando em posição quadrupedal, no entanto, essa hipótese pode ser corroborada pelo estudo de Patterson et al. (1991), que referiram que in vivo as cargas calculadas sobre os membros são de 10% a 25% em condições normais.

Bruce et al. (2007) referiram que a força de deslocamento cranial da tíbia poderia ser neutralizada pelos princípios de Tepic, Damur e Montavon (2002) ou modificando a técnica

de TPLO, nivelando o platô tibial perpendicularmente ao tendão patelar. A técnica de TTO desenvolvida por Bruce et al. (2007) baseia-se na TTA associada a TWO, minimizando os ângulos de osteotomia em cunha e o avanço da tuberosidade tibial. Estudos clínicos da TTO referem à presença do deslocamento cranial da tíbia durante o exame de compressão tibial, mesmo posicionando o platô tibial a 90° do tendão patelar, no período pós-operatório de até 26 meses. Este estudo biomecânico demonstrou, por imagens radiográficas, que o deslocamento tibial foi presente após a ressecção do LCCr e após a técnica de TTO, condizendo com os resultados clínicos do estudo de Bruce et al. (2007).

Para a mensuração do deslocamento tibial, de Rooster e van Bree (1999) preconizaram a utilização de uma escala milimetrada impressa em folha de acetato a ser sobreposta à imagem radiográfica, considerado método eficaz em casos clínicos. Neste estudo, os métodos de avaliação do deslocamento cranial da tíbia e do deslocamento do menisco medial, utilizando-se da folha milimetrada de acetato, foram adequados, tendo sido utilizados em diferentes momentos do experimento, tendo como referência os parafusos identificadores, femoral e tibial e os fios de aço nas bordas cranial e caudal, do menisco medial.

Devido à utilização do kit de instrumentos para TTO da empresa Veterinary Instrument foi possível realizar as duas técnicas deste experimento, mantendo-se os espécimes no aparelho de ensaio e em apoio. A placa confeccionada em forma de T, com furo de compressão dinâmica, proporcionou boa redução e coaptação, dos fragmentos ósseos.

Os resultados estatísticos demonstram que, após a ressecção do LCCr, houve significativo deslocamento cranial da tíbia, tendo deslocamento médio de 1,02±0,27 cm, no GI, e 1,05±0,56 cm, no GII. Nos estudos biomecânicos de Romano et al. (2006) e Oda (2008), empregando equipamento de ensaio sofisticado, obtiveram-se médias de deslocamento cranial da tíbia de 1,32±0,21 cm e 1,30±0,12 cm, respectivamente, após a ressecção do LCCr, sob carga de 100 Newtons ou 10 kg, sendo similar aos resultados deste estudo. Porém, as mensurações de Romano et al. (2006) e Oda (2008) basearam-se no método de gaveta e obtiveram valores numéricos, do deslocamento cranial da tíbia, maiores do que os observados neste estudo, que fundamentou-se no teste de compressão tibial e submeteu os espécimes a 30% do peso corpóreo de carga. A média de deslocamento cranial da tíbia, no estudo de Warzee et al. (2001) correspondente ao M2 deste estudo, foi de 1,89±0,34 cm. Os valores dos resultados do deslocamento cranial da tíbia, obtidos nos estudos de Romano et al. (2006) e Oda (2008), podem ser maiores do que o deste estudo, devido à carga de 100 Newtons ser gerada diretamente no sentido caudocranial da porção proximal da tíbia (teste de gaveta), independentemente do tamanho do espécime, enquanto que o deslocamento cranial da tíbia

deste estudo era gerado, de forma indireta, por carga de 30% do peso corpóreo, de cada espécime, sobre a plataforma dorsal, simulando a deambulação dos cães.

A técnica de TTO desenvolvida por Bruce et al. (2007), utilizada no GI, apresentou média de deslocamento cranial da tíbia de 0,9±0,33cm sem carga e 0,93±0,24cm com carga sobre os espécimes, demonstrando desta forma que a TTO, no GI, não estabilizava o deslocamento cranial tibial, enquanto que, após liberação do menisco medial, o deslocamento cranial da tíbia era semelhante ao M2. No GII, as médias do deslocamento cranial da tíbia eram de 0,78±0,57cm sem carga e 0,75±0,69cm com carga sobre os espécimes, após a realização da técnica TTO modificada, não neutralizando o deslocamento cranial da tíbia, enquanto que, ao associar a técnica de TTO (GII) com a liberação do menisco medial, o deslocamento cranial aumentava, quando comparado ao M3. Em ambos os grupos, não se observou diferença significativa entre M2 e os momentos subseqüentes, ou seja, o deslocamento cranial da tíbia gerado pela ressecção do LCCr não foi modificado de forma significativa após a realização das duas técnicas de TTO. No GII, os espécimes 09 e 11, apresentaram neutralização do deslocamento cranial da tíbia no M4, mas logo após a liberação do menisco medial (M5), ocorreu o deslocamento cranial da tíbia, menor, quando comparado ao M2. As médias de redução do deslocamento cranial da tíbia, do M2 ao M3, foram de 12%, no GI, e 26% no GII, mas estatisticamente não houve diferença significativa

Documentos relacionados