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Variáveis independentes em estudo

1 INTRODUÇÃO

2.5 Variáveis independentes em estudo

Ao considerar que a variação em estudo advém em decorrência de correlações sociais, observaremos dois grupos de fatores extralinguísticos, a saber: Tempo no pastorado e Contexto de coleta de dados. Esses pontos foram selecionados com base nos aspectos levantados por alguns trabalhos anteriores principalmente no que se refere à influência da formalidade nos usos hipercorretos (LABOV, 2008[1972]). Devido ao perfil homogêneo encontrado na comunidade de prática escolhida para a coleta, outros fatores extralinguísticos se mostraram problemáticos (tais como a faixa etária) e, até mesmo, impraticáveis/inviáveis, (variável extralinguística sexo), visto haver um número mínino de colaboradores que se encaixaria nas características exigidas para essas células.

2.5.1 Tempo no pastorado

A variável Tempo no pastorado foi escolhida em detrimento da variável extralinguística faixa etária, mais comumente aplicada aos estudos variacionistas, segundo Campoy & Almeida (2005, p.40), “na verdade, o comportamento inovador ou conservador do

indivíduo geralmente está afetado diretamente, entre outras razões, pelo ciclo de vida em que ele está localizado e, consequentemente, pelo estilo de vida que leva.56”

Esse fato se deve em consequência de imbricações de natureza prática, pois a variável Tempo no pastorado se molda de forma mais satisfatória à realidade da comunidade de prática escolhida para a coleta, sendo mais oportuno utilizá-la para estratificar a amostra.

Na célula 1 (doravante T1), encontram-se os Pastores com até 10 anos exercendo o ministério, esses colaboradores em média apresentam idade entre 25 e 53 anos de idade, essa célula, por possuir colaboradores mais jovens que ainda estão frequentando/ingressando tanto no mercado de trabalho quanto em Universidades, apresentaria um uso linguístico mais inovador. Acreditamos que essa particularidade influencie também sua vivência/estilo pessoal dentro da comunidade de prática, principalmente, por estarem ingressando em uma nova “profissão/posição social”.

Na célula 2 (doravante T2), estão os Pastores com mais de dez anos de ministério, esses colaboradores apresentam idade entre 41 e 71 anos, no entanto, há uma variação na experiência desde 12 até 48 anos de prática religiosa, tanto a idade quanto a sua experiência ministerial podem fazê-los ser mais conservadores também no que tange aos usos linguísticos, inclusive por terem uma prática consolidada e reconhecida socialmente que os fazem ser apontados como exemplo para a comunidade.

Conforme vão crescendo, os jovens começam a trabalhar, se movem em redes sociais mais amplas e menos coesas, são mais influenciados pelos valores sociais mais convencionais e pela necessidade de progressão social, profissional e, portanto, econômica. Lingüisticamente também são mais influenciados pela variedade padrão. Em contrapartida, para os idosos ou aposentados, as pressões sociais estão findando, assim como a promoção profissional, e as redes sociais se tornam reduzidas (CAMPOY; ALMEIDA, 2005, p.40).

As variáveis extralinguísticas escolhidas justificam-se pela própria organização dessa comunidade de prática, visto que, por exemplo, todos os Pastores dessa denominação possuem ensino superior, haja vista ser exigência da Convenção Nacional.

Como podemos inferir a partir de tais informações, a variável extralinguística escolaridade não poderia ser utilizada devido à impossibilidade de encontrar Pastores que se encaixassem nas células referentes ao ensino fundamental e médio, por exemplo.

No que tange à variável sexo, a existência de apenas uma representante do sexo feminino impossibilitaria o preenchimento da célula. Desta feita, coube a nós estratificarmos

56 “De echo la conducta innovadora o conservadora del individuo normalmente se ve directamente

afectada, entre otros motivos, por el ciclo de vida en que se encuentra y, consiguientemente, el

nossa amostra dentro do padrão existente nessa comunidade de prática. O fator idade foi descartado em detrimento do fator Tempo no pastorado, pois em algumas células faltariam representantes, como podemos ver abaixo:

Tabela 3 - Estratificação da amostra de acordo com a variável extralinguística faixa etária Colaboradores Faixa etária I

(18 a 28 anos)

Faixa etária II (29 a 39 anos)

Faixa etária III (acima de 40 anos)

T1 X X X

T2 X X X

Fonte: Dados do pesquisador

Nossa hipótese básica para essa variável é que os colaboradores em T1 apresentariam maior espectro de uso de instâncias de hipercorreção em suas falas devido à sua abertura para variantes inovadoras e também em decorrência da necessidade de demonstrar conhecimento impulsionada pela construção da sua persona e/ou estilo pessoal dentro desse

lócus.

2.5.2 Contexto de coleta de dados

Por se tratar de um fator relevante e amplamente discutido nos estudos em sociolinguística, assim como por refletir a gradação da formalidade e a consequente tomada de consciência rumo a uma variedade monitorada (LABOV, 2008[1972]), observamos a variável Contexto de coleta de dados com a intenção de demonstrar a sua influência no uso de hipercorreção nessa comunidade de prática, no entanto, ela não foi usada para a estratificação da amostra, visto que há a necessidade de todos os colaboradores terem suas falas coletadas de acordo com as especificidades desses três contextos.

Os contextos de atenção prestada à fala (LABOV, 2008[1972]), conforme explicitado anteriormente, são referentes à fala não monitorada, fala monitorada em contexto de coleta de dados, estilo de leitura, estilo de leitura de palavras e estilo de leitura de pares mínimos. Para nossa coleta, inserimos mais um contexto: Explicação do texto bíblico (doravante C1 (Entrevista estruturada), C2 (Leitura de texto bíblico) e C3 (Explicação do texto bíblico)).

Nosso objetivo é analisar se a variação contextual referente à alternância de tópicos presente na entrevista estruturada que culmina na leitura e explicação de um texto retirado da

Bíblia não iria provocar no colaborador a necessidade de se adequar cada vez mais ao padrão culto por conta dessa tomada de consciência em relação à correção da sua fala.

Hipotetizamos, portanto, que os contextos de Leitura (C2) e Explicação do texto bíblico (C3) são mais propícios para o uso de hipercorreção, decorrente do crescente em relação à formalidade e, principalmente, em relação ao tópico discutido durante a entrevista que, ao abordar questões relacionadas ao uso linguístico e à correção social, propiciaria maior atenção em relação a esses aspectos e levaria o colaborador a ler e explicar o texto bíblico de forma mais monitorada.

O presente trabalho, portanto, visa por meio da utilização da metodologia da terceira onda da sociolinguística descrever o comportamento variável da hipercorreção na fala dos membros da comunidade de prática de Pastores Batistas de Alagoas, estratificados de acordo com o Tempo no pastorado, sendo a coleta de dados feita por meio de três instrumentos diferenciados com vistas a observar se a atenção prestada à fala pode influenciar a ocorrência dessas instâncias, a análise empreendida será de cunho qualitativo e levará em consideração também as observações obtidas durante o período em que estivemos nesse lócus.

3 INSTÂNCIAS DE HIPERCORREÇÃO NA COMUNIDADE DE PRÁTICA DE