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1 INTRODUÇÃO

4.6 Modelo teórico-conceitual hierarquizado

4.6.1 Variáveis independentes

4.6.1.1 Dimensão sócio-individual

O primeiro nível hierárquico (nível distal) é composto por variáveis demográficas e socioeconômicas e antecedentes de violência da mulher e do parceiro.

Alguns autores sugerem que a VPI perpassa todas as classes sociais (HEISE; ELLSBERG;

GOTTEMOELLER, 1999), mas muitas pesquisas têm indicado uma maior ocorrência em

famílias de baixa renda, baixa escolaridade e situações ambientais desfavoráveis (BOWEN et

al., 2005; CERTAIN et al., 2008; CHARLES; PERREIRA, 2007; GUO et al., 2004a, b;

MACY et al., 2007).

Com relação às características demográficas, os dados são controversos. Enquanto alguns autores mostram a idade jovem como fator de risco para VPI (GUPTA et al., 2008), outros não encontram essa associação (MARTIN et al., 1999).

Os antecedentes de violência na infânica e/ou adolescência da mulher têm sido associados à VPI nos estudos de Gage (2005) e Romito, Crisma e Saurel-Cubizolles (2003). E o parceiro ser vítima ou presenciar a mãe sofrer violência na infância é fator de risco para se tornar perpetrador (BURCH; GALLUP Jr., 2004; HOLTZWORTH-MONROE; MEEHAN, 2004).

Essa dimensão foi composta pelas seguintes variáveis:

Idade da mulher e do parceiro – Utilizada como duas categorias, definindo a faixa

etária “< 20 anos” (adolescente) e “≥ 20 anos” (adulta).

Raça/cor da mulher – Avaliada, segundo autoclassificação, em: “branca” e “não-

branca”.

Raça/cor do parceiro – Avaliada segundo referência dada pela mulher em: “branca”

Situação conjugal no pós-parto – Avaliada como variável dicotômica: “Sim” ou

“Não”, para a pergunta: “Você tem um marido/companheiro ou namorado?”.

Escolaridade da mulher e do parceiro – Foi explorada em anos completos de estudo

e agrupada em duas categorias: “< 9 anos de estudo” e “≥ 9 anos de estudo”.

Inserção produtiva da mulher e do parceiro – Foi caracterizada em “ativo(a)” ou

“inativo(a)” por estar, no momento da entrevista, inserido(a) ou não no mercado de trabalho.

Renda da mulher – Avaliada como variável dicotômica: “Sim” ou “Não” para a

pergunta “Você tem algum tipo de renda?”.

Moradia - Avaliada em “Própria” e “ Não própria”, para categorizar o tipo de relação

com a propriedade da moradia.

Antecedentes de violência (na análise multivariada foi considerada a experiência com

antecedentes de violência, se a mulher ou o parceiro responderam “Sim” a qualquer uma das seguintes variáveis):

 Para a mulher:

Violência física na infância – Avaliada como variável dicotômica:

“Sim” ou “Não”.

Violência sexual na infância – Avaliada como variável dicotômica:

“Sim” ou “Não”.

Violência física na adolescência – Avaliada como variável

dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Violência sexual na adolescência – Avaliada como variável

dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Ter presenciado a mãe sofrer violência física – Avaliada como

variável dicotômica: “Sim” ou “Não”.

 Para o parceiro:

Violência física na infância – Avaliada como variável dicotômica:

4.6.1.2 Dimensão comportamental-individual

Essa dimensão é o segundo nível hierárquico que compõe o nível intermediário, podendo estar relacionada com a dimensão sócio-individual e influenciar a dimensão relacional e a violência no pós-parto.

Os hábitos de vida, que vêm se estabelecendo como consenso na associação à VPI, são analisados nessa dimensão. Porém, ainda existem controvérsias, na literatura, sobre a direção dessas associações. De um lado, se postula que o uso do fumo, álcool e drogas é fator de risco para a VPI e, do outro lado, há sugestões de que a VPI é um fator de propensão para tais hábitos, pois mulheres que vivem em situação conflituosa podem buscar no fumo, no álcool e nas drogas um alívio para o seu sofrimento e, no caso do parceiro, muitas vezes o uso de substâncias é colocado como justificativa para agredir a mulher (MARTIN et al., 1996).

Essa dimensão avaliou as seguintes variáveis:  Para a mulher:

Uso de fumo durante a gravidez – Avaliada como variável

dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Uso de álcool durante a gravidez – Avaliada como variável

dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Uso de droga durante a gravidez – Avaliada como variável

dicotômica: “Sim” ou “Não”.

 Para o parceiro:

Relato de embriaguez – Avaliada como variável dicotômica: “Sim” ou

“Não”.

Uso de drogas – Avaliada como variável dicotômica: “Sim” ou “Não”. Relato de brigas, na rua, com outros homens – Avaliada como

4.6.1.3 Dimensão relacional

A terceira dimensão pode ser influenciada pelas duas anteriores e está associada diretamente à violência no pós-parto. Como a VPI constitui um evento que ocorre no âmbito das relações, essa dimensão foi colocada no modelo como o nível proximal.

Os estudos apontam o perfil do relacionamento como um fator de risco para a VPI. Guo et al. (2004b) e Martin et al. (1999) avaliaram o tempo do relacionamento; Ludermir et al. (2008), a comunicação entre o casal; Raj et al. (2006), as brigas do casal; Peedicayil et al. (2004), a questão da infidelidade; Garcia-Moreno et al. (2006) e Gage (2005), o comportamento controlador, e Ferraro (2003), a mulher agredir o parceiro. Outros estudos indicam a violência antes e/ou durante a gravidez como fator de risco para a violência no pós-parto (GUO et al., 2004a, b; HEDIN, 2000; MARTIN et al., 2001; STEWART, 1994).

Compuseram essa dimensão as variáveis:

Tempo da relação – Analisada em três categorias: “≤ 1 ano; 2-5 anos” e “≥ 6 anos”. Comunicação entre o casal – Analisada em duas categorias: “boa comunicação” ou

“comunicação obstaculizada”. Essa variável foi construída a partir da pergunta:

“Geralmente, você e o seu parceiro atual ou mais recente conversam sobre os seguintes assuntos?”. A resposta era “sim” ou “não” para os seguintes ítens: a) Coisas

que acontecem com ele durante o dia; b) Coisas que acontecem com você durante o dia; c) Suas preocupações ou sentimentos e d) As preocupações ou sentimentos dele. Se pelo menos um ítem teve a resposta “Sim”, foi considerada “boa comunicação”. • Brigas do casal – Avaliada como variável dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Infidelidade da mulher (segundo referência dada pela mulher) – Avaliada como

variável dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Infidelidade do parceiro (segundo referência dada pela mulher) – Avaliada como

variável dicotômica: “Sim” ou “Não”.

Mulher agride o parceiro sem ser agredida – Avaliada como variável dicotômica:

Comportamento controlador do parceiro – Avaliada em três categorias: “não

controlador”, “moderamente controlador” e “muito controlador”, construídas a partir de um escore (Quadro 5).

Violência antes e/ou durante a gravidez – Foi avaliada perguntando à mulher sobre

a experiência de violência psicológica, física e/ou sexual nos 12 meses antes e/ou durante a gestação, pelo parceiro atual ou o mais recente. No entanto, para o cálculo da prevalência no pós-parto, tanto a violência antes como durante a gravidez foram incluídas. Então, optou-se por fazer duas análises, uma incluindo no modelo essas variáveis como fatores de risco, e outra, excluindo-as. No caso da análise dos fatores de risco para manutenção da violência no pós-parto, só foi incluída a violência antes da gestação, pois a manutenção no presente estudo foi considerada com violência durante a gravidez que se manteve no pós-parto.

QUADRO 5 Escore atribuído à variável comportamento controlador do parceiro

ÍTENS SIM NÃO

a) Tenta impedir que você visite / veja seus amigos b) Procura restringir o seu contato com sua família c) Insiste em saber onde você está o tempo todo d) Trata você com indiferença

e) Fica zangado se você conversa com outro homem f) Está frequentemente suspeitando que você seja infiel g) Espera que você peça permissão a ele antes de procurar um

serviço de saúde para você mesma h) Impede / tentou impedir você de trabalhar i) Impede / tentou impedir você de estudar

1 1 1 1 1 1 - 1 1 1 0 0 0 0 0 0 - 0 0 0 INTERPRETAÇÃO ESCORE Não controlador • Moderadamente controlador • Muito controlador • 0 pontos • 1-3 pontos • 4-9 pontos

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