• Nenhum resultado encontrado

Os voluntários foram instruídos a manter o mesmo padrão de atividade física, consumo alimentar e sono 24 h antes de cada sessão. Além disso, o gasto energético do dia anterior às sessões foi registrado pelo Diário de Bouchard109. O diário de Bouchard divide o dia em 96 blocos de 15 minutos. Os participantes registram a atividade física principal em cada bloco com base em uma escala de níveis de intensidade (i.e., 1 a 9; sendo ―1‖ a menor e ―9‖ a maior intensidade). Cada número refere-se a um custo energético específico e é convertido em equivalentes metabólicos. O gasto energético diário foi calculado como a quantidade de tempo gasto em cada intensidade, multiplicado pelo equivalente metabólico correspondente e pela taxa metabólica basal, estimada pela massa corporal do indivíduo. Durante as sessões, o consumo de água foi registrada e a temperatura no laboratório foi fixada em 25º C.

5.11 Pressão Arterial

A pressão arterial foi avaliada por método oscilométrico automatizado (Omron® HEM-780-E, Kyoto, Japão), seguindo as recomendações da VI Diretriz Brasileira de Cardiologia110. O tamanho da braçadeira foi adaptado à circunferência do braço direito do indivíduo. A pressão arterial foi avaliada após três minutos de repouso em posição sentada. Todas as medidas foram feitas em triplicata, com um minuto de intervalo, e medidas adicionais foram realizadas até atingir uma variação menor que quatro mmHg nas duas últimas medidas. Foi considerada a média das duas últimas medidas.

5.12 Glicemia e triglicerídeo

A glicemia e trigliceridemia foram dosadas com sangue capilar. Após a preparação do material e utilizando-se de luvas, foi realizada a anti-sepsia de um dedo da mão com álcool a 70%. As amostras de sangue capilar foram coletadas por meio de punção transcutânea da ponta do dedo, no lado medial, usando-se lanceta hipodérmica descartável. O sangue foi ordenhado para o meio externo, sendo a primeira gota de sangue descartada. A segunda gota foi gotejada na tira de reagente de glicose Accu-Chek Active® (Roche, Estados Unidos), previamente validado111, com inserção imediata no aparelho para quantificação da glicemia do voluntário. Nos momentos de avaliação de triglicerídeo, houve uma nova anti-sepsia com álcool e o sangue foi ordenhado novamente para o meio externo, para que houvesse um gotejamento de sangue na tira de reagente de triglicerídeo. Logo em seguida, a tira era inserida no aparelho Accutrend® Plus (Roche Diagnostics, Estados Unidos), validado e reprodutível112, com posterior quantificação dos níveis de triglicerídeo. Em ensaios prévios realizados com 10 adultos jovens e fisicamente inativos (23,6 anos; 24,8 kg/m2) em nosso laboratório, o aparelho para medir glicemia e triglicerídeos apresentou um coeficiente de correlação intraclasse de 0,668 (IC 95% 0,079 - 0,907; p = 0,016) e 0,878 (IC 95% 0,552 - 0,969; p < 0,001), coeficiente de variação de 2,19 e 8,30% e erro médio de medida de 3,10 e 14,32 mg/dl, respectivamente.

5.13 Cálculo amostral

O cálculo amostral para detectar uma diferença estatística na glicemia e trigliceridemia entre as condições foi feito a partir dos resultados de Peddie et al.18 que encontraram uma redução de 37 % na glicemia pós-prandial com a interrupção regular do comportamento sedentário e uma redução de 17 % na trigliceridemia pós-prandial com 30 minutos de exercício físico moderado seguido de comportamento sedentário comparado a uma sessão em comportamento sedentário ininterrupto. Para a pressão arterial, foi utilizado o estudo de Bhammar et al.25 que encontraram redução de 3 mm Hg na pressão arterial sistólica em uma sessão de 30 minutos de exercício físico moderado seguido de comportamento sedentário. A população de ambos estudos foi adultos com excesso de peso e fisicamente inativos. Assumindo um 1-β = 0,80, um α = 0,05 e uma perda amostral de 20 %, o tamanho amostral para a pressão arterial, glicemia e trigliceridemia foi estimado em 20, 24 e 15 participantes, respectivamente.

5.14 Randomização

Os participantes foram alocados aleatoriamente por randomização simples para completar as três sessões experimentais em uma das seis ordens possíveis. A sequência das randomizações foi gerada antes do recrutamento dos participantes pelo site https://www.graphpad.com/quickcalcomportamento sedentário/randomize1.cfm. Os procedimentos de randomização foram realizados por um dos pesquisadores responsáveis do estudo, de forma não cegada.

5.15 Análise estatística

A área sob a curva (ASC) da glicemia, triglicerídeos e pressão arterial foi calculada pelo método da regra trapezoidal. A normalidade dos dados foi verificado pelo teste de Shapiro-Wilk. A assimetria e a curtose também foram testadas (escore z considerado: - 2,58 a 2,58). Os dados descritivos foram expressos em média ± desvio-padrão para as variáveis paramétricas e em mediana e percentis (25; 75) para as não paramétricas. Frequência absoluta e relativa foi utilizada nas variáveis categóricas. O princípio da intenção por tratar foi considerado, portanto, todos os indivíduos que foram randomizados (n = 25) entraram na análise final. Modelos mistos generalizados foram usados para comparar o gasto energético do dia anterior às sessões experimentais, a ingestão de água durante as sessões, assim como a ASC da glicemia, trigliceridemia e pressão arterial entre as sessões experimentais. O nível de significância foi fixado em 5 %. As análises foram realizadas com o auxílio do programa estatístico SPSS versão 22.0 para Windows (IBM, Inc., Chicago, IL, EUA).

A significância clínica foi avaliada usando uma abordagem baseada na magnitude da mudança. Foi usado o d de cohen para determinar o tamanho de efeito da mudança padronizada entre a sessão SED e as sessões EX+SED e ATIVO. O tamanho de efeito baseado na magnitude foi baseado na escala de Hopkins: < 0,2 é trivial, 0,2–0,5 é pequeno, 0,6–1,1 é moderado, e 1,2–1,9 é grande113.

6 RESULTADOS

Dos vinte e cinco sujeitos recrutados, quatro realizaram somente a primeira sessão [desistiu (n = 2), viagem (n = 1); gravidez (n = 1)] e três completaram apenas duas [falta de tempo (n = 2) e lesão por acidente de trânsito (n = 1)]. As características dos participantes estão apresentadas na Tabela 2. A amostra foi composta por adultos jovens de ambos os sexos com baixa aptidão cardiorrespiratória e níveis adequados de pressão arterial (PAS < 120 mmHg e PAD < 80 mmHg) e glicemia de jejum (< 100 mg/dL).

Não houve diferença estatística no gasto energético do dia anterior às sessões (SED: 2.558 ± 481 kcal vs. EX+SED: 2.776 ± 550 kcal vs. ATIVO: 2.631 ± 509 kcal; p = 0,443). A Tabela 3 apresenta o consumo energético e a ingestão de água nas sessões experimentais. Não houve diferença estatística no consumo energético (p = 0,984) e no consumo de água (p = 0,113) entre as sessões. A velocidade da marcha habitual apresentou média de 4,5 ± 0,6 km/h, equivalente a 35 ± 6 % do consumo máximo de oxigênio e 59 ± 6 % da frequência cardíaca máxima estabelecida no teste de esforço máximo. A média da frequência cardíaca no final dos estímulos de trabalho e dos períodos de recuperação durante o exercício intervalado de alta intensidade foi de 94 ± 3,3 % e 79 ± 2,4 % da frequência cardíaca máxima, respectivamente. Seis participantes interromperam o exercíciono sexto (n = 3) ou sétimo (n = 3) estímulo de trabalho durante o protocolo de exercício intervalado de alta intensidade.

Como esperado, a quantidade de passos realizados durante as sessões SED e EX+SED foi diferente da sessão ATIVO – SED: 629 ± 459 passos; EX+SED: 748 ± 448 passos; ATIVO: 10.288 ± 192 passos. Os passos durante o exercício intervalado de alta intensidade não foram contabilizados. O tempo em comportamento sedentário na sessão SED foi de 9,9 ± 0,06 h, na sessão EX+SED foi de 9,47 ± 0,08 h e na sessão ATIVO foi de 8,5 ± 0,13 h. O tempo de caminhada na sessão SED foi de 5,7 ± 4 minutos, na sessão EX+SED foi de 6,8 ± 3,8 minutos e na sessão ATIVO foi de 90 ± 7,9 minutos. Durante o exercício intervalado de alta intensidade foi realizado 9 ± 1,6 minutos de exercício vigoroso (> 76% da frequência cardíaca máxima), 9 ± 1,6 minutos em repouso passivo (i.e., em pé) e 7 minutos de caminhada leve (i.e., 5 minutos de aquecimento e 2 minutos de desaquecimento). A Figura 4 apresenta a distribuição percentual dos diferentes comportamentos ao longo das sessões.

Tabela 2 - Caracterização da amostra (n = 25).

Média ± DP / Mediana e percentis (25; 75)

Total Mulheres Homens

Sexo (♂ / ♀) - 15 (60 %) 10 (40 %)

Idade (anos) 24,4 ± 3,8 26,6 ± 4,7 25,2 ± 4,9

Massa corporal (kg) 70,8 ± 11,1 61,5 ± 8,5 77 ± 7,1

Estatura (cm) 164 ± 7,0 156 ± 5,0 169 ± 4,0

Índice de massa corporal (kg/m²) 26,1 ± 3,4 25,0 ± 2,3 27 ,0 ± 2,27 Gordura corporal (%) 34,5 ± 6,0 38,4 ± 3,5 30,1 ± 4,4 Gordura androide (%) 35,9 ± 7,8 38,7 ± 6,2 35,7 ± 8,9 Gordura ginecoide (%) 37,4 ± 7,4 42,8 ± 4,6 29,9 ± 2,8 PA sistólica (mm Hg) 108,3 ± 10,6 103,8 ± 8,0 114,1 ± 10,9 PA diastólica (mm Hg) 66 ± 6,6 66 ± 5,1 66,2 ± 8,6 PA média (mm Hg) 78,4 ± 8,7 76,8 ± 9,1 80,8 ± 7,9 Glicemia de jejum (mg/dl) 86,9 ± 7 86,0 ± 4,5 88,5 ± 4,5 Trigliceridemia de jejum (mg/dl) 126 ± 53,5 108,7 ± 25,0 150,2 ± 72,8 VO2máx (ml/kg/min) 35,2 ± 6,4 31,0 ± 3,5 40,3 ± 5,2 VO2máx em marcha habitual (%) 33,9 ± 6,1 39,2 ± 3,5 29,4 ± 3,7 FCmáx (bpm) 189,5 ± 11 187,3 ± 11,7 192,3 ± 8,9 FCmáx em marcha habitual (%) 59,5 ± 6,5 62,3 ± 6,2 55,6 ± 4,6 Velocidade pico (km/h) 11,1 ± 1,7 10,1 ± 1,2 12,4 ± 1,5 Velocidade da marcha habitual

(km/h) 4,5 ± 0,6 4,5 ± 0,4 4,6 ± 0,8

Classificação da aptidão cardiorrespiratória (AHA)

Fraca 8 (32 %) 5 (38,4 %) 2 (20 %)

Razoável 11 (45,8 %) 7 (53,8 %) 4 (40 %)

Boa 4 (16,6 %) 0 (0 %) 4 (40 %)

Nível de atividade física

Caminhada (min/sem) 0 (0 – 2,5) 0 (0 – 0) 0 (0 – 90) Moderada (min/sem) 0 (0 – 75) 0 (0 – 15) 0 (0 – 5)

Vigorosa (min/sem) - - -

Escore de atividade física# 0 (0 – 7,5) 0 (0 – 15) 0 (0 – 5) Passos (quantidade/dia) 4.699 ± 1.962 4.790 ± 1.480 4.569 ± 2.634 Comportamento sedentário (h/dia) 11,9 ± 2,3 12,5 ± 2,4 10,8 ± 1,9

PA = pressão arterial; FCmáx = frequência cardíaca máxima; VO2máx = consumo máximo de oxigênio; AHA = American Heart Association, 1972. # = Tempo de atividade física moderada semanal somado ao dobro do tempo de atividade física vigorosa semanal.

Table 3 – Consumo de macronutrientes, calorias e água nas sessões experimentais.

SED EX+SED ATIVO

g (%) g (%) g (%) Desjejum Carboidrato 990,8 (46,5) 970,0 (46,0) 978,6 (46,1) Proteína 398,4 (18,7) 397,4 (18,8) 399,1 (18,8) Gordura 329,8 (34,8) 330,6 (35,2) 331,1 (35,1) Lanche da manhã Carboidrato 723,6 (74,9) 716,3 (75,0) 719,4 (75,0) Proteína 70,4 (7,1) 68,9 (7,1) 69,8 (7,1) Gordura 79,9 (18,0) 78,3 (17,9) 79,1 (17,9) Almoço Carboidrato 1366,0 (53,4) 1366,3 (53,7) 1366,1 (53,7) Proteína 722,3 (28,7) 721,3 (28,5) 720,6 (28,5) Gordura 200,4 (17,9) 199,2 (17,8) 199,2 (17,8) Lanche da tarde Carboidrato 764,7 (63,4) 759,8 (63,4) 757,9 (63,4) Proteína 157,5 (13,3) 156,9 (13,3) 156,4 (13,3) Gordura 121,0 (23,3) 120,9 (23,3) 120,4 (23,3) Total Carboidrato 15,381 (56,2) 15,251 (56,0) 15,288 (56,1) Proteína 5,394 (19,7) 5,378 (19,8) 5,384 (19,8) Gordura 6,579 (24,1) 6562 (24,2) 6,571 (24,1) Água (ml)* 897 ± 511 1143 ± 374 1126 ± 427

Figura 4 – Distribuição das atividades durante as sessões experimentais, SED = sessão com alto comportamento sedentário; EX+SED = sessão com exercício intenso seguido de alto comportamento sedentário; ATIVO = sessão com interrupção regular do comportamento sedentário,

Por problemas técnicos do aparelho, foram excluídos cinco valores (6,6 %) de entrada da ASC da glicemia, 14 valores (18,6 %) de entrada da ASC da trigliceridemia e três (4,5 %) de entrada da ASC da pressão arterial. A Figura 5 apresenta os resultados da glicemia durante as sessões experimentais. Houve diferença estatística entre as sessões experimentais na ASC da glicemia [W(2) = 6,180, p = 0,046]. Análise de post-hoc revelou que a glicemia foi 22 % menor na sessão ATIVO comparado a sessão SED (Δ = - 34,9 mg/dL, p = 0,015, d = 0,53). A Figura 6 apresenta os resultados da trigliceridemia durante as sessões experimentais. Não houve diferença estatística na ASC da trigliceridemia entre as sessões [W(2) = 1,244, p = 0,537].

A Figura 7 apresenta o comportamento e a ASC da pressão arterial nas sessões experimentais. Houve diferença estatística entre as sessões experimentais na pressão arterial diastólica [W(2) = 6,119, p = 0,047]. Análises de post-hoc mostraram que a pressão arterial diastólica foi 2,4% menor na sessão ATIVO comparado a sessão SED (Δ = - 1,5 mm Hg, p = 0,029, d = 0,35 ) e EX+SED (Δ = - 1,5 mm Hg, p = 0,035, d = 0,35). Contudo, não houve diferença estatística na pressão arterial sistólica [W(2) = 1,319, p = 0,517] e média [W(2) = 3,743, p = 0,154] entre as sessões experimentais. Os dados descritivos estão apresentados na Tabela Suplementar 1 (Apêndice B).

Figura 5 - Comportamento ao longo do experimento (painel A) e área sob a curva (painel B) da glicemia. Os dados estão expressos em média e desvio padrão. SED = sessão com alto comportamento sedentário; EX+SED = sessão com exercício intenso seguido de alto

comportamento sedentário; ATIVO = sessão com interrupção regular do comportamento sedentário; = refeição padronizada.

Figura 6 – Comportamento ao longo do experimento (painel A) e área sob a curva (painel B) da trigliceridemia. Os dados estão expressos em média e desvio padrão. SED = sessão com alto comportamento sedentário; EX+SED = sessão com exercício intenso seguido de alto comportamento sedentário; ATIVO = sessão com interrupção regular do comportamento sedentário; = refeição padronizada.

Figura 7 - Comportamento ao longo do experimento (painéis A, B e C) e a área sob a curva (painéis D, E e F) da pressão arterial. Os dados estão expressos em média e desvio padrão. SED = sessão com alto comportamento sedentário; EX+SED = sessão com exercício intenso seguido de alto comportamento sedentário; ATIVO = sessão com interrupção regular do comportamento sedentário; = refeição padronizada.

7 DISCUSSÃO

Este estudo avaliou os efeitos da interrupção do comportamento sedentário ao longo do dia e de uma sessão de exercício vigoroso sobre parâmetros cardiometabólicos em adultos inativos com excesso de gordura corporal. Os principais achados do estudo foram: i) a interrupção regular do comportamento sedentário ao longo do dia reduziu a pressão arterial diastólica e a glicemia; ii) a sessão de exercício vigoroso não modificou nenhum parâmetro cardiometabólico analisado.

A interrupção regular do comportamento sedentário com atividade física leve reduziu a glicemia em adultos inativos com excesso de gordura corporal, mesmo esses sendo normoglicêmicos. Estudos anteriores que investigaram os efeitos da interrupção do comportamento sedentário com atividade física leve (i.e., em pé ou caminhada leve) em adultos jovens falharam em encontrar redução na glicemia27,114. Por exemplo, Hansen et al.27 não encontraram redução da glicemia pós-prandial com a realização de dois minutos de caminhada a cada 20 minutos de comportamento sedentário. Assim, nossa hipótese de que um aumento no volume das interrupções do comportamento sedentário ao longo do dia poderia reduzir a glicemia em adultos jovens saudáveis foi confirmada. É importante destacar que estudos de revisão apontam que a redução da glicemia pela interrupção regular do comportamento sedentário são atenuadas em sujeitos aparentemente saudáveis, quando comparado a adultos de meia-idade e idosos23,24. Ainda, esta redução é diretamente relacionada aos níveis glicêmicos de jejum27. No entanto, demonstramos que cinco minutos de atividade física leve a cada cerca de 20 minutos é suficiente para atenuar o incremento da glicemia, especialmente pós-prandial, em adultos jovens com glicemia de jejum normal (i.e., < 100 mg/dL).

Mesmo em indivíduos normoglicêmicos, um maior incremento da glicemia pós- prandial está associado a um maior risco cardiovascular, independente de outros fatores de risco115. Portanto, adultos jovens com excesso de gordura corporal e ocupação sedentária podem atenuar o incremento da glicemia pós-prandial e, consequentemente, reduzir o risco para síndrome metabólica com cinco minutos de atividade física leve a cada 20 minutos de comportamento sedentário. Em uma investigação a respeito dos mecanismos relacionados a melhora do controle glicêmico a partir da interrupção regular do comportamento sedentário com atividade física leve. Bergouignan et al.87 verificaram maior captação de glicose pela via independente de insulina, essencialmente nos músculos envolvidos na atividade, como também uma maior sensibilidade à insulina pelas células musculares, aumentando, portanto, o

transporte de glicose para o meio intracelular e reduzindo a concentração de glicose plasmática.

A sessão de exercício vigoroso de curta duração não modificou os níveis glicêmicos pós-prandiais ao longo de um dia de alto comportamento sedentário. Para nosso conhecimento, esta é a primeira investigação que avaliou a interação de uma sessão de exercício intervalado de alta intensidade com um dia de alto comportamento sedentário sobre a resposta glicêmica. Um alto volume de exercício intenso parece também não modificar a resposta glicêmica em condição de alto comportamento sedentário. Por exemplo, uma hora de exercício físico vigoroso por dia não atenuou o efeito deletério de quatro dias de alto comportamento sedentário (i.e., ~ 14 h/dia) no controle glicêmico, tanto em adultos jovens não obesos82 quanto em indivíduos com diabetes tipo 2116. Em relação ao tradicional exercício aeróbio contínuo de moderada intensidade, enquanto alguns estudos demostraram que 30 minutos de exercício não reduz a glicemia pós-prandial em situação de alto comportamento sedentário18,22,117, outros estudos mostraram maior eficácia quando comparado a interrupção regular do comportamento sedentário em adultos jovens25,84. Estes resultados conflitantes podem ser explicados pela composição dos macronutrientes fornecidos durante as sessões experimentais. Parece que o exercício reduz a glicemia quando há maior percentual de calorias advindas de carboidrato (i.e., 60–70%), entretanto, esta hipótese deve ser testada. Dessa forma, mais estudos são necessários para compreender a interação entre exercício físico e alto comportamento sedentário sobre o controle glicêmico, que envolve também a avaliação dos níveis de insulina.

O controle da pressão arterial sistólica e diastólica é associado com a redução do risco cardiovascular118. Demonstramos que a interrupção regular do comportamento sedentário reduz a pressão arterial diastólica. Em relação a adultos jovens, este é o primeiro estudo que encontrou hipotensão decorrente de interrupções do comportamento sedentário. Bhammar et al.25 não encontraram redução da pressão arterial, mesmo com atividade física em intensidade moderada (i.e., dois minutos a cada 20 minutos) e vigorosa (i.e., dois minutos a cada 60 minutos). Isso sugere que o volume das interrupções do comportamento sedentário é uma variável importante também para a redução da pressão arterial em adultos jovens normotensos. A redução do fluxo sanguíneo decorrente de poucas horas de comportamento sedentário ininterrupto (i.e., 1-3 h) é suficiente para aumentar a rigidez arterial e reduzir o estresse de cisalhamento e função endotelial na parede vascular dos membros inativos e estas respostas também são acompanhadas do aumento da pressão arterial119. Portanto, como demonstrado aqui, as interrupções regulares do comportamento sedentário ao longo do dia,

mesmo com atividade física leve, parece inibir os efeitos deletérios de longos períodos de comportamento sedentário sobre o aumento da pressão arterial.

Em relação ao exercício vigoroso de curta duração, interessantemente, não observamos efeito hipotensor ao longo de um dia de alto comportamento sedentário. Acreditamos que os principais motivos para a ausência de efeito hipotensor do exercício intervalado de alta intensidade foram os baixos níveis pressóricos dos participantes (i.e., 108 / 66 mm Hg) e faixa-etária. A hipotensão pós-exercício é diretamente relacionada aos valores de pressão arterial de repouso e a idade120,121. Portanto, em adultos jovens e normotensos não é esperado hipotensão pós-exercício seguido de alto comportamento sedentário ao longo de várias horas. Previamente, demonstramos que o efeito hipotensor do exercício intervalado de alta intensidade em homens normotensos ocorre somente até cinco horas pós-exercício na pressão arterial sistólica34. No caso do presente estudo, os indivíduos foram acompanhados por ~10 horas após a sessão de exercício e os valores considerados para análise envolveram todo esse período. É possível que o efeito hipotensor do exercício intervalado de alta intensidade não compense os efeitos deletérios do alto comportamento sedentário na função vascular e, consequentemente, pressão arterial.

No tocante aos níveis de triglicerídeos, nenhuma estratégia utilizada apresentou efeito sobre esse desfecho. Vários estudos têm falhado em encontrar efeito agudo da atividade física na redução dos triglicerídeos20,26,89–91, com algumas exceções18,122. Esta resposta pode ser explicada pelo atraso que há entre o início da atividade física e a ativação da lipoproteína lipase, enzima responsável pela hidrólise dos triglicerídeos e, portanto, sua redução88. Estudos que avaliaram a trigliceridemia entre 12 e 24 h após o início da atividade física contínua ou intermitente demonstraram reduções nos níveis pós-prandiais de triglicerídeo em adultos jovens22,84. Portanto, é possível que a ausência de redução nos níveis de triglicerídeos, tanto na sessão interrupção regular do comportamento sedentário quanto na sessão exercício físico vigoroso de curta duração, tenha relação com a ―janela‖ de avaliação inferior a 12 h entre as intervenções e a medida dos triglicerídeos.

Nossos resultados demonstram a importância do cumprimento de 10 mil passos por dia, como recomendado nos últimos anos40–42,123, especialmente realizados de maneira fracionada, como interrupção regular do comportamento sedentário, a fim de um melhor controle cardiometabólico ao longo do dia. A cada mil passos realizados por dia, há uma redução de 10% no risco para síndrome metabólica124. As principais vantagens das recomendações baseadas em contagem do número de passos é a facilidade de compreensão e mensuração por leigos42. O cumprimento desta recomendação está associada a redução da

atividade simpática125 e a um déficit energético de ~ 2000 kcal por semana128, o que explica, respectivamente, a redução da pressão arterial e massa corporal em adultos ao longo de 12-18 semanas de intervenção125–127. Assim, a realização de 10 mil passos fracionados ao longo do dia pode ser um alternativa para a interrupção regular do comportamento sedentário e promoção de um estilo de vida fisicamente ativo.

Quanto ao exercício vigoroso de curta duração, demonstramos que seus benefícios cardiometabólicos não perduram ao longo de um dia de alto comportamento sedentário. É possível que o baixo volume de exercício físico vigoroso da sessão (i.e., 10 minutos) tenha sido insuficiente para a melhora das variáveis analisadas durante um situação de alto comportamento sedentário por várias horas. Entretanto, é importante destacar que, considerando as recomendações atuais sobre atividade física e saúde39 e os conhecidos efeitos crônicos do exercício físico intervalado de alta intensidade sobre parâmetros de saúde cardiometabólica95–98 e aptidão física56, parece fundamental que adultos inativos que tem alto comportamento sedentário ao longo do dia pratiquem exercício físico moderado-vigoroso de forma regular e incluam interrupções regulares do comportamento sedentário ao longo do dia para maximizar o controle da pressão arterial, glicemia e triglicerídeos. Destacamos que essas estratégias têm efeitos independentes sobre as variáveis estudadas, como reportado em estudos prévios3,4,16,69,74.

A presente investigação apresentou características distintas em relação a estudos anteriores. Na sessão de alto comportamento sedentário não foi imposto longos períodos de comportamento sedentário ininterruptos, sendo permitido a interrupção do comportamento sedentário para o uso de banheiro e ingestão de água. Acreditamos que a restrição do

Documentos relacionados