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Variáveis Linguísticas

3.4 DEFINIÇÃO OPERACIONAL VARIÁVEL

3.4.2 Variável Independente

3.4.2.3 Variáveis Linguísticas

Ao se falar em variáveis linguísticas, tomou-se por base a reunião de fatores estruturais que, por sua vez, podem condicionar a escolha e/ou o uso de uma dada variante. Neste estudo, essa variável está intrinsecamente ligada ao domínio da fonologia.

No estudo da vogal postônica não final, a preocupação é verificar o motivo dessa síncope, isto é, que fonema, em particular, faz com que haja essa supressão. A noção de direcionalidade é de suma importância neste estudo, pois é a partir dele que se pode dizer se um fonema tem maior afinidade com o som que o precede ou que o antecede (KATAMBA, 1993). Neste trabalho, observar-se-á a circunvizinhança da vogal postônica não final, objetivando descrever que elemento mais se afina com o seu enfraquecimento e em que posição ele se encontra (se precedente ou seguinte ao segmento analisado).

Definiram-se, então, cinco grupos de fatores linguísticos:

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a) Contexto fonológico precedente; b) Contexto fonológico seguinte; c) Traço de articulação da vogal; d) Estrutura da sílaba tônica; e) Extensão da palavra.

a. Contexto Fonológico Precedente

Em muitas pesquisas sociolinguísticas (AMARAL, 1999; MARTINS, 2001; MARQUES, 2001), de cunho laboviano, esse fator tem se mostrado bastante relevante e, neste estudo, mais ainda, tendo em vista que contexto fonológico precedente vem a desempenhar certo efeito na variável em estudo, principalmente quanto ao ponto de articulação. Daí a seleção desse fator para a análise dos dados. Serão observados os seguintes contextos:

i. oclusiva (xícara) ii. fricativa (árvore) iii.nasal (estômago) iv.líquida vibrante (espírito) v. líquida lateral (parabólica)

b. Contexto Fonológico Seguinte

A síncope de segmentos que precedem as líquidas r e l é de tradição histórica, sem falar que essa variável tem sido relevante em alguns trabalhos variacionistas (GUY, 1981; MAGY & REYNOLDS, 1997). Devido a essa ideia, resolveu-se verificar a influência do segmento consonantal seguinte à postônica não final nesse processo de supressão. Nessa variável, analisar-se-ão os seguintes contextos:

i. líquida vibrante (pássaro) ii. líquida lateral (pérola) iii.não líquida (médico)

100 c. Traço de Articulação da Vogal

Com a seleção desse fator, quer se verificar se o traço de articulação das vogais, ou seja, se os traços de pontos ativados para a realização das vogais (AMARAL, 1999) promovem alguma influência sobre o apagamento das postônicas não finais, objeto desta pesquisa. Para isso, serão analisados os contextos:

i. labial (fósforo) ii. dorsal (máscara) iii.coronal (físico)

d. Estrutura da Sílaba Tônica

Espera-se, com esse fator, investigar a qualidade da sílaba (AMARAL, 1999; LUCENA, 2001), isto é, se a sílaba anterior leve (aberta) ou pesada (fechada) propicia ou não a supressão da sílaba postônica não final. A sílaba é leve quando for terminada em vogal, e pesada, em consoante.

i. leve (fí.ga.do) ii. pesada (mús.cu.lo)

e. Extensão da Palavra

Para ser considerado proparoxítono, um vocábulo deve ter, pelo menos, três sílabas. Assim, resolveu-se observar se a extensão das palavras proparoxítonas também exerceria algum papel de destaque no apagamento da postônica não final. Esse fator se fez relevante em alguns trabalhos, como o de Martins (2001), Amaral (1999) etc.

a) 3 sílabas (úl.ce.ra) b) 4 sílabas (re.tân.gu.lo)

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3.5 LEVANTAMENTO E CODIFICAÇÃO DOS DADOS

Os dados foram levantados a partir de entrevistas dirigidas e inquérito fonético, feitos com o uso de um gravador digital (MD). Após as gravações, passou-se todo o conteúdo dos minidiscos para CDs, que facilitaram bastante o manuseio e o trabalho de escuta, e, consequentemente, a respectiva transcrição do material coletado. Com os dados transcritos, analisaram-se as ocorrências do fenômeno variável, com a aplicação ou não da regra, no contexto em que se encontravam inseridas. Em seguida, estes dados foram armazenados, acompanhados da codificação, de acordo com os fatores investigados, visando ao uso do pacote de programas do VARBRUL, utilizado para fazer a análise estatística dos dados.

3.6 MÉTODO DE ANÁLISE: O PROGRAMA VARBRUL

De posse da amostra de dados, transcrita, armazenada e codificada, os dados foram digitados num arquivo de texto (.txt), com seus códigos para submetê-los, então, à análise, usando os programas apropriados do pacote VARBRUL.

Vários outros modelos estatísticos foram desenvolvidos para a verificação dos estudos linguísticos variacionistas. O que teve verdadeiro destaque, no entanto, foi o modelo introduzido por Rousseau & Sankoff (1978). Baseado nesse modelo estatístico, Sankoff desenvolveu um programa computacional para pesquisas variacionistas, que foi posteriormente adaptado aos microcomputadores do tipo IBM, por Susan Pintzuk, em 1988 e 1992, passando a denominar-se VARBRUL 2S, programa computacional utilizado para análise dos dados nesta pesquisa.

O pacote de programas VARBRUL é constituído de um conjunto de programas ordenados, denominados de: CHECKTOK, READTOK, MAKECELL, IVARB, TVARB, MVARB. Os três últimos variam de acordo com a quantidade de células a serem verificadas. O CROSSTAB, o TEXTSORT e o TSORT são programas auxiliares que também fazem parte do pacote e operam no tratamento dos dados.

Tomando por base uma escala de valores entre 0 e 1, o modelo binário estabelece que o ponto neutro é de 0.50. Da mesma forma, valores acima de 0.50 são

102 interpretados como favorecedores à aplicação da regra; abaixo de 0.50, como inibidores. O peso relativo 0.50 indica que há uma possibilidade de que o fato ocorra 50 vezes em cada 100 casos. Nesse sentido, é válida esta observação feita por Silva (2001):

Mesmo sendo o programa computacional bastante importante na verificação estatística dos fenômenos variáveis, cabe direta e irrestritamente ao pesquisador coletar, codificar, armazenar, estabelecer os grupos de fatores que condicionam a ocorrência do fenômeno em estudo e analisar os dados, com base na teoria variacionista. A função do programa computacional no processo de análise é de caráter coadjuvante, cabendo ao pesquisador o conhecimento necessário de todo o processo para a interpretação dos resultados.

No próximo capítulo, o da Análise Estatística e Discussão dos resultados, serão abordadas as teorias que norteiam este objeto de estudo: a ressilabação no apagamento da vogal postônica não final nos falantes da cidade de Sapé-PB.

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