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Variáveis, métodos e instrumentos de avaliação

Enquadramento do estudo

2.3. Variáveis, métodos e instrumentos de avaliação

Todos os atletas que aceitaram participar no estudo, foram avaliados durante o período competitivo, i.e. nos meses de Fevereiro e Março de 2009. A avaliação realizada

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abrangeu cinco categorias, nomeadamente: (i) morfologia (proporcionalidade e composição corporal), (ii) condição física, (iii) técnico-táctica, (iv) psicologia e (v) biossocial. Segue-se a descrição dos procedimentos adoptados na avaliação dos atletas.

2.3.1. Avaliação morfológica

Foram realizadas vinte e oito medições antropométricas. As medidas consideradas foram as seguintes: Altura Total ou Estatura (cm), Massa Corporal ou Peso (kg), Altura Sentada (cm), Envergadura (cm), Diâmetro Palmar (cm), nove pregas adiposas (mm), sete perímetros (cm), dois diâmetros (cm); cinco comprimentos (cm). As nove pregas adiposas foram: Subescapular, Tricipital, Bicipital, Peitoral, Iliocristal, Supraespinal, Abdominal, Crural e Geminal. Os sete perímetros foram: Braço sem contracção, Braço com contracção, Antebraço, Torácico (mesoesternal), Cintura (mínimo), Médio da Coxa e Geminal. Para ajustar o perímetro médio da coxa (mid-trocanter-tibial lateral) à medida original utilizada por Martin, Spenst, Drinkwater e Clarys (1990), Doupe, Martin, Searle, Kriellaars e Giesbrecht (1997) e Lee, Wang, Heo, Ross, Janssen e Heymsfield (2000) (i.e., inguinal-patelar), foi calculado o coeficiente de ajustamento (R = 0.986) utilizando uma amostra aleatória de andebolistas. Os dois diâmetros foram o Biacromial e Bi-Iliocristal. Os cinco comprimentos são: Acromial-Dactylion, Acromial- Radial, Radial-Stylion, Radial-Dactylion e Mid-Stylion-Dactylion.

O protocolo seguido foi o descrito por Marfell-Jones, Olds, Stewart e Carter (2006), à excepção das medidas envergadura (Fragoso & Vieira, 2005, pp. 13), diâmetro palmar, prega adiposa peitoral (Fragoso & Vieira, 2005, pp. 29), comprimento Acromial-

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Dactylion (distância entre o ponto acromial e o ponto dactylion) e comprimento Radial- Dactylion (distância entre o ponto radial e o ponto dactylion).

Todas as medições antropométricas foram realizadas utilizando instrumentos portáteis. Assim, para a medição da Estatura e Altura Sentada utilizou-se um antropómetro (Anthropometric Kit Siber-Hegner Machines SA GPM, 2008), para a Massa Corporal utilizou-se uma balança (Body Mass Scale Vogel & Halke – Germany - Secca model 761 7019009, 2006) que permite leituras de 500 em 500 g, para as pregas adiposas utilizou-se o adipómetro (Skinfold caliper Rosscraft Slim Guide 2001) que permite leituras até às décimas de milímetros (com uma pressão nas pontas de 10 mg/cm2), para os perímetros utilizou-se a fita métrica (Rosscraft Anthropometric Tape) com escala em milímetros e, para os diâmetros e comprimentos utilizou o compasso de corrediça (Anthropometric Kit Siber-Hegner Machines SA GPM, 2008).

As medidas antropométricas consideradas neste estudo foram obtidas por antropometristas do Laboratório de Antropometria da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, credenciados pelo ISAK (International Society of the Advance of Kinanthropometry).

Antes das medições dos atletas foi calculada a garantia absoluta ou erro padrão de medida (TEM) dos antropometristas.

No estudo da composição corporal foram consideradas a massa muscular e a massa gorda. Contudo, a predição da massa adiposa ou da massa muscular, sendo importante, é também problemática. Segundo a literatura, para fornecer uma estimativa mais válida de gordura corporal (confirmada em homens saudáveis e mulheres jovens por Eston, Rowlands, Charlesworth, Davies & Hoppitt, 2005), Reilly, Maughan e Hardy (1996) sugeriram a utilização da equação proposta por Durnin e Womersley (1974), como

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descrito por Hasan, Rahaman, Cable e Reilly (2007). No entanto, em estudos anteriores, com jogadores de andebol adultos do sexo masculino, a percentagem de gordura corporal foi estimada usando as equações propostas por Faulkner (1968) (e.g., Chamorro, Lorenzo & Expósito, 2005), Yuhasz (1974) (e.g., Çakieoğlu, Uluçam, Cigali & Yilmaz, 2002), ou derivados da equação proposta por Jackson e Pollock (1978) (e.g., Bezerra & Simão, 2006; Glaner, 1999; Gorostiaga, Granados, Ibáñez, González-Badillo & Izquierdo, 2006; Vasques, Antunes, Duarte & Lopes, 2005). Como, as equações de Durnin e Womersley (1974) e Jackson e Pollock (1978) predizem a densidade corporal do sujeito, a fórmula de Siri (1961) é utilizada para converter a densidade corporal em gordura corporal relativa.

Em oposição, são poucos os trabalhos que contemplam o estudo da massa muscular de atletas de andebol do sexo masculino (adultos). No entanto, de acordo com Spenst, Martin e Drinkwater (1993), a equação de Martin et al. (1990) parece ser a que melhor estima a massa muscular esquelética de atletas do sexo masculino. Essa equação foi utilizada recentemente por Hasan et al. (2007) no estudo do perfil antropométrico de jogadores de andebol de elite (masculinos) na Ásia. No entanto, a massa muscular (absoluta e relativa) também foi calculada com recurso às equações sugeridas por Matiegka (1921), Heymsfield, McManus, Smith, Stevens e Nixon (1982), Doupe et al. (1997) e Lee et al. (2000).

26 2.3.2. Avaliação da condição física

A bateria de testes aplicada para avaliar a condição física dos atletas permitiu estudar: a velocidade máxima (30 m; em segundos e centésimo de segundo), a força explosiva e elástico-explosiva dos membros inferiores (salto vertical com e sem contra movimento; em cm), a resistência abdominal (abdominais em 1 minuto), a força de preensão manual (Handgrip à direita e esquerda; em kgf), a força explosiva e elástico-explosiva dos membros superiores (adaptação dos testes de salto vertical com e sem contra movimento aos membros superiores; em cm) e a capacidade aeróbia (Yo-Yo Intermittent Endurance Test, Level 2).

A avaliação da velocidade efectua-se de acordo com o protocolo descrito por Maldonato e Seco (1989), e os tempos realizados no teste de velocidade (30 m), foram registados com recurso a células fotoeléctricas (Wireless Sprint System, BROWER Timing Systems, Salt Lake City, Utah USA).

Para os testes que envolviam saltos, os procedimentos adoptados foram os descritos por Bosco, Luhtanen e Koni (1983), tendo sido utilizado um Ergojump (Bosco System, Globus, Italy). Foram calculadas as alturas dos saltos, os índices de elasticidade dos membros inferiores e superiores (Bosco et al., 1983) e a potência dos saltos verticais realizados com os membros inferiores (equação de Lewis modificada; Fox & Mathews, 1974).

Para o teste de força abdominal (Sit Up) foi adoptado o protocolo descrito por Semenick (1994). Os participantes realizaram o teste uma única vez e o número de execuções foi registado.

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Relativamente à avaliação da força de preensão manual, foram calculados quatro índices: (i) força da mão dominante; (ii) força da mão não-dominante; (iii) valor médio da força da mão dominante e da mão não-dominante; (iv) diferença entre a força da mão dominante e a força da mão não-dominante. Seguindo o protocolo descrito por Grosser e Starischka (1988), os participantes realizaram três vezes a avaliação (com cada mão) e o melhor resultado foi registado. Para o efeito foi utilizado um dinamómetro (Takei Physical Fitness Test, T.K.K. 5001, GRIP – A)

Por último, para avaliar a capacidade aeróbia foram adoptados os procedimentos propostos por Bangsbo (1996), tendo sido utilizado o Yo-Yo Intermittente Endurance Teste, Level 2 (Jens Bangsbo, The Yo Yo tests, cd-2). Duas variáveis foram registadas: a distância percorrida e a classificação do desempenho. Relativamente à segunda variável, foram consideradas as quatro classes de desempenho definidas por Bangsbo (1996), nomeadamente: 1, menos que 1000 m percorridos; 2, de 1000 m a menos de 1300 m percorridos; 3, desde 1300 m a menos de 1600 m percorridos; 4, 1600 m ou mais metros percorridos.

Todos os testes de condição física foram realizados pelo mesmo investigador.

2.3.3. Avaliação técnico-táctica

A avaliação dos atletas foi efectuada de acordo com o protocolo descrito por Blanco (2004), e ajustado por Massuça e Fragoso (Anexo-8), numa escala descritiva de avaliação, i.e. escala tipo Likert de 5 pontos (1 = Insuficiente a 5 = Excelente).

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Os 6 itens considerados na avaliação técnico-táctica são os seguintes: (i) Passe e recepção (grau de eficácia do atleta nas diferentes tarefas que impliquem passes e recepções); (ii) Remate, tipos (capacidade do atleta executar o gesto técnico, de variá-lo e respectiva eficácia); (iii) Domínio do 1 vs. 1, Fintas (gesto técnico realizado pelo atleta, quando na posse da bola, com o intuito de ultrapassar o defesa, i.e. eficácia e variedade das fintas utilizadas); (iv) Capacidade de criar e ocupar espaços (capacidade do atleta aumentar os espaços de acção, devido ao deslocamento do jogador defesa induzido pelas acções do atacante, e ocupá-los de forma oportuna); (v) Domínio dos meios tácticos (capacidade de interpretação e utilização dos diferentes meios tácticos ofensivos e defensivos); (vi) Capacidade de variar as suas acções (capacidade que o atleta tem de variar e ajustar as acções tácticas ao contexto, e não de forma estereotipada, i.e. criatividade).

O instrumento revelou, em atletas de andebol do sexo masculino (n = 235; idades, 23.46 ± 5.25 anos), boa consistência interna [coeficiente alfa de Cronbach = 0.934; Goodness of Fit Index (GFI) = 0.997; Adjusted Goodness of Fit Index (AGFI) = 0.993; Modified Root Mean Square Residual (RMSR*) = 0.022]. Esta escala está elaborada de forma que, quanto mais alta for a pontuação obtida melhor é competência técnico-táctica do atleta de andebol no factor “Poder ofensivo” (Anexo IX).

2.3.4. Avaliação psicológica

Os participantes responderam a um teste psicológico, o Questionário de Orientação Motivacional no Desporto (QOMD–TEOSQ).

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Este questionário é específico para atletas, e é uma versão traduzida e adaptada para a língua portuguesa por Fernandes e Serpa (1997) do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire (TEOSQ), desenvolvido por Joan L. Duda (Duda & Nicholls, 1989; Duda, 1992). O TEOSQ permite avaliar a orientação motivacional para a Tarefa e/ou para o Ego em contextos desportivos (Cronbach alpha: Task = 0.81 - 0.86 e Ego = 0.79 - 0.90), tendo como base o modelo teórico motivacional de Nicholls (1989).

Na sua versão original, os itens do QOMD–TEOSQ encontram-se distribuídos por duas subescalas: orientação para a Tarefa e orientação para o Ego. Os sujeitos respondem a cada item optando por uma alternativa, numa escala tipo Likert de 5 pontos (1= Discordo totalmente; 5= Concordo totalmente).

Num estudo com 203 atletas de andebol, de diferentes níveis competitivos e com idades compreendidas entre os 18 e os 36 anos (média, 23.41 ± 5.13 anos), Massuça e Fragoso (Anexo XI) verificaram que o coeficiente de consistência interna do QOMD-TEOSQ, medido por meio do coeficiente alfa de Cronbach, foi de 0.729 e a análise factorial exploratória às suas respostas identificou a existência de dois factores semelhantes aos propostos para a versão original do instrumento (orientação para a Tarefa, alpha de Cronbach = 0.701; orientação para o Ego, alpha de Cronbach = 0.774). Segundo os autores, a análise factorial confirmatória revelou um bom ajustamento do modelo de medida constituído pelos factores já enunciados (GFI = 0.927; AGFI = 0.874 e RMSR* = 0.040), pelo que a comprovada validade e fiabilidade do QOMD–TEOSQ, garante a adequação do instrumento de pesquisa na avaliação psicológica directamente aplicada ao desporto, e em particular na avaliação da orientação motivacional em atletas de andebol.

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Foi solicitado aos participantes que respondessem a um questionário. Esse questionário, designado por BioSocial RAPIL da Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, tem sido utilizado em estudos de doutoramento (e.g., Fragoso, 1996; Varela da Silva, 2004), mestrado (e.g., Barroso, 2004; Caninas, 2002; Fernandes, 2004) e em outros projectos de investigação científica (Fragoso, Vieira, Barrigas, Baptista, Teixeira, Santa-Clara, Mil-Homens & Sardinha, 2007; Varela-Silva, Fragoso & Vieira, 2010) e possibilita, entre outros aspectos, a determinação do estatuto sócioeconómico (SES) e do dispêndio energético semanal.

Para determinar o SES dos participantes foi utilizada a Escala de Notação Social da Família de Graffar, ou simplesmente a escala Graffar (Graffar, 1958), que permite uma representação fiel do estrato que o indivíduo, ou a família, ocupa na sociedade. O método de classificação original baseia-se na análise de cinco critérios, apresentando uma proposta de caracterização com base na profissão, no grau de instrução dos pais, na origem do rendimento familiar e nas características da habitação e do local onde a família reside.

Neste estudo utilizámos apenas quatro fontes de informação para calcular o nível socioeconómico da família, ou seja, não utilizámos os dados relativos às fontes de rendimento pois constatámos que as questões que lhe faziam referência não eram (muitas vezes) bem aceite pelos inquiridos que acabavam por não responder. Assim, cada uma das quatro variáveis pode receber uma notação que oscila entre um e cinco pontos.

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No estudo que realizámos optámos por utilizar a média dos valores obtidos no nível de instrução e na profissão dos elementos que constituem o agregado familiar. Segundo a metodologia utilizada, o nível 1 é atribuído à situação socialmente mais desfavorável em cada critério e o nível 5 é atribuído à situação mais favorável (Quadro 2).

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Quadro 2. Pontuação a atribuir ao tipo de profissão, nível académico, tipo de habitação e tipo de bairro onde habita, para o cálculo do estatuto socioeconómico.

Pontuação Descrição

Tipo de Profissão

5 Pessoal de profissões científicas, artísticas e profissões similares. Directores e quadros superiores administrativos.

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