• Nenhum resultado encontrado

Variáveis selecionadas a partir dos resultados do monitoramento da

4. RESULTADOS

5.2 Seleção de variáveis físicas e químicas como potenciais indicadores do

5.2.1 Variáveis selecionadas a partir dos resultados do monitoramento da

De acordo com o teste comparativo realizado entre os resultados dos dois períodos, ou seja, 6 anos anteriores à colheita da madeira e 1 ano após esta atividade, ocorreu um aumento significativo nos valores médios de concentração de potássio, de concentração de sedimentos em suspensão e de turbidez.

Em termos médios, de acordo com estudos realizados anteriormente nesta microbacia (CAMARA e LIMA,1999), observou-se que durante todo o primeiro ano após a colheita a microbacia esteve mais sensível ao processo de erosão, o que resultou em valores mais elevados de concentração de sedimentos e de turbidez no curso d’água ao longo do ano. Estes resultados podem ser visualizados nas Figuras 66 e 67, onde são comparados os intervalos de confiança estimados para as variáveis turbidez e sedimentos em suspensão registrados antes da colheita e os valores registrados após esta operação de manejo.

Figura 66 – Estimativa do intervalo de confiança para os valores de turbidez com a

microbacia recoberta com floresta adulta (

-

) e valores observados no primeiro ano após

a colheita da madeira (? ). Microbacia da Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga – SP. (CÂMARA e LIMA, 1999)

Os valores mais elevados de sedimentos em suspensão em relação ao período anterior ao corte, conforme pode ser visualizado na Figura 68, resultaram em um aumento de 57% na produção anual de sedimentos no primeiro ano após a colheita em relação aos totais gerados nos 6 anos anteriores (resultados ilustrados na Figura 63).

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0

set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago

FTU

Figura 67 – Estimativa do intervalo de confiança para valores de sedimentos em

suspensão com a microbacia recoberta com floresta adulta (

-

) e valores observados no

primeiro ano após a colheita da madeira (? ). Microbacia da Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga – SP. (CÂMARA e LIMA, 1999)

.

Figura 68 – Estimativa da perda anual de sedimentos em suspensão em uma microbacia recoberta com floresta plantada de eucalipto ( 1991 a 1997) e no primeiro ano após a colheita da madeira (1997 a 1998). Microbacia experimental da Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga – SP (CÂMARA et al. 2000)

Outras duas variáveis tiveram reduções significativas em termos de resultados médios após a colheita: a condutividade elétrica e concentração de cálcio.

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0

set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago

mg.L

-1

valores limite do intervalo de confiança valor observado após a colheita

0 20 40 60 80 1991 a 92 1992 a 93 1993 a 94 1994 a 95 1995 a 96 1996 a 97 1997 a 98 ano hídrico

sedimentos em suspensão (kg.ha

-1 ) 0 500 1000 1500 2000 2500 precipitação (mm)

Considerando o conjunto de dados referente ao período em que a microbacia encontrava-se com cobertura florestal, foi constatada uma correlação negativa entre os valores de deflúvio e das variáveis concentração de sedimentos em suspensão e pH.

Já o resultado da correlação de Spearman entre o deflúvio e as variáveis físicas e químicas englobando conjuntamente os períodos anterior e posterior à colheita, não mostrou correlação entre qualquer uma das variáveis e o deflúvio.

Considerando que a modificação na cobertura do solo causada pela colheita florestal pode alterar as condições de infiltração de água, que por sua vez pode modificar o processo de geração do escoamento direto causado por uma chuva, normalmente, há a tendência de aumento do escoamento superficial. De acordo com O`Loughlin (1981), o escoamento superficial está associado ao transporte de nutrientes depositados em uma camada superficial do solo, destacando-se o fósforo e o potássio, ligados à matéria orgânica. Esta alteração pode estar associada aos incrementos na concentração de potássio. Da mesma forma, o aumento nas taxas de sedimento e dos valores de turbidez refletem um aumento no processo de escoamento superficial após a retirada da cobertura florestal.

Também as reduções nas concentrações de cálcio e nos valores de condutividade elétrica indicam uma alteração no funcionamento hidrológico da microbacia após esta operação.

Um aspecto importante na composição química de córregos é a contribuição da água do lençol freático para as águas superficiais (BUBEL & CALIJURI 2001). A água que percola através da zona não saturada irá, com o tempo, ser incorporada à água superficial. Esta interface entre a água do lençol freático e a água superficial exerce influência na dinâmica do fluxo de nutrientes e materiais. Para Leite et al. (1999), citado por Bubel & Calijuri (2001), as interações bioquímicas ocorrem onde a água fica armazenada, ou seja, apresenta maior tempo de residência. Como o fluxo superficial é mais rápido que o de base, é neste último que a água realiza a maior parte das trocas químicas que determinarão suas características.

Esta interface entre a água do lençol freático e a água superficial, denominada zona hiporreica (Agnhingan apud Nomazzi et al (1999) citados por Bubel & Calijuri (2001) é alimentada pela água que percola no solo ao longo de toda a microbacia, de forma que ocorre uma interação entre esta zona e a cobertura florestal das áreas adjacentes. A floresta circunvizinha favorece a infiltração de água no solo, de sorte que

a zona hiporreica representa uma importante contribuição na geração do deflúvio, especialmente nas épocas secas.

Com a retirada da cobertura florestal e o aumento do escoamento direto, ocorre um aumento da contribuição deste último na geração do deflúvio. A redução na condutividade elétrica após o corte da floresta pode ser interpretada como um indicador desta alteração. Quem determina a condutividade são as substâncias presentes na água, que se dissociam em ânions e cátions. Quanto maior for a concentração de íons, como cálcio, ferro, magnésio, sódio, etc. na água, maior deverá ser sua condutividade. A redução nos valores de condutividade observados em termos médios no primeiro ano após o corte em relação ao período anterior, assim como das concentrações de cálcio podem ter refletido uma redução do tempo de permanência da água na microbacia. Provavelmente pode ter havido uma alteração na contribuição da zona hiporreica na geração do deflúvio em relação ao escoamento direto, como conseqüência da alteração na cobertura do solo.

Em relação à variável sedimentos em suspensão como indicador do funcionamento hidrológico da microbacia, vale destacar, como resultados do presente estudo para a microbacia localizada em Itatinga – SP, a correlação negativa entre esta variável e o deflúvio no período anterior à colheita da floresta. De acordo com Douglas & Swank (1975) citados por Anido (2001), os sedimentos orgânicos predominam em áreas naturais, diferenciando-se dos sedimentos inorgânicos, que geralmente refletem ações erosivas derivadas de atividades antrópicas. A microbacia localizada em Itatinga – SP apresentava, anteriormente à colheita florestal, sob alguns aspectos, características semelhantes a uma floresta natural. Entre estas podemos destacar uma espessa serapilheira, proporcionando boa cobertura ao solo em toda a área. Nas adjacências do córrego, a composição florística característica da zona ripária, que foi mantida após o corte, que proporcionava estabilidade às margens além de material orgânico, composto por folhas e pequenos galhos. Este cenário proporcionava grande proteção ao curso d’água em relação à entrada de sedimentos provenientes de erosão, processo este também dificultado pela cobertura de serapilheira ao longo da bacia. Estas condições podem ter garantido uma proporção significativa de sedimentos orgânicos em relação ao total de sedimentos em suspensão. A redução na concentração de sedimentos em suspensão com a redução do deflúvio, durante o período anterior à colheita da madeira, pode estar relacionada com esta fração orgânica. Períodos mais secos, sem picos de vazão, favorecem o acúmulo de material orgânico no leito, que se decompõe em

partículas menores. A análise visual do córrego, especialmente na região próxima ao vertedor, onde a velocidade do fluxo de água se torna reduzida, permitiu identificar uma camada de material orgânico fino recobrindo o substrato, especialmente nas regiões próximas às margens. O resultado semelhante observado para a variável pH pode estar relacionado a estas condições, já que os processos de decomposição da matéria orgânica propiciam condições para a redução do pH em água. De acordo com Esteves (1998), ecossistemas aquáticos que apresentam mais freqüentemente valores baixos de pH têm elevadas concentrações de ácidos orgânicos dissolvidos, podendo estes ser de origem alóctone e autóctone.

Com a inserção dos dados obtidos durante o primeiro ano após a colheita as correlações entre o deflúvio e a concentração de sedimentos em suspensão bem como com a turbidez não foram mantidas, indicando uma possível alteração no funcionamento hidrológico da microbacia. Este resultado destaca, mais uma vez, estas variáveis como bons indicadores da eficiência das operações de manejo florestal.

De acordo com os resultados comparativos entre os dois períodos de monitoramento na microbacia de Itatinga – SP (período com cobertura florestal e primeiro ano após a colheita da madeira, com a preservação da vegetação da área de preservação permanente), destacaram-se, entre o conjunto de variáveis monitoradas, a turbidez, a concentração de sedimentos em suspensão, a condutividade elétrica, as concentrações de potássio e de cálcio como potenciais indicadores da eficiência do manejo florestal para as condições edafoclimáticas desta microbacia.

5.2.2 Variáveis selecionadas a partir do monitoramento das microbacias com