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V4: Papel das empresas

de telefonia (variável adicional exógena) V2: Papel do núcleo Executivo (variável principal) V1: Papel da coalizão conserv. (variável principal) V3: Papel da coalizão democratizadora (variável adic. exógena)

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Sendo assim, consideramos, ainda, duas variáveis independentes, adicionais e exógenas ao modelo liberal capturado, a saber:

V3: Papel da coalizão democratizadora

O pesquisador Daniel Herz, integrante da coalizão democratizadora, assumiu o papel de empreendedor de políticas públicas. Herz atuou na difusão e defesa de ideias e na promoção de mudanças (CAPPELA E LEITE, 2013). Como empreendedor, ele foi responsável por iniciar a trajetória institucional de definição da TV por assinatura como problema (T1) para a convergência da comunicação social eletrônica, no Brasil.

V4: Papel das empresas de telefonia

As empresas de telefonia estrangeiras assumiram a função de promotoras da ideia de TV por assinatura como problema (T3). Essas companhias utilizaram seus recursos, individualmente, para defenderem a necessidade de intervenção ou de modificação no tratamento de uma questão social (DENTE, 2014).

No próximo subcapítulo, definiremos o escopo do nosso objeto de pesquisa e o método de análise utilizado para responder ao problema de pesquisa.

3.3. Escopo do caso e método de análise

Um caso é uma unidade de análise contingente dentro de uma proposição teórica feita pelo pesquisador. Um caso pode ter abrangência temporal ou espacial. A abrangência do caso, assim, determina os limites nos quais é feita uma inferência

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teórica (BEACH E PEDERSEN, 2016). Um caso pode, ainda, ser único ou envolver uma população de casos, nas quais assume-se que processos similares ocorrem.

Na presente pesquisa, o caso utilizado é o processo de formação de agenda para a definição do problema, no Brasil, como TV por assinatura. Bennett e Checkel (2015) assertam que o escopo de um caso depende como o pesquisador define a pergunta que está tentando explicar. E, ainda que a pergunta esteja clara, a abrangência do caso, ainda assim, é sujeita a discussão. Os autores propõem que o marco inicial do caso seja em períodos de junções críticas, nos quais uma instituição ou prática era contingente ou aberta a trajetos alternativos, e atores ou eventos externos determinaram qual trajetória ela iria tomar. Se o pesquisador escolher uma junção crítica, deve, também, levar em conta se eventos antes ou depois eram relevantes e considerar a possibilidade de buscar mecanismos até outras potenciais — mas não realizadas — junções críticas, antes ou depois, do ponto de partida escolhido.

Sendo assim, definimos o ponto inicial do nosso caso como um período de junção crítica, ocasionado por uma mudança macropolítica, a saber: a eleição e o início do mandato de um governante de esquerda, no Brasil. O ponto inicial do nosso caso, portanto, é o início do mandato do presidente Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, em janeiro de 2003 (T3). Nessa primeira gestão, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, assumiu o papel de empreendedor de políticas públicas na difusão de ideias. Em janeiro de 2007, o presidente Lula da Silva iniciou o segundo mandato, quando, então, o deputado federal Jorge Bittar, do Partido dos Trabalhadores, também assumiu o papel de empreendedor — porém, no acoplamento entre o fluxo do problema e das alternativas. Sendo assim, nosso caso está compreendido do início do primeiro mandato, em 2003, quando o ministro Gilberto Gil lança o Programa Brasileiro do Cinema e do Audiovisual; até o momento em que o deputado Jorge Bittar negocia um acordo entre os atores com benefícios concentrados (WILSON, 1995), em novembro de 2007, e consegue, assim, acoplar os fluxos do problema e alternativas.

O método utilizado é o process tracing, cujo objetivo é identificar a cadeia causal e os mecanismos causais existentes entre as variáveis independentes e o resultado, ou seja, a variável dependente (BENNETT E CHECKEL, 2015). Do ponto de

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vista epistemológico, o process tracing é fortemente relacionado à virada para as explicações, nas ciências sociais, baseadas na referência a mecanismos causais. Essa perspectiva tem origem no pensamento de David Hume acerca de explicações causais. É importante destacar, no entanto, que, na perspectiva ontológica, o pesquisador não tem acesso, sem mediação, aos mecanismos causais; e tampouco pode observar diretamente esses mecanismos. Sendo assim, a tarefa da pesquisa é criar hipóteses sobre como os mecanismos — ou entidades ontológicas — devem funcionar, e testar as implicações observáveis dessas hipóteses (BENNETT E CHECKEL, 2015).

Vimos, então, que um caso é, assim, um processo cuja explicação é construída por meios da combinação de mecanismos causais. Mecanismos, por sua vez, são uma classe delimitada de eventos que mudam as relações entre conjuntos específicos de elementos contextuais (TILLY E GOODIN, 2006). Tilly e Goodin (2006) oferecem algumas categorias de mecanismos, sendo que utilizaremos duas delas: relacionais e cognitivos. Os mecanismos relacionais são aqueles que alteram as conexões entre as pessoas, grupos e redes interpessoais. São identificados por palavras como aliado, atacar, subordinado e apaziguar. Já os mecanismos cognitivos, por sua vez, operam por meio de alterações na percepção individual e coletiva dos atores. Esse conjunto de mecanismos é identificado por palavras como reconhecer, reinterpretar e classificar.

Na presente pesquisa, consideramos, ainda, que os mecanismos operam por meio da agência dos indivíduos e grupos, uma vez que o ciclo de políticas públicas é explicado por meio de quem ganha o quê e por quê (LASSWELL, 1958). Os atores, assim, assumem papéis (DENTE, 2014) no processo de formação de agenda. Bennett e Checkel (2015) recomendam, no entanto, que o pesquisador considere ambas explicações de agência e estrutura, na análise de um caso. Constrangimentos estruturais podem ser, assim, materiais, institucionais ou normativos, enquanto atores, por sua vez, são motivados por cálculos racionais de interesses materiais, vieses cognitivos, motivação emocional e preocupações normativas (BENNET E CHECKEL, 2015). Desta maneira, descreveremos mecanismos de agência, por meio de verbos, mas tendo em vista os constrangimentos institucionais — uma vez que os

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indivíduos e grupos recorrem com frequência a protocolos estabelecidos ou a modelos de comportamento já conhecidos para atingir seus objetivos (HALL E TAYLOR, 2003).

Finalmente, cabe esclarecer que o problema de pesquisa e os mecanismos explicativos servem apenas para o processo de formação de agenda no Brasil. Ora, trata-se de um estudo de caso de geração de hipóteses que tem por objetivo confrontar o modelo liberal capturado (GUERRERO E MÁRQUEZ-RAMÍREZ, 2014a), no âmbito da América do Sul. Sendo assim, o problema se direciona ao caso que não se encaixa no modelo e cria, assim, novas hipóteses para a referida teoria explicativa. Essas hipóteses, no entanto, precisam ser posteriormente refinadas e testadas, especificamente, para os casos da Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai e Venezuela.

No próximo subcapítulo, explicaremos quais temas de pesquisa foram definidos para descrever e explicar o presente caso, com suas respectivas categorias de análise. O subcapítulo apresenta, ainda, os dados empíricos utilizados, para cada tema.

3.4. Temas de pesquisa, categorias e dados empíricos

Nossa variável dependente é caracterizada por um processo, que, por sua vez, explica nosso problema de pesquisa. Para compreender o referido processo é preciso, ainda, descrever o campo no qual ele ocorre, a saber, um subsistema de políticas públicas. Sendo assim, nossos temas de pesquisa são: a descrição dos atores e interesses, no subsistema; a descrição do papel que eles assumem, na formação de agenda; e a explicação da agenda, por meio de mecanismos causais. Cada um dos temas de pesquisa é composto, ainda, por categorias de análise. Os temas de pesquisa e suas respectivas categorias, portanto, são os que seguem:

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· coalizão conservadora: questão comum, composição, relação entre os atores, recursos, interesses e crenças;

· coalizão do audiovisual: questão comum, composição, relação entre os atores, recursos, interesses e crenças;

· coalizão democratizadora: questão comum, composição, relação entre os atores, recursos e crenças;

· atores de telefonia: descrição, recursos e interesses; · integrantes do núcleo Executivo: perfil, função e recursos; · mapa da relação dos atores, no campo, desde a década de 1960.

b. Papel dos atores e explicação do processo:

· promoção do problema, pelos atores de telefonia;

· defesa de alternativas, pela coalizão do audiovisual;

· papel do empreendedor na difusão de ideias, no âmbito do Executivo; · bloqueio negativo, por grupo de pressão;

· papel do empreendedor, no acoplamento entre os fluxos, no âmbito do Legislativo;

· defesa de alternativas, pela coalizão do audiovisual.

Cabe mencionar, aqui, que todas os temas e categorias já estavam previamente previstos, antes do campo. A exceção são os integrantes do núcleo Executivo que assumiram o papel de empreendedores de políticas públicas, no processo. Para esses atores, foram feitas entrevistas adicionais, depois do campo, acerca do tema.

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A principal técnica de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, cujo objetivo é compreender o sentido que os atores dão às suas condutas, a maneira com a qual se representam e como vivem uma dada situação. A entrevista serve, assim, para que o pesquisador possa entender as estruturas e o funcionamento de um grupo, instituição ou formação social determinada (POUPART, 2008). A escolha da entrevista semiestruturada justifica-se porque, com base na compreensão dessas estruturas, o pesquisador pode explicar um determinado processo ou fenômenos social, por meio da utilização de mecanismos causais. O instrumento de coleta de dados, para as entrevistas semiestruturadas, foi o roteiro de entrevista48.

A amostra de entrevistados foi definida com o objetivo de abranger a totalidade do problema, em suas múltiplas dimensões. Utilizou-se, para tanto, a técnica da inclusão progressiva, ou seja, sem demarcar, antecipadamente, o número de entrevistados. A inclusão progressiva é interrompida pelo critério da saturação, a saber, quando as concepções, explicações e sentidos atribuídos pelos atores sociais começam a apresentar regularidade (MINAYO, DELANDES E GOMES, 2012).

Realizamos o trabalho de campo em Brasília, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, majoritariamente entre junho e agosto de 2016. Nessa etapa, também realizamos algumas entrevistas por Skype. Adicionalmente, entre julho e agosto de 2017, procedemos algumas entrevistas extra, por Skype, acerca dos integrantes do núcleo Executivo do governo. Ao todo, foram realizadas 29 entrevistas.

No quadro abaixo, apresentamos as fontes das entrevistas, divididas em função dos temas de pesquisa anteriormente mencionados.

COALIZÃO CONSERVADORA

CRENÇAS

Código Função na época Perfil Data da entrevista

1

Integrante da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (ABERT)

Entidade de classe,

diretoria 13.06.16, pessoalmente

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Funcionário/a do Ministério das Comunicações

Governo federal ,

administração 20.06.16, pessoalmente