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Variação das medidas espaço-temporais de acessibilidade ao longo do

Grande parte da literatura analisada aborda a construção de prismas espaço-tempo, áreas com potencial de viagens e espaços de atividades individuais. Para tanto, são utilizadas medidas de acessibilidade variadas, como áreas de contato potencial e número de oportunidades no entorno, considerando a agregação temporal dos dados de pesquisas de transporte, com períodos de coleta variados. Esta agregação é feita a partir da determinação de frequências de visitações relativas entre atividades desempenhadas por cada indivíduo durante todo o período analisado. São avaliadas, então, eventuais correlações entre os níveis de acessibilidade individuais encontrados, constantes no tempo, e suas características socioeconômicas e demográficas, atentando-se a variações interpessoais.

Entretanto, a compreensão de como os níveis de acessibilidade de um indivíduo variam ao longo do tempo permite que o stakeholder conduza, de forma mais eficaz e acurada, o planejamento do uso do solo e transportes, propondo políticas urbanas que melhorem a qualidade de vida da população.

Neste contexto, Susilo e Kitamura (2005) avaliaram a eventual associação entre as extensões / variabilidades dos espaços de ação9 de um indivíduo ao longo do tempo

e seus atributos e heterogeneidades não observadas na amostra (termo de erro individual específico, que varia entre as pessoas mas se mantém constante ao longo do tempo para um mesmo indivíduo).

Consideraram, para tanto, que “o espaço de ação de um indivíduo é representado pelo segundo momento das localizações das atividades externas à residência que ele contém”, composto pela combinação de duas parcelas:

(i) IC - reflete a dispersão das atividades de um indivíduo ao redor do centroide

(C) dos locais frequentados fora da residência, em um determinado dia; (ii) IH - descreve quão longe da residência o centroide das atividades do dia

analisado se localiza.

9 Embora apresente diversas definições, o termo “espaço de ação” foi utilizado por Susilo e Kitamura (2005) para designar o conjunto de locais visitados por um indivíduo durante o dia.

Os resultados demonstraram, dentre outros aspectos, que trabalhadores e estudantes apresentam espaços de ação estáveis de segunda a quinta-feira, com maior dispersão e afastamento das atividades na sexta-feira e no sábado, e que estes tendem a participar de atividades arbitrárias no caminho entre sua residência e o local de trabalho/escola; dado o usual afastamento entre oportunidades de emprego e moradia, indivíduos com emprego fixo também possuem espaços de ação mais extensos. Para os desempregados, o tamanho da família influencia negativamente o valor de IC, enquanto rendas familiares mais elevadas agem no sentido oposto. Com

relação ao valor de IH, este cresce com o aumento do acesso a meios de

telecomunicação (contato com outras pessoas via telefone, mensagens, redes sociais, e/ou acesso a informações diversas), sendo maior também dentre os jovens.

Assim, sinteticamente, Susilo e Kitamura (2005) constataram a recorrência de padrões de atividades ao longo dos dias da semana, em função de compromissos com horários e localizações fixos, como o emprego e a escola; já aos finais de semana, quando as atividades tendem a ser mais livres e aleatórias, os espaços de ação não apresentaram repetições bem definidas.

Anos depois, Neutens et al. (2012) propuseram a aplicação de quatro medidas diárias de acessibilidade a uma amostra de 605 residentes de Ghent, Bélgica, visando determinar como a acessibilidade de cada um variava entre dias consecutivos, por um período de uma semana, a partir de suas restrições espaço-temporais e de características do ambiente urbano, como a distribuição de oportunidades, os horários de funcionamento das atividades e informações da rede de transportes.

Foram definidas, assim, as seguintes medidas de acessibilidade diária:

(i) Escolha espacial (SC): conjunto de oportunidades que um indivíduo pode visitar durante o dia analisado;

(ii) Possibilidade de acesso (POS): indica se um indivíduo é capaz ou não de participar de determinada atividade, por certo período de tempo, dadas as suas restrições espaço-temporais no dia analisado.

(iii) Proximidade espacial (SP): medida em termos do tempo mínimo de viagem entre as atividades fixas em determinado dia e as oportunidades potenciais;

(iv) Extensão temporal/Flexibilidade de tempo (TE): tempo total que um indivíduo pode destinar a uma atividade não programada, no dia analisado; reflete o tempo livre do indivíduo e o tempo total durante o qual as oportunidades potenciais estão disponíveis (montante que representa os períodos de funcionamento de atividades de mesma tipologia, que não se sobreponham).

Três relevantes constatações foram então apresentadas, conforme descritas abaixo (Neutens et al., 2012):

(i) Diferenças de restrições espaço-temporais podem gerar variações consideráveis no nível de acessibilidade diária de um indivíduo; assim, a comparação do grau de acessibilidade de duas pessoas da amostra pode ocasionar resultados muito distintos, dependendo do dia analisado;

(ii) O grau de variabilidade do nível de acessibilidade de um indivíduo ao longo de determinado período depende da medida de comparação adotada, variando de acordo com a situação ocupacional e com o gênero do indivíduo;

(iii) Medidas de acessibilidade diárias fornecem elementos para a compreensão do grau de influência que restrições espaço-temporais específicas de um determinado dia da semana têm sobre os níveis médios de acessibilidade da população.

Os resultados obtidos reforçam a importância de se analisar o padrão e as causas de variações temporais de acessibilidade em estudos que, como o presente trabalho, se destinam a entender o comportamento de viagens e o nível de acessibilidade de diferentes populações a oportunidades de emprego, lazer, saúde e compras no ambiente urbano.

4.5. Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e medidas espaço-temporais