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3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

3.3 VARIAÇÃO E MUDANÇA

A Sociolinguística Variacionista, comumente conhecida, como a Teoria da Variação e Mudança Linguística ou também denominada de Sociolinguística Quantitativa, busca explicar e descrever os fenômenos de variação e mudança linguística, a partir da investigação de fenômenos variáveis nos diferentes níveis de análise linguística a saber: fonético, fonológico, sintático e semântico.

Uma das características inerente às línguas naturais são os processos de variação e mudança linguística por que elas passam no decorrer do tempo. As línguas variam com os costumes, os hábitos, os acontecimentos históricos e, assim, novas palavras e estruturas são incorporadas ao nosso sistema linguístico, enquanto outras caem em desuso.

Os processos de variação e mudança linguística são caracterizados pela sistematicidade no que se refere aos condicionamentos das variáveis estruturais e sociais. Para a Sociolinguística Laboviana, as línguas mudam gradativamente, sendo a mudança linguística um fato inquestionável e propício da história da humanidade.

O ponto de partida inicial para compreendermos “porque as línguas mudam” está associado às mudanças ocorridas na sociedade. Uma das possíveis explicações para esse processo refere-se à heterogeneidade da língua, pois, as variações são postuladas por regras e essas regras são regidas pela sistematicidade dos elementos linguísticos e sociais.

Conforme Weinreich, Labov & Herzog (2006 [1968]) propõem, nem toda variação e heterogeneidade envolve mudança, mas toda mudança envolve variação, ou seja, para que uma mudança aconteça, deve haver variação, mas nem toda variação resultará em um

processo de mudança linguística. Desse modo, a variação e a mudança são entendidas como fenômenos distintos, apesar de estarem intimamente relacionados. Uma variação pode apontar para uma mudança futuramente, mas ela também pode continuar sendo apenas uma variação no sistema linguístico.

Para Labov (1976), é impossível compreender a evolução de uma mudança fora da vida social de uma comunidade, onde ela é produzida, isto porque as pressões sociais operam continuamente sobre a linguagem.

Retomando nossa discussão sobre os processos de variação e mudança linguística, Weinreich, Labov & Herzog (2006 [1968]) postulam cinco problemas empíricos relacionados ao processo de mudança; são eles: o problema dos fatores condicionantes, o problema do encaixamento, o problema da transição, o problema da avaliação e o problema da implementação.

O problema dos fatores condicionantes está relacionado à delimitação dos fatores linguísticos e sociais que possam interferir no processo de mudança linguística; cabe ao pesquisador sociolinguista investigar as possíveis direções de uma mudança.

Sugerimos que um possível objetivo para uma teoria da mudança linguística é determinar o conjunto das mudanças possíveis e condições possíveis para a mudança; na medida em que tal programa deriva de um estudo minucioso de mudança em progresso. (WEINREICH, LABOV & HERZOG (2006 [1968]), p. 121.

Ao identificar os fatores condicionantes, o pesquisador deve debruçar-se sobre as relações existentes entre essas variáveis e na forma como elas interagem no espaço da comunidade de fala.

Ao tratar do problema da transição, devemos investigar os estágios sucessivos de variação que um determinado fenômeno linguístico passa, até chegar à sua forma obsoleta, que resultará no processo de mudança linguística.

Em relação a esse processo, WLH afirmam que:

A mudança se dá (1) à medida que um falante aprende uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que duas formas existem em contato dentro de sua competência, e (3) quando uma das formas se torna obsoleta. A transferência parece ocorrer entre grupos de pares de faixa etárias levemente diferentes; todas as evidências empíricas reunidas até agora indicam que as crianças não preservam as características dialetais de seus pais, mas sim as do grupo de pares que domina seus anos pré-adolescentes. (WEINREICH, LABOV & HERZOG (2006 [1968]), p. 122)

Ao detalharmos o processo de transição para a efetivação da mudança linguística, temos que levar em consideração todas as etapas que compreende o processo de variação entre duas formas faladas em comunidade de fala, até que uma determinada variante consiga vencer esse duelo e tornar a outra obsoleta na comunidade de fala.

A noção de encaixamento linguístico está relacionada aos processos de inserção da variação linguística na estrutura, ou seja, trata-se de uma hipótese na qual se investigam as relações internas entre as variáveis linguísticas e extralinguísticas que venham a favorecer o processo de mudança linguística.

Weinreich, Labov & Herzog (2006 [1968]) descrevem dois tipos de encaixamento: o encaixamento na estrutura social e o encaixamento na estrutura linguística.

(a) Encaixamento na estrutura linguística. Se uma teoria da evolução linguística quiser evitar notórios mistérios dialetais, a estrutura linguística em que os traços mutantes se localizam tem de ser ampliada para além do idioleto. O modelo de língua proposto aqui tem (1) estratos discretos, coexistentes, definidos pela co- ocorrência estrita, que são funcionalmente diferenciados e conjuntamente disponíveis a uma comunidade de fala; e (2) variáveis intrínsecas definidas por covariação com elementos linguísticos e extralinguísticos.

(b) [...] Encaixamento na estrutura social. A estrutura linguística mutante está ela mesma encaixada no contexto mais amplo da comunidade de fala, de tal modo que variações sociais e geográficas são elementos intrínsecos da estrutura. Na explicação da mudança, é possível alegar que fatores sociais pesam sobre o sistema como um todo; mas a significação social não é equitativamente distribuída por todos os elementos do sistema, nem tampouco todos os aspectos do sistema são equitativamente marcados por variação regional. (WEINREICH, LABOV & HERZOG (2006 [1968], p.123)

Ao retomarmos as definições acima, percebemos que tanto o encaixamento na estrutura linguística, quanto o encaixamento na estrutura social são definidos a partir das particularidades das variáveis linguísticas e extralinguísticas selecionadas para a pesquisa sociolinguística. Por encaixamento na estrutura linguística, compreendemos como um conjunto de variáveis em co-ocorrência que precisam ser usadas e atestadas em uma comunidade de fala. O encaixamento na estrutura social está relacionado à influência de fatores sociais que vão se encaixar em uma estrutura linguística de uma comunidade de fala. Entretanto, a significação social que uma determinada variável extralinguística possa desempenhar na comunidade não vai ser algo equivalente dentro de um sistema.

O problema da avaliação focaliza os aspectos subjetivos relacionados a julgamento que uma determinada variável tem na comunidade. Trata-se de testes de julgamentos, em que os informantes avaliam de forma positiva ou negativa o uso de determinada variável.

Segundo Baltisti (2014, p.79) “a questão em torno de que o problema da implementação gira é: por que mudanças num traço estrutural ocorrem numa língua particular num dado período de tempo, mas não em outras línguas com o mesmo traço”. O problema da implementação vai tentar responder o porquê, o onde e como as mudanças linguísticas acontecem em uma determinada língua.

Em síntese, os processos de variação e mudança linguística constituem o objeto de investigação da Sociolinguística. Apesar do objeto de estudo desta dissertação estar restrito em termos metodológicos ao contexto de variação e não especificamente de mudança linguística, acreditamos que toda a discussão exposta aqui enriquece o nosso trabalho.