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Variação espacial e temporal da temperatura da superfície (ºC)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.4 Variação espacial e temporal da temperatura da superfície (ºC)

A temperatura de uma região pode ser influenciada por fatores locais e globais. Entre os fatores que causam as mudanças mais significativas nessa variável, a ação humana tem sido a de maior magnitude. As atividades humanas podem levar à mudança do clima conhecida como mudança climática antropogênica. Isso é decorrente do aumento da emissão de gases do efeito estufa (GEE) através, por exemplo, das queimadas e do desmatamento (VILANI et al., 2006).

A região Amazônica tem importante papel no ciclo de carbono planetário, pois através do desmatamento libera grande quantidade dos GEE para a atmosfera (SALATI, 2001). Por meio do processo de transformação da floresta em áreas de agricultura e pastagem, grande quantidade de carbono na forma de dióxido de carbono é transferido da biosfera para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global (NOBRE; SELLERS; SHUKLA, 1991; LLOYD; FARQUHAR, 2008).

Como exemplo disso, a área de estudo tem passado por significativa substituição da floresta por áreas de pastagem e agricultura, o que contribui para o aumento de temperatura. As Figuras 32, 33, 34 e 35 mostram que os valores médios da temperatura da superfície na classe agropastoril são superiores aos observados em áreas de floresta. Nesse sentido, dependendo do tamanho das áreas de floresta substituídas por agricultura ou pastagem, podem ser previstas alterações climáticas significativas (FISCH; MARENGO; NOBRE, 1998; SALATI; SANTOS; KLABIN, 2006).

De 1987 até 1999 a diferença da temperatura da superfície entre a área de floresta e de pastagem era de 2 a 3ºC, com exceção de 14/09/1993 que apresentou diferença da temperatura da superfície nessas duas áreas de apenas 1ºC. Das datas analisadas, a partir de 11/08/2001 foram observadas diferenças de até 4ºC nos valores de temperatura da superfície nas áreas agropastoril em comparação com as áreas de floresta, com exceção de 15/08/2011, em que essa diferença foi de até 6ºC. Gash e Nobre (1996) realizando estudos comparativos sobre medidas de temperatura do ar entre áreas de pastagens e florestas nativas, demonstraram um aumento de 2,4ºC nas áreas desmatadas. O aumento da temperatura do ar tem influencia nos processos de fotossíntese, na absorção de CO2 e na evapotranspiração. Sob temperaturas mais

elevadas, as plantas tendem a fechar os estômatos e diminuir a absorção de CO2 e a

evapotranspiração (DOUGHTY; GOULDEN, 2008).

Segundo Salati, Santos e Klabin (2006), o desmatamento além de causar o aumento da temperatura do ar localmente, pode influenciar no clima da região alterando os ciclos de água e energia causando a diminuição da precipitação, o que pode reduzir a quantidade de vapor d’água que é exportada para outras regiões. Além disso, a fragmentação da floresta reduz o número de habitat para muitas espécies levando a uma grande perda da biodiversidade de 8.000 a 34.000 espécies, considerando que o desmatamento aumente 1 % por ano.

Em quase todas as datas analisadas a classe que apresentou o maior valor médio de temperatura da superfície foi a área de queimada, onde a temperatura da superfície chegou aos 33ºC. Nas datas de 17/07/1989, 14/09/1993 e 13/07/2005 a temperatura da superfície foi 1ºC inferior à temperatura registrada nas áreas de agropastoril. Essa pequena diferença nos valores médios de temperatura da superfície pode ter ocorrido provavelmente por algumas áreas classificadas com agropastoril apresentarem características espectrais semelhantes às áreas de queimada, como por exemplo, o solo exposto (Figuras 32, 33, 34 e 35).

A temperatura da superfície em áreas classificadas como água esteve próxima aos valores observados em áreas de floresta, sendo que em muitas delas, as áreas de água apresentaram valores de temperatura da superfície superiores aos encontrados para as áreas de

floresta, como em 24/08/1991, 23/07/1997, 06/08/1999 e 15/08/2011, quando a temperatura da superfície ficou acima de 1ºC nas três primeiras datas e acima de 2ºC em 15/08/2011.

A floresta consegue manter as temperaturas mais baixas porque tem uma menor oscilação térmica. Isso pode ser explicado por três fatores: a vegetação intercepta a radiação que entra e a radiação que sai da floresta; as folhas verdes não aquecem tanto quanto o solo, além de trocar calor com o ar a sua volta (LARCHER, 1986).

Em todas as datas analisadas, as áreas classificadas como cerrado tiveram valores médios de temperatura da superfície de 1ºC a 2ºC a menos quando comparados com a temperatura de superfície da área agropastoril, porém foram mais elevados ao comparar com a temperatura de superfície da área de floresta.

Figura 32 – Temperatura da superfície (ºC) na região central de Rondônia nas datas de 28/07/1987, 17/07/1989, 24/08/1991 e 14/09/1993, obtidas a partir da modelagem de imagens do satélite Landsat 5 – Thematic Mapper (TM) por meio do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land)

Figura 33 – Temperatura da superfície (ºC) na região central de Rondônia nas datas de 03/08/1995 e 23/07/1997, obtidas a partir da modelagem de imagens do satélite Landsat 5 – Thematic Mapper (TM) e 06/08/1999 e 11/08/2001 obtidas a partir da modelagem de imagens do satélite Landsat 7 – Enhanced Thematic Mapper Plus (ETM+) por meio do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land)

Figura 34 – Temperatura da superfície (ºC) na região central de Rondônia nas datas de 24/07/2003, 13/07/2005, 03/07/2007 e 09/08/2009, obtidas a partir da modelagem de imagens do satélite Landsat 5 – Thematic Mapper (TM) por meio do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land)

Figura 35 – Temperatura da superfície (ºC) na região central de Rondônia na data de 15/08/2011, obtida a partir da modelagem de imagem do satélite Landsat 5 – Thematic Mapper (TM) por meio do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land)

Na análise temporal não é observado nenhum padrão de aumento ou diminuição da temperatura da superfície ao longo dos 25 anos de estudo (Figura 36). Deve-se ressaltar que a temperatura da superfície registrada nas áreas agropastoris foi em todos os anos superiores às obtidas nas áreas de floresta. Mais uma vez, a expansão de áreas ocupadas por agricultura e pastagem pode impactar as condições climáticas da região. Quanto maior for a área ocupada com temperaturas mais elevadas, maior será o impacto no clima local, o que pode levar a um quadro de mudanças climáticas em nível regional.

15 20 25 30 35 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Floresta Agropastoril

Figura 36 – Evolução temporal dos valores médios de temperatura da superfície (ºC) nas áreas de floresta e agropastoril obtidos a partir da modelagem de imagens dos satélites Landsat 5 – Thematic Mapper (TM) e Landsat 7 – Enhanced Thematic Mapper Plus (ETM+) por meio do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land)

A mudança no uso do solo tem impacto no clima como um todo e particularmente no ciclo hidrológico e na temperatura do ar. Muitos estudos avaliando os efeitos da substituição da floresta por pastagem na Amazônia mostram aumento de temperatura e diminuição na precipitação (SHUKLA; NOBRE; SELLERS, 1990; ZANCHI et. al., 2009). Canziani e Benitez (2012) verificaram que a mudança no uso do solo na bacia Amazônica pode ter efeitos locais durante todo o ano, em especial na temperatura. Apesar das mudanças no uso do solo se estenderem desde regiões tropicais a subtropicais, o impacto da mudança do uso do solo no clima é maior nas regiões mais próximas ao Equador, em particular nas zonas tropicais.