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Capítulo III: CONTEXTO GEOLÓGICO E HIDROGEOLÓGICO

4.3 VARIAÇÃO SAZONAL DO NÍVEL DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

As campanhas de medição de níveis de água subterrânea no âmbito do estudo foram realizadas em janeiro e julho do ano de 2007 (Figura 4.19). A contribuição da precipitação pluviométrica na recarga das águas subterrâneas foi avaliada a partir da análise dos dados da Tabela 4.4. Na referida tabela são apresentados os valores de precipitação total mensal, bem como o percentual correspondente de chuvas, para o ano de 2007. Os dados revelam que aproximadamente 99% das chuvas ocorreram de janeiro a julho, com pico das chuvas entre os meses de fevereiro e março. De agosto a dezembro ocorreu apenas 1% dos eventos de chuva, e os meses de setembro a dezembro destacam-se pela ausência total de chuvas.

 

Figura 4.19 - Pluviometria mensal (mm) no ano de 2007. A coleta representativa do período de maior estiagem ocorreu no mês de janeiro, e a representativa do período das chuvas em julho de 2007.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 4.4, a campanha realizada em julho corresponde ao final do período úmido, sendo, portanto, representativa do período de máxima precipitação pluviométrica que ocorre entre fevereiro-março. A medição de níveis realizada em janeiro representa o período de estiagem máxima da área, já que entre setembro e dezembro não ocorrem eventos de chuva. Portanto, pode-se afirmar que as campanhas realizadas são representativas do período de máxima variação sazonal de nível da água.

Tabela 4.4 – Precipitação total mensal para o ano de 2007. Os dados de Mossoró (área de Canto do Amaro) e Macau (área de Salina Cristal) foram fornecidos pelo INMET e para Assú (área de Estreito) fornecidos pela EMPARN.

PP Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total Anual CA (mm) 14,7 205,2 386,5 141,2 106,5 42,4 5 3,6 0 0 0 0 905,1 (%) 1,6 22,7 42,7 15,6 11,8 4,7 0,6 0,4 0 0 0 0 100 SC (mm) 26 165,4 73,3 69,1 74,1 28,9 4,5 0,8 0 0 0 0 442,1 (%) 5,9 37,4 16,6 15,6 16,8 6,5 1,0 0,2 0 0 0 0 100 ET (mm) 41,3 304 147,3 142,3 86,2 24,3 1,1 0 0 0 0 0 746,5 (%) 5,53 40,7 19,7 19,1 11,5 3,3 0,1 0 0 0 0 0 100 Nota: CA=Canto do Amaro, SC=Salina Cristal, ET=Estreito, PP= Precipitação pluviométrica.

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A Tabela 4.5 apresenta os resultados das medições de nível de água nos poços e as respectivas variações de carga observadas no período monitorado. De maneira geral, no que diz respeito à variação sazonal, não são observadas diferenças significativas nos níveis das águas subterrâneas entre os períodos avaliados. Isso evidencia que o processo de recarga sazonal de curta duração provavelmente não deve influenciar direta e imediatamente para uma elevação significativa do nível das águas subterrâneas, ou talvez não tenha sido possível registrar essas variações nos locais estudados, o que poderia ser percebido principalmente num tempo de observação mais longo.

Tabela 4.5 - Variações do nível estático (m) dos poços, obtidos ao final da estação seca e úmida. Área Aquífero Poço Período seco (janeiro/2007) Período úmido (julho/2007) Variação de carga (m) NE (m) C P (m) NE (m) C P (m) Canto d o Amaro Jandaíra 9-VBCA-01-RN 65,93 40,21 65,84 40,29 0,09 Jandaíra 9-VBCA-03-RN 6,97 4,48 6,81 4,63 0,16 Jandaíra 9-VBCA-04-RN 5,70 3,64 5,53 3,81 0,17 Jandaíra 9-VBCA-06-RN 38,32 9,36 38,37 9,31 -0,05 Jandaíra 9-VBCA-07-RN 39,78 25,06 39,76 25,08 0,02 Jandaíra 9-VBCA-09-RN 115,10 21,70 115,09 21,70 0,01 Jandaíra 9-VBCA-10-RN 39,92 24,71 39,84 24,79 0,08 Barreiras 9-VBCA-02-RN 6,92 1,83 6,65 2,09 0,27 Barreiras 9-VBCA-05-RN 36,71 3,35 36,76 3,30 -0,05 Es treito Jandaíra 9-VBET-01-RN 19,85 10,30 19,87 10,28 -0,02 Jandaíra 9-VBET-02-RN 31,97 26,78 31,90 26,85 0,07 Jandaíra 9-VBET-03-RN 20,46 40,62 20,38 40,69 0,08 Jandaíra 9-VBET-04-RN 20,42 29,32 20,50 29,22 -0,08 Jandaíra 9-VBET-06-RN 26,05 10,23 25,96 10,32 0,09 Jandaíra 9-VBET-07-RN - - 36,64 23,14 - Jandaíra 9-VBET-08-RN - - 20,40 41,64 - Barreiras 9-VBET-05-RN 45,65 16,94 45,76 16,82 -0,11 Salina Cristal Jandaíra 9-VBSC-01-RN 26,47 6,54 26,52 6,48 -0,05 Jandaíra 9-VBSC-02-RN 16,81 5,44 16,66 5,58 0,15 Jandaíra 9-VBSC-03B-RN 9,59 4,30 9,24 4,65 0,35 Jandaíra 9-VBSC-04B-RN 18,34 6,75 18,35 6,74 -0,01 Jandaíra 9-VBSC-05-RN - - 25,38 6,50 - Jandaíra 9-VBSC-06-RN - - 16,90 5,31 - Barreiras 9-VBSC-03A-RN 9,52 4,23 9,14 4,61 0,38 Barreiras 9-VBSC-04A-RN 18,33 6,78 18,35 6,75 -0,02 Nota: Alguns poços não apresentam resultados de medição de níveis no período seco porque as perfurações foram executadas posteriormente.

Apenas nos setores onde a profundidade do nível da água é mais rasa, observa-se alguma resposta relativamente mais significativa da variação dos níveis devido à recarga

 

sazonal. Como é o caso dos poços 9-VBCA-02-RN e 9-VBSC-03A-RN no aquífero Barreiras, que apresentaram variação de 0,27 m e 0,38 m, respectivamente, do período seco para o período úmido. Para o aquífero Jandaíra observa-se variação sazonal do nível de água nos poços 9-VBCA-03-RN (variação de 0,16 m), 9-VBCA-04-RN (variação de 0,17 m), 9-VBSC-02-RN (variação de 0,15 m) e 9-VBSC-03B-RN (variação de 0,35 m). Em Estreito, onde o nível das águas subterrâneas é mais profundo, não foram observadas diferenças significativas entre as campanhas de medição.

Alguns pontos observados indicaram uma variação negativa de carga, isto é, os níveis de água ao final da estação seca estão mais rasos que ao final da época chuvosa, refletindo com isto uma defasagem entre a ocorrência das chuvas e a recarga efetiva das águas subterrâneas.

Na maior parte das áreas de estudo as coberturas siliciclásticas, tendo porosidade granular, retém mais efetivamente as águas de chuva infiltradas, e as transferem por drenança vertical descendente, favorecendo a uma recarga mais contínua do aquífero Jandaíra subjacente.

A presença de carstes na superfície do terreno, nos locais de afloramento do calcário Jandaíra, não é comumente encontrada em todo local. As condições de heterogeneidade e anisotropia do aquífero Jandaíra podem influenciar nas condições de porosidade e permeabilidade, e consequentemente nas variações espaciais, temporais e de intensidade dos processos de recarga em diferentes áreas.

A elevação do nível das águas subterrâneas pode ser de resposta lenta em relação aos períodos e intensidades de recarga, conforme evidenciado (Tabela 4.5). Neste caso, a constatação e quantificação mais efetiva do processo de recarga, com a consequente elevação do nível das águas subterrâneas devem ser conduzidas mediante um monitoramento prolongado dos níveis de água (vários anos). Isto confirmaria a efetiva elevação do nível das águas após sucessivos anos chuvosos, em oposição a sucessivos anos secos, nos quais os níveis desses últimos estariam sempre mais baixos e/ou rebaixando. No entanto, não fica descartada a hipótese sazonal de que, entre um ano e outro possa ocorrer alguma recarga sazonal local, que provoque oscilação do nível das águas subterrâneas com alguma intensidade, também de forma localizada, e influenciada por fatores hidrogeológicos e topográficos específicos de cada trecho.

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