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Variação temporal da abundância e biomassa(g)

No documento José Carlos da Silva (páginas 66-72)

A abundância dos crustáceos M. amazonicum e M. jelskii foi comprovada no Rio Grande, quando o nível da água estava alto, e quando o nível da água estava baixo. Estes camarões podem ser encontrados, tanto nos rios e riachos com correnteza das regiões serranas, como nos rios que drenam para a bacia do rio Paraná (Magalhães 1999). Este autor reportou ainda, que estes crustáceos se adaptaram muito bem nestes ambientes lacustres e são abundantes nos reservatórios de usinas hidroelétricas. Camarões como o M. amazonicum estão dispersos em populações ribeirinhas, rios de águas estuarinas e populações continentais como lagos, lagos e outras massas de água interiores (Maciel, 2009). O presente estudo comprova a abundância de camarões em todos os meses, mesmo com as alterações sofridas durante o ano. Entre elas, temos o represamento, mudança de ambiente, temperatura e pluviosidade, no qual demonstra que estes crustáceos parecem estar bem adaptados a estas condições sazonais. Estudos feitos por Bialetzki et al. (1997) também mostraram estas adaptações em ambientes de planície

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inundável, da bacia do rio Paraná, que são semelhantes aos da planice do Rio Grande. Nas represas da região de Penápolis e Mendonça, no estado de São Paulo foram verificados a presença de camarões M. jelskii, por Reis, et al. (2004). Trabalho realizado por Soares, (2008) no Rio são Francisco e também na represa de Três Marias, foi observado a presença deste crustáceo em dois ambientes, lênticos e lóticos isoladamente. No presente estudo, os dois ambientes se alternavam durante o ano, conforme o regime pluviométrico.

As variações mensais na abundância de M. amazonicum e M. jelskii não apresentaram diferença significativa em relação e biomassa e temperatura da água. Carvalho et al. (1979), estudando M. acanthurus nas Populações Naturais da Ilha de Itaparica Bahia, obteve resultados semelhantes, ao do presente trabalho. Porém, para M. amazonicum ocorreram oscilações no número de indivíduos, com maiores valores de abundância absoluta, no inverno, e no verão, nada de aumento significativo. Para M. jelskii, as oscilações foram mais distribuídas durante o período amostrado sem uma época definida. Mantellato (2005) também comprovou a abundância de M. brasiliense sem correlação positiva com a temperatura, precipitação ou fluxo de água, mas observou pequenas oscilações no número de indivíduos, com uma tendência para um aumento no inverno e um decréscimo no verão.

Os Resultados do presente estudo, foram diferentes do observado no trabalho por Odinetz-Collart & Moreira (1993), com M. amazonicum em Manaus, Amazônia Central; por Mossolin & Bueno (2002) com M. olfersi

em São Sebastião, São Paulo e por Fransozo et al. (2004) com M. ihering em Botucatu, SP. De acordo com o primeiro autor, a alta abundância no inverno, esta relacionada com a época das chuvas, que ocorrem naquela região, e afeta o deslocamento destes crustáceos.

As espécies estudadas M. amazonicum e M. jelskii foram capturadas em grande parte, em locais com composição vegetativa diferente, ou seja, com o nível do reservatório baixo, os camarões se abrigavam em macrófitas aquáticas, com o nível alto, as gramíneas predominam, e ainda ficam, com os restos vegetais submersos, que servem de abrigo por um bom tempo até sua decomposição. Entre as plantas aquáticas existentes encontra-se a Egeria densa, uma macrófita enraizada, submersa, que se fixa no substrato, principalmente, quando o nível do rio se encontra baixo (Esteves, 1998). Segundo Buckup (1992), estas plantas servem de refúgio e de alimento para estes camarões e vários outros invertebrados.

Nas regiões tropicais, as alterações ambientais são menos variáveis, onde apresenta padrões anuais, e variações populacionais contínuas, próximas de sua densidade ótima (Thorson, 1950). Estas mudanças, na comunidade, também podem criar novas oportunidades ecológicas, para novas espécies que não estão na comunidade (Ricklefs & Miller, 1999). Possivelmente, a disponibilidade e oferta de alimento concentrada nestes ambientes, permite a estes crustáceos a vantagem de reproduzir, proteger contra predadores e procurar alimento (Krebs & Davis, 1966).

- 53 - 5.3 – Estrutura populacional

Quanto à diferença de tamanho entre sexos, este trabalho obteve um desvio favorável às fêmeas de M. amazonicum e M. jelskii. Segundo Silva (2007), na ilha de Cambu, Belém, o fato também ocorreu nesta localidade, devido os machos desta ilha sofrerem uma intensa predação pela pesca, e fizeram com que os maiores indivíduos fossem retirados através da exploração pesqueira. Taddei (2006), estudando M. jelskii na represa de Barra Mansa obteve os mesmos resultados. O crescimento dos indivíduos em cada sexo, em geral, é similar até a maturidade, podendo a partir daí tornar-se mais lento em fêmeas, devido a um prolongamento do período de intermuda, e um menor incremento em comprimento, o que está relacionado a um maior investimento energético, para processos de produção e incubação dos ovos Mauchline (1977).

A análise estrutural das espécies, em estudo, indica que a distribuição da população total e de forma unimodal, para ambos os sexos, e espécies estudadas (M. amazonicum e M. jelskii). Segundo Diaz & Conde (1989), a unimodalidade reflete um recrutamento contínuo, sem interrupção de classes, e com taxas constantes de mortalidade, e a bimodalidade, verifica-se a distribuição de freqüência de tamanho refletindo pulsos de recrutamento, mortalidade diferencial ou ainda, diferenças etológicas na população.

No presente estudo, a ocorrência de indivíduos sexualmente indiferenciados e imaturos, ocorreu nas classes de tamanho inferiores. Já

os indivíduos maduros foram observados nas classes intermediárias. A distribuição de freqüência dos indivíduos por classes de tamanho, pode ser considerada relativamente estável, devido à presença marcante de indivíduos jovens, nas primeiras classes de tamanho (Paiva & Barreto, 1960; Spivak et al. 1991, Tsuchida & Watanabe, 1997; Borges et al. 2004 e Mattos, 2009). Para Sastry (1983), uma população pode apresentar reprodução contínua, se libera ovos com a mesma intensidade o ano todo. No entanto, podem ser periódica ou sazonal, se a liberação é maior durante um período restrito do ano. Geralmente, crustáceos de áreas temperadas, apresentam reprodução sazonal, com pico nos meses quentes, enquanto que em animais de áreas tropicais e subtropicais, a reprodução é normalmente contínua ao longo do ano, mas geralmente, concentrada nos meses de verão (Asakura & Kikuchi, 1984).

O dimorfismo sexual verificado para M. amazonicum, com fêmeas maiores que os machos, no presente trabalho, é corroborado por estudos de várias espécies de carídeos como: Lima et al. (2006), Mossoline et al. (2006), Pralon & Negreiros-Fransozo (2006) e Almeida (2008) para as espécies Pontimirim glabra e P. pontimirim, A. armillatus, Palaemon (Palaeander) northropi e Nematopalaemon schimitti, respectivamente. Alguns pesquisadores como (Bauer, 2004 e Yamada, et al. 2007) atribuiu o maior tamanho da fêmea, assim como em muitos camarões carídeos, à capacidade de produção de ovos, ou seja, quanto maior a fêmea, mais ovos ela produzirá e consequentemente mais proles.

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Segundo Valenti (1987), em camarões de água doce do gênero Macrobrachium, os machos adultos atingem tamanhos, em geral, maiores que as fêmeas, e também apresentam a carapaça e o segundo quelípode proporcionalmente, mais desenvolvido, como explica Silva (2002) e Flexa et al. (2005). Esta diferença de tamanho entre os sexos também foi observada para outros carídeos com Galvão & Bueno (2000), Mossolin & Bueno (2002), Fransozo et al. (2004), Sampaio (2007) e Soares (2008) onde encontraram machos, com dimensões de tamanho maiores que as fêmeas, das espécies Atya scabra, M. olfersi, M. iheringi, M. jelskii e M. mazonicum, respectivamente. Este dimorfismo sexual pronunciado no tamanho, a favor dos machos, em espécies de camarões carídeos, está relacionado ao sucesso reprodutivo dos mesmos, visto que nestes casos, os machos precisam atrair a fêmea, ou até mesmo, separá-la de outro macho, a fim de garantir a cópula (Bauer, 2004).

Outro fato pode estar associado a esta diferença no tamanho, é o processo de muda (ecdise) das fêmeas pré e pós desova, como reporta Valenti (1987) para o gênero Macrobrachium. Durante o processo de troca de exoesqueleto, as fêmeas aumentam de tamanho, porém, devido ao processo reprodutivo, utilizam suas reservas para a maturação das

gônadas e, consequentemente reduz a taxa de crescimento Hartnoll

(1985). A seleção natural pode favorecer machos maiores, se esses apresentam vantagens sobre os demais, seja na competição por fêmeas receptivas, ou, mesmo para maximizar as chances de cópulas bem sucedidas (Abrams, 1988).

No documento José Carlos da Silva (páginas 66-72)

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