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Veja a Vida como um Sonho

No documento AQUI E AGORA (páginas 37-79)

MADOS: Depois do bate-papo de ontem à noite surgiram algumas perguntas. Um amigo perguntou:

Podemos morrer plenamente conscientes, mas como podemos ter uma consciência plena ao nascer?

NA REALIDADE A MORTE E O NASCIMENTO NÃO SÃO dois acontecimentos, são dois lados de um mesmo fenômeno, assim como os dois lados de uma mesma moeda. Se um homem tem na mão um lado de uma moeda, também terá automaticamente o outro. Não posso ter na mão um lado de uma moeda e me perguntar onde posso encontrar o outro — o outro lado torna-se disponível automaticamente.

A morte e o nascimento são duas faces de um mesmo fenômeno. Se a morte acontecer num estado de consciência, o nascimento inevitavelmente acontecerá num estado consciente. Se a

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morte ocorrer num estado de inconsciência, o nascimento também ocorrerá num estado de inconsciente. Se a pessoa morrer plenamente consciente no momento de sua morte, também estará cheia de consciência no momento de seu próximo nascimento.

Como todos morremos em estado de inconsciência e nascemos em estado de inconsciência, não recordamos nada de nossas vidas anteriores. No entanto, a lembrança de nossas vidas anteriores sempre permanece presente em algum recanto de nossas mentes, e podemos reviver esta lembrança se o desejarmos.

Em relação ao nascimento, não podemos fazer nada diretamente; tudo o que podemos fazer estará relacionado unicamente com a morte. Não podemos fazer nada depois da morte; tudo o que podemos fazer devemos fazê-lo antes de morrer. A pessoa que morre em estado inconsciente não poderá fazer nada até que volte a nascer — não há remédio, ela continuará inconsciente. Se você morrer em estado inconsciente, nascerá de novo em estado inconsciente. Tudo o que podemos fazer deverá ser feito antes da morte, e teremos muitas oportunidades — a oportunidade de uma vida inteira. Nesta oportunidade podemos fazer um esforço para nos despertar. Mas não podemos nos despertar no momento da morte. Se esperarmos o momento da morte para despertarmos cometeremos um grande erro. O sadhana, a viagem para o despertar, terá que começar muito antes da morte, você terá que se preparar para ela. Se você não se preparar, certamente ficará inconsciente na hora da morte. Embora este estado inconsciente seja bom se você ainda não estiver preparado para nascer em estado consciente.

Por volta de 1915, o rei de Kashi foi operado do abdômen. Esta foi a primeira operação deste tipo realizada no mundo sem o uso de anestesia. Estavam presentes três médicos britânicos, que se negavam a realizar a operação sem administrar anestesia, diziam que era impossível abrir o estômago de uma pessoa por aproximadamente duas horas para realizar uma operação

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importante sem que o paciente estivesse inconsciente. Era perigoso — o paciente poderia gritar, mover-se, saltar ou desmaiar por causa da dor insuportável. Qualquer coisa podia acontecer. Por isso, os médicos não estavam dispostos a realizar a operação.

Mas o rei insistiu; disse que não havia motivo para preocupação, ele estava acostumado a ficar em estado de meditação, afirmou que era capaz de passar duas horas em estado de meditação sem dificuldade. Não estava disposto a tomar anestesia; dizia que queria ser operado em seu estado consciente. Mas os médicos relutaram porque acreditavam ser perigoso fazer uma pessoa consciente sofrer tanta dor. Por fim, como não encontraram alternativa, os médicos o pediram, a modo de experiência, que entrasse em estado de meditação. Então, quando ele estava nesse estado, fizeram-lhe um corte na mão. Ele nem sequer tremeu. Só duas horas mais tarde se queixou de dor na mão. Mais tarde, realizaram a operação.

Foi a primeira vez no mundo que médicos trabalharam o estômago aberto de um paciente durante uma hora e meia sem lhe administrar anestesia. E o rei permaneceu plenamente consciente durante toda a operação. Para alcançar esse estado de consciência é preciso praticar uma meditação profunda. A meditação tem que ser tão profunda de modo que a pessoa conheça plenamente que o eu e o corpo são independentes. A mínima identificação com o corpo pode ser perigosa.

A morte é a maior operação cirúrgica que existe. Nenhum médico realizou uma operação tão grande. Porque na morte existe um mecanismo que transplanta toda a energia vital, o prana, de um corpo físico a outro corpo físico. Ninguém realizou uma operação tão espetacular, nem ninguém realizará jamais. Podemos amputar uma parte ou outra do corpo, ou transplantar uma parte ou outra, mas no caso da morte, ela tem que tomar toda a energia vital de um corpo e introduzi-la em outro.

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A natureza cuida bondosamente que fiquemos plenamente inconscientes no momento da ocorrência desse fenômeno. É para nosso próprio bem — possivelmente não seríamos capazes de suportar tanta dor. Provavelmente o motivo pelo qual ficamos inconscientes seja porque a dor da morte é insuportável. É importante que fiquemos inconscientes; a natureza não nos permite recordar a passagem pela morte.

Por toda a nossa vida repetimos quase os mesmos erros que cometemos em nossas vidas anteriores. Se fôssemos capazes de recordar o que fizemos nas vidas anteriores, possivelmente não tropeçaríamos nas mesmas pedras. E se fôssemos capazes de recordar o que fizemos em nossas vidas anteriores, já não seríamos como somos agora. Seria impossível que continuássemos sendo os mesmos, porque temos acumulado riquezas uma e outra vez e em todas as ocasiões... e a morte rouba o sentido dessas riquezas. Se fôssemos capazes de lembrarmos das nossas vidas anteriores, possivelmente não teríamos a mesma mania pelo dinheiro que temos agora. Nos apaixonamos milhares de vezes, e finalmente percebemos que não faz sentido. Se fôssemos capazes de recordar de nossas vidas anteriores, nossa mania de nos apaixonar e de procurar que os outros se apaixonem por nós desapareceria. Fomos ambiciosos por milhares e milhares de vezes, egoístas; alcançamos o êxito, o alto nível social, e no final tudo se tornou inútil, tudo foi reduzido a pó. Se fôssemos capazes de lembrarmos de vidas anteriores, é possível que nossa ambição perdesse força, e então não seríamos os mesmos que somos agora.

Como não recordamos de nossas vidas anteriores, continuamos nos movendo num mesmo círculo. O homem não percebe que já percorreu o mesmo círculo muitas vezes e nem que está voltando a percorrê-lo com a mesma esperança que o impulsionou antes. Depois, vem a morte e frustra todas as suas esperanças... e ele recomeça a percorrer o círculo novamente. O homem se move em círculo, como o boi em uma roda de engenho.

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Podemos nos livrar deste círculo vicioso, mas necessitamos de um grande nível de consciência e devemos experimentar continuamente. Não podemos ficar esperando a morte diretamente, porque não é possível nos fazermos conscientes de repente, no transcurso de uma operação tão importante, de um trauma tão grande. Teremos que experimentar aos poucos, com os pequenos sofrimentos que enfrentamos no dia a dia, e lentamente vamos descobrindo como podemos ser conscientes enquanto passamos por eles.

Por exemplo, você sente uma dor de cabeça. No momento em que você se torna consciente, simultaneamente começa a sentir que

você não tem uma dor de cabeça, é a cabeça que está doendo. De

modo que você deve experimentar com essa pequena dor de cabeça e aprender a sentir que "a dor está na cabeça e eu sou consciente dela".

Quando o Swami Ram visitou a América, as pessoas tiveram dificuldade para entendê-lo. Quando o presidente dos Estados Unidos lhe fez uma visita, também se sentiu confuso. Perguntou: "Que língua é essa?"; porque Ram costumava falar na terceira pessoa. Não dizia "Tenho fome", mas sim: "Ram tem fome". Não dizia: "Minha cabeça dói", dizia: "a cabeça de Ram dói".

A princípio, as pessoas tiveram muita dificuldade para entendê-lo. Por exemplo, uma vez ele disse: "Ontem à noite, Ram estava congelando". Quando lhe perguntaram sobre quem ele estava falando, ele respondeu que estava falando de Ram. Quando lhe perguntaram: "De que RAM?", ele disse, apontando para si mesmo: "Deste Ram: o pobre estava congelando de frio ontem à noite". Quando lhe perguntavam: "De quem está falando? Quem é esse RAM?", ele apontava para si mesmo.

Você deve começar a fazer experiências com os sofrimentos menores. Você os encontrará no seu dia a dia, eles estão presentes

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diariamente em nossa vida. Não só os sofrimentos — inclua também a felicidade como experiência, porque é mais difícil ser conscientes na felicidade do que no sofrimento. Não é tão difícil reconhecer que a nossa cabeça e a dor que há nela são duas coisas independentes, mas é mais difícil reconhecer que o corpo e a alegria de estar saudável são duas coisas independentes. É difícil manter este distanciamento quando estamos saudáveis, pois nos momentos de alegria nós gostamos de estar próximos dela. Nos momentos de sofrimento é evidente que gostamos de nos sentir independentes, separados dele. Se você entender que a dor é independente, estará livre dela.

Experimente se manter consciente tanto no sofrimento quanto na felicidade. A pessoa que realiza tais experiências costuma provocar sofrimento para si mesmo a fim de vivê-los. Este é basicamente o segredo de todo o ascetismo: é uma experiência para sofrer uma dor voluntária. Por exemplo, uma pessoa faz um jejum. Passando fome, ela tenta descobrir o efeito da fome sobre sua consciência. Normalmente, a pessoa que faz um jejum não tem a menor ideia do que está fazendo — a única coisa que ela sabe é que está sentindo fome, e espera com avidez o dia seguinte para comer.

O propósito fundamental do jejum é a experiência de sentir que "a fome está aqui, mas está separada de mim". O corpo tem fome, eu não. Então, induzindo a fome voluntariamente, a pessoa pode descobrir se a fome vem de dentro, do "eu". "Ram tem fome; eu não tenho fome. Sei que a fome está presente, e este deverá ser um reconhecimento contínuo até eu chegar a um ponto em que ocorra um distanciamento entre a fome e eu, no ponto em que eu já não tenha fome: até dentro da fome eu já não tenha fome. Só o corpo continua tendo fome, e eu sei. Eu simplesmente sou uma testemunha". Então, o significado do jejum se torna muito profundo; portanto, já não significa simplesmente passar fome.

Normalmente, a pessoa que faz um jejum repete vinte e quatro horas por dia que está com fome, que não comeu nada o dia

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inteiro. Sua mente não deixa de criar fantasias e fazer planos sobre o que vai comer no dia seguinte. Os jejuns deste tipo não têm sentido. Por conseguinte, não são mais que abster-se de comer. A diferença entre abster-se de comer e praticar o jejum, o upavasa, é a seguinte: o jejum significa residir cada vez mais perto. Mais perto do que? Significa aproximar-se do eu produzindo um distanciamento do corpo.

A palavra "upavasa" não significa abster-se de comer.

Upavasa significa residir cada vez mais perto. Significa residir mais

perto do eu, residir mais perto do eu e mais longe do corpo. Também é possível que uma pessoa coma, mas se mantenha em estado de jejum. Se ao comer, ela sabe dentro de si que o ato de comer ocorre somente no corpo e que a consciência é totalmente independente do ato, então é upavasa. E também é possível que uma pessoa tenha se privado da comida e não esteja jejuando de verdade. Pois pode acontecer que ela esteja tão consciente de sua fome que não consiga se distanciar do corpo. Upavasa é uma consciência psicológica da separação do eu e o estado físico da fome.

Outras dores similares também podem ser provocadas voluntariamente, mas criar uma dor voluntariamente é uma experiência muito profunda. Um homem pode deitar-se sobre uma cama de espinhos só para sentir que os espinhos cravam apenas o seu corpo, e não o seu eu. Assim, é possível provocar um sofrimento para sentir a dissociação entre a consciência e o plano físico.

Mas já existe muito sofrimento disponível no mundo — não é preciso que os provoquemos. Já dispomos de muitas desgraças: devemos começar a experimentar com elas. Os sofrimentos aparecem sem ser provocados. Se pudermos manter a consciência de que "sou independente de minha dor" durante o sofrimento que vem sem ser provocado, então o sofrimento torna-se um sadhana, em uma disciplina espiritual.

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Temos de praticar este sadhana também com a felicidade que se apresenta em nossa vida. Com o sofrimento, é possível que consigamos nos enganar, porque gostaríamos de acreditar que "eu não sou a dor". Mas quando se trata da felicidade, o homem quer identificar-se com ela, porque ele já acredita que "sou feliz". Por isso, o sadhana é ainda mais difícil de ser praticado com a felicidade.

Na realidade, nada é mais difícil do que a sensação de que estamos separados de nossa felicidade. Na prática, o homem quer de se inundar completamente na felicidade e se esquecer que é independente dela. A felicidade nos alaga; o sofrimento nos desconecta e nos separa do eu. Chegamos a acreditar, de algum modo, que nossa identificação com o sofrimento se deve unicamente à falta de escolha, mas damos boas-vindas à felicidade com todo nosso ser.

Seja consciente na dor que chega para você; seja consciente na felicidade que chega para você; e, de vez em quando, a modo de experiência, seja consciente também na dor provocada, porque nela as coisas são um pouco diferentes. Nunca podemos nos identificar plenamente com nada que provoquemos voluntariamente. O próprio conhecimento de que a coisa foi provocada gera um distanciamento. O hóspede que vem a sua casa não é da casa: é um convidado. Do mesmo modo, quando convidamos o sofrimento como nosso hóspede, já é algo que está afastado de nós.

Se você estiver caminhando descalço, e um espinho crava no seu pé, é um acidente, e a sua dor será entristecedora. Um acidente é bem diferente de quando cravamos voluntariamente um espinho no pé. Sabemos a todo momento que somos nós quem estamos furando o pé com o espinho e estamos observando a dor. Não façam tal coisa, não torture a si mesmo, na vida já existe bastante sofrimento. O que quero dizer é o seguinte: em primeiro lugar, esteja alerta, tanto no sofrimento como na felicidade; mais tarde, algum dia, provoque a si mesmo uma dor e veja o quanto a sua consciência pode distanciar-se dela.

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Lembre-se, a experiência de provocar o sofrimento é muito significativa, porque todo mundo quer provocar a felicidade, mas ninguém quer provocar o sofrimento. E o interessante é que a desgraça que não desejamos vem por si mesma, e a felicidade que procuramos nunca chega. Mesmo quando chega por acaso, fica fora de nossa porta. A felicidade que pedimos nunca chega, enquanto que o sofrimento que não pedimos, entra em casa por si mesmo. Quando uma pessoa tem força suficiente para provocar uma dor, isso significa que ela está tão cheia de graça que pode provocar a dor. É tão bem-aventurada que não é difícil para ela convidar o sofrimento. Agora pode pedir ao sofrimento que venha e que fique — porque a sua consciência pode distanciar-se dele.

Mas esta é uma experiência muito profunda. Enquanto não estivermos preparados para realizar esse tipo de experiência, devemos tentar ser consciente de todo sofrimento que nos chega por conta própria. Se nos tornarmos mais e mais conscientes cada vez que depararmos com o sofrimento, reuniremos a capacidade suficiente para nos manter conscientes inclusive quando o momento da morte chegar. A natureza nos permitirá permanecer acordados no momento da morte também. A natureza sabe que se o homem é capaz de permanecer consciente na dor, também pode manter-se consciente na morte. Ninguém é capaz de manter-se consciente na morte sem preparação prévia, sem ter vivido uma experiência anterior desse tipo.

Faz alguns anos morreu um homem chamado P.D. Ouspensky. Era um grande matemático russo. Ele foi a única pessoa que realizou neste século uma ampla série de experimentos relacionados com a morte. Três meses antes de morrer ele ficou gravemente doente. Os médicos lhe recomendaram que guardasse repouso, mas, apesar disso, ele realizou um esforço tão incrível que está além da imaginação. Ele não dormia a noite, ele viajava, caminhava, corria, sempre estava se movendo. Os médicos ficaram

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horrorizados e disseram que ele necessitava de descanso absoluto. Ouspensky reuniu todos os seus amigos íntimos, e lhes contou o que estava acontecendo com ele.

Os amigos que conviveram com ele em seus três últimos meses de vida, disseram mais tarde que tinham visto pela primeira vez, diante de seus próprios olhos, um homem que aceitava a morte em estado consciente. Perguntaram-lhe por que ele não seguia os conselhos dos médicos. Ouspensky respondeu: "Quero conhecer todos os tipos de dor, para que a dor da morte não seja tão grande que me deixe inconsciente. Quero passar por todas as dores antes da morte, para adquirir uma resistência que me permita estar completamente consciente quando a morte chegar ". De modo que, durante três meses, ele realizou um esforço exemplar por passar todo tipo de dores.

Seus amigos deixaram escrito que quando os mais saudáveis e fortes se cansavam, Ouspensky seguia em atividade. Os médicos insistiam que ele necessitava de repouso absoluto, pois do contrário podia sofrer grandes danos, mas ele não ouvia. Na noite em que morreu, Ouspensky não parava de caminhar pela sua casa. Quando os médicos o examinaram anunciaram que suas pernas já não tinham a força necessária para andar; mas ele continuou caminhando a noite inteira.

Ele dizia: "Quero morrer caminhando, pois se morro sentado posso ficar inconsciente, ou se morro dormindo posso ficar inconsciente". Enquanto caminhava, dizia a seus amigos: "um pouco mais: só mais dez passos, e tudo estará terminado. Estou me afundando, mas vou continuar caminhando até que eu tenha dado meu último passo. Quero continuar fazendo algo até o final; do contrário, a morte poderá me encontrar despreparado. Eu poderia relaxar e adormecer, e não quero que isto aconteça no momento da morte."

Ouspensky morreu enquanto dava seu último passo. Muito poucas pessoas no mundo morreram assim, andando. Caiu

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andando, ou seja, só caiu quando a morte aconteceu. Enquanto dava seu último passo, ele disse: "Este é meu último passo. Agora estou a ponto de cair. Mas antes de partir quero lhes dizer que eu soltei o meu corpo faz muito tempo. Só agora vocês poderão ver a libertação de meu corpo, mas faz muito tempo que eu notei que a minha ligação com o corpo foi quebrada. O corpo está caindo e eu continuo existindo. Agora só o corpo poderá cair: eu não poderei cair de maneira nenhuma".

No momento de sua morte, seus amigos viram uma espécie de luz em seus olhos. Uma paz fez-se visível, uma alegria e um esplendor que brilha quando alguém está na soleira do outro mundo.

Mas é preciso se preparar para isto, uma preparação contínua. Quando uma pessoa se prepara plenamente, a morte se converte em uma experiência maravilhosa. Não existe outro fenômeno tão valioso como este, pois o que é revelado no momento da morte nunca pode ser conhecido de nenhuma outra maneira. Então, a morte parece uma amiga, porque só podemos conhecer que somos um organismo vivo quando a morte acontece, e não antes disso.

Lembre-se, quanto mais escura a noite, mais brilham as estrelas. Quanto mais escuras são as nuvens, mais o raio se destaca sobre elas como um fio de prata. Do mesmo modo, o centro da vida se manifesta com toda sua glória quando a morte nos rodeia em sua plenitude, e não antes disso. A morte nos rodeia como a escuridão, e dentro dela, está o centro da vida — ao que podemos chamar atma, a alma — brilhando com todo o seu esplendor; a escuridão que o rodeia se torna luminosa. Mas nesse momento ficamos inconscientes. No momento da morte, que poderia ser o momento de conhecermos o nosso ser, ficamos inconscientes. Por isso, teremos que nos preparar para elevar nossa consciência. A meditação é essa preparação.

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A meditação é uma experiência na qual a pessoa alcança uma morte gradual e voluntária. É uma experiência na qual a pessoa se transfere para o seu interior e abandona o corpo. Se uma pessoa praticar a meditação durante toda a sua vida, ela alcançará a meditação total no momento da morte.

Quando a morte acontece em estado pleno de consciência, a alma da pessoa realiza seu nascimento seguinte em estado pleno de consciência. Portanto, o primeiro dia de sua nova vida não é um dia de ignorância, mas sim de conhecimento pleno. Inclusive no ventre

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