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A área das ciências sociais é composta por inúmeras disciplinas, das quais o turismo, o planeamento, a economia e a gestão dela fazem parte. A volatilidade das ciências soci- ais, potencia que o conhecimento e informação que estas nos fornecem, seja ajustado ao momento, à época, ao contexto histórico, cultural, social, económico e político que o mundo vai conhecendo.

Até ao início do século XXI, dominou a filosofia de mercado. (Costa:2014;25). Entre- tanto as sociedades evoluíram, surgiram novos paradigmas, novos desafios, novas opor- tunidades, e inevitavelmente, novas ameaças. “Como resultado desta evolução, a atual tendência emergente aponta no sentido de que ao funcionamento do mercado sejam adi- cionadas visões mais abrangentes de desenvolvimento económico e social (…), porque as economias se abriram e passaram a estar ligadas entre si. (ibid).

Entendemos esta ‘abertura’ como o resultado da globalização, que ao contrário do que nos leva a pensar, não é um fator meramente económico, pois está ligada a outras ques-

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tões, nomeadamente, à mudança nos hábitos e preferências culturais devido, e de certa forma, aos progressos e avanços tecnológicos. Estas viragens verificadas na sociedade, e que têm contribuído para a evolução do turismo e de outras ciências sociais que o estu- dam e o tentam compreender, influenciam vincadamente os modelos de turismo, que entretanto foram sendo criados.

“Académicos e investigadores têm tentado compreender a evolução do mundo e têm vindo a propor novos modelos de gestão e planeamento (...). Na área do tu- rismo, a evolução tem sido igualmente enorme. (…). Novos comportamentos, novos consumidores e uma nova indústria emergente têm dado origem a novas abordagens e novas formas de gestão e planeamento. (op,cit.,35).

O consumidor atual, digital e heterogéneo está agora mais informado, logo é mais exi- gente. As viagens são encaradas como experiências pessoais, que enriquecem e estimu- lam o individuo. A organização da viagem está remetida para uma decisão exclusiva- mente pessoal onde o consumidor tem liberdade total de escolha, como bem elucida Holden (2005; 37): Do-it-yourself, is becoming more and more common, particularly for the mature and experience travellers, vigorously stimulated by the possibilities offe- red by low-cost airlines and Internet. Para além disso, o turista atual, procura também criatividade e diversificação na oferta, como se lê:

(…) a notable evolution in the market for tourism manifested itself in the later 1980’s with a demand for a diversity of destinations and new types of experience through tourism. A new generation of tourists, more confident and familiar with travel, and more independently minded than their parents, drove these changes. (…) These new tourists who are less predictable and homogeneous like to em- phasise their individuality and have control of their own experiences” (op. cit.,36).

Estes “novos” turistas, já não veem as viagens como um escape à rotina diária, mas sim como uma parte integrante das suas vidas. A sua postura perante a vida mudou, mol- dando, consequentemente o seu estilo de vida. O momento é o da oportunidade de viajar por prazer. Paralelamente ao despontar destes novos turistas, surge uma maior diversifi- cação dos tipos de turismo. Termos como eco, cultural, alternativo, responsável, come- çam a entrar no léxico turístico. Todas estas alterações e novidades, traduzem uma mai-

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or maturidade do setor turístico, e a inevitável mudança no pensamento das sociedades, com particular evidência nos países mais desenvolvidos, como nos ilustra o mesmo au- tor: Tourism does not occur by chance, it is a product of changing economic and social factors. The major tourism-generating countries of the world are those with highly de- veloped economies. (op.cit.,37) Este novo turismo, traz-nos novos turistas, novos con- sumidores, novas oportunidades.

New tourism offers several new opportunities (…). New consumers are more ex- perienced, more green, more adventurous and more quality conscious. They have special interests, a greater appreciation for the different and a taste for the novel. (…) Changing lifestyles and new demographics are also supporting this trend towards more targeted and customized holidays (…). Therefore the entire experience of the holiday will have to managed to satisfy the modern consumer. (Poon:1993; 89)

Em suma o novo turismo são velhos territórios com novas ofertas, são novas ofertas em novos territórios, mas são sobretudo novos e diferentes consumidores, que procuram novas experiências. “ Há novas procuras, novos perfis de turistas, novas formas de olhar e consumir o território, onde o lugar assume um lugar diferente” (Cravidão:2014;63). Os consumidores procuram diferenciação, procuram experiências que fiquem e que marquem, procuram a autenticidade e a genuinidade dos lugares, a proximidade com os locais, as vivências humanas. Numa vertente de estudo antropológico e sociológico, é interessante dedicar algumas linhas à abordagem do velho e do novo turismo, que é acima de tudo, uma análise ao velho e ao novo homem. Como escreveu Fernando Pessoa (1888-1935), no Livro do Desassossego: "Viajar? [...] Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Polos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações? A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos." Importa pois entender, a psicologia do viajante. A sua realidade é, tão-somente a interpretação pessoal dos es- tímulos exteriores, as suas sensações. Há um estímulo exterior, de facto. Todo o resto é o que a mente faz com esse estímulo. E que estímulos são esses? São novos, ou apenas mudaram ao longo do tempo? A pergunta faz sentido: Novo turismo, novos consumido- res?

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O ser humano sempre viajou, pelos mais diversos motivos. A evolução do ser humano foi-se definindo pela sua inata capacidade de transformação e adaptação do que é o seu habitat, do seu mundo e do seu cosmos. A curiosidade do Homem, a sua vontade de conhecer, de saber o que há para além da sua “rua”, foi desde os primórdios da nossa existência, um dos motivos, que o levou a mover-se, a deslocar-se. Enquanto seres raci- onais, é intrínseca, a nossa vontade de conhecer e de explorar. Esta postura, distingue- nos dos seres irracionais, proporcionando-nos uma inigualável e fascinante evolução. Seria impensável não deixar aqui uma breve passagem da clássica obra, O Macaco Nu (1967), do biólogo britânico Desmond Morris que, cientificamente, disseca a nossa ver- dadeira essência: Todos os mamíferos têm um forte instinto exploratório, (…). Têm por isso de explorar e continuar a explorar cada vez mais (…). Têm de manter um nível de curiosidade constantemente elevado (…). Nunca paramos de investigar. Nunca nos sa- tisfazemos com o que sabemos. Mal encontramos resposta para uma pergunta, formu- lamos logo outra. É este o maior truque da nossa espécie para continuar a sobreviver. Por outras palavras, o Homo Sapiens, não deixou de ser um macaco pelado, cujas moti- vações, sejam elas de que ordem forem, adquiriram contornos mais requintados apesar de ter mantido, fortes heranças genéticas que o acompanhou durante toda a sua evolu- ção. Uma dessas heranças, é a curiosidade inata, que enquanto crianças, nos vai alimen- tando e orientando, e na maioria dos casos, acompanhar-nos-á na vida adulta, tornando- nos em seres exploradores e curiosos.