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5. Velocidade e informação como Elementos de Estratégia

5.2 Velocidade e Estratégia

Mais do que uma decorrência de fatores como o capitalismo, a técnica e a cultura - ou por causa desses e ainda outros fatores não analisados neste trabalho -, a velocidade se tornou uma característica da sociedade contemporânea. A ponto de se tornar estratégica em diversos setores. Na economia, por exemplo, a primazia na obtenção de uma informação pode ser decisiva para a lucratividade de uma operação financeira. Mas essa posição estratégica da velocidade já vem de um campo onde a própria estratégia é decisiva: a guerra.

A capacidade de deslocamento é, para Virilio^°, o fator decisivo da estratégia militar. Para ele, a possibilidade de um deslocamento veloz supera o movimento em si, pela ameaça constante que representa ao adversário. Dessa forma, Virilio considera que as táticas de guerra passaram do deslocamento dos exércitos de forma cada vez mais rápida (com a utilização de carros de combate, por exemplo) para um aumento da capacidade de deslocamento. Essa tática não mais se refere à travessia de continentes, fazendo mais sentido quando se trata da conquista dos oceanos. Para um contendor, saber que submarinos nucleares se deslocam rapidamente sob as águas é um fator decisivo a ser considerado para uma aventura bélica.

A questão do movimento e da velocidade ultrapassa a noção estratégica dirigida ao espaço da batalha para se inserir na sociedade, auxiliada por novos recursos logísticos. Ao mesmo tempo, deixa de ser assunto eminentemente militar.

Juarez BAHIA, Jornal, história e técnica.

abrangendo toda a estruturação social. Esses desdobramentos resultam na valorização da velocidade do deslocamento em detrimento da importância do lugar. “Temos que admitir que a localização geográfica parece ter perdido definitivamente

seu valor estratégico e, ao contrário, este valor é atribuído à não-localização do vetor, de um vetor em movimento permanente, pouco importa seja ele aéreo,

espacial, submarino ou subterrâneo, contam apenas a velocidade do móvel e a não detectabilidade de seu curso” (grifo do autor).^^

A velocidade gera a necessidade de mais velocidade, de acordo com Virilio. É uma questão estratégica e concorrencial que, no entanto, traz um problema sério: o aumento da velocidade impede, muitas vezes, que se possa conceber e utilizar um novo engenho, porque este se vê ultrapassado em velocidade por outro assim que é concebido. A velocidade ainda sofre a resistência de estruturas sociais e temporais que não se adaptam a ela. Um exemplo é o hábito da leitura, que exige um tempo para a reflexão, tempo este que desacelera o fluxo.

A interpretação das transformações sociais a partir da velocidade dos

deslocamentos faz sentido na atual situação de capacidades técnicas capazes de atingir qualquer parte do globo, com precisão, em questão de segundos: seja através de mísseis teleguiados, seja através de mensagens por correio eletrônico. A questão estratégica da velocidade ainda ganha relevância na consideração da concorrência entre os veículos de comunicação via Internet (em tempo real), onde a rapidez na transmissão da informação é, parece, o principal objetivo.

O mesmo Virilio^^ traz considerações sobre o aumento da velocidade na

questão da informação. Para esse autor, a instituição do tempo real (transmissão e atualização dos fatos no menor lapso de tempo possível entre a ocorrência e sua divulgação) traz como resultado a valorização da informação com base exclusivamente na velocidade de sua transmissão. Nessa situação, a velocidade é a

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Paul Virilio, A arte do motor, p. 124.

própria informação. Os meios de comunicação precisam ter como estratégia, não só a aniquilação da “duração da informação, da imagem e de seu trajeto, mas, juntamente com elas, tudo o que dura e persiste.”^^ Junto com a proposta do tempo real vêm os desafios. “Submetidos à tirania do tempo real, os meios de comunicação não combatem mais somente tudo o que dura, a paz como o resto, são eles agora que não têm mais tempo, mais prazos.”^"^

Todos ao fatores que trouxeram para o jornalismo a possibilidade de aumento da velocidade na transmissão de informações, influenciaram também as demais etapas do trabalho jornalístico: a busca e levantamento das notícias e a preparação para a veiculação (edição). A atividade sofreu interferência como um todo, não só em relação a si própria como em relação ao público e à dinâmica social. Vale dizer que o jornalismo sofreu alterações no seu sentido social graças ao capitalismo, à técnica, à cultura e ao aumento de velocidade proporcionado por esses fatores.

Estaremos na iminência do surgimento de um novo sentido do jornalismo na atualidade, graças às formas de relacionamento entre a demanda cultural, o capital e a técnica? Para avaliarmos melhor de que maneira se dá ou não essa mudança na atualidade, é conveniente que façamos uma breve retrospectiva sobre as considerações de sentido do jornalismo, de acordo com perspectivas teóricas diferenciadas. Nessas considerações, estarão presentes os elementos da velocidade do jornalismo.

^^Ibid., p. 52

CAPÍTULO II

OS SENTIDOS SOCIAIS DO JORNALISMO

Neste capítulo serão tratadas interpretações sobre o sentido social do jornalismo, considerando essa atividade como elemento integrante da mídia. Essas interpretações levam em conta os três fatores estudados no capítulo anterior e suas formas de relacionamento em que a predominância é de uma delas. Também serão discutidas as influências que o conteúdo jornalístico sofreu da técnica e do capitalismo. 0 levantamento de reflexões sobre a inserção social do jornalismo e suas determinações servirá como substrato para a definição das linhas teóricas levadas em conta na continuidade deste trabalho.

As interpretações definidas para considerações neste capítulo são três. A teoria crítica, da chamada Escola de Frankfurt, com forte viés político na

abordagem da mídia. A teoria das mediações, mais recente em termos de teoria da comunicação, que trata da mídia com um enfoque mais integrado à dinâmica social livre de condicionamentos político-ideológicos. E, finalmente, a pragmática do

jornalismo, que tenta explicar a atividade a partir de conceitos da lingüística e relacioná-los com a prática atual do jornalismo.