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4. TRADUÇÃO DO CONTO

4.2 Tradução do conto – Tajômaru

4.2.5 Verbo de tratamento - môshiageru

Môshiageru se trata do único verbo de tratamento utilizado por Tajômaru. É verbo de modéstia, significando literalmente “dizer”. Porém, no discurso de Tajômaru aparece o verbo iu, que tem o mesmo significado de “falar”, “dizer”.

No trecho “[...]mi ni kite kure to ii ni ikimashita”, traduzido como “[...]para lhe dizer que o homem pedia que ela fosse vê-lo[...]”, a narrativa está no passado, e para se referir à própria história não cabe a Tajômaru utilizar-se de tratamento. Já em “kore mo zuboshi ni atatta no wa, môshiageru made mo arimasumai”, traduzido por “nem é preciso lhes dizer como esse plano também deu certo”, por se tratar de um discurso direto entre locutor e interlocutor.

Assim, encerra-se a tradução da parte do conto referente à confissão de Tajômaru. Esta parte tem uma maior variedade por não se tratar de apenas uma espécie fixa de tratamento utilizada pela personagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início deste trabalho, foi visto sobre as expressões de tratamento da língua japonesa e suas particularidades, bem como a diferença para com a língua portuguesa, que só possui os pronomes de tratamento para expressar essa ideia.

Porém, nem de longe iriam substituir a intricada rede de nomes, pronomes, verbos, entre outros meios de tratamento japonês numa tradução da língua japonesa para a língua portuguesa.

Falando sobre tradução, foi explicada sua importância para a literatura e a linguística, assim como os diferentes modos de traduzir, especialmente dizendo que não há maneira correta para uma boa tradução. Também foi falado sobre os diferentes métodos de tradução, assim como o escolhido para a tradução do conto escolhido.

Com a tradução das duas partes traduzidas, foi possível analisar as narrativas diferentes que aparecem no decorrer do conto. Por se tratarem de personagens diferentes, nenhum dos discursos será igual, nem irá apresentar um padrão. O padrão de um, caso apareça, pode ser inclusive diferente em se tratando de outra personagem.

Nos trechos traduzidos, porém, não foi possível encontrar um padrão. O único método possível foi aceitar e contornar o fato de que não há equivalentes o suficiente de expressões de tratamento para uma tradução para o português. Em várias orações, o único método encontrado para inferir que no original havia um discurso expresso de maneira “diferente”, foi utilizar um vocabulário mais rebuscado do português.

O maior problema encontrado foi o da ocorrência de múltiplas expressões de modéstia, majoritariamente nas falas do lenhador. Não havendo como exprimir a ideia de modéstia para a língua portuguesa sem que soe forçado e fora de contexto, há a perda de significado do sentido original dessas frases.

Poderia ser feito, então, a tradução do mesmo conto, sem essa preocupação para com o tratamento? Pode-se dizer que sim, e com o mesmo efeito, pois no caso de Yabu no Naka, não há nada dentro do texto que utilize esse tratamento para outros fins.

Este trabalho serviu para dar a certeza de que as expressões de tratamento da língua japonesa não possuem regras fixas para tradução, sem que haja um contexto em específico. Às vezes nem mesmo um contexto, como no caso do conto, é capaz de exigir um padrão.

Para que não haja a perda de significado, a utilização dos pronomes de tratamento da língua portuguesa, assim como aplicação de vocabulário mais rebuscado foram, portanto, as únicas formas de contornar essa falta de equivalência da língua de partida, o japonês, para a língua de chegada, o português.

REFERÊNCIAS

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CUNHA, Celso. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro:

Editora Nova Fronteira, 1985. 713p.

CORREIA, Renato. Problemas da Tradução Literária. Coimbra: Livraria Almedina, 1986. 113p.

LEBRA, Takie. Japanese Patterns of Behavior. EUA: University of Hawaii Press, 1976. 295p.

MILTON, John. O poder da tradução. São Paulo: Poética Editora, 1993. 185p.

OUSTINOFF, Michaël. Tradução – História, teorias e métodos. São Paulo:

Parábola Editorial, 2011. 143p.

PAES, José Paulo . Tradução a ponte necessária. São Paulo: Editora Ática, 1990.

127p.

PERGNIER, Maurice. Les fondements Socio-Linguistiques de la Traduction.

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SCHUBERT, Klaus. Text Coherence in Translation. Países Baixos: Foris Publications, 1988. 211p.

SEWARD, Jack. Japanese in Action – An unorthodox approach to the spoken language and the people who speak it. New York & Tokyo: Weatherhill, 1984.

218p.

SEVERINO, Antônio. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 18ª edição, 2002. 304p.

SUZUKI, Tae. As expressões de Tratamento da Língua Japonesa. São Paulo:

Editora da Universidade de São Paulo, 1995. 185p

Estudos Japoneses n. 24. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: 2004.

124p .

Estudos Japoneses n. 26. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo:

2004. 127p .

Quadro Histórico das Teorias da Tradução

(<http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno03-14.html>). Acessado em 3 de julho de 2013.

ANEXOS

ANEXO A

Depoimento do lenhador para um comissário da polícia

Sim, senhor, é isso mesmo.

Está claro que quem achou aquele cadáver fui eu. Como sempre, nesta manhã me dirigi para trás da montanha a fim de cortar cedro. Foi então que encontrei aquele cadáver, no meio do bosque, à sombra da montanha.

Em que lugar exatamente, o senhor me pergunta?

Creio que estava longe, cerca de 400 a 500 metros partindo da estação de cavalos de Yamashina. É um lugar deserto onde finos cedros se misturam em meio a bambus.

O cadáver estava caído de face para cima, vestindo um quimono índigo e um chapéu à moda da capital.

De qualquer maneira, apesar de ter sido num só golpe de espada, como a ferida foi até o fundo do peito, as folhas de bambu ao redor estavam tingidas de um vermelho-escuro.

Não, o sangue já não mais escorria, e a ferida também já parecia seca. Além disso, acho que havia uma mosca-varejeira grudada à ferida, sem nem perceber o som de meus passos.

Se eu não vi uma espada ou outra coisa?

Havia apenas um pedaço de corda jogado junto à raiz de um cedro ao lado. E então...sim, sim. Recordo-me que além da corda havia um pente. O que estava ao lado do cadáver eram somente esses dois objetos. Porém, como a grama e as folhas de bambu foram completamente pisoteadas, é certo que o homem resistiu e lutou com vigor antes de ter sido morto.

O quê? Se não tinha um cavalo?

Lá é um local onde não cabe um cavalo, nem outros animais de mesmo porte, senhor. Além do mais, a estrada para cavalos é apenas uma e fica distante do bosque.

ANEXO B

Confissão de Tajômaru

Quem matou aquele homem fui eu. Mas a mulher, não a matei.

Então para onde ela foi, vocês perguntam? Isso nem mesmo eu sei responder.

Ei, esperem!

Não importa o quanto me torturem, acho que não é possível falar sobre o que não sei. Além do mais, do jeito em que estou, não pretendo esconder as coisas covardemente.

Ontem, pouco depois do meio dia, cruzei-me com o casal. Com o vento que soprou naquele momento, o véu se levantou e pude ver de relance o rosto da mulher. De leve – se bem que não pude mais ver tão logo achei que tivesse visto – acho que esta foi uma das razões pelas quais seu rosto me pareceu uma Bodissatva. Nesse momento decidi possuir a mulher, mesmo que para isso tivesse que matar o homem.

Mas que nada! Ao contrário do que os senhores pensam, matar um homem não é lá grande coisa. Enfim, quando uma mulher é violentada, seu homem deve ser sempre morto. Só que, quando vou matar, uso a espada à minha cintura. Mas vocês não utilizam espadas, matam apenas com uso da autoridade, com uso do dinheiro.

Quando menos se espera, podem matar até mesmo com palavras dissimuladas. É verdade, não escorre sangue; os homens continuam vivos...mas mesmo assim vocês os matam.

Se for pensar na profundidade dos crimes, não dá para saber quem é pior, eu ou vocês. (sorriso cínico). Mas, se eu conseguisse possuir a mulher sem matar seu homem, não haveria do que reclamar. Não. Seguindo meu sentimento naquele momento, eu tinha decidido que ia possuir a mulher sem matar o marido, na medida do possível. Mas naquela estrada da estação de cavalos de Yamashina, fazer algo assim é impossível. Então, eu planejei atrair o casal para o meio da montanha.

Isso também não foi difícil. Ao seguir a estrada com o casal, eu disse que havia uma velha tumba atrás da montanha que, tendo escavado, encontrei várias espadas e espelhos e, para que ninguém soubesse disso, eu enterrei tais objetos no meio do bosque, à sombra da montanha, caso aparecesse alguém interessado eu poderia vender a um preço barato. O homem começou a se interessar pela minha história.

E então...vejam só. Não é que a tal da ganância é algo assustador? Depois de pouco tempo o casal já conduzia o cavalo pela estrada da montanha. Quando chegamos frente ao bosque, disse para virem ver o tesouro que lá estava enterrado.

Como o homem estava seco de vontade, ele não tinha objeções, mas a mulher disse que iria esperar sem descer do cavalo. Vendo aquele bosque tão fechado, não era de se estranhar que assim dissesse. Para dizer a verdade, aqui também saiu de acordo com minhas expectativas: entrei com o homem no bosque, deixando a mulher sozinha. Por um tempo, o bosque é apenas bambu. Mas, indo uns 50 metros adiante, tem um lugar um pouco aberto com um monte de cedros. Não havia lugar mais apropriado que esse para eu finalizar meu trabalho.

Enquanto me embrenhava pelo bosque, contei-lhe uma plausível mentira de que o tesouro estava enterrado sob os cedros. Ao ouvir isso de mim, o homem avançou com determinação para os finos cedros que já eram visíveis. Quando os bambus se rareiam, vários cedros aparecem enfileirados. Tão logo eu cheguei lá, derrubei-o e prendi. Condizente a um homem portando uma espada, ele aparentava ser consideravelmente forte, mas como foi derrubado de surpresa, não houve o que fazer. Em pouco tempo estava amarrado junto a uma raiz de cedro.

A corda?

Eu, sendo um ladrão, não sabendo quando irei ter que pular muros, trazia convenientemente uma à minha cintura. Claro que para que não gritasse, peguei folhas caídas de bambu e lhe entupi a boca, para que assim não houvesse nenhum incômodo.

Tendo resolvido o caso do homem, fui mais uma vez aonde estava a mulher para lhe dizer que o homem pedia que ela fosse vê-lo porque parecia ter sido cometido de um mal súbito.

Nem é preciso lhes dizer como esse plano também deu certo.

A mulher, sem seu chapéu de palha, adentrou o bosque guiada pelas minhas mãos. Porém, chegando lá, o marido estava amarrado ao cedro...a mulher tirou de seu quimono, num piscar de olhos, uma adaga. Nunca antes tinha visto uma mulher de temperamento assim tão forte. Se naquele momento eu estivesse distraído, teria sido acertado na barriga. Não, mesmo me esquivando, eu teria sido ferido se ela continuasse me golpeando com determinação. Mas eu, sendo o Tajômaru, de um jeito ou outro consegui finalmente derrubar sua adaga, sem nem ao menos desembainhar minha espada. Não importa o quão determinada seja uma mulher, sem uma arma, não havia o que fazer.

Como eu tinha planejado, consegui por minhas mãos na mulher sem matar o homem. Sem matar o homem...isso mesmo. Acima de tudo, eu não pretendia mata-lo. No entanto, ao tentar fugir do bosque, deixando a mulher chorando aos prantos para trás, de repente ela se agarra ao meu braço, como uma louca. E ainda, pude ouvir em seus gritos entrecortados: “Ou você ou meu marido, um dos dois deve morrer! Mostrar minha vergonha a dois homens é pior do que a morte. Não. Juntar-me-ei àquele que restar de pé” – disse ela, resfolegando. Foi naquele momento que fui tomado por um impulso violento de querer matar o homem. (agitação melancólica)

Contando-lhes essas coisas, sem dúvidas devo parecer um ser humano pior do que vocês, mas isso é porque vocês não viram o rosto daquela mulher – especialmente porque não viram suas pupilas que, num átimo de segundo, pareciam queimar. Quando meus olhos encontraram os da mulher, mesmo que eu fosse atingido por um raio e morresse, eu quis fazer dela minha esposa.

Fazer dela minha esposa...na minha mente, era a única coisa que se passava. Isso não era nenhum ato libidinoso como vocês devem imaginar. Se naquele momento eu não tivesse nenhum outro desejo senão a luxúria, eu provavelmente teria lhe chutado e fugido. Assim o homem também não teria sido coberto de sangue pela minha espada. Mas, no momento em que olhei fixamente para o rosto da mulher no escuro do meio do bosque, decidi-me que não poderia sair de lá sem matar o homem. Porém, mesmo que fosse matar o homem, não queria fazê-lo covardemente.

Eu desamarrei e chamei-o para um duelo de espadas. (A corda que vocês acharam caída à raiz do cedro foi a corda que esqueci largada naquele momento)

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