2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
III. Verificação das tensões nas bielas comprimidas
A verificação do esforço cortante nas sapatas excêntricas deve ser feita de maneira equivalente à verificação para sapatas cêntricas.
Por ser uma sapata rígida, já se sabe que a ruptura por punção não precisa ser verificada, mas a verificação da compressão diagonal do concreto deve ser feita.
Assim como foi feito nas sapatas cêntricas, sabe-se que “em uma superfície qualquer submetida a um estado de tensões normais com variação linear, a força resultante é encontrada multiplicando a área dessa superfície pelo valor da tensão normal que ocorre no baricentro dessa superfície” (CARVALHO E PINHEIRO, 2009).
A força cortante resultante das tensões de compressão atuantes R pode ser determinada pela Eq. 2.12, ou seja, = , × (onde S é a área). A área do trapézio é a mesma determinada anteriormente, a diferença está na tensão atuante sobre essa área devido ao momento. Sendo assim, a pode ser obtida pela Eq. 2.65, porém o valor de
x será a distância da face do pilar até o centro geométrico (CG) do trapézio, como ilustrado
pela Figura 22. Portanto, podemos escrever R como:
, = ± × Eq. 2.71
= , × , Eq .272
Onde
I é o momento de inércia em relação a Y, dado por = × ³.
Determinado o esforço cortante solicitante na sapata, a tensão de cisalhamento solicitante pode ser determinada pela Eq. 2.18, e deve ser inferior a tensão de cisalhamento resistente de cálculo .determinada pela Eq. 2.17.
A tensão de cisalhamento da sapata pode ser considerada verificada quando ≤ .
IV. Dimensionamento à flexão
Determinadas as tensões de compressão máximas atuantes, o dimensionamento e cálculo da armadura principal são equivalentes ao demonstrado para as sapatas cêntricas.
O momento na direção X pode se obtido como na Eq. 2.14, apenas adequando à tensão no solo devido à existência da excentricidade, conforme calculado no item anterior. Pode-se escrever o momento solicitante como:
= × × × Eq. 2.73
De maneira análoga, para a direção Y:
= × × × Eq. 2.74
Como dito para as sapatas cêntricas, os momentos solicitantes devem ser superior a um momento mínimo determinado pela NBR 6118:2014.
O cálculo da armadura principal será determinado pela tabela dos índices kc e ks, como já feito anteriormente, segundo as Eq. 2.21, Eq. .2.22, Eq. 2.23 e Eq. 2.24.
Assim como os momentos, a armadura principal calculada deve respeitar a armadura mínima definida pela NBR 6118:2014.
2.2.2.9.2 Sapata isolada rígida submetida à carga excêntrica em duas direções
“Nas sapatas onde o ponto de aplicação da carga tem excentricidade que pode ser decomposta em duas direções ortogonais (ex e ey), a determinação das tensões no solo é mais complexa, pois a linha neutra é inclinada em relação aos planos de simetria da área da sapata” (CARVALHO; PINHEIRO, 2009).
Há diferentes expressões para o cálculo da tensão no solo que dependem da região da sapata em que a carga axial atua. Existem regiões da sapata em que não é possível aplicação da carga, pois nesse caso mais de 1/3 do solo abaixo da sapata estaria sob tensões de tração, o que iria contra as recomendações da NBR 6122:2010.
Montoya (1991) soluciona os problemas de cargas excêntricas em duas direções através do auxílio de ábacos, em que, em função do valor das excentricidades e das dimensões da sapata, são encontrados parâmetros que possibilitam determinar as tensões atuantes. Neste trabalho, porém, será resolvido o problema pela solução trazida pelo Spernau (UFSC), pelo
Élvio (UFMG) e pelos autores Carvalho e Pinheiro (2009), através de expressões válidas para diversas regiões da sapata.
Adotando como exemplo uma sapata de base retangular com comprimento A e largura B, existem cinco situações distintas que podem ocorrer, dependendo da posição (região) em que se localiza a carga axial excêntrica.
O primeiro caso, e mais simples, é quando a carga, mesmo que excêntrica em duas direções, encontra-se aplicada dentro do núcleo central (Figura 40). Para esse caso, a Eq. 2.67 deve ser verificada e a tensão máxima pode ser calculada como visto anteriormente na Eq. 2.66, considerando agora não uma (ex), mas sim duas excentricidades (ex e ey). Pode-se reescrever a Eq. 2.66 como:
, = × × 1 ± × ± × Eq. 2.75
Além desse, existem quatro regiões indicada na Figura 42 que serão tratadas separadamente a seguir.
Figura 42- Regiões de aplicação da carga com excentricidades em duas direções.
Fonte: Piancastelli (s.d.).
I. Região 1
Quando a força axial estiver localizada na região 1 da Figura 42, a área comprimida terá forma de pentágono. A linha neutra e a área comprimida podem ser ilustradas na Figura 43
Figura 43- Área comprimida e linha neutra da região 1.
Fonte: Piancastelli (s.d.).
As dimensões t e s, assim como a tensão máxima da Figura 43 podem ser determinadas da seguinte maneira:
= × + − 12 Eq. 2.76 = × + − 12 Eq. 2.77 = × × × 12 − 3,9 × (6 × − 1) × (1 − 2 × ) × (2,3 − 2 × ) Eq. 2.78 Onde = + . II. Região 2
Quando a força axial estiver localizada na região 2 da Figura 42, a área comprimida terá forma de um quadrilátero. A linha neutra e a área comprimida podem ser ilustradas na Figura 44.
Figura 44- Área comprimida e linha neutra da região 2.
Fonte: Piancastelli (s.d.).
A dimensão t e a tensão máxima da Figura 44 podem ser determinadas da seguinte maneira:
= × + − 12 Eq. 2.79
= × × Eq. 2.80
= ×× × ×× Eq. 2.81
Onde
é a inclinação da linha neutra em relação ao eixo X.
III. Região 3
Quando a força axial estiver localizada na região 3 da Figura 42, a área comprimida terá forma de um quadrilátero. A linha neutra e a área comprimida podem ser ilustradas na Figura 45.
Figura 45- Área comprimida e linha neutra da região 3.
Fonte: Piancastelli (s.d.).
A dimensão s e a tensão máxima da Figura 45 podem ser determinadas da seguinte maneira:
= × + − 12 Eq. 2.82
= × × Eq. 2.83
= ×× × ×× Eq. 2.84
Onde
é a inclinação da linha neutra em relação ao eixo Y.
IV. Região 4
Caso a força axial caia na região 4, o cálculo das tensões conduziria a um diagrama de tensões com a área comprimida da base as sapata inferior a 2/3 da área total da fundação, o que não é permitido pela NBR 6122:2010.
Em situações que a força axial esteja localizada nesta região, há necessidade de alterar as dimensões da sapata de forma que a carga normal excêntrica fique limitada às regiões do núcleo central (preferencialmente), 1, 2 ou 3.
Para garantir que a força normal excêntrica não cairá na região 4, basta que as excentricidades ex e ey atendam à Eq. 2.64.