• Nenhum resultado encontrado

4 SCRIPT METODOLÓGICO

4.2 VERSÃO BETA: O ESTUDO PILOTO

O enfrentamento das dificuldades inerentes à realização deste estudo requereu um empenho contínuo da pesquisadora para a proposição de estratégias e de soluções que o tornassem possível. Desse modo, não pudemos prescindir da realização de um estudo piloto

com o objetivo de (re)formular os procedimentos metodológicos e delinear o projeto etnográfico submetido ao exame de qualificação da tese. O estudo piloto foi desenvolvido no período de novembro de 2009 a março de 2010 e constituiu-se pelas seguintes ações:

Levantamento bibliográfico da produção científica sobre blogs educativos;

Seleção e leitura de trabalhos acadêmicos e artigos científicos sobre blogs educativos;

Busca e seleção de blogs educativos de autoria de docentes de instituições federais de ensino superior no Brasil;

Categorização dos blogs educativos selecionados;  Elaboração do roteiro para entrevista semiestruturada;

 Realização de entrevistas semiestruturadas com aprendentes docentes selecionados(as).

Pré-análise das entrevistas realizadas e do conteúdo dos blogs educativos selecionados.

Os trabalhos acadêmicos (dissertações e teses) foram selecionados a partir de buscas em duas bases de dados digitais: o Banco de Teses da Capes; e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). As pesquisas foram realizadas utilizando os sistemas de busca disponíveis para os(as) usuários(as) nos sites destas duas bases de dados. As buscas foram realizadas considerando a produção científica referente ao período de 2000 a 2010 que resultaram na localização de 51 trabalhos acadêmicos sobre blogs, dentre os quais foram identificadas apenas duas teses de Doutorado, conforme detalhamos na seção 2.1 deste texto.

Em seguida, realizamos a pesquisa e a seleção dos blogs educativos a partir do uso de dois buscadores: o Google Blogs29 e Blogsblog30. Entretanto, nossa procura inicial por

diretórios que reunissem os blogs da área de Educação não obteve êxito. Prosseguimos, então, empregando procedimentos para localizar os blogs a partir do uso dos seguintes descritores:

blog de autoria de professor, blog educativo, blog pedagógico, disciplina e educação.

O buscador Google Blogs31 apresentou o maior número de resultados em comparação

com os resultados apresentados pelo buscador Blogblogs. Essa diferença significativa de

29Google Blogs: http://blogsearch.google.com.br/ 30Blogblogs: http://blogblogs.com.br/

resultados decorre do tipo de sistema informático e dos critérios de recuperação da informação e de posicionamento usados pelo buscador Google que, em geral, são os seguintes: a) Trocas de links: o posicionamento é diretamente proporcional ao número de links que indica um blog específico; b) Título das páginas: dizem respeito a uma síntese das

metatags32 que descrevem o conteúdo de uma página específica; c) Conteúdo das páginas: este critério melhor posiciona um blog de acordo com o conteúdo textual em HTML, conteúdos textuais intrínsecos, as imagens e arquivos em flash33 não são recuperados; d) Hierarquia; e) Metatags: descrevem um blog ou site específico; f) Sitemaps é um serviço do

Google para melhorar a indexação de páginas (QUAIS..., 2009). Em razão do exposto, essa

ferramenta de busca foi escolhida para a realização do levantamento de blogs educativos para compor a amostra desta pesquisa.

A busca e a seleção de blogs educativos no GoogleBlogs foram realizadas em duas etapas. A primeira coleta ocorreu em dezembro de 2009 com resultado aproximado de 264

blogs para a pesquisa avançada por “blogs de autoria de professor”. Devido ao grande número

de endereços indexados nessa busca, decidimos acessar apenas os blogs agrupados em: na última hora; nas últimas 12 horas; no último dia; na última semana; no último mês. A partir do acesso aos links listados, localizamos nove blogs de autoria de docentes da educação básica e 21 blogs de autoria de docentes do ensino superior, dentre os quais seis blogs eram publicações de docentes de Portugal, Estados Unidos e Inglaterra (APÊNDICE H).

Desse modo, foi necessária uma segunda etapa de busca na ferramenta Google Blogs, realizada em janeiro de 2010, para a localização de blogs educativos de autoria de professores(as) da Universidade Federal da Paraíba. Desta vez, utilizamos a pesquisa avançada por blogs com a palavra “UFPB” no título. Além da ferramenta de busca Google

Blogs, enviamos uma mensagem por email para todos(as) os(as) docentes do Curso de

Pedagogia a Distância apresentando a pesquisa e solicitando que informassem endereços de

blogs educativos de sua autoria, caso o utilizassem para a mediação da aprendizagem com

seus(suas) discentes. Obtivemos como resultado dessas ações, a listagem de 31 blogs educativos, dentre os quais, selecionamos dez blogs de autoria de docentes dessa instituição federal de ensino superior (APÊNDICE I).

32São elementos da linguagem HTML ou XHTML usados na estruturação e identificação de site ou blog. A

metatag é posta numa etiqueta chamada head de um documento HTML ou XHTML e objetivam titular e/ou

descrever a página através de textos sintéticos ou palavras-chave.

33Tecnologia desenvolvida pela empresa Macromedia que permite a criação de animações vetoriais. Disponível

Por fim, foram executadas buscas avançadas a partir da expressão “blog pedagógico” e da palavra “disciplina” no título do blog, obtendo, respectivamente, uma página com dez

blogs listados e dez páginas de blogs listados pelo Google Blogs. Reunimos ainda endereços

de blogs de docentes citados em artigos científicos sobre o tema e, ao final dessa segunda etapa de coleta de dados, organizamos uma lista com 16 blogs de autoria de docentes de instituições federais de ensino superior e um blog de autoria de docente de uma instituição estadual de ensino superior no Brasil (APÊNDICE J).

Os 27 blogs localizados foram organizados por área de conhecimento em um quadro com informações sobre docente/autor(a), instituição federal de ensino superior, área de conhecimento, curso, total de posts publicados, período de publicação (APÊNDICE C). Para a seleção dos blogs educativos que compuseram o corpus de dados da pesquisa, empregamos os seguintes critérios:

i) Ser usado como estratégia ou recurso pedagógico pelos(as) aprendentes docentes e/ou discentes;

ii) Número de posts e comentários publicados; iii) Tempo de criação e de edição do blog; iv) Acessibilidade aos(às) aprendentes docentes;

A partir daí, visitamos e selecionamos dois blogs educativos de autoria de docentes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com base no critério de acessibilidade, para a realização das entrevistas semiestruturadas de nosso estudo piloto. Os contatos com os(as) docentes autores(as) dos blogs educativos selecionados foram realizados por email e, mediante a manifestação expressa por escrito do termo de consentimento em participar da pesquisa, agendamos as entrevistas, realizadas nos dias 12 e 24 de março de 2010 na sala da coordenação do curso de Pedagogia a Distância do Centro de Educação e no Hospital Universitário.

De acordo com Minayo (1996), o trabalho de campo constitui uma etapa essencial da pesquisa qualitativa. É o momento em que ocorre a interação entre o(a) pesquisador(a) e os sujeitos pesquisados. Esses sujeitos, enquanto integrantes do estudo, são, primeiramente, construídos teoricamente. Entretanto, no trabalho de campo ocorre a relação de intersubjetividade entre o(a) pesquisador(a) e os(as) pesquisados(as). Essa relação suscita conflitos cognitivos decorrentes do confronto entre realidade analisada e pressupostos teóricos, o que provoca a emergência de novos e sucessivos insights que vão delineando um processo mais amplo de construção do conhecimento.

Essa entrada no campo requer a definição da identidade do(a) etnógrafo(a) como pessoa de dentro ou de fora do grupo estudado. Ambas as posturas adotadas tem implicações éticas e epistemológicas que precisam ser consideradas no momento da coleta e da análise dos dados. A minha identidade de docente do ensino superior e de autora de blogs educativos permitiu-me assumir uma postura de nativa da cultura acadêmica e da cibercultura, orientando um olhar de dentro e aproximando-me das experiências e idiossincrasias dos(as) docentes participantes desta pesquisa. Essa postura foi claramente assumida e revelada aos(às) participantes nos momentos de interlocução e, ao tempo em que poderia implicar à construção de empatias e de uma ambiência favorável ao diálogo aberto e franco entre a pesquisadora e os(as) pesquisados(as), poderia também criar constrangimentos à revelações que supostamente estivessem em desacordo com o que os(as) docentes pesquisados(as) inferissem sobre os interesses e as premissas da pesquisa.

Quer como nativo ou como estrangeiro, a inserção dos etnógrafos em seus campos de pesquisa comporta sempre o enfrentamento dessas questões éticas e epistemológicas. Não há como eliminá-las e propagar uma suposta “neutralidade” do pesquisador, de acordo com os pressupostos da pesquisa qualitativa. Contudo, o importante é manter-se, de modo mais consciente possível, atento aos problemas decorrentes da escolha realizada. Destarte, os etnógrafos precisam desenvolver perspicácia para ver e escutar além das aparências e da superficialidade da realidade observada e/ou relatada pelos sujeitos. Buscando perquirir não apenas o que as pessoas falam ou pensam sobre algo, mas como, de fato, materializam e produzem significados para suas ações por meio de práticas culturais compartilhadas. Incluindo-se também o próprio pesquisador, no caso do etnógrafo nativo, como sujeito dessa reflexão e autorreflexão.

Essa postura consiste num exercício contínuo de aproximação e estranhamento em relação à cultura estudada, que pretende minimizar a ocorrência de interpretações predominantemente subjetivadas que impliquem apenas na idealização, e não na problematização e racionalização científica de um tema. E, claro, conferir validade e credibilidade aos resultados das pesquisas etnográficas. Por isso, com o intuito de realizar esse movimento de reflexão e autorreflexão envolvendo as interpretações da pesquisadora e dos(as) aprendentes docentes pesquisados(as), escolhemos realizar nossas análises a partir do entrecruzamento dos dados coletados por meio dos procedimentos de entrevista semiestruturada e análise documental.

A entrevista é um instrumento privilegiado de coleta de dados para as Ciências Humanas e Sociais. Nela, segundo Minayo (1996), a fala dos sujeitos pode revelar as

condições estruturais, os sistemas de valores, as normas e símbolos; ou ainda, transmitir as representações de um determinado grupo em condições históricas, sociais, econômicas e culturais específicas. Entretanto, a autora também ressalta a possibilidade de falseamento dos dados durante a interação entre os sujeitos envolvidos (pesquisador(a)/pesquisado(a)), em virtude das relações de poder e dos aspectos de regulação implícitos nas investigações sociais. Por isso, a entrevista tem como princípio básico a certeza de que as informações coletadas estão submetidas a um controle, por parte tanto do(a) entrevistador(a) quanto dos(as) entrevistados(as), no decorrer de todo o processo. A compreensão desse princípio pode colaborar para uma interpretação mais crítica dos dados no momento da análise.

Optamos pela entrevista semiestruturada por esta ser constituída por questões e pontos de pauta, previamente elaborados a partir dos objetivos da pesquisa, sobre os quais os(as) entrevistados(as) devem expressar-se. Para o estudo piloto, realizamos as entrevistas semiestruturadas, presencialmente, a partir da interlocução direta entre a pesquisadora e os(as) entrevistados(as) por meio da gravação de áudio com equipamento de MP4. Essa opção justifica-se pela necessidade de verificar a validade dos roteiros de entrevista elaborados, procurando identificar a existência de problemas de linguagem presentes nas questões formuladas que pudessem provocar interpretações equivocadas por parte dos(as) entrevistados(as) e resultar no comprometimento dos dados coletados em relação aos objetivos estabelecidos na pesquisa.

As duas entrevistas realizadas no estudo piloto tiveram a duração de 54 min. e 1h18min. Elas foram transcritas na íntegra com o objetivo de validar o instrumento de coleta de dados e reformular as questões propostas, ajustando-as aos objetivos específicos da pesquisa.

O roteiro da entrevista semiestruturada foi dividido em três blocos, compostos por questões abertas e questões com sugestão de itens de resposta, a saber (APÊNDICE K):

Bloco 1: Dados de identificação do(a) professor(a) autor(a) do blog; Bloco 2: Dados sobre a experiência com blogs educativos;

Bloco 3: Análise dos resultados da experiência de uso de blogs educativos.

As questões e os itens de resposta propostos em cada bloco do roteiro da entrevista serviram como orientadores para a interlocução entre a pesquisadora e os(as) pesquisados(as). Desse modo, foi possível à pesquisadora a reformulação ou a inserção de questões à medida que os dados eram coletados e aos(às) participantes foi permitida a sugestão de outras alternativas de respostas, acrescentando informações ao roteiro previsto. Em nossas primeiras análises dos dados coletados no estudo piloto, buscamos apreender os significados atribuídos

pelos(as) docentes nos relatos de suas práticas acadêmicas; e, nos registros documentais encontrados nos posts e comentários publicados em seus blogs educativos. Somente a partir dessas análises iniciais, foi possível formular a tese proposta para a pesquisa e realizar as atualizações em seus objetivos e instrumentos de coleta de dados.