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7. Análise Comparativa: Portugal e os Casos de

7.1. Vertentes do Estudo

A análise efectuada tem como ponto de partida os critérios estipulados pela OCDE nos seus estudos sobre o princípio da EPR e suas aplicações. Em termos genéricos, Galeano (1999), OCDE (2001) e Smith (2005) seleccionaram como factores-chave para a avaliação de programas baseados no princípio da EPR os seguintes critérios:

• Eficácia Ambiental: este critério avalia os efeitos que o programa tem no ambiente. Quanto maior for o nível de performance na recolha e tratamento de resíduos; a capacidade de reduzir a quantidade de resíduos enviados para destino final e a adaptação do design dos novos produtos ao ambiente, maior será a eficácia ambiental do sistema.

• Eficiência Económica: a eficiência económica refere-se à capacidade de um sistema atingir determinados objectivos/metas ambientais e ao mesmo tempo ser capaz de minimizar os custos que decorrem do seu funcionamento.

• Estímulo à Inovação: em condições ideais, o sentido e a velocidade da evolução da indústria são influenciadas pelas políticas ambientais implementadas. Diferentes políticas dão origem a diferentes tipos de inovação por parte dos principais actores do sistema. Este critério pretende assim avaliar a capacidade de incentivo que determinado programa tem.

• Aceitação Política: o nível de aceitação social deve ser tido em conta no processo de avaliação do sistema. Factores como o grau de participação do público no desenvolvimento e implementação do sistema, ou a transparência das operações executadas são vertentes que devem fazer parte deste critério.

• Administração e Custos de Cumprimento: o referido critério diz respeito aos custos que as entidades públicas e privadas têm na aplicação e cumprimento do conteúdo do programa.

Uma das condicionantes que influenciou a constituição dos aspectos a ter em conta na análise foi a falta de dados disponíveis relativamente às performances dos sistemas. As vertentes relacionadas principalmente com dados quantitativos foram em geral excluídas do estudo. O esquema de análise foi assim desenhado, tentando por um lado reflectir os aspectos mencionados pela OCDE e por outro adaptando a avaliação e o confronto dos vários sistemas de gestão de VFV à disponibilidade de dados.

O estudo efectuado é essencialmente de carácter qualitativo, referindo-se num cômputo geral à estrutura e forma como os sistemas estão implementados. A divisão da análise procurou tornar o processo o mais simples e claro possível. Em todo o exercício, o modo como o produtor cumpre com as suas responsabilidades é mantido em foque. Aspectos como a responsabilidade física, financeira e informativa, ou a forma como o sistema está organizado (responsabilidade individual versus responsabilidade colectiva) são tidos em conta durante todo o processo. Neste contexto, a análise e comparação dos sistemas de VFV na Europa (Alemanha, Holanda, Suécia e Portugal), Estados Unidos e Japão é executada através dos seguintes aspectos:

• Esquema Institucional: neste tópico é discutido o tipo e a organização dos sistemas. O modo como está estruturado, a sua natureza e forma como foi implementado influenciam o desempenho do programa. A actuação das autoridades é também uma vertente abordada neste ponto.

Questões relacionadas com o facto do sistema funcionar por intermédio de estruturas individuais ou colectivas são tidas em conta. Conforme foi observado anteriormente, um sistema de carácter individual tem características distintas dos de carácter colectivo. A eficácia ambiental, eficiência económica, inovação e o cumprimento do sistema são influenciados por este factor.

A voluntariedade ou a obrigatoriedade do programa é outra vertente abordada neste tópico. O nível de adesão, a existência de free-riders e a capacidade de estimular a inovação pode ser determinada pelo facto do sistema ser de natureza voluntária ou obrigatória.

Por outro lado, a flexibilidade e a aptidão que o programa tem em estimular a competição entre os agentes é também analisada. Para além do sistema financeiro (analisado noutro tópico), o programa deverá permitir que o produtor possa escolher a opção que se adapte melhor às suas características e assim estimular a eficiência económica do sistema. Neste campo, o facto do produtor poder aderir a uma estrutura colectiva ou constituir o seu próprio esquema de gestão de VFV é importante. O produtor deve ter as mesmas oportunidades de uma organização colectiva relativamente à possibilidade de construir e gerir o seu próprio sistema. • Particularidades das Políticas Implementadas: o referido ponto divide-se nos temas Política de Registo de Veículos, Esquema Depósito-reembolso Sueco e Metas e Substâncias Afectas. Nestes são discutidas a forma como a existência de políticas específicas ou as diferenças no modo de encarar os VFV pode influenciar as performances dos sistemas nas várias regiões estudadas. O estabelecimento de metas para a reciclagem e reutilização ou proibir a utilização de determinadas substâncias na construção de veículos são exemplo de tipos de medidas que podem alterar as condutas dos agentes. O modo como os veículos são registados ou a forma como as suas matrículas são canceladas pode ser crucial no grau de performance associado à recolha de VFV. Assim, esta vertente pretende analisar não só o impacte que algumas medidas/políticas específicas possuem no universo de cada região, mas também como as diferentes abordagens aos VFV podem influenciar as características e comportamentos que cada programa analisado possui.

• Sistema de Financiamento: na vertente sistema financeiro pretende-se analisar a forma como o sistema é financiado e quais as consequências que este aspecto tem na participação e comportamento dos vários agentes. Conforme se observou anteriormente o modo como o financiamento funciona pode influenciar o estímulo que o produtor tem em alterar as características do seu produto, adaptando-o neste caso ao processo de final de vida. Pelo facto do sistema financeiro afectar a inovação e o eco-design, a eficácia ambiental e eficiência económica podem

também ser influenciadas por este factor. A forma como o consumidor participa no programa é outro aspecto que por exemplo pode ser influenciado pelo modo como o financiamento é feito. Existem casos em que o proprietário evita entregar o seu produto para não pagar a quantia destinada ao suporte financeiro das operações executadas no final de vida do bem.

• Monitorização e Sistema de Informação: a monitorização e o sistema que gere a informação são igualmente analisados no exercício da secção seguinte. O processo de monitorização é importante não só para o cumprimento das directrizes delineadas pelo programa, mas também para a recolha de dados acerca da performance associada aos vários níveis do sistema de gestão de VFV. Além disso, a forma como a informação é difundida afecta o grau de conhecimento que os agentes têm sobre as características e opções de manuseamento do produto. A monitorização e sistema de informação são essenciais para se detectar e corrigir falhas dentro do sistema. Assim, neste tópico é analisado o modo como cada sistema faz a monitorização e troca de informação, sendo discutido as consequências que estes factores têm no seu desempenho.