Vertentes religiosas e a cultura jovem brasileira

Para entender dinâmica da conversão religiosa e como ela pode estar influenciando o comportamento dos jovens, é importante considerar quais são as práticas e ensinamentos de cada vertente religiosa. Essa análise pode nos ajudar a compreender por que as novas igrejas protestantes têm sido tão atrativas para os jovens brasileiros. Mckinnon e Potter (2008) realizam uma breve descrição das práticas religiosas católicas e das diferentes vertentes protestantes, mostrando por que essas últimas têm sido preferidas pelos jovens.

O crescimento do protestantismo no Brasil indica uma mudança significativa no ambiente religioso do país. Mckinnon e Potter (2008) apontam que muitas pessoas têm

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crescido insatisfeitas com a mensagem da Igreja Católica, sentindo que a garantia de bem estar após a morte não é suficiente para resolver as preocupações do dia a dia. A típica Igreja Protestante além de oferecer a perspectiva de felicidade eterna também afirma que, através da oração e de acordo com os seus ensinamentos, os fiéis podem garantir bem estar na terra. Outra razão pela qual o protestantismo, especialmente o pentecostalismo, oferece uma alternativa atraente para os brasileiros é por abordar questões sociais que afetam diretamente a população de baixa renda, como alcoolismo, uso de drogas, pobreza e crime, além de fornecerem assistência aos seus membros, como ajuda financeira e trabalhos. Enquanto as igrejas católicas são instituições grandes e anônimas, as protestantes são quase sempre menores em tamanho, proporcionando um ambiente mais comunitário, encorajando os membros a estar diretamente envolvido nas atividades da igreja.

Segundo os autores, embora tanto os protestantes históricos quanto os pentecostais sejam considerados protestantes, existe diferenças fundamentais entre os dois. Os históricos dão ênfase na “palavra de Deus” através da leitura da bíblia, incentivando a alfabetização e educação. Ao longo de sua história no Brasil essa

denominação religiosa enfatizou a importância do “viver corretamente”, ressaltando a

importância de se obter uma boa educação, estabelecer fortes laços familiares através do casamento e se tornar um trabalhador produtivo na sociedade. Posicionam-se contra o uso de álcool, drogas e sexo antes do casamento e exigem moderação nas vestimentas e em celebrações públicas como o Carnaval. Já as igrejas pentecostais vão além dos protestantes históricos na rigidez de comportamento, sendo rigorosa em relação a hábitos como fumar e beber, além de exigirem modéstia nas vestimentas. Ao contrário dos protestantes históricos, os pentecostais não dão grande valor à educação e ao emprego. Temos, assim, uma diferença teológica significativa entre as duas religiões: os

históricos se valem da “ética do trabalho” como forma de reconhecer o reino de Deus no

mundo físico, enquanto os pentecostais valorizam experiências sobrenaturais através do

batismo no “Espírito Santo”.

As igrejas pentecostais progridem especialmente em regiões urbanas de baixa renda e favelas, e são, na maioria das vezes, lideradas por pastores carismáticos e paternalistas que demandam lealdade total e adesão aos códigos morais por parte dos membros. Além disso, devido à preocupação dessas igrejas com a acessibilidade, novas congregações podem ser construídas de forma rápida e barata, muitas vezes são

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implantadas em lojas, teatros e até em casas particulares, facilitando o acesso dos membros, que não precisam usar o transporte público para chegar a paróquias distantes.

Apesar de não ser usual a busca “porta a porta” para atrair fiéis, os serviços e músicas

que muitas vezes são transmitidos propositalmente a portas abertas e em alto volume podem ser ouvidos em toda a comunidade. (Mckinnon e Potter, 2008).

Dentro do pentecostalismo existe uma distinção a ser feita entre os pentecostais e neopentecostais. Esses últimos diferem da versão tradicional dos primeiros no que se

refere a “teologia da saúde e da riqueza”, uma doutrina que sugere que Deus deseja e

trabalha para a prosperidade material dos fiéis. O neopentecostalismo tende a ter raízes mais locais. Uma das denominações neopentecostais de mais rápido crescimento é a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fundada por Edir Macedo, em 1977. Apesar das fortes apelações de igrejas como a IURD pela mobilidade social, a maioria dos seus membros pertence à classe pobre e trabalhadora. (Mckinnon e Potter, 2008).

Um importante ponto a se considerar é como o catolicismo e essas diferentes vertentes do protestantismo podem afetar e influenciar a vida e o comportamento da juventude brasileira. Ainda segundo Mckinnon e Potter ( 2008), a Igreja Católica oferece uma mensagem ambígua. Por uma lado ela reprova o uso de drogas, álcool e gravidez antes do casamento, e os sacerdote e pastores denunciam constantemente o materialismo divulgado pela mídia, convidando os jovens a passarem mais tempo

ajudando os outros ao invés de seguirem a “última moda”. Entretanto, ao invés de

proibir o consumo frívolo, bebidas e festas, a igreja pede aos jovens para agirem com moderação. Essa abordagem atraiu alguns adolescentes com aspirações de autoaperfeiçoamento e mobilidade, mas se mostrou pouco atrativa para os demais. A Igreja Assembleia de Deus (pentecostal), por outro lado, apelou a uma ruptura radical com a cultura juvenil predominante. Além da imposição de um rígido código de vestuário, considera a relação sexual antes do casamento um pecado grave. Nessa configuração particular, a Assembleia de Deus teve mais sucesso que os católicos no recrutamento de fiéis, aparentemente ela passou a fornecer uma alternativa mais completa para as demandas e tensões da cultura jovem em geral. Os neopentecostais, como a IURD, parecem ser menos exigentes do que os pentecostais. Proíbem o uso de tabaco, álcool, drogas, relações extraconjugais e homossexuais mas permitem que seus membros usem roupas da moda, maquiagem e frequentem parias e festas. Ao contrário dos pentecostais, são mais tolerantes com a cultura de consumo.

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