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2.5 Sistema Imune e Câncer

2.5.2 Pontos de Controle do Sistema Imune

2.5.2.6 Infecções e o Ponto de Controle do Sistema Imune

2.5.2.6.1 Via PD e infecção por H.pylori

O H. pylori coloniza o estômago humano e promove respostas imunes humorais e celulares. Dentre os fatores de virulência de H.pylori, existem genes localizados na ilha de patogenicidade Cag-PAI que codificam um sistema de secreção do tipo 4 (T4SS), assim como o gene que codifica a proteína associada à citotoxina A (CagA). A oncoproteína CagA é injetada para o interior das células epiteliais gástricas pelo sistema de secreção do tipo 4 através de um Pilus do H.pylori, e uma vez dentro de tais células a CagA é ativada por fosforilação da tirosina quinase dependente de Src, que em seguida ativa proteínas importantes, incluindo a tirosina fosfatase SHP-2 que atua desregulamentando as funções celulares, assim como algumas vias de sinalização essenciais para atuar no delineamento da ação imune do hospedeiro, afim de garantir a sua sobrevivência, como por exemplo, a indução da regulação positiva de PD-L1 em células epiteliais gástricas. Desta forma, mesmo que o hospedeiro apresente uma resposta imune contra o H.pylori, esta será ineficaz, visto que os linfócitos T tendem a se mostrar hiporreativos, o que contribui para a cronicidade (BERSTAD

et al, 1999; ODENBREIT et al, 2000; LUCAS et al, 2001; HIGASHI et al, 2001; POPPE et al, 2006; BACKERT e SELBACH, 2008; LINA et al., 2015).

No estudo de Lina e colaboradores (2015), estes utilizaram diferentes tipos de linhagens de células epiteliais gástricas, e então inocularam no grupo controle de H.pylori do tipo selvagem com a ilha de patogenicidade Cag-PAI e em outras amostras foram inoculadas

H.pylori mutantes sem a ilha de patogenicidade Cag-PAI, e os resultados mostraram que

apenas houve o aumento da regulação da expressão de PD-L1 em amostras inoculadas com o tipo selvagem da bactéria, além disso, notou-se que a regulação positiva de PD-L1 é diretamente relacionada à presença de T4SS, que é responsável por translocar o CagA para as células epiteliais gástricas e esta proteína, ao ser ativada, modula a regulação positiva de PD- L1 no ambiente gástrico, utilizando a via MAPK p38.

Outro fator de virulência da H. Pylori, denominado toxina vacuolítica A (VacA), também tem sido associado a hiporreatividade de linfócitos T, inibição da interleucina 2 (IL- 2), assim como na inibição de eventos do ciclo celular e regulação negativa da expressão de receptores de superfície de IL-2, que são fundamentais para a proliferação e viabilidade de linfócitos T, respectivamente (COVER e BLANKE, 2005).

Em estudo de Wu e colaboradores (2010), em 23 pacientes submetidos a endoscopia com retirada de amostras do antro gástrico, 12 destes apresentaram positividade para H.pylori e 11 foram negativos. Em todas as amostras foi realizada inicialmente a análise da expressão da proteína PD-L1, e aquelas que apresentavam positividade para a H. pylori mostraram maior expressão da PD-L1 do que as amostras H. Pylori negativas. Além disso, foi realizada a análise em linhagens de células de adenocarcinoma gástrico humano e em células epiteliais gástricas primárias, e após o período de 24h e 48h posteriores de infecção, notou-se que para ambos os tipos celulares houve a indução da expressão de RNAm de PD-L1, quando comparado aos controles não-infectados, o que os levou a concluir que a H. pylori induziu o aumento dos níveis de PD-L1. Também foi investigado se os linfócitos T induzidos como resposta a infecção ao H.pylori poderiam influenciar nos níveis de expressão de PD-L1, em células epiteliais gástricas primárias e em linhagens de células de adenocarcinoma gástrico co-cultivadas com linfócitos T ativos, e observou-se que em ambas ocorreu a indução do aumento da regulação da expressão de PD-L1. Em seguida, foi realizada a análise de citocinas Th1, o IFN-γ e TNF-α, quanto à possibilidade destas estarem modulando a expressão de PD- L1 em células epiteliais gástricas primárias e em linhagens de células de adenocarcinoma gástrico, e notou-se que a expressão de RNAm de PD-L1 foi diretamente proporcional às concentrações de IFN-γ e TNF-α em am os os tipos celulares. Como foi demonstrada que a expressão de PD-L1 por células tumorais é capaz de induzir a apoptose nos linfócitos T, foi avaliado se a apoptose dos linfócitos T pode ser regulado por PD-L1 expressa em células epiteliais gástricas. Ao final foi demonstrado que a expressão de PD-L1 na superficie de células epiteliais gástricas medeia a apoptose de linfócitos T.

Em suma, o estudo realizado por Wu e colaboradores (2010) demonstrou que a infecção por H. pylori induz ao aumento da expressão de PD-L1 em um período de 24-48 horas após a infecção. A expressão de PD-L1 pode ser devido a presença de linfócitos T, principalmente linfócitos Th1, que secretam as citocinas IFN-γ e TNF-α, as quais foram diretamente relacionadas com a modulação da expressão desta proteína do ponto de controle do sistema imune.

Em outro estudo, desenvolvido por Beswick e colaboradores (2007), foram utilizadas células epiteliais gástricas incubadas com Linfócitos T naive, as quais foram posteriormente infectadas por H.pylori. Após a infecção foi observado um aumento da expressão de PD-L1, acompanhada pelo aumento da frequência do fenótipo T regulador nos linfócitos T naive. Devido a essa observação, em seguida, foi investigada a correlação entre a frequência do fenótipo T regulador e a expressão de PD-L1, através do bloqueio desta proteína por anticorpos monoclonais ou pequeno RNA de interferência. Esse bloqueio de PD-L1 foi acompanhado pela redução da frequência do fenótipo T regulador, o que levou a concluírem que a expressão de PD-L1 regulada positivamente em infecção por H. Pylori atua regulando negativamente a ação efetora de linfócitos T, através da indução de um fenótipo T regulador.

Os dados de estudo realizado por Beswick e colaboradores (2007) e Wu e colaboradores (2010), corroboram com estudos prévios de Barrera e colaboradores (2001), Suarez e colaboradores e Das e colaboradores (2006), nos quais foi demonstrado que a H.

pylori pode utilizar inibir a proliferação de linfócitos T, induzir linfócitos Treg e o aumento da

expressão de PD-L1. Estes estudos prévios indicam que talvez esses efeitos na resposta imune, durante a infecção a H. Pylori possa ser devido a utilização das células epiteliais gástricas pela bactéria, as quais podem funcionar como APCs locais, já que expressam o MHC de classe II. Além disso, expressam citocinas e receptores que influenciam as respostas de linfócitos T.

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