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Vicissitudes do contrato de empreitada 6.1 Alterações ao plano convencionado.

Capítulo 2 O CONTRATO DE EMPREITADA.

6- Vicissitudes do contrato de empreitada 6.1 Alterações ao plano convencionado.

O artigo 1208º do Código Civil estabelece que a obra deve ser executada “em conformidade com o que foi convencionado”. No entanto, admite-se que possam surgir imprevistos que impliquem alterações à obra, ou que o dono da obra, no decorrer da mesma, resolva executar modificações ao plano inicialmente acordado pelas partes. Consideram-se alterações as transformações que não modificam a natureza e que não têm autonomia em relação à obra convencionada.

Estas alterações podem, assim, ter diferentes causas: ou surgem por iniciativa do empreiteiro, ou se configuram como necessárias, ou são exigidas pelo dono da obra. O Código Civil trata destas questões nos artigos 1214º, 1215º e 1216º, respectivamente

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“ Em sentido diferente, PEREIRA DE ALMEIDA, op.cit,, pp. 34-35, refere que, na falta de estipulação de prazo, a obrigação de entrega vence-se no momento da aceitação da obra. Essa solução implicaria, no entanto, que o risco se transferisse para o empreiteiro com a não entrega após a aceitação (cfr. art. 807.º, n.º 2), o que é incompatível com o art. 1228.º. Pelo contrário, ROMANO MARTINEZ, Obrigações, p.385. sustenta a aplicação do art. 777.º, n.º 2, á obrigação de entrega, o que não nos parece correcto, pois apenas a realização da obra é uma obrigação de prazo natural, não acontecendo o mesmo com a sua entrega, disponível em “Direito das obrigações

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6.2- Alterações da iniciativa do empreiteiro.

O artigo 1214º, n.º1 Código Civil diz que “o empreiteiro não pode, sem autorização do dono da obra, fazer alterações ao plano convencionado”, ou seja, contempla as alterações proibidas e não autorizadas pelo empreiteiro. Já o n.º 2 do mesmo artigo considera que caso o empreiteiro viole esta proibição, a lei considera a obra defeituosa, mesmo que efectivamente não seja.

Conclui-se que o empreiteiro deve realizar a obra em estreita concordância e aproximação ao que foi acordado entre este e o dono da obra.

A razão de ser desta norma é a de proteger o dono da obra de uma possível actuação abusiva do empreiteiro propenso a elevar o custo da obra. Evita-se que o empreiteiro coloque o dono da obra perante o facto consumado e se aproveite da inexperiência deste último.

O regime aplicável será diferente consoante o dono da obra autorize ou não as alterações da iniciativa do empreiteiro.

6.3 - Alterações necessárias.

O regime das alterações necessárias encontra-se previsto no artigo 1215.º do Código Civil e engloba os casos em que a execução da obra impõe, em consequência de direitos de terceiro ou de regras técnicas, que sejam realizadas alterações ao plano convencionado. «Não se abrange aqui o facto de se ter tornado mais onerosa ou difícil a execução da obra, caso em que o empreiteiro apenas poderá suscitar a questão das circunstâncias (arts. 437.º e ss.).28»

Perante uma situação de alterações necessárias as partes devem estabelecer por acordo quais são as alterações a efectuar e em que termos ocorrerão.

6.4 - Alterações exigidos pelo dono da obra.

Nos termos do n.º 1 do artigo 1216.º do Código Civil existe a possibilidade do dono da obra “exigir que sejam feitas alterações ao plano convencionado, desde que o seu valor não exceda a quinta parte do preço estipulado e não haja modificações da natureza da obra”.

Esta disposição constitui uma excepção ao artigo 406.º, n.º1 CC, uma vez que permite a modificação de um contrato através de uma manifestação unilateral de vontade.

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Cfr. MENEZES LEITÃO, Luís Manuel Teles de. “Direito das obrigações – contratos em especial”. Volume III, 6.ª ed., Almedina, 2009, p.537.

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6.5 – Alterações posteriores à entrega e obras novas.

O artigo 1217.º do Código Civil engloba as situações em que os trabalhos vão para além da relação de empreitada estabelecida entre as partes, ou porque essa relação extinguiu- se definitivamente com a entrega da obra ou porque a obra efectuada não tem correspondência com o conteúdo do contrato em vigor entre as partes, ou seja, obras novas. «Tratando-se de obras novas está-se perante um novo contrato sujeito ao regime geral respectivo29».

Assim, segundo o n.º1 do artigo já mencionado constituem obras novas ou trabalhos extracontratuais aqueles que, tendo embora alguma relação com a obra originária, todavia não só são necessárias para a realizar, como não podem considerar-se parte dela.

Constituem alterações à obra inicialmente contratada as simples modificações das modalidades da obra, como por exemplo, o tipo da obra, qualidade ou origem dos materiais utilizados.

7 - Extinção do contrato de empreitada.

7.1 - A impossibilidade de cumprimento e o risco pela perda ou deterioração da obra.

Nos termos do Código Civil, nomeadamente no artigo790.º concluímos que uma das causas genéricas de extinção das obrigações é a impossibilidade superveniente da prestação. Esta causa também se aplica ao contrato de empreitada.

Assim, segundo o artigo 1227.º do Código Civil, o contrato de empreitada “ Se a execução da obra se tornar impossível por causa não imputável a qualquer das partes, é aplicável o disposto no artigo 790.º; tendo porém havido começo de execução, o dono da obra é obrigado a indemnizar o empreiteiro do trabalho executado e das despesas realizadas.”

Já ao contrário da impossibilidade de cumprimento, no risco pela parte ou deterioração da obra continua a ser possível efectuar a realização da obra, mas esta, ou a parte da mesma já é realizada, vem a ser objecto de perda ou deterioração, havendo que determinar qual das partes deve suportar o correspondente prejuízo.

O artigo 1228.º do Código Civil estabelece que “se por causa não imputável a qualquer das partes, a coisa parecer ou se deteriorar, o risco corre por conta do proprietário.”

No entanto, o risco corre por conta do dono da obra se este estiver em mora quanto à verificação ou aceitação da coisa.

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7.2 – Desistência do dono da obra.

De acordo com o artigo 1229.º do Código Civil, “ o dono da obra pode desistir da empreitada a todo o tempo, ainda que tenha sido iniciada a sua execução, contanto que indemnize o empreiteiro dos seus gastos e trabalho e do proveito que poderia tirar da obra.

Segundo Menezes Leitão «trata-se de uma solução curiosa, uma vez que embora se admita a extinção do contrato por determinação apenas de uma das partes, em derrogação ao art. 406.º, não deixa de existir uma obrigação de indemnizar a outra parte pelo interesse contratual positivo30».

Conclui-se assim, o dono da obra tem o direito de, em qualquer momento, desistir da empreitada, desde que indemnize o empreiteiro.

7.3 – Morte ou incapacidade do empreiteiro.

Conforme o estipulado no artigo 1230.º, n.º 1 do Código Civil conclui-se que se o contrato foi feito tendo em conta as qualidades de certa pessoa, pode ser rescindido por morte dela. Assim tem-se em vista, não um resultado qualquer, mas o resultado concreto que a actividade do empreiteiro pode proporcionar.

Refere o n.º 2 que “ extinto o contrato por morte ou incapacidade do empreiteiro, considera-se a execução da obra como impossível por causa não imputável a qualquer das partes”.

Capítulo 3- ALTERAÇÃO DO CONTRATO/ A QUESTÃO DOS TRABALHOS A