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A vida em grupo e o desenvolvimento da consciência social é algo que contribuiu para que o ser humano alcance um grau de controle sem precedentes sobre o ambiente em que está inserido. A complexidade das relações entre indivíduos de uma sociedade vem sendo cada vez mais estudada. Para Morin (1997), tudo se liga a tudo em uma rede relacional e interdependente. Nada está isolado, ao mesmo tempo o indivíduo é autônomo e dependente e, como consideraram Elias e Scotson (2000), a rede de interdependência entre os indivíduos é o que os mantêm juntos nesta rede relacional mundial.

Para caracterizar a complexidade da vida em grupo Macuch (2010, p.35) discute que em “situações de grupo, à medida que as atividades e as interações prosseguem, os sentimentos despertados podem ser diferentes dos esperados inicialmente e então, inevitavelmente, os sentimentos influenciarão as interações e as próprias atividades”. Este fator subjetivo que incide sobre uma dada atividade é que faz com que a interação colaborativa entre indivíduos ocorra ou não, pois sentimentos de atração provocarão aumento de interação e colaboração, repercutindo favoravelmente nas atividades.

Sentimentos de rejeição tenderão a provocar a diminuição das interações e afastamento, diminuindo o nível de comunicação, repercutindo desfavoravelmente nas atividades que dependem diretamente das relações interpessoais entre cada membro do grupo. Segundo Moscovici (1985, p.27), “a competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com as relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às exigências da situação”.

Todos os sujeitos de um grupo desenvolvem-se na trama relacional subjacente que os envolve. Para Piaget (1936, p. 8), o indivíduo primeiramente está “encerrado no egocentrismo inconsciente que caracteriza sua perspectiva inicial não se descobre a si próprio senão na medida em que aprende a conhecer os outros”. Para Macuch (2010, p. 35), é desse tipo de relação que cada indivíduo vai construindo sua identidade. “O grupo permite um jogo de identificações e a partilha

de experiências essenciais para o desenvolvimento da personalidade”, sendo que para Vygotsky (1978), o desenvolvimento pode ser descrito como o processo pelo qual a criança cresce intelectualmente por meio da interação com seus pares. Já Stahl (2005, p. 7) apresenta a concepção social de desenvolvimento, que relaciona o termo com a negociação de curta duração dentro de um ambiente comum durante uma dada interação.

O método de trabalho em grupo teve início no final do século XIX e acentuou- se depois de 1918. Segundo Piaget (1936), foi após esse período que, nos diferentes países e de forma variada, nasceram duas preocupações gerais: a importância do desenvolvimento da vida social em classes e a preocupação em se moldar métodos da pedagogia por dados gerados pela psicologia infantil. Essas duas vertentes induziram naturalmente as pessoas do meio acadêmico a entenderem a necessidade do trabalho em grupo, pois ainda segundo Piaget (1936), a criança, quando atingisse certo grau de desenvolvimento, sentiria naturalmente a necessidade de experimentar a vida coletiva e, consequentemente, desenvolver atividades em comum com seus pares e adultos.

Portanto, pode-se dizer que o despertar para o trabalho em grupo seria resultado de um conjunto de fatores sociológicos referentes ao adulto e psicológicos relativos às crianças. É a partir desse momento que se iniciou uma nova era com um pensar mais voltado para atividades coletivas, e este “produzir coletivamente” passou a ser algo considerado como habilidade básica e necessária para qualquer indivíduo sobreviver em sociedade (PIAGET, 1936).

A primeira pesquisa sociométrica longitudinal foi conduzida por Moreno (1934) entre os anos de 1932 e 1938 na New York State Training for Girls em Hudson, nos Estados Unidos. Este evento levou Jacob Levy Moreno a escrever um dos clássicos da psicologia moderna, o livro Quem sobreviverá? (1934) Nele, Moreno (1934) apresenta achados de pesquisa relativos à ciência da medição de grupos e de reagrupamento da comunidade. Como nos informa Marineau (1992, p.23), foi neste livro que Moreno expôs os conceitos básicos da Sociometria cujo alvo é “o estudo matemático das probabilidades psicológicas de uma população através da análise quantitativa e qualitativa”. Este novo campo de estudo criado com base nos estudos de Moreno, no final dos anos 1930, é baseado em diagramas sociométricos (figura 10) que ilustram as interações entre as pessoas mostrando zonas de afinidades e repulsa entre os indivíduos de um grupo.

Figura 10 – Exemplo de diagrama sociométrico Fonte: Autoria própria

Para Northway e Weld (1976), os testes sociométricos consistem basicamente em pedir que cada membro de um grupo indique as pessoas com as quais gostaria de se associar em diversas situações. Depois que cada integrante do grupo responder às perguntas6, estas são catalogadas para que delas se possam extrair informações sobre certo grupo, como: os maiores amigos de cada criança, dados sobre a estrutura do grupo como um todo, e, principalmente, o teste identifica a posição social de um dado indivíduo dentro do grupo.

Dentro de um teste sociométrico e a partir da análise do status de cada indivíduo, Coie, Dodge e Coppotelli (1982) utilizaram cinco palavras para categorizar cada sujeito do grupo: popular, rejeitado, isolado, controverso e mediano. Com base nas categorias de Coie, Dodge e Coppotelli, Macuch (2010, p.106-109) propôs as categorias explicitadas no quadro 3.

Perfil do indivíduo Descrição

Negligenciado ou marginalizado

Um indivíduo negligenciado (sem mutualidade), embora ninguém o escolha ou rejeite, emite suas eleições. Ele é esquecido ou abandonado pelos demais, sujeito à indiferença dos outros, embora realize escolhas ou recusas. Possui uma ausência de visibilidade perante os demais. Normalmente tem dificuldades de encontrar estratégias para entrar nos grupos, o que aparentemente parece ser uma falta de envolvimento social. É normalmente um indivíduo que tende a exibir problemas de comportamento, tais como medo, ansiedade e isolamento e a ser ignorado pelo grupo, embora não desperte necessariamente antipatia (COLIE; DODGE; KUPERSMIDT, 1990

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Existe um modelo padrão de perguntas que devem ser utilizados nas análises sociométricas (NORTHWAY; WELD, 1999). Dentro deste modelo, para cada critério escolhido deve haver uma pergunta que representa uma situação de cunho social, como “Com quem você gosta mais de brincar na hora do recreio?”.

Perfil do indivíduo Descrição

apud MACUCH 2010, p. 106).

Rejeitado É o indivíduo que recebe um número de recusas maior que o número de escolhas. Bastin (1980, p.165 apud MACUCH 2010, p. 107) diz que o comportamento do rejeitado normalmente é mais agressivo, uma reação à frustração, pois ele considera ameaçadoras as relações interpessoais e defende-se de forma que resulta em barreiras a comunicação entre ele e outrem. O rejeitado tem tendência para restringir suas interações e ser menos colaborador e perturbador. Normalmente são descritos como socialmente inadequados, desatentos, imaturos (CARLSON, 1994 apud MACUCH 2010, p. 107) e apresentam menor capacidade de perceber o comportamento dos outros, fazendo interpretações errôneas.

Isolado Um indivíduo isolado está próximo do indivíduo negligenciado, com a diferença que ele não emite escolhas ou recusas. Há uma total indiferença, por parte dele e do grupo em relação a ele, como se ele não existisse no grupo.

Eminência parda Eminência parda é o indivíduo quase isolado, que embora tenha popularidade baixa, tem influência sobre o líder, posto que ele e o líder se escolhem mutuamente.

Polêmico ou controverso O indivíduo que apresenta muitas escolhas e muitas recusas e que desperta em simultâneo no grupo sentimentos opostos. Normalmente se apresenta como antilíder. Sua influência e prestígio social são muito elevados dentro do grupo. Tem um perfil que combina características de populares e rejeitados: ativos, pouco tímidos, são considerados divertidos, têm visibilidade, mas também são avassaladores e oscilantes, zangam-se com facilidade.

Médio ou mediano É o indivíduo que tem características sociométricas como bem posicionado no grupo, mas não o suficiente para ser popular. Possui índices moderados de escolhas e rejeições. São menos observadores dos outros que os populares.

Popular É o indivíduo que tem o maior número de escolhas recebidas, mesmo que não sejam recíprocas. Pode ser chamado de líder popular. Normalmente é descrito como cumpridor das normas, concentrado, assertivo, generoso e de confiança. Percebe melhor o comportamento geral do grupo. Tem um alto índice de aceitação no grupo.

Estrela sociométrica É o indivíduo que tem o maior número de mutualidades ou reciprocidades de escolhas e/ou recusas. Diferencia-se do líder popular pelo número de reciprocidades que estabelece com o grupo.

Quadro 3 – Perfis sociométricos descritos por Macuch (2010, p. 106-109) Fonte: Autoria própria

Os testes sociométricos são de grande utilidade para a compreensão de dinâmicas de grupo em diversos ambientes sociais. Porém, quando falamos em crianças, temos que considerar a seguinte afirmação explicitada por Northway e Weld (1999, p.65) “os testes sociométricos em si não nos dizem o que devemos

fazer às crianças” eles apenas nos dão informações, e não instruções. Portanto, fomos buscar outros subsídios nos estudos relacionados às habilidades sociais presentes em crianças.

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