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5 MARCO REFERENCIAL

5.3 VIGILÂNCIA SANITÁRIA

A vigilância sanitária7 é uma complexa área do Sistema Único de Saúde, e suas ações visam a proteção da saúde da população, pautadas nos princípios da Administração Pública e no Direito Sanitário, sendo função indelegável do Estado. Utiliza-se do poder de polícia administrativa8, fundamentado na supremacia do

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[...] um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo: I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde (BRASIL, 1990a, art. 6º, § 1º).

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Considera‑se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando

direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos” (BRASIL, 1966, art. 78).

interesse público sobre o particular. Desta forma, constitui também um instrumento da organização econômica da sociedade (já que impõe limites sobre o exercício dos direitos individuais), pois sua função protetora envolve não apenas os cidadãos como, também, o setor produtivo (COSTA, 2003).

Ao controlar riscos oriundos da produção, circulação e consumo de bens e serviços de interesse da saúde, a vigilância sanitária desempenha uma função mediadora das relações produção-consumo (onde interesses econômicos e sanitários se confrontam). Assim, pode-se entender que vigilância sanitária constitui-se em mais que uma ação de saúde; sendo, também, uma prestação de serviço público aos segmentos produtivos sujeitos à vigilância, os quais necessitam de permissões para atuar oferecendo bens e serviços de interesse da saúde, conforme elucida Costa (2008).

A vigilância sanitária como um órgão especializado do Estado de fiscalização9 e Controle, no âmbito do Sistema Único de Saúde, possui o poder de polícia administrativa para disciplinar e impor regras, limites e sanções aos seus administrados, para proteção e promoção da saúde da população. No entanto, cabe salientar a dupla natureza de sua ação - de saúde, bem como de prestação de serviço ao segmento produtivo. Cabe à VISA fiscalizar uma gama de objetos, produtos, serviços, procedimentos, tecnologias, processos, estabelecimentos que portam riscos à saúde individual e coletiva. Como também lhe cabe, por exemplo, definir limites de preço de medicamentos e fornecer registros de produtos.

Neste sentido, ressalta-se que, como ação de proteção à saúde, a vigilância sanitária atua nas relações produção-consumo com vistas à efetivação do direito à saúde. Em outras palavras, age sobre o mercado para defender o cidadão, não apenas o consumidor.

Outra característica relevante é que a ação de vigilância sanitária, frequentemente, vai além do território onde se realiza, tanto em termos de risco à saúde, como dos efeitos econômicos de sua regulação. O primeiro motivo, pelo fato dos riscos decorrentes da produção e circulação de produtos e da prestação de serviços, comumente ultrapassarem os limites geográficos dos municípios e; o

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Fiscalização: Um dos principais instrumentos de ação da vigilância sanitária, verifica o cumprimento das normas de proteção da saúde. Pode ser exercida por meio de vários instrumentos, dentre eles a inspeção sanitária (COSTA, 2009).

segundo, pelos efeitos econômicos poderem ter amplitude intermunicipal, estadual, interestadual e, inclusive, internacional (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA et al, 2005).

Diante do exposto, é notória a demanda de uma organização do trabalho no âmbito de vigilância sanitária para o controle dos riscos, de forma sistêmica, interdependente e intercomplementar entre os entes federados. O controle sanitário é de competência concorrente entre o setor saúde e outros setores da administração pública, como os da Agricultura e do Meio Ambiente; requisitando da VISA articulação intersetorial para o compartilhamento de competências institucionais com os demais órgãos para o controle dos riscos (COSTA, 2008; SOUZA; COSTA, 2009).

Na prática, todas as ações de VISA demandam ações de comunicação, sendo importante considerar os sentidos que circulam na sociedade sobre o risco e perigo de adoecer e morrer, relacionados ao consumo de bens, produtos e serviços, conforme elucida Rangel (2009). Entretanto, via de regra, a população e o setor produtivo tem acesso dificultado às informações significativas sobre seu estado de saúde, serviços e formas de prevenção possível (UFBA, 2007 apud RANGEL, 2009), ferindo-se, deste modo, seu direito constitucional de acesso à informação.

Quanto à comunicação externa, Rangel (2009) reflete, ainda, que talvez um dos principais desafios dos profissionais de VISA, diga respeito ao direito à informação e participação social no controle do SUS. O exercício de uma escuta sensível parece permitir que se considere a diversidade e se busque reduzir as assimetrias, ampliando o acesso à informação e a expressividade de distintos grupos sociais. Tal escuta, pode ser um grande diferencial na relação existente entre a vigilância sanitária e a população.

As competências legais e institucionais dos órgãos de Fiscalização e Controle levam suas ouvidorias a receber denúncias, reclamações, solicitações e sugestões relacionadas não só a gestão administrativa do próprio órgão, mas, sobretudo relacionadas a outros órgãos da administração pública, sujeitos ou não à sua jurisdição. Além de possuir competência para intervir no processo de apuração das irregularidades. Outra característica comum diz respeito à imagem e credibilidade de suas ouvidorias frente à sociedade, em função da sua habilidade de

escuta e de comunicação com o cidadão, e sobretudo da efetividade da ação fiscalizadora e do poder punitivo da respectiva instituição (MURICI, 2011, p. 237).

A Ouvidoria da ANVISA é a primeira experiência de ouvidoria de agência reguladora na área social. A Agência, como coordenadora do SNVS, possui atribuições que envolvem o apoio e assessoramento aos estados com vistas ao eficaz funcionamento deste sistema. Contudo, no que se refere à ouvidoria, não se identificou a existência de qualquer iniciativa ou documento para orientar as VISA estaduais na constituição das mesmas.

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