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O processo de cristalização da hegemonia norte-americana no Brasil que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, teve início no final do século XIX. O declínio da preeminência britânica se desenvolveu, principalmente, à medida que as exportações inglesas encontravam-se em desvantagem competitivas, especialmente com relação aos produtos norte-americanos e alemães. A queda da influência inglesa possibilitou um aumento gradativo da posição econômica norte-americana no Brasil. A condição dos EUA de maiores compradores do café brasileiro desde muito cedo reservava uma posição privilegiada aos norte-americanos, com um poder de barganha cada vez maior em relação ao Brasil. De fato, os imensos saldos comerciais favoráveis ao Brasil geravam desconforto nos Estados Unidos, o que culminou nas assinaturas dos acordos comerciais preferencias de 1890 e 1904. A participação dos EUA nas importações brasileiras aumentaram nesse período, contudo, a contribuição desses acordos preferenciais para tal fato não deve ser exagerada. Após a Primeira Guerra Mundial, os norte-americanos já haviam suplantado os britânicos como maiores fornecedores das importações brasileiras, entretanto, a importância inglesa ainda era alta, sendo que os produtos norte-americanos iam substituindos as mercadorias inglesas apenas gradualmente. Ademais, ao longo dos anos vinte, a Grã-Bretanha ainda possuía uma relativa importância com relação ao fornecimento de capitais no Brasil, pois, apesar do crescimento da relevância dos Estados Unidos nesse ponto, o mercado de Londres era ainda uma importante fonte alternativa de fundos para o Brasil, particulamente no caso do financiamento da valorização do café, uma vez que tais fundos não poderiam ser obtidos nos EUA. Dessa forma, a consolidação da hegemonia norte-americana no Brasil nos anos vinte não conseguia se desenvolver de uma forma mais acelerada.

Com relação ao comércio entre o Brasil e a Argentina, o que se observou ao longo do período estudado nesse trabalho foi um aumento da importância do intercâmbio para ambos os países. As relações comerciais entre esses dois países eram caracterizadas principalmente por trocas de produtos primários, sendo que, o intercâmbio comercial era relativamente mais importante para o Brasil do que para a Argentina, sobretudo no que concerne o papel desta como fornecedora de trigo para o Brasil. Uma outra característica do comércio entre o Brasil e a Argentina foi a tendência de aproximação entre os dois países em momentos de crise internacional, como exemplifica o crescimento desse comércio durante as duas guerras mundiais. De qualquer forma, após a Segunda Guerra Mundial, a Argentina já estava estabelecida como um novo parceiro comercial brasileiro.

Na década de trinta, a influência britânica no Brasil estava completamente decaída e, portanto, poderia se esperar que estivesse aberto o caminho para a cristalização da preeminência dos EUA no Brasil, no entanto, a posição econômica norte-americana começava a enfrentar um novo tipo de ameaça, representada pela expansão do comércio de compensação com a Alemanha. As contínuas pressões norte-americanas até 1938 para impedir a prosperação do comércio de compensação não surtiram efeito. Tal fato não deve ser excessivamente creditado as habilidades das autoridades brasileiras, mas deve-se principal- mente a opção política norte-americana em sacrificar seus interesses de curto prazo em nome das estratégias de longo prazo, e também ao papel importante que os EUA davam ao Brasil na sua política sul-americana. Dessa forma, seria somente com o advento da Segunda Guerra Mundial que a hegemonia dos EUA no Brasil se consolidaria. Com o término do comércio de compensação e o fechamento dos mercados alternativos para os produtos brasileiros, a influência política e econômica norte-americana no Brasil elevou-se consideravelmene. Após a Segunda Guerra Mundial, a política comercial brasileira seria definida no âmbito do GATT, com a universalização da cláusula da nação mais favorecida, iniciando um longo período de hegemonia norte-americana no Brasil.

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