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Neste estudo, procuramos compreender de que modo os formadores da formação continua de professores na área das TIC contribuem para o objetivo da integração curricular das mesmas. As informações recolhidas, junto dos formadores inquiridos, permitiram-nos proceder à sua caracterização pessoal e profissional, conhecer o trabalho que têm desenvolvido e caracterizar as suas perspetivas sobre alguns aspetos relacionados com a formação contínua, os fatores que influenciam a integração curricular das TIC e as competências que, em sua opinião, deve ter o formador.

No que se refere à caracterização profissional, pode observar-se a predominância de formadores oriundos do grupo 550 – Informática (41,9%), cuja formação de base lhes confere competência técnica, não significando isso que possuam uma formação específica para o exercício da função de formador de professores em TIC, nem as competências necessárias a uma adequada utilização das tecnologias em contexto educativo.

Neste sentido, parece-nos que os formadores terão as condições necessárias para contribuir para o desenvolvimento das competências dos professores na utilização das TIC, mas não podemos assegurar que estes contribuam, de facto, para a integração das tecnologias no currículo.

Destacamos ainda que dos formadores inquiridos, 77% tiveram a sua formação inicial nas áreas da Informática/Engenharias/Tecnologias (45,6%), ou na áreas da Ciências Exatas e da Natureza (21,3%), verificando-se um número muito reduzido de formadores que possam cobrir as necessidades de formação em TIC relacionadas com as áreas específicas de ensino dos professores em formação, nomeadamente na área das Línguas e Literaturas, nas Ciências Sociais, nas Expressões, assim como no 1º Ciclo e Pré-escolar.

A carência de formadores abrangendo os vários grupos disciplinares das áreas acima referidas é reforçada pelos resultados da formação realizada pelos inquiridos, no âmbito das didáticas específica, desenvolvida maioritariamente ao nível da Informática e da área das Ciências Exatas e da Natureza, o que coincide com as áreas/grupos de docência predominantes dos formadores.

Parece-nos, no entanto, que agrupar formadores e formandos da mesma área de ensino, na realização das ações de formação contínua, permitiria dar relevância à parte pedagógica e didática, centrando a formação na reflexão sobre a forma como os alunos podem aprender determinados conteúdos ou desenvolver competências específicas, através das tecnologias. Pois a integração curricular das TIC pressupõe, por parte dos professores, o “conhecimento

112 da integração entre os meios tecnológicos e didáticos” em que as tecnologias, “transparentes e invisíveis” são utilizadas como suporte para as atividades centradas nas aprendizagens dos alunos (Silva, 2003, p.76).

Por outro lado, existem indícios da pouca preparação dos formadores da formação contínua em TIC, revelada pela reduzida formação de formadores realizada pelos inquiridos. Parece- nos, pela formação que referem ter recebido e pela análise dos resultados de alguns dos itens do questionário, que aos formadores na área das TIC não lhes é facultada a formação contínua específica para a aquisição e o desenvolvimento de competências pedagógicas e sociais necessárias ao exercício da sua atividade, nomeadamente no que diz respeito à integração curricular das TIC.

Constatamos ainda que os formadores são pouco especializados nesta área de intervenção, pela análise da certificação dada aos formadores pelo CCPFC que, na sua esmagadora maioria, é obtida na área C, atribuída por via da sua formação inicial ou pela análise do currículo, sendo residual o número de formadores em TIC com acreditação na área B, que certifica que o formador tem especialização/pós-graduação em TIC na área das Ciências da Educação.

No entanto, são de relevar alguns aspetos positivos que se apresentam como favoráveis ao sucesso da formação contínua desenvolvida pelos formadores inquiridos. Estes aspetos consistem (i) numa visão ajustada que os formadores demonstram ter no que se refere aos fatores que influenciam a integração curricular das TIC, (ii) na valorização que manifestam relativamente às diferentes e diversificadas competências necessárias a uma intervenção competente do formador, (iii) na valorização das metodologias centradas no aluno e, finalmente, (iv) no empenho dos mesmos, num esforço pessoal, para responder aos desafios de uma área em constante desenvolvimento e evolução.

Relativamente ao contexto em que os formadores desenvolvem a sua atividade e da forma como eles vêem e avaliam a formação que desenvolvem, destacaríamos uma acentuada relevância atribuida aos obstáculos de natureza extrínseca que ainda são apontados como constrangimento à integração curricular das TIC, principalmente no que se refere ao acesso aos equipamentos em sala de aula, apesar de todo o esforço desenvolvido pela tutela a fim de apetrechar as escolas. Os formadores dão, também, um especial destaque à valorização das TIC por parte das direções executivas das escolas ou dos agrupamentos de escolas, dos quais depende a criação de algumas condições favoráveis ao desenvolvimento de atividades com TIC, pois nem sempre as estruturas de topo da escola estão alinhadas com o objetivo da

113 integração curricular das TIC, nem possuem uma visão estratégica sobre os modos de desenvolver as competências necessárias à integração das tecnologias no currículo.

Relativamente à formação que tem sido desenvolvida em Portugal, apesar de uma apreciação moderadamente positiva da mesma por parte dos formadores, os resultados revelam alguns pontos fracos. Existe, segundo os formadores inquiridos, um desfasamento entre as ações de formação desenvolvidas e as necessidades concretas das escolas e dos seus projetos educativos. Também a duração das ações de formação se revela insuficiente para o desenvolvimento de competências necessárias para uma efetiva integração curricular das TIC. Como pontos fortes, destacaríamos a tendência crescente em deslocar o enfoque predominantemente técnico da formação para uma maior relevância da componente didático- pedagógica, através de uma organização dos grupos de formação em função da área de ensino/área científica dos professores e um aumento ou generalização da modalidade de oficina de formação como modalidade preferencial, sendo a que melhor contempla uma articulação teórica-prática.

A integração curricular das TIC envolve diversas competências tecnológicas e técnicas, metodológicas e atitudinais que se interligam numa teia complexa de relações. Só com uma atitude positiva face à utilização das tecnologias em sala de aula, com o desenvolvimento de competências que permitam aos docentes usar adequadamente as ferramentas disponíveis ao serviço das aprendizagens, de uma reflexão sistemática sobre as práticas de utilização das tecnologias e o seu impacto nas aprendizagens dos alunos se poderá caminhar para uma efetiva integração curricular das TIC.

Sem a valorização das TIC, assente numa visão alargada de todos os intervenientes do sistema educativo sobre os benefícios das tecnologias educativas nas aprendizagens, e o envolvimento dos professores como intervenientes ativos da mudança, será difícil implementar estratégias eficazes para o desenvolvimento das competências necessárias da sociedade às exigências do século XXI. Neste sentido, parece-nos indispensável uma formação de professores capaz de mobilizar os docentes para este processo de mudança e inovação.

Sendo a integração curricular das TIC essencialmente uma questão de natureza pedagógica (Costa, 2004), é necessária uma formação de professores mais centrada nas aprendizagens do que na tecnologia. Deste modo, a formação contínua de professores na área das TIC deveria contemplar o aprofundamento dos conteúdos disciplinares, da didática e da pedagogia, assim como o desenvolvimento das práticas reflexiva e investigativa dos docentes conducente à alteração de metodologias e, consequentemente, ao uso das tecnologias que desloquem a utilização das mesmas como apoio ao professor no processo de transmissão de informação e

114 saber para uma utilização centrada no aluno. Importa, pois, que as tecnologias representem recursos de comunicação e de informação capazes de potenciar aprendizagens significativas e mobilizar os alunos para o desenvolvimento de competências que lhes permitam aprender ao longo da vida. (Costa, 2004; Almeida e Valente, 2011).

Na formação dos professores, que se quer articulada com as práticas pedagógicas na sala de aula e em contexto de trabalho dos professores, será indispensável prestar uma particular atenção à preparação dos formadores da formação contínua de professores, elementos chave na estratégia de mudança, uma vez que o modo como estes desenvolvem o seu trabalho com os professores formandos é determinante no modo como os professores irão desenvolver o seu trabalho com os seus alunos (isomorfismo).

Para além disso, dever-se-á ponderar os benefícios em organizar a formação contínua em TIC em função da área de ensino dos professores, de modo a criar comunidades de aprendizagem e de prática em formação permanente e contextualizada, como processo de desenvolvimento profissional de professores reflexivos, investigadores, inovadores, capazes de colaborar com os seus pares e partilhar as suas práticas.

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