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1 INTRODUÇÃO

3.1 Angicos na territorialização jurisdicional de Assú: arraial, freguesia e Vila do Assú

3.1.3 Vila

Vila era o núcleo básico de uma jurisdição territorial civil que guardava, em certa medida, autonomia política e civil. Era organizado estruturalmente com um governo local, representado pelo Senado da Câmara, com a Casa de Câmara e Cadeia51 e o Pelourinho. Geralmente, essa estrutura era localizada na praça central ou no seu entorno. Como bem afirma Chaves (2013, p.01) em relação às vilas:

A vila era a sede do termo e povoação principal. A designação vila era utilizada também como sinônimo de termo, abrangendo duas conotações. Ou seja, referindo-se à povoação principal e também ao seu termo, o território de jurisdição dos oficiais camarários. Cidade constituía em título honorífico concedido às vilas que exerciam funções importantes em âmbito religioso, político ou militar, correspondendo a uma graduação superior. A elevação de uma vila à categoria de cidade conferia-lhe apenas qualificação honorífica. Isso era diverso do que ocorria com uma povoação que era elevada ao foro de vila. Ela passava por transformações significativas, conformando-se como núcleo de poder local em âmbito administrativo e político. Era a partir da vila que o termo era administrado, nela instalando a estrutura administrativa, cuja principal instituição era a câmara. Isso favorecia seu desenvolvimento em vários aspectos, como o urbano e o econômico.

A justificativa alegada nos pedidos para elevação de povoações a foro de vilas fundamentava-se na distância entre as mesmas em relação à sede de seus termos e nas dificuldades advindas disso, como recurso à justiça civil e criminal. Nesse período, poderia se tratar de interesses dos dirigentes locais e de sua capacidade política de negociar junto às instituições gerais. O crescimento demográfico estava ligado à prosperidade econômica de determinado território, o que não raro demandava as petições de criação de novas vilas. Por outro lado, a divisão de território de uma vila em outras poderia dever-se à demanda de poder almejada por grupos dominantes, que desejavam a criação de novas unidades administrativas no lócus imediato de seu poder. Tais divisões não eram encaradas com tranquilidade pelos dirigentes das vilas que perdiam território; a diminuição de área de jurisdição e o retraimento da população se traduziam na redução de número de eleitores e de influência política.

51O Senado da Câmara colonial tinha atribuições de caráter executivo, legislativo e Judiciário. Instituído no

mesmo momento de criação da vila ou da cidade, o poder municipal tinha como sede a Casa de Câmara e Cadeia, edifício que deveria ser obrigatoriamente construído, segundo a legislação em vigor,num período que era estabelecido a partir da data da elevação ou da fundação da vila ou cidade. No império, esse período era de oito anos, mas era raramente obedecido. De qualquer forma, cabe destacar que a imposição de sua construção num período determinado demonstra a importância que tinha não somente o Senado em si, mas o edifício que o abrigava, a Casa de Câmara e Cadeia, verdadeira representação arquitetônica e urbanística do poder local. (TEIXEIRA, 2012).

Nesse sentido, constata-se que a territorialização civil, militar e religiosa da Capitania do Rio Grande está ligada às demandas não só geográficas, mas também políticas. Assim são as ribeiras que fixam limites entre os espaços, ribeiras essas que também eram lugares onde ocorria a sobrevivência, tanto no litoral quanto nos sertões áridos, e que serviriam como fronteiras entre as populações sertanejas. Seguem mais tarde, limites que motivam outras competências: as freguesias, áreas do acontecer espiritual, se misturavam com o território das vilas, que davam, por sua vez, um caráter mais civil decorrente da ordem política (MACEDO, 2005).

As vilas eram criadas para se tornarem o centro da vida política e social, pois elas detinham o poder administrativo onde era criado um lugar para reuniões políticas dos moradores dos povoados e fazendas nos dias de missas e festas, principalmente as religiosas (MONTEIRO, 2000). Em relação a esse fato, Macedo (2005, p. 60) relata que:

As vilas como instancia de poder, e posteriormente os municípios, serão o espaço de onde partem as deliberações do poder local. Reunidos no Senado da Câmara, os homens bons regulamentavam a vida econômica, social e política da população rural e urbana. Para tanto, lançavam mão de certos dispositivos legais –como as posturas- para estabelecer medidas em proveito de suas demandas. O exercício do poder recebia por parte destes instrumentos públicos, fóruns de legalidade, legitimando os interesses da camada proprietária, basicamente formada de pecuaristas.

A origem das vilas durante o período colonial tinha como principal objetivo atender a demandas do povoamento colonial, ordenamento espiritual e o crescimento da economia das localidades, em comum acordo, e incentivo e interesse do governo português nas instituições do poder civil, como forma de domínio e de apaziguamento dos interesses das lideranças políticas da região. Já no período imperial, a criação das vilas deu origem a um debate sobre a delimitação e a divisão territorial nas províncias. Outra preocupação em relação aos processos de criação das Vilas no período colonial foi como estabelecer os termos, ou seja, a área de sua jurisdição, embora não fosse possível estabelecer critérios exatos para demarcar limites, pois geralmente eles coincidiam com as freguesias já existentes ou de seus distritos. (CHAVES, 2013)

A influência do poder político e econômico gerado pela pecuária, em algumas vilas, principalmente no sertão da Capitania do Rio Grande, contribuiu bastante para o surgimento de outras vilas, tendo origens em povoados próximos ou mesmo distantes daqueles das sedes dos termos, ou nos locais de encontros de viajantes e vaqueiros. Conforme Cláudia Damasceno,

Os pioneiros que se instalavam nos sertões das capitanias muitas vezes viam- se demasiadamente afastados, distantes de suas matrizes. Assim erigiam pequenas ermidas, as quais, em princípio, serviam aos ritos religiosos cotidianos de suas famílias, de seus escravos e agregados, como também à celebração (mais esporádica) dos sacramentos por um capelão de passagem. Pouco a pouco, novos fazendeiros instalavam-se nas proximidades e o número de fiéis aumentava: os habitantes então requeriam à autoridade episcopal a construção de uma capela pública, servida permanentemente de um coadjuntor. (FONSECA, 2011, p, 111).

Segundo a autora citada, essas capelas não poderiam estar localizadas em propriedade privada. Era necessário que se constituísse seu patrimônio, ou seja, uma propriedade fundiária própria ao templo. Para que isso acontecesse, era preciso que um ou vários fazendeiros cedessem uma porção de terreno que, além de abrigar o edifício, destinava-se a gerar receitas para sua manutenção. Estes doadores de terras passavam a ter direito a diversas honrarias: lugares reservados durante as cerimônias, missas e preces especiais, etc. Cada ermida possuía um ou vários “fabriqueiros,” que eram pessoas encarregadas de administrar seus bens e finanças, e que, algumas vezes, organizavam-se em irmandades, cuja invocação podia, ou não, coincidir com o santo patrono da capela (FONSECA, 2011, p. 111).