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A VILEGIATURA COMO UMA FORMA DE ABORDAGEM SOBRE AS NOVAS TENDÊNCIAS DA URBANIZAÇÃO NO BRASIL

Ao longo dos anos, o litoral brasileiro se estabeleceu como espaço bastante dinâmico e valorizado, de uso e significados diversos. Lugar extremamente importante para toda a sociedade, entre outros aspectos, pela própria localização das suas grandes cidades e principais metrópoles na (ou próximo à) costa.

No presente período histórico, o complexo processo de urbanização, em especial brasileira, tem ocorrido impulsionada por diferentes e variados vetores. É provável, por exemplo, reconhecer várias áreas nas 5uais a urbanização se deve diretamente à realização da vilegiatura marítima, assim como do turismo litorâneo, isto é, em muitas áreas do amplo litoral brasileiro formam-se cidades cuja função principal se vincula diretamente às demandas das dinâmicas associadas à vilegiatura ou dos setores relacionados ao turismo. Da nossa ótica, uma das vias de reconhecimento da sociedade e do território brasileiros atuais é o estudo da vilegiatura marítima em curso nas últimas décadas como uma forma de abordagem sobre as novas tendências da urbanização no Brasil.

Para apreendermos a dinâmica inerente aos espaços litorâneos brasileiros na atualidade, julgamos relevante pensar o processo de povoamento e ocupação de tais áreas, embora de maneira mais genérica, buscando também reconhecer, obviamente, suas particularidades. Embora não tenhamos apresentado detalhadamente as principais características geoambientais de partes deste vasto litoral, reconhecemos a relevante relação entre tais características físicas e a realização da vilegiatura marítima, sem, obviamente, sermos deterministas 5uanto ao 5ue esta relação possa apresentar.

É fato, portanto, 5ue a diversidade citada contribuiu direta e/ou indiretamente para o atual desenho e organização do espaço litorâneo brasileiro, portanto, na se5uência, recontaremos um pouco de história, com a finalidade de compreendermos como se deu (se dá) esta apropriação. A ideia é retratar e apreender como o fenômeno das práticas marítimas modernas materializou-se no litoral brasileiro e, no Nordeste, em especial.

Por termos como objeto de estudo a cidade de Tibau, no Rio Grande do Norte, as especificidades deste Estado nos obrigaram a uma leitura mais cuidadosa a respeito da representatividade do litoral para o referido Estado, pois se o litoral na maioria dos lugares é o espaço de consumo e escoamento, no caso citado, seu litoral também é espaço de produção, por conta da intensa produção salineira tão decisiva para a economia, como observamos anteriormente e, portanto, para a história deste lugar.

1.1 A vilegiatura e a urbanização no Brasil

O acelerado processo de urbanização e o aumento numérico e territorial das cidades estão entre os mais poderosos impactos do processo de globalização econômica. No Brasil, sob o amparo da revolução tecnológica, há um intenso processo de urbanização, transformando seu espaço geográfico, cujas organização, dinâmica e paisagem opõem-se às existentes antes do atual sistema temporal, as 5uais, seguindo a denominação de Santos (1985, 1988, 1996), classificamos de período técnico-científico-informacional.

Acompanhada da expansão do meio técnico-científico-informacional, a aceleração da urbanização e o crescimento numérico e territorial das cidades são, em termos espaciais, os mais fortes/evidentes impactos da globalização econômica e ocorrem de forma generalizada em todo o mundo. A globalização, condição e materialização do período técnico-científico-informacional, impôs nova dinâmica ao processo brasileiro de urbanização, pois as cidades e a rede urbana foram redefinidas mediante ordens elaboradas em diversas escalas a partir da ação de agentes econômicos, políticos, culturais e sociais.

Apesar da cidade como forma construída ser secular, um crescimento urbano e uma urbanização acelerados, como os conhecemos na atualidade, é algo muito recente. Se no início do século XX, a urbanização apresentava-se de forma pouco expressiva nos atuais países subdesenvolvidos, a década de 1950 é um marco do processo mundial de urbanização. A partir dessa data, o ritmo da urbanização e o crescimento urbano se aceleram de maneira geral em todo o planeta e particularmente no Terceiro Mundo, e, assim, sob a égide da revolução científico- técnica, a aceleração da urbanização reflete a prerrogativa da cidade e do urbano como lócus da produção (e do comércio) mundializados.

É bastante complexo o processo de urbanização. No atual período histórico, ele se relaciona à causas diversas, como legado histórico, cultural e também à sensibilidade aos reclamos da modernização econômica, política e territorial, mostrando serem várias as respostas nos diferentes continentes e mesmo dentro de cada país. Se estamos falando de um país como o Brasil, de dimensões continentais e com uma costa com mais de 8.500 km18, 5ue no dizer de Milton Santos (2011, p.

226) “é uma de suas características mais marcantes”, temos um fenômeno ainda mais complexo, pois ora dá-se a partir do litoral, ora dá-se a partir do seu interior, modificando-se posteriormente em consonância com diversos fatores, favorecendo tal abrangência e complexidade. Dessa maneira, verificam-se na atualidade novas tendências da urbanização fazendo-nos refletir a respeito dos novos vetores 5ue a dimensionam no Brasil.

Identificamos, claramente, áreas onde a urbanização se deve diretamente à realização da vilegiatura marítima, ou seja, em diversas áreas do vasto litoral do país formam-se cidades cuja função principal se associa às demandas das dinâmicas associadas à vilegiatura. Assim, a urbanização brasileira contemporânea torna-se um fenômeno bem complexo e diferenciado diante da diversidade de variáveis 5ue nela passam a interferir.

Como importante vetor do processo de urbanização, a vilegiatura marítima merece desta5ue nesta atual análise, pois devido a fatores históricos associados à ocupação do território brasileiro e seguindo a tendência mundial da população em ocupar predominantemente áreas próximas ao litoral, o Brasil possui 26,6% da sua população em municípios da zona costeira, o e5uivalente a 50,7 milhões de habitantes. Parte significativa dessa população está ocupada em atividades ligadas direta ou indiretamente à produção de petróleo e gás natural, à pesca e aos serviços 5ue atendem à dinâmica econômica gerada por esses municípios e outros próximos, assim como ao turismo ou à vilegiatura marítima (IBGE , 2011).

No mapa a seguir, apresentam-se as áreas urbanizadas dos municípios costeiros, 5ue concentram parcela significativa da população brasileira. Tal

18 “A zona costeira brasileira, 5ue compreende uma faixa de 8.698 km de extensão e largura variável,

contempla um conjunto de ecossistemas contíguos sobre uma área de aproximadamente 388 mil km². Abrange uma parte terrestre, com um conjunto de municípios selecionados segundo critérios específicos, e uma área marinha, 5ue corresponde ao mar territorial brasileiro, com largura de 12 milhas náuticas a partir da linha de costa” (GERCO - Texto retirado integralmente do site do Ministério do Meio Ambiente, acessado em novembro de 2011 – HTTP: //WWW.mma.gov.br/port/SMA/gerco/gerco.html).

característica remonta historicamente ao tipo de colonização 5ue originou núcleos urbanos e assentamentos litorâneos 5ue logo alcançaram status de cidades e tinham função de servir de entreposto e mercados de distribuição. Evidenciavam, pois, o importante papel da navegação comercial na inserção dos circuitos de produção e consumo brasileiros na economia-mundo, o 5ual, conse5uentemente, permitiu a desigual distribuição demográfica privilegiando áreas litorâneas, além da centralidade econômica por esta representada.

Para construir o mencionado mapa, nos utilizamos da classificação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiros (PNGC)19, 5ue demarca os municípios da

zona costeira. Também consideramos as áreas urbanizadas 5ue correspondem às manchas urbanas dos municípios da zona costeira e as cidades ou conjunto de cidades, costeiras ou não, com mais de 350 mil habitantes, segundo metodologia adotada pelo IBGE (IBGE, 2011).

19 Os critérios seriam: “a) os municípios defrontantes com o mar, assim considerados em listagem

desta classe, estabelecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); b) os municípios não defrontantes com o mar 5ue se localizem nas regiões metropolitanas litorâneas; c) os municípios contíguos às grandes cidades e às capitais estaduais litorâneas, 5ue apresentem processo de conurbação; d) os municípios próximos ao litoral, até 50 km da linha de costa, 5ue alo5uem, em seu território, atividades ou infra-estruturas de grande impacto ambiental sobre a Zona Costeira, ou ecossistemas costeiros de alta relevância; e) os municípios estuarinos-lagunares, mesmo 5ue não diretamente defrontantes com o mar, dada a relevância destes ambientes para a dinâmica marítimo-litorânea; e f) os municípios 5ue, mesmo não defrontantes com o mar, tenham todos seus limites estabelecidos com os municípios referidos nas alíneas anteriores” (Disponível em: http://www.idema.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/idema/legislacao_ambiental/ar5uivos/pngcII.pdf,

Rio de Janeiro São Gonçalo Duque de Caxias Salvador Aracajú Maceió Jaboatão do Guararapes Recife João Pessoa Natal Fortaleza São Luís Suriname Uruguai Argentina Paraguai PA MT BA MG PI MS GO MA TO RS SP PR CE AP PE SC AM PB RN ES RJ AL SE DF 30°0'0"W 35°0'0"W 40°0'0"W 45°0'0"W 50°0'0"W 55°0'0"W 60°0'0"W 0 °0 '0 " 0 °0 '0 " 5 °0 '0 "S 5 °0 '0 "S 1 0 °0 '0 "S 1 0 °0 '0 "S 1 5 °0 '0 "S 1 5 °0 '0 "S 2 0 °0 '0 "S 2 0 °0 '0 "S 2 5 °0 '0 "S 2 5 °0 '0 "S 3 0 °0 '0 "S 3 0 °0 '0 "S

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Ocea no Atlântico Oc ea no Atl ân tico Oce an o A tlân tico Legenda Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Países Limítrofes População 0 - 10.000 10.001 - 50.000 50.001 - 100.000 100.001 - 200.000 200.000 - 500.000 500.000 - 1.000.000 > 1.000.001 Regiões 0 100 200 400 600 800 KM

Universidade Federal do Ceará Programa de Pós-graduação em Geografia

Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Tese: Vilegiatura além da metrópole: Urbanização em Tibau (RN)

Autora: Iara Rafaela Gomes Orientador: Dr. Eustógio W. C. Dantas

Sistema de Projeção Policônico Datum: SIRGAS 2000 Fontes: IBGE 2010; 2011.

MAPA 1 - População dos Municípios

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