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Vinculação, autoconceito e autoestima

No documento Dissertação Mestrado Rita Louro (páginas 54-57)

Capítulo 3. Autoconceito e Autoestima

3.4. Vinculação, autoconceito e autoestima

De acordo com Bowlby (1990/1973) uma personalidade instável, pouco autoconfiante, angustiada e com vários receios tem como antecedentes a ausência da consistência nos cuidados prestados pelos principais cuidadores e uma elevada pressão para que adotem determinados comportamentos. Por outro lado, os pais de crianças autoconfiantes, promovem a sua autonomia e crescimento.

São vários os estudos que demonstram a relevância da vinculação no autoconceito e na autoestima, desde a idade pré-escolar à adulticia emergente.

Um dos exemplos desses estudos, com crianças em idade pré-escolar (4 – 5 anos) foi realizado por Goodvin, Meyer, Thompson & Hayes (2008). Preferindo um estudo longitudinal, os autores procuraram encontrar uma relação entre o autoconceito, a estabilidade do mesmo e as relações de vinculação. Os dados recolhidos através do Q-Sort

__________________________________________________________________________________________ Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 54 (questionário de avaliação da vinculação) e o CSVQ (questionário de avaliação do autoconceito para crianças) permitiram concluir que existe uma relação entre o autoconceito e as relações de vinculação. Uma vinculação segura contribui para um autoconceito positivo e mais consistente ao longo do tempo.

Para Goodvin, Meyer, Thompson & Hayes (2008), o período pré-escolar é uma fase formativa para o desenvolvimento do autoconceito, em que os modelos internos se estão a formar. Nesta faixa etária, o apoio emocional inerente à relação de vinculação segura é fundamental para que a criança se percecione de uma forma mais positiva fazendo assim um maior investimento nessa autoperceção.

Cassidy (1988), escolheu uma metodologia diferente, e outra faixa etária.

A autora efetuou o seu estudo com crianças com idades entre os 5 e os 6 anos onde revelou que a vinculação segura ou insegura vai ter um papel determinante na autoperceção. Assim, as crianças com uma vinculação segura (apoiante e afetuosa) têm a capacidade de admitir as suas imperfeições. Enquanto as crianças evitantes que receiam a rejeição procuram dar respostas perfeitas, sentem que têm menor valor. Ainda no presente estudo de Cassidy (1988), as crianças inseguras/controladoras têm menor medo da rejeição. Na opinião da autora, a forma como as crianças respondem está relacionada com a qualidade da vinculação, existindo assim uma relação entre a autoestima e a relação com a mãe.

O estudo de Eastbrooks & Abeles (2000), utilizando outros instrumentos dos escolhidos por Jude Cassidy, retiraram conclusões semelhantes. Escolheram vários métodos, como as entrevistas, escalas e testes. Através da análise dos dados recolhidos concluíram que no caso das crianças de 8 anos existe uma associação entre a vinculação e as descrições que as crianças fazem de si próprias. Desta forma, as crianças com relações mais seguras, têm maior facilidade em falarem de si e apresentam mais estratégias de adaptação ao contexto escolar e menos problemas de comportamento. São crianças mais felizes e com melhor autoestima.

Estudos portugueses, no âmbito das relações entre pais e a sua influência no autoconceito e autoestima, retiraram conclusões muito idênticos.

Em idade pré-escolar, um dos estudos realizados recentemente, em Portugal, onde se associa a vinculação ao autoconceito, foi desenvolvido por Maia, Ferreira, Veríssimo, Santos & Shin (2008). No presente estudo é utilizada a escala de Susan Harter para avaliação do autoconceito, devidamente adaptada, e o Attachment Story Completation para avaliação da relação de vinculação. Os autores encontraram uma associação entre a

__________________________________________________________________________________________ Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Escola de Psicologia e Ciências da Vida 55 relação da vinculação, a representação global da criança e a sua perceção de aceitação social (aceitação materna e aceitação do grupo de pares).

Uma faixa etária diferente foi escolhida por Francisco Peixoto (2004) para realizar o seu estudo (dos 11 aos 19 anos). O autor procurou avaliar a qualidade da relação familiar e o autoconceito. Os seus dados permitiram concluir que a perceção da qualidade do relacionamento familiar vai ter efeitos ao nível da competência da língua materna, comportamento, aceitação social, aparência física e atração romântica. Neste sentido, os adolescentes com uma melhor perceção da qualidade da relação, apresentam autoconceito e autoestima mais positivos, comparativamente com os alunos com perceção negativa da relação familiar.

A perceção da qualidade da relação familiar tem influência para além da adolescência, como comprova o estudo de Vaz Serra, Firmino & Matos (1982). Recorrendo a uma amostra de estudantes universitários, os autores verificaram que a perceção de um ambiente familiar positivo, incentivador, compreensivo, tolerante e colaborante contribui de forma determinante para um autoconceito positivo. Os autores destacam em especial a importância das relações com o pai e com a mãe, para a construção do autoconceito positivo e um comportamento adequado.

Se por vezes um clima familiar mais autoritário pode ter influência no autoconceito e na autoestima das crianças, muito maior impacto vão ter as situações traumatizantes a que muitas crianças vítimas de maus-tratos estão sujeitas.

Segundo Harter (1999), as situações de maus tratos implicam que a criança coloca em causa as funções do Self, aquilo que conhece de si, nomeadamente a capacidade de pensar sobre si (necessidades e estados), a consciência e controlo dos seus atos e a noção de continuum do seu Self.

São crianças que se sentem incompetentes, com baixa autoestima, inferiorizadas, que procuram a perfeição para corresponderem às expectativas dos pais maltratantes, de modo a evitarem as punições e a rejeição (Harter, 1999).

Sentem-se culpadas, merecedoras de violência por serem más, sentem vergonha face aos outros, são crianças que apresentam sinais de depressão, comportamentos autodestrutivos (automutilação) e perturbações alimentares (Harter, 1999).

O seu Self, é muito frágil; em alguns casos, o sofrimento é tão atroz que, como defesa, a criança funciona num falso self, adotando comportamentos apenas para obter a aceitação dos outros.

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No documento Dissertação Mestrado Rita Louro (páginas 54-57)

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