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5 CIDADE DESIGUAL E ESPAÇO DE VIOLÊNCIA

6.5 A violência doméstica no tecido da violência estrutural

6.5.2 A violência no bairro e na rua

Quando se perguntou a cada um dos integrantes do grupo “Como é seu bairro?” o objetivo da entrevistadora era de perceber que tipo de conexão estabeleceriam entre o ambiente comunitário e o desenvolvimento dos filhos. Todas as respostas obtidas apontaram para “o bairro” como um lugar que amedronta pela violência que gera e alimenta (tabela 17).

Tabela 17 – Identificação de aspectos da violência nos bairros segundo as famílias entrevistadas

Itens Justificativa Quantidade

1 Crescimento da onda de assalto, morte e brigas 17

2 Proliferação do número de traficantes e acesso facilitado as drogas 8 3 Aliciamento dos adolescentes para a marginalidade pelos adultos 5

4 Falta infra-estrutura (saneamento, educação) 5

5 Mães que se organizam para denunciar o aliciador 2

Total 37 Fonte: Autoria Própria.

Nota:O quantitativo das respostas foi maior do que o número de entrevistados porque algumas respostas foram distribuídas em vários itens.

Poucas foram as referências positivas, como as de Júlia que falou da “[...] boa convivência com os vizinhos [...]” da mesma forma que Rubi81: “[...] me juntei com outras

mães e reagimos, denunciamos e conseguimos prender o aliciador [...]”. Ou as de Laura que se sente privilegiada por morar no meio da família extensa que acaba se constituindo numa rede de solidariedade, ajudando-a na criação dos filhos “[...] num terreno grande com outras

pessoas da minha família, são várias casas”.

Cinco dos entrevistados falaram da saudade de um tempo passado em que não havia violência, como Lígia “quando cheguei, há nove anos, era bom, não tinha agressão

[...] [hoje] todo canto tem briga”. Para Pedro “[...] na década de 80 para mim, era o paraíso,

brincava, ia para o meio de uma mata que tinha lá, pescava de noite”. Sílvia relatou que “[...] já foi bom, mas hoje em dia, tá uma calamidade”.

A falta de infra-estrutura de saneamento e educação foi destacada por Ana Cláudia e Sílvia “[...] ruas sujas, escuras, e alagadas [...] muita lama”. Para Maria e Coralina “[...] a casa enche de lama quando chove [...]”, e para Florzinha “[...] não têm escolas e nem uma ponte”.

Como se vê, a realidade comunitária dos entrevistados demonstra as contradições sociais e econômicas, quanto aos espaços geográficos reservados aos mais pobres, tanto nas baixadas quanto nas áreas mais distantes da cidade, o que não lhes confere o status de cidadão discutido por Trindade Junior (1994) e escancara as desigualdades sociais reveladas pelos indicadores sociais como apresentado no capítulo 3.

Mas o crescimento da violência foi o fator mais citado por quase a totalidade dos entrevistados. Esta violência se concretiza no medo do assalto, de dia e noite; das mortes; das brigas.

Para Rubi:

[...] os caras roubam dentro da casa da gente. Eles não estão mais respeitando os moradores. Eles assaltam qualquer pessoa. A gente tem que ficar trancada dentro de casa, não abrir a porta para as pessoas que a gente não conhece, porque a violência está demais [...].

E Margarida:

[...] Eu quero me mudar de lá, porque eu moro há dois anos nesse bairro e depois que eu mudei pra lá [...] Eu também não posso trabalhar porque tenho medo de deixar o outro menor [filho] dentro de casa, por causa que é muito perigoso lá. É perigoso em geral.

A violência física e o medo decorrente do assalto, do roubo, das desavenças, assim como o crescente uso da droga, seja ela, maconha, cola ou tinner, são os fatos que mais amedrontam os pais. A eles, está relacionado o aliciamento dos adolescentes para a marginalidade, arregimentados pela influência dos amigos – má camaradagem.

Segundo Pedro: “[...] depois chegou a cola e a maconha prá lá. Muitos amigos morreram assassinados por envolvimento com a droga. [...] Queria ir embora do bairro. Vejo os adolescentes armados assaltando”.

Para Cassiane:

[...] chega um malfeitor e seduziu as crianças como tem por lá. São crianças andando com lobos, gente fugitiva. [...] Ele seduz os meninos para o assalto. Meu neto me disse: “vó agora eu sei, que ele não é meu amigo, ele queria me botar na cadeia”. [...] quando os meninos não querem ir fazer o assalto, eles espancam.

E Rubi:

[...] os adultos que influenciam os meninos, [...] tinha um que fornecia armas para eles roubarem para eles. Foi o que aconteceu com o meu filho. [...] eles chamavam os meninos: “Olha, você vai fazer um assalto. Aquele cara ali tem que tirar o cordão. Toma o revólver e vai lá.!” Os molequinhos iam fazer o assalto [...] se os moleques não traziam o dinheiro para ele, ou então, uma bolsa, um relógio, ele dava porrada nos meninos.

O que se percebe quanto aos bairros em que estas famílias residem é a completa falta de estrutura que possibilite um suporte social às famílias82, inclusive com escolas que funcionem com qualidade. Numa caminhada em qualquer dos bairros da periferia se constata a completa falta de espaços coletivos de cultura e lazer para as crianças e os jovens. Segundo Wilson (1987) o ambiente no bairro afeta profundamente a maneira como os pais criam seus filhos. Quando o bairro é perigoso, mesmo que as famílias se preocupem

82Alguns entrevistados falaram sobre a escola dizendo que as poucas escolas existentes não oferecem

instrução satisfatória visto ser frequente a falta de professores, resultando num ensino de má qualidade. Alguns se ressentem de não dispor de recursos para colocar os filhos numa escola privada. No geral, para estas famílias a grande possibilidade de superação da precariedade econômica e da marginalidade a que estão submetidas passa pela educação e a formação profissional, para a garantia do emprego e um futuro digno.

com a educação das crianças, a falta de estrutura na comunidade dificulta o controle social e a transmissão de valores.

6.5.3 A violência social é geradora de problemas intrafamiliares ou é a violência doméstica