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Violência contra idosos em Portugal

No documento Idalina da Conceição Gonçalves Rosas (páginas 102-105)

Capítulo III- RESULTADOS E SUA DISCUSSÃO

1. Violência contra idosos em Portugal

Partindo da 1ª Hipótese “Existe violência contra idosos em Portugal.”, analisaram-se estudos e outros documentos oficiais que tratam esta questão. Assim, foram analisados documentos de informação e dados estatísticos, que abrangem a data entre 2009 e 2014 nomeadamente, dados da APAV “Manual do Títono” (2009); dois Relatórios Anuais da APAV (2013, 2014); o estudo “Nos trilhos da Negligência…” (Gil & Fernandes, 2011); dados da Polícia de Segurança Pública- PSP (2013); Revisão crítica de Literatura “Prevalência da Violência Contra as Pessoas Idosas” (Gil et al., 2013); um estudo efetuado em Portugal sobre discriminação citado por Novo, 2006; um estudo populacional e um estudo às vítimas, ambos efetuados em Portugal entre 2011-2014 “Projeto Envelhecimento e Violência” (Gil et al., 2014).

Para verificar esta hipótese, os documentos utilizados foram categorizados na informação que dispunham no contexto de violência e analisados nas seguintes dimensões:

Tipos de violência que se subcategorizaram em Violência física, Violência Psicológica/Emocional/Verbal, Violência Sexual, Violência Financeira, Negligencia; Violência e risco; Violência e vulnerabilidade; Violência e contexto local, que se subdividiu nas categorias: Violência em casa, Violência nas instituições, Violência na rua; Diferenças etárias; Diferenças de género; Diferenças de estado civil; Diferenças entre meio rural versus meio urbano; Diferenças entre Portugal versus países da Europa; Discriminação; Perfil das vítimas; Perfil dos agressores; Meio formal versus meio informal, Prevalência da violência; e Discriminação.

Relativamente ao Tipos de violência, da avaliação total dos crimes confirmados pela APAV (2014), destacam-se os de violência doméstica- maus tratos físicos e psicológicos e/ou verbais face aos restantes com 78,4% do total de crimes.

Num estudo efetuado a técnicos de saúde no seu quotidiano profissional em Portugal (Gil & Fernandes, 2011) quanto às representações de maus-tratos contra as pessoas idosas, destacou-se a violência financeira (59,3%) e a violência psicológica a par da negligência (54,9).

Segundo dois estudos (ABUEL e AVOW) e estabelecendo uma comparação com os resultados com um estudo efetuado entre 2011 e 2014 “Envelhecimento e Violência” (Gil et al., 2014), destacou-se em comum a violência psicológica, em seguida a violência financeira.

Segundo estudos de prevalência, um efetuado em 2010 a um serviço de urgência de um hospital (Borralho, 2010), os estudos ABUEL e AVOW (Gil et al. 2014) e o projeto “Envelhecimento e Violência” 2011-2014 (Gil et al., 2014), destacou-se em comum primeiramente a violência psicológica/emocional/verbal, em seguida a violência financeira. Segundo os estudo referidos, observou-se que em Portugal a violência psicológica e/ou verbal é a forma mais relatada pelas pessoas idosas. Também no mesmo relatório verificou- se que esse tipo de violência salienta-se em mais de 70% dos estudos e foi também o tipo mais denunciado. Também de acordo com os estudos de prevalência se verificou que a negligência é o tipo de violência que apresenta maior diversidade de variações, dado a

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dificuldade de se constituir prova. A violência física e a violência sexual são os tipos de violência menos frequentemente observados nos estudos de prevalência.

Em suma, destaca-se a violência psicológica/emocional/verbal como a forma de violência mais comum a todos os dados e estudos verificados, sendo a segunda forma mais referida a violência financeira.

Quanto ao fator Violência e vulnerabilidade, segundo todos os estudos analisados nesta tese, a dependência foi o fator comum que mais se destacou como fator de vulnerabilidade entre os idosos.

Em termos do fator Violência e Risco, segundo estudos de Pillemer & Suitor (1985), citado por Dias (2009) 64% dos agressores eram dependentes financeiramente dos idosos maltratados e 55% precisavam destes no que respeita a apoio residencial. Também a investigação gerontológica salienta como fator de risco os níveis de dependência e as relações de troca existentes entre os agressores e os idosos. De acordo com os dados da APAV (2013, 2014), os dados de 2013 do Programa “apoio 65- Idosos em segurança” efetuado pela PSP; os estudos efetuados em Portugal: Projeto Envelhecimento e Violência (Gil et al., 2011-2014), “Nos Trilhos da negligência…” (Gil & Fernandes, 2011), e Títono (2009), há uma consonância relativamente aos fatores de risco principais, a saber: a solidão, idosos a coabitar com outros idosos, o isolamento social, dependência económica, fatores culturais, o stress do cuidador, a falta de formação dos profissionais, a falta de apoio às famílias e o ciclo geracional de violência e, os estereótipos culturalmente enraizados. Também se verifica em concordância em todos os documentos que há um aumento de idosos em situação de risco em Portugal.

No fator Violência e contexto local, segundo dados da APAV, atualmente é possível encontrar idosos vítimas de modo espontâneo, assíduo ou contínuo, em diversos enquadramentos: na família; em instituições; na sua casa (quando reside só); na rua; ou ainda em situação de dependência em contexto familiar.

Quanto à Violência e diferenças etárias, de acordo com os dados dos relatórios de 2013 e 2014 da APAV, embora se tenha revelado um pequeno aumento de casos relativamente a crianças e jovens, que subiram de 974 para 992 (o que representou um aumento de dois por cento), houve um aumento muito mais significativo da violência contra pessoas idosas cujas estimativas passaram de 774 vítimas em 2013 para 852 em 2014, ou seja, um aumento de 10,1%.

Quanto ao fator Diferenças de género, de acordo com os mesmos dados, as vítimas que recorrem ao atendimento da APAV, são em maior número do género feminino, revelando que em média 130 mulheres e 21 homens recorrem aos serviços da associação.

Relativamente à Violência e escolaridade, os dados dos níveis de ensino superior (7,6%) e o nível de ensino básico do 3º ciclo (4,8%) destacaram-se face aos restantes.

Correlacionando o fator Violência e estado civil, as vítimas de crime que recorreram aos serviços da APAV, eram na sua maioria casadas (32,8%) ou solteiras (22,7%) e incluíam-se principalmente, no tipo de família nuclear com filhos em 39,4% dos casos.

Relativamente a Violência e Diferenças entre meio rural versus meio urbano, segundo dados da APAV, verificou-se que são nas grandes zonas urbanas que se concentram mais significativamente o número de vítimas e as que mais se dirigem aos serviços desta instituição.

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No que respeita à violência e o fator Diferenças entre Portugal versus Países da Europa, segundo dados de um estudo de investigação (Eurobarometer, 2007, citado por Gil et al., 2013) metade dos europeus considera os maus tratos, a violência e a negligência como um problema comum nos seus países e Portugal não é díspar, apresentando uma diferença inferior apenas de 4%.

Contudo, Portugal apresenta uma maior percentagem comparativamente a outros países da Europa no que respeita à violência contra idosos quando os mesmos se encontram em situação de dependência, quer a viver em casa ou em instituições.

Outro fator a salientar, é a violência sexual, embora em Portugal não tenha muito destaque nos estudos em geral. Segundo o Projeto AVOW (Gil et al., 2014), depois da Finlândia, Portugal foi o país (entre cinco países europeus) onde mais mulheres denunciaram terem sido vítimas de violência sexual. Também no projeto ABUEL, Portugal se destacou entre a Europa como o segundo país, depois da Grécia, onde este tipo de violência foi mais prevalente.

Também o projeto ABUEL denunciou que, em Portugal comparativamente aos outros países da Europa analisados, a violência financeira foi a que se destacou como mais prevalente.

No que respeita ao fator Ambiente formal versus informal, um estudo- ABUEL (Gil et al. (2014), um estudo a profissionais da área social e da saúde (Gil & Fernandes, 2011), dados do Títono (2009), Relatórios da APAV (2013; 2014) revelou-se que o local do crime mais utilizado foi a residência comum (entre vítima e autor do crime). Este facto reflete que a violência em Portugal é mais saliente no seio da família.

Quanto ao Perfil das vítimas, segundo dados da APAV de 2014, a maioria das pessoas idosas vítimas de violência em Portugal são na maioria mulheres, de nacionalidade europeia e encontram-se na condição de inativas.

Em termos do Perfil do agressor, dados da APAV e do projeto ABUEL, confirmou-se que a maioria dos agressores é do sexo masculino. Segundo a APAV em 2014, mais de 80% eram homens, com idades compreendidas entre os 25 e os 54 anos (30%). Também o projeto ABUEL corrobora estes dados relativamente à Violência Financeira Grave vs Violência Financeira Ligeira, onde se destacam os agressores com menos de 40 anos (54,5% vs 30%), constatando-se a versão “ligeira” mais frequente. Comparativamente, revelou-se em ambos um maior número de agressores da faixa etária mais jovem.

Quanto ao agressor e estado civil, segundo a APAV (2014) cerca de 35,6% eram casados e em 31,7% dos casos os agressores tinham uma atividade profissional permanente. O que se depreende que a maioria dos agressores são solteiros e encontram-se na condição de inativos.

Quanto à violência e coabitação entre a vítima/agressor, os dados ABUEL constatam que com exceção da violência física (81,8%), a grande parte dos agressores não coabita com a vítima. Nos casos de violência física com frequência de 1-2 vezes anualmente, os agressores também não coabitavam com a vítima e nem tinham grau de parentesco. Comparativamente com os dados da APAV, denota-se que à exceção da violência física, a grande parte dos agressores não coabitam com a vítima.

De assinalar que há uma Prevalência da violência, segundo a APAV (2013, 2014) em mais de 70% dos casos denunciados constatou-se que a vitimação é do tipo continuado, ou seja, que transitaram de anos anteriores devido à complexidade de resolução dos mesmos.

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A mesma fonte referiu que passaram de 774 situações em 2013, para 852 em 2014, ou seja, um aumento de 10,1%. O que traduz que na maioria dos casos a violência persiste.

Também a Discriminação considerada como uma forma de violência contra os idosos ainda é uma realidade em Portugal. Segundo um estudo efetuado (Novo, 2006) a idosos portugueses sobre discriminação constatou-se que há uma forte perceção nas suas vivências sobre a sua existência. Verificou-se na análise desse estudo que os episódios mais recorrentes aconteceram na interação de idosos com profissionais de saúde, em especial com os idosos têm défices auditivos ou cognitivos.

No documento Idalina da Conceição Gonçalves Rosas (páginas 102-105)

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