• Nenhum resultado encontrado

Violˆ encia comunal

No documento Relações Internacionais (páginas 151-157)

6 Os desafios presentes

6.4 Violˆ encia comunal

N˜ao se pode assumir que as partes do conflito violento representem o p´ublico mais amplo para o qual elas dizem lutar (UNGA, 2012, p. 11). No entanto, o que foi exposto acima sobre a paranoia pode ser verdade n˜ao s´o para l´ıderes, mas tamb´em para cidad˜aos (FIGUEIREDO; WEINGAST, 1999).

A Guerra Civil Centroafricana teve efeitos bastante nocivos para as rela¸c˜oes inter´etnicas e, especialmente, inter-religiosas para as comunidades da RCA. Com o aumento das tens˜oes pol´ıticas, cidades previamente diversas e tolerantes se viram destru´ıdas e fragmentadas, com separa¸c˜oes claras entre bairros crist˜aos e mul¸cumanos (VICE NEWS, 2015b). Autoridades religiosas locais – como padres e im˜as – clamam por paz e tentam mediar conflitos; mas a situa¸c˜ao ´e tensa, especialmente nas fronteiras dos bairros mu¸culmanos da capital, como PK5 e PK12 (VICE NEWS, 2014).

Moradores de Bangui, em entrevistas `a Vice News (2014), externaram a sua desconfian¸ca de que mercen´arios chadianos da ex-S´el´eka estavam se infiltrando nas tropas da FOMAC e em seus programas de desarmamento para tornar os bairros crist˜aos mais vulner´aveis aos seus ataques. Isso justifica tanto uma resistˆencia ao desarmamento quanto ataques preventivos a mu¸culmanos suspeitos de serem chadianos. N˜ao pude encontrar nenhuma fonte que corroborasse estas suspeitas. No entanto, quando a sobrevivˆencia de sua fam´ılia e comunidade est´a em jogo, acreditar em conspira¸c˜oes pode ser bastante racional. A rela¸c˜ao obscura entre o Chade e a ex-S´el´eka, ´e claro, tamb´em n˜ao ajuda.

7 Considera¸c˜oes finais

N˜ao ´e poss´ıvel dizer com certeza que se a rea¸c˜ao tivesse sido coordenada desde o princ´ıpio, a Guerra Civil Centroafricana n˜ao ocorreria. Talvez a propens˜ao ao conflito seja t˜ao forte que nem uma media¸c˜ao bem organizada seria capaz de solucion´a-lo. No entanto, ´e poss´ıvel afirmar que as mal orquestradas respostas da CEEAC, da UA e da Fran¸ca criaram oportunidades para forum shopping, enviaram mensagens d´ubias aos atores locais, produziram incentivos perversos e aprofundaram o conflito j´a existente.

Apesar das diferen¸cas geogr´aficas e culturais, as for¸cas brasileiras possuem uma vantagem comparativa em contribuir para a manuten¸c˜ao da paz – podem emergir como uma for¸ca mais neutra. N˜ao s˜ao inerentemente suspeitas de estar tentando interferir na pol´ıtica local para benef´ıcio pr´oprio, como as do Chade, e nem carregam consigo legados neocoloniais, como as da Fran¸ca.

A maior adversidade pol´ıtica que poder´a ser enfrentada pelo Brasil ´e o risco de que sua miss˜ao siga os passos da ´Africa do Sul – ou seja, falhas de seguran¸ca da miss˜ao se tornarem motivos de controv´ersia em casa a ponto de que seja necess´ario chamar as tropas de volta. Em tempos em que o Brasil se recupera de uma recess˜ao econˆomica atrav´es de cortes em programas de governo, ser´a dif´ıcil justificar, em pleno ano de elei¸c˜ao, o que nossos soldados fazem na RCA.

A inseguran¸ca dos recursos humanos cedidos `as miss˜oes de paz na RCA deve ser evitada para que a confian¸ca nelas n˜ao se debilite ainda mais. Para evitar o cen´ario acima descrito, ´e

necess´ario que tanto o ex´ercito e a diplomacia brasileiros entendam bem as dinˆamicas de poder locais e regionais na ´Africa Central. Isso evitar´a que a empreitada fa¸ca mais mal do que bem ou que a vida de brasileiros seja exposta ao risco desnecessariamente.

A MINUSCA dever´a manter contatos com a CEEAC e a UA para zelar pela coerˆencia, coordena¸c˜ao e complementaridade de seus esfor¸cos pol´ıticos e evitar novas ocasi˜oes de forum shopping. O comandante da miss˜ao, brasileiro ou n˜ao, ter´a que criar planos de curto e longo prazo para a diminui¸c˜ao da violˆencia comunal, compreender as vol´ateis dinˆamicas de poder em que operam os grupos rebeldes, proteger as institui¸c˜oes estatais e entender que o presidente democraticamente eleito pode sofrer incentivos para ser de menos ajuda no cumprimento do mandato do UNSC. Nada ser´a f´acil e de pouco adiantar´a sem um plano de longo prazo para deixar a RCA menos vulner´avel a guerras civis e liber´a-la da armadilha de conflito.

Referˆencias

AFRICAN UNION (AU). Declaration on the Framework for an OUA Response to Unconstituti- onal Changes of Government. AHG/Decl. 5 (XXXVI) [S.l.], 2000.

. L’Union Africaine souligne la n´ecessit´e d’efforts accrus pour la mise en œuvre des accords de Libreville sur la R´epublique Centrafricaine. [S.l.], Communiqu´e de Presse, le 2 mars 2013. AGENCE FRANCE PRESS (AFP). AU readmits Central African Republic. News24, 7 Apr. 2016. Dispon´ıvel em: <https://www.news24.com/Africa/News/au-readmits-central-african- republic-20160407>. Acesso em: 8 dez. 2017.

AMABHUNGANE REPORTERS. Central African Republic: is this what our soldiers died for? Mail & Guardian, 28 Mar. 2013. Dispon´ıvel em: <https://mg.co.za/article/2013-03- 28-00-central-african-republic-is-this-what-our-soldiers-died-for>. Acesso em: 2 dez. 2017.

AMNESTY INTERNATIONAL. Erased identity: muslims in ethnically-cleansed areas of the Central African Republic. London: Amnesty International Publications, 2015. p. 23.

BALD´E, Assanatou. Ange-F´elix Patass´e: une mort pr´ecipit´ee? Afrik.com, 7 Apr. 2011. Dispon´ıvel em: <http://www.afrik.com/article22552.html>. Acesso em: 2 dez. 2017.

. Centrafrique: Le pr´esident Boziz´e craint un coup d’Etat. Afrik.com, 26 Dec. 2012. Dispon´ıvel em: <http://www.afrik.com/centrafrique-le-president-bozize-craint-un- coup-d-etat>. Acesso em: 10 dec. 2017.

BENN, Margaux. Newly elected Central African Republic leader faces hard realities. The New York Times, 21 Feb. 2016. Dispon´ıvel em: <https://www.nytimes.com/2016/

02/22/world/africa/newly-elected-central-african-republic-leader-faces-hard- realities.html?r=0>. Acesso em: 5 jun. 2017.

BRADSHAW, Richard A.; FANDOS-RIUS, Juan. The sultanate of dar al-Kuti. The History Files, 15 Dec. 2007. Dispon´ıvel em: <http://www.historyfiles.co.uk/FeaturesAfrica/ AfricaCAR_Dar-al-Kuti01.htm>. Acesso em: 5 jun. 2017.

CAR: chaos, concern and confusion. Al Jazeera, 11 Apr. 2013. Dispon´ıvel em: <http://www. aljazeera.com/programmes/insidestory/2013/04/20134117553522641.html>. Acesso em: 2 dez. 2017.

CENTRAFRIQUE: Boziz´e accuse le Tchad d’avoir soutenu la r´ebellion. L’express, 2 Apr. 2013. Dispon´ıvel em: <https://www.lexpress.fr/actualites/1/monde/centrafrique- bozize-accuse-le-tchad-d-avoir-soutenu-la-rebellion_1236858.html>. Acesso em: 1 dez. 2017.

CENTRAFRIQUE: le bureau du Conseil national de transition dissous. Jeune Afrique, 5 Aug. 2013. Dispon´ıvel em: <http://www.jeuneafrique.com/depeches/31906/politique/ centrafrique-le-bureau-du-conseil-national-de-transition-dissous/>. Acesso em: 7 dez. 2017.

CENTRAFRIQUE: Michel Djotodia dissout la Seleka, beaucoup de questions en suspens. RFI Afrique, 14 Sept. 2013. Dispon´ıvel em: <http://www.rfi.fr/afrique/20130914- centrafrique-michel-djotodia-dissout-seleka-beaucoup-questions-suspens>.

Acesso em: 7 dez. 2017.

CENTRAL African Republic profile - Leaders. Bristish Broadcast Corporation, 3 Sept. 2014. Dispon´ıvel em: <http://www.bbc.com/news/world-africa-13150042>. Acesso em: 29 jun. 2017.

CENTRAL African Republic’s looming crisis. Al Jazeera, 29 Dec. 2012. Dispon´ıvel em: <http: //www.aljazeera.com/programmes/insidestory/2012/12/2012122984433666390.html>. Acesso em: 4 dez. 2017.

CH ˆATELOT, Christophe. La France refuse d’intervenir en Centrafrique. Le Monde, 28 Dec. 2012. Dispon´ıvel em: <http://www.lemonde.fr/afrique/article/2012/12/28/la-france- refuse-d-intervenir-en-centrafrique_1811177_3212.html>. Acesso em: 4 dez. 2017. COLLIER, Paul. The bottom billion: why the poorest countries are failing and what we can do about it. Oxford: Oxford University Press, 2006. 205 p.

. War, guns, and votes: democracy in dangerous places. New York City: Harper Perennial, 2009. 255 p.

; HOEFFLER, Anne. Greed and grievance in civil war. Oxford Economic Papers, v. 56, p. 563-595, 2004.

DABANY, Jean Rovys. Central African Republic signs peace deal with rebels. Reuters, 11 Jan. 2013. Dispon´ıvel em: <https://www.reuters.com/article/us-car-rebels/central-

african-republic-signs-peace-deal-with-rebels-idUSBRE90A0NR20130111>. Acesso em: 28 nov. 2017.

DEBOS, Marielle. Fluid loyalties in a regional crisis: chadian ’ex-liberators’ in the Central African Republic. African Affairs, v. 107, n. 427, p. 225-241, 2008.

DUCKSTEIN, Stefanie. Chad’s role behind the scenes in the Central African Republic. DW, 12 Feb. 2014. Dispon´ıvel em: <http://www.dw.com/en/chads-role-behind-the-scenes-in- the-central-african-republic/a-17426113>. Acesso em: 1 dez. 2017.

ECONOMIC COMMUNITY OF CENTRAL AFRICAN STATES (ECCAS). D´eclaration de N’Djamena sur la R´epublique Centrafricaine. [S.l.], 2013.

ESSA, Azad. Newly formed 3R rebel group inflicts horrors in CAR: UN. Al Jazeera, 23 Dec. 2016. Dispon´ıvel em: <http://www.aljazeera.com/news/2016/12/newly-formed-3r-rebel- group-inflicts-horrors-car-161223035217671.html>. Acesso em: 11 jul. 2017.

FEARON, James. D.; LAITIN, David. D. Ethnicity, insurgency, and civil war. American Political Science Review, v. 97, n. 1, p. 75-90, 2003.

FIGUEIREDO, Rui J. P. de; WEINGAST, Barry R. Rationality of fear: political opportunism and ethnic conflict. In: WALTER, Barbara F.; SNYDER, Jack. Civil wars, insecurity, and intervention. New York: Columbia University Press, 1999. p. 261-302.

GLOBAL WITNESS. Blood timber : how europe helped fund war in the Central African Republic. London: Global Witness, 2015, p. 59.

INTERNATIONAL CRISIS GROUP (ICG). Central African Republic: anatomy of a phantom state. Africa Report, n. 136, Nairobi/Brussels, 2007, p. 40.

. Chad: escaping from the oil trap. Africa Briefing, n. 65, Nairobi/Brussels, 2009, p. 20. . Dangeroud little stones: diamonds in the Central African Republic. [S.l.], n. 167, 2010, p. 26.

. Central African Republic: priorities of the transition. Nairobi, n. 203, 2013a, p. 38. . Central African Republic: better late than never. Nairobi, n. 96, 2013b, p. 13. . Central African Republic: the roots of violence. Brusseks, n. 230, 2015, p. 41.

KIMBERLEY PROCESS. Administrative decision on the Central African Republic [Temporary Suspension]. Kimberley, 2013, p. 1.

MEHLER, Andreas. The production of insecurity by African Security Forces: insights from Liberia and the Central African Republic. German Institute of Global and Area Studies, p. 1-29, Nov. 2009a.

. Reshaping political space? : the impact of the armed insurgency in the Central African Republic on political parties and representation. German Institute of Global and Area Studies, p. 1-28, Dec. 2009b.

MUDGE, Lewis. World’s most neglected conflict rages on in Central African Republic. Human Rights Watch, 2017. Dispon´ıvel em: <https://www.hrw.org/news/2017/06/05/worlds-most- neglected-conflict-rages-central-african-republic>. Acesso em: 5 jun. 2017.

NAKO, Madjiasra; NGOUPANA, Paul-Marin. Celebrations in Central African Republic as leader resigns. Reuters, 10 Jan. 2014. Dispon´ıvel em: <http://www.reuters.com/article/us- centralafrican-djotodia-idUSBREA090GT20140110>. Acesso em: 29 jun. 2017.

NASCIMENTO, Pedro Henrique L. do. Theories of ethnic violence: a discussion on identities and violence and a closer look into the central african crisis. San Jos´e: UN-Mandated University for Peace, 2017.

NGOUPANA, Paul-Marin; LEWIS, David. Anti-rebel protestors attack French embassy in CAR. Reuters, 26 Dec. 2012. Dispon´ıvel em: <https://uk.reuters.com/article/uk- car-rebels-protest/anti-rebel-protestors-attack-french-embassy-in-car-

idUKBRE8BP09U20121226>. Acesso em: 4 dez. 2017.

OBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). What does the Central African Republic export?, [n.d.]. Dispon´ıvel em: <http://atlas.media.mit.edu/en/visualize/tree_ map/hs92/export/caf/all/show/2012/>. Acesso em: 24 jun. 2017.

O’TOOLE, Thomas. Made in France: the second Central African Republic. Proceedings of the Meeting of the French Colonial History Society, p. 136-146, 1982.

PEACE AND SECURITY COUNCIL (PSC). Communiqu´e: 363rd Meeting of the of the Peace and Security Council on the Situation in Central African Republic (CAR). [S.l.], 2013a. (PSC/PR/COMM(CCCLXIII)).

. Communiqu´e: 385th Meeting of the of the Peace and Security Council on the Situation in Central African Republic (CAR). [S.l.], 2013b. (PSC/PR/COMM.2(CCCLXXXV)).

POLGREEN, Lydia; SAYARE, Scott. South Africa to withdraw its troops from Central African Republic. The New York Times, 4 Apr. 2013. Dispon´ıvel em: <http://www.nytimes.com/2013/04/05/world/africa/south-africa-to-withdraw- troops-from-central-african-republic.html>. Acesso em: 2 dez. 2017.

POWELL, Anita. South Africa sends 400 troops to Central African Republic. VOA news, 7 Jan. 2013. Dispon´ıvel em: <https://www.voanews.com/a/south-africa-central-africa- republic-troops/1579329.html>. Acesso em: 2 dez. 2017.

PROFILE: Central African Republic’s Michael Djotodia. British Broadcast Corporation, 11 Jan. 2014. Dispon´ıvel em: <http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-21938297>. Acesso em: 28 nov. 2017.

ROSA, Vera. Brasil ainda avalia riscos de miss˜ao de paz na ´Africa, diz Aloysio. Estad˜ao, 2017. Dispon´ıvel em: <http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-ainda- avalia-riscos-de-missao-de-paz-na-africa-diz-aloysio,70002091323>. Acesso em: 20 nov. 2017.

SINGH, Amit. France: why intervene in Mali and not Central African Republic? The Guardian, 5 Febr. 2013. Dispon´ıvel em: <https://www.theguardian.com/world/2013/feb/05/france- centralafrican-republic-mali-intervention>. Acesso em: 4 dez. 2017.

SOUDAN, Fran¸cois. Cemac – Affaire Ntsimi: le grand d´eballage. Jeune Afrique, 10 Apr. 2012. Dispon´ıvel em: <http://www.jeuneafrique.com/142134/politique/cemac-affaire- ntsimi-le-grand-d-ballage/>. Acesso em: 2 dez. 2017.

TREVISAN, Cl´audia. Brasil enviar´a mil soldados a miss˜ao na Rep´ublica Centro- Africana. Estad˜ao, 2017. Dispon´ıvel em: <http://internacional.estadao.com.br/ noticias/geral,brasil-enviara-mil-soldados-a-missao-na-republica-centro-

africana,70002087438>. Acesso em: 21 nov. 2017.

UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY (UNGA). Strengthening the role of mediation in the peaceful settlement of disputes, conflict prevention and resolution. [S.l.], p. 122, 2012. (A/66/811).

UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL (UNSC). Report of the Secretary-General on enhancing mediation and its support activities. [S.l.], p. 24, 2009. (S/2009/189).

. Resolution 2127. [S.l.], 2013. (S/RES/2127 (2013). . Resolution 2149. [S.l.], 2014. (S/2014/2149).

VICE NEWS. War in the Central African Republic (Full Length). 25 Mar. 2014. Dispon´ıvel em: <https://www.youtube.com/watch?v=VoQAxQgevEA>. Acesso em: 5 jun. 2017.

. Blood diamonds and religious war : diamonds and division. 28 Jan. 2015b. Dispon´ıvel em: <https://www.youtube.com/watch?v=FbT_b0obeg8>. Acesso em: 5 jun. 2017.

HUMANIT ´ARIA HAITIANA: O QUE

No documento Relações Internacionais (páginas 151-157)

Documentos relacionados