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CAPÍTULO 3 – A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS MEMBROS DO

3.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

3.3.2 Análise Formal ou Discursiva e Interpretação/Reinterpretação

3.3.2.2 Violação de direitos

A segunda categoria foi denominada Violação de Direitos em relação ao Adolescente que comete atos de violência, as subcategorias foram:

 Identificação: apresenta trecho das falas dos sujeitos da pesquisa sobre as Representações Sociais acerca da Violação de Direitos em relação ao adolescente que comete atos de violência: aspectos relativos às vivências desse adolescente; aos contextos que frequentou; a família; a qualidade dos instrumentos sociais que teve acesso; as punições sofridas; e ao acesso a serviços;

 Possíveis Intervenções: apresenta trecho das falas dos sujeitos da pesquisa acerca das Representações Sociais de estratégias que visariam diminuir a Violação de Direitos em relação ao adolescente que comete atos de violência: tipos de trabalhos a serem feitos; cenários a serem visitados; modificação do funcionamento de instrumentos sociais; criação de novos espaços; desenvolvimento de atividades; trabalhos em parceria com a sociedade; e reforçar os órgãos de proteção a este adolescente;  Consequências: apresenta trecho das falas dos sujeitos da pesquisa

acerca das Representações Sociais dos efeitos gerados em decorrência da Violação de Direitos do adolescente que comete atos de violência: falta de consciência sobre seus atos; falta de empatia; drogadição; e criminalidade.

QUADRO 9 – Mapa Violação de Direitos

SUJEITO DEFINIÇÃO POSSÍVEIS

INTERVENÇÕES

CONSEQUÊNCIAS

E1

Bom, em relação à violação de direitos, entendo que muitas vezes o que a criança passou na infância, viveu, vai refletir na adolescência, na

sua vida adulta. (...) Se a criança não é monitorada,

assistida pela família, orientada, se ela fica largada pelas ruas, o que vai aparecer para ela? Droga, outro que vai querer aliciar, vai ser laranja.

Se não tiver um acompanhamento, não só da

família, mas dos órgãos competentes, esta criança

pode entrar para o crime.

Por isso que eu digo que é preciso fazer um trabalho de

prevenção com estas famílias para que estas crianças não sofram, não

passem por violações de direitos.

E2

Geralmente ele já tem os seus direitos violados pela sociedade e então ele não cresce com uma concepção do que seja o direito dele por

que ele acha que pode tudo ao mesmo tempo em que não

dão nada para ele.

E3

Têm políticas, mas elas não se efetivam muito. Falta muito

espaço para se trabalhar a família (...) Muitas vezes a gente acompanha o conselho

tutelar e chega até ao ponto de que a criança é afastada

do ambiente familiar.

O ambiente escolar é o primeiro passo para que os

educadores percebam a violação de direitos (...) Eu

acho que a escola é o primeiro local que pode ser

identificado os problemas. Os conselhos tutelares serem atuantes nessas situações, nós precisamos de mais espaços para que os

adolescentes, as crianças sejam inseridos.(...) É preciso de espaços que sejam próprios para a idade.

Sempre chamar a família para que a família esteja

junta e valorize.

QUADRO 9 – Mapa Violação de Direitos

SUJEITO DEFINIÇÃO POSSÍVEIS

INTERVENÇÕES

CONSEQUÊNCIAS

E4

Hoje a violação de direitos ela é uma ocorrência constante. Porque não se tem estrutura escolar de boa qualidade né,

não se tem uma prática profissional para este adolescente né? Quando ele

é retirado da família, ele é retirado num imediatismo que

muitas vezes não deveria acontecer. Já é encaminhado

para uma exclusão social. Então essa exclusão social é

a maior violação de direitos que o ser humano pode

sofrer, seja ela um abrigamento, um afastamento

escolar seja o que for né, a própria família não atendendo os direitos deste jovem, desta criança, deste adolescente.

Eu acho que uma das questões que amenizaria

esta violação seria justamente a implantação via

políticas publicas de segmentos que dessem apoio a este jovem não permitindo que outros violassem os seus direitos de

escola, de saúde, de trabalho. Então eu acho assim, a pessoa, a criança, o

adolescente, tem que estudar, mas ele também tem que trabalhar, mais tarde

ele vai ter que trabalhar. (...) Eu acho que antes do Conselho Tutelar entrar na escola ele teria que conhecer

todo o histórico dessa criança, desse adolescente

lá fora. Então entre o Conselho Tutelar, a escola, e

a família deveriam ter esse acompanhamento, um acompanhamento mais próximo, e nós temos muito pouco pessoal, somos muito

poucos que se interessam por isso.

A maior parte dos adolescentes que eu já

tive oportunidade de conversar, e que tiveram seus direitos

violados, logo em seguida cometeu algum

ato infracional. Seja na escola usando drogas,

seja roubando, assaltando, matando, então a consequência de tudo isso fecha o

ciclo né?

E5

Geralmente ele vive numa família sem vínculos afetivos, onde o pai muitas vezes está

desempregado acaba batendo na mulher. A criança

já nasce num ambiente com várias falhas né, e isso também faz com que ele se

torne violento, por que violência gera violência.

Então ele passa por várias dificuldades e estas dificuldades fazem com que, não

estou justificando o problema, mas fazem

com que ele acabe cometendo um ato que

muitas vezes ele nem pensa na hora de fazer.

QUADRO 9 – Mapa Violação de Direitos

SUJEITO DEFINIÇÃO POSSÍVEIS

INTERVENÇÕES

CONSEQUÊNCIAS

E6

Eu acho que a violação de direitos, ela é intrínseca a esta realidade do adolescente

em conflito com a lei.

A criança precisa, e o adolescente também precisa

de referência positiva para que ele possa viver numa sociedade e compreender que ela tem limites, que você

precisa respeitar o direito do outro, mas o seu direito

também tem que ser respeitado.

E7

Veja, é tudo interligado, se você tem uma política pública de prevenção você vai mostrar pra ele que todo

direito tá vinculado a um dever. Então ele vai chegar lá no final e vai compreender

isso. De repente nesse compreendimento não vai

mais haver violação de direitos.

E8

Você ainda vê hoje os pais abandonando seus filhos. Mas eu ainda acredito que

vem lá de trás, de uma educação com um nível de cultura que não chegaram a

ter esse acesso.

Tem que trabalhar com a conscientização (...) Nós já

tivemos o ano passado (2012) umas placas dizendo:

“não dê esmola, dê oportunidade”. Isso já é uma parte da conscientização (...)

E9

Então são vários pontos, às vezes a gente pode violar algum direito, a legislação foi

feita com boa intenção, o legislador quis proteger a criança e o adolescente, não

tenho dúvida disso, mas a sociedade não esta conseguindo entender, acho

que o debate deveria ser maior, ser sobre o que é e o

que não é violação de direitos. Fonte: O autor (2013).

3.3.2.2.1 Violação de direitos: identificação

Nota-se que há uma divisão nos relatos dos entrevistados em que os maiores agentes violadores de direito do adolescente são, por um lado, o Estado e a sociedade e por outro lado, a família. Referente à violação por parte do Estado e da sociedade seguem algumas falas:

E2: Geralmente ela já tem os seus direitos violados pela sociedade [...]. E3: Têm políticas, mas elas não se efetivam muito.

E4: [...] não se tem estrutura escolares de boa qualidade né, não se tem uma prática profissional para este adolescente né?

Tais falas remetem à reflexão de Carinhanha, Leite e Penna (2008) de que a reação violenta do adolescente pode refletir sua insatisfação perante o sistema social instituído que o discrimina e, consequentemente, o marginaliza.

Já referente à violação por parte da família os entrevistados dizem que: E1: Se a criança não é monitorada, assistida pela família, orientada, se ela fica largada pelas ruas, o que vai aparecer para ela? Droga [...].

E5: Geralmente ele vive numa família sem vínculos afetivos, onde o pai muitas vezes está desempregado acaba batendo na mulher.

E8: Você ainda vê hoje os pais abandonando seus filhos.

Neste contexto, o adolescente que comete atos de violência é visto como vítima daqueles que deveriam zelar pelo seu bem estar, ou seja, a família, a sociedade e o Estado, segundo o ECA. Na fala dos entrevistados também fica clara a interferência das vivências passadas do adolescente e os contextos que frequentou.

A fala de E1 indica que na ausência de referências o adolescente é um alvo fácil para a droga e esta, por sua vez, é vista como um fator que pode colaborar para que este adolescente cometa atos de violência.

Chama atenção a fala de E5 ao dizer que o pai muitas vezes está desempregado e acaba batendo na mulher. Tal reflexão dá indícios de que a família desse adolescente geralmente é chefiada por mulheres, somado a ausência dos pais.

Tais posicionamentos se assemelham ao olhar de Wieviorka (1997) em que a violência agiria como um processo funcional, relativa a uma reação perante

frustrações ou dificuldades. Estaria, portanto, enraizada em contingências aversivas e ao sentimento de perda.

3.3.2.2.2 Violação de direitos: possíveis intervenções

Dentre as intervenções que visam interromper a violação de direitos desse adolescente, diferentes ideias e focos de intervenção emergiram.

E2 acredita que são necessários trabalhos preventivos para evitar que esse adolescente se depare com uma situação na qual tenha de utilizar a violência: é preciso fazer um trabalho de prevenção com estas famílias. E7 compartilha este olhar quando diz que: tudo é interligado, se você tem uma política pública de prevenção você vai mostrar pra ele que todo direito tá vinculado a um dever.

Já E3 acredita que faltam trabalhos na área escolar, falta capacitação aos profissionais que lá atuam para identificar as situações de violação de direitos: a escola é o primeiro local que pode ser identificado os problemas.

E4, por sua vez, acredita que o trabalho deva ser em nível estrutural, sugerindo uma articulação maior entre a rede de serviços, facilitando assim o acesso desse adolescente àquilo que ele necessita: entre o Conselho Tutelar, a escola e a família, deveriam ter esse acompanhamento, um acompanhamento mais próximo.

E6 revela que o adolescente deve possuir referências positivas e assim perceber que os atos de violência não são aceitáveis pela sociedade: você precisa respeitar o direito do outro, mas o seu direito também tem que ser respeitado.

E8 acredita que o trabalho não deva ser feito somente em relação ao adolescente que comete atos de violência, mas sim com a sociedade. Neste sentido, aponta ações do CMDCA-PG: nós já tivemos no ano passado (2012) uma placa dizendo: “não dê esmola, dê oportunidade”. Isso já é uma parte da conscientização [...].

Pode-se perceber uma gama de trabalhos a serem feitos, desde os preventivos até a implementação de novos serviços visando à conscientização da sociedade frente a este problema. Visto que o CMDCA é um órgão gestor, as ideias aqui apontadas podem demonstrar indícios do Universo Consensual dos entrevistados, já que demonstram práticas interativas do dia a dia e, portanto, fazem parte da produção de Representações Sociais (WERBA, 2007).

3.3.2.2.3 Violação de direitos: consequências

De acordo com a fala dos entrevistados, a violação de direitos age enquanto força motriz do ato infracional, ou seja, o adolescente que tem seus direitos violados tem maior probabilidade de cometer atos de violência. Seguem as falas:

E4: A maior parte dos adolescentes que eu já tive oportunidade de conversar, e que tiveram seus direitos violados, logo em seguida cometeu algum ato infracional.

E5: [...] ele passa por várias dificuldades e estas dificuldades fazem com que, não estou justificando o problema, mas fazem com que ele acabe cometendo um ato que, muitas vezes, ele nem pensa na hora de fazer.

Nota-se que através das falas, o contexto e a realidade do adolescente que comete atos de violência parecem ficar mais evidentes. A violência aparece enquanto reflexo de dificuldades e frustrações. Trata-se de uma resposta do indivíduo para a sociedade que negligencia seus direitos (WIEVIORKA, 1997).

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