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Visão complementar sobre a eficiência dos preços dinâmicos

3. ARCABOUÇO CONCEITUAL: TARIFAS, PREÇOS DINÂMICOS E RESPOSTA

3.5. A Eficiência Econômica dos Preços Dinâmicos

3.5.4. Visão complementar sobre a eficiência dos preços dinâmicos

Segundo Faruqui (2010), para os benefícios dos preços dinâmicos ocorrerem, nem todos os consumidores precisam responder. Como cerca de metade dos consumidores (teoricamente) não tem carga coincidente à ponta, estes imediatamente verão redução em sua fatura, sem a necessidade de ajustar o

seu perfil de consumo. O que poderia ser feito para compensar o impacto negativo para a outra metade de consumidores?

Consumidores que não veem uma redução imediata em suas faturas virão a entender os fundamentos e reduzirão o uso durante os períodos mais caros. Faruqui (2010) demonstra, a partir de evidências empíricas, que até 75% dos consumidores conseguem reduzir a fatura sob os preços dinâmicos, com os consumidores médios mostrando habilidade em reduzir a carga no horário de ponta.

Nos Estados Unidos e em outras localidades, pessoas contrárias aos preços dinâmicos justificam sua posição afirmando que esta dinâmica é injusta. Principalmente para consumidores de baixa renda, aposentados, pessoas com necessidades especiais, jovens e pequenos negócios. Isto porque estas categorias não tem capacidade de cortar seu uso na ponta, principalmente porque não tem muita coisa para cortar.

Contudo, o contra-argumento de utilizar estas eventuais injustiças como impedimento aos preços dinâmicos é afirmar que as tarifas não variáveis são justas. Uma tarifa única a qualquer horário cria um subsidio cruzado entre consumidores: aqueles que consomem na ponta são subsidiados por aqueles que não consomem na ponta. Um simples exemplo ajuda a ilustrar este ponto. Há três categorias de consumidores quanto ao uso na ponta: consomem acima, abaixo ou na média. O horário de pico é de 6 horas por dia. O consumo de energia é de 500 kWh por mês. Na ponta, os consumidores em média usam 25% de sua energia. Aqueles acima da média consomem 40% na ponta e os abaixo da média consomem 10%. A tarifa constante é $ 0,10/kWh. Uma tarifa TOU é desenhada para cobrir os custos marginais na ponta e fora da ponta e garantir a estabilidade das receitas. Assim, na TOU o consumo fora da ponta custa $ 0,067/kWh e na ponta $ 0,20/KWh. A tabela 1 ilustra os resultados deste exercício.

Tabela 1 – Valor da Fatura conforme o tipo tarifário

Fonte: Faruqui (2010). Elaborado pelo autor.

Aquele que consome abaixo da média no horário de ponta subsidia aquele que consome acima da média na ponta em $ 10 por mês. Valor que, ao longo do tempo, poderá chegar a altas cifras.

Dados os potenciais benefícios dos preços dinâmicos, que políticas deveriam ser implementadas para compensar os impactos daqueles consumidores negativamente afetados? Faruqui (2010) sugere oito opções, expostas a seguir:

i. Criar cultura no consumidor

Visto que uma prática de preços mais do que centenária está mudando, os consumidores devem ser educados a respeito. Eles devem saber que os preços dinâmicos reduzem os custos da energia para a sociedade como um todo, que podem ajudá-los também a reduzir seus gastos particulares, ajudam a reduzir apagões, melhoram a confiabilidade do sistema e permitem um meio ambiente mais limpo.

ii. Oferecer ferramentas de ajuda

As ferramentas devem permitir que os consumidores consigam o máximo dos preços dinâmicos. Num primeiro nível, os consumidores devem ser informados quanto cada uso final impacta em sua fatura. Além disso, quais ações afetam mais ou menos a fatura. Num segundo nível, o consumidor deve ter em casa a tecnologia facilitadora in home display que mostre, em tempo real, seu consumo e o preço da energia. Por último, habilitar ferramentas, remotas ou não, para controle da carga.

iii. Segmentar o consumo em duas partes com tarifas distintas

Na primeira parte seria permitido ao consumidor comprar uma quantidade padrão de energia num sistema pré-pago e com valor conhecido e determinado por kWh. Na segunda parte ele seria cobrado pelos preços dinâmicos.

fatura perfil de consumo

consome acima da média na ponta $ 50 $ 60

consome na média $ 50 $ 50

consome abaixo da média na ponta $ 50 $ 40

iv. Dar descontos nos horários de pico (Peak Time Rebate – PTR)

Conforme anteriormente apresentado, o consumidor pagaria uma tarifa de preços dinâmicos, mas com a possibilidade de conseguir algum desconto reduzindo sua carga na ponta para uma linha de base determinada pela empresa.

v. Oferecer serviço de subscrição da demanda

Cada consumidor deve contratar uma carga base a preço conhecido, sendo que qualquer consumo para além desta carga base será cobrado pelo preço real de momento. Um elemento chave deste serviço é que cada consumidor pode fazer uma escolha. Assim, um consumidor com carga constante pode pedir uma demanda básica próxima ou igual a sua carga, enquanto quem tem carga de pico pode escolher uma demanda básica perto do seu ponto de carga máximo.

vi. Proteger a fatura

Os consumidores pagariam simplesmente a menor entre duas faturas. Seriam então calculadas a fatura a preços dinâmicos e a fatura a preços constante no tempo. Poderia ser criada uma transição até todos os consumidores entenderem os preços dinâmicos. Assim, no segundo ano, se cobraria a tarifa a preços dinâmicos ou uma tarifa até 20% superior a verificada a preços constantes. Isto sucessivamente até os preços dinâmicos serem a única possibilidade.

vii. Dar aos consumidores crédito

Há um risco para a distribuidora na contratação de energia. Este risco depende da volatilidade dos preços, da volatilidade da carga e da correlação entre ambas. Para evitar este risco, as distribuidoras tem a opção de contratar um seguro, o que traz em si custos. Se os preços dinâmicos reduzissem a necessidade de contratar um seguro, os custos com este também seriam reduzidos. A ideia é transferir a economia com os custos do seguro que os preços dinâmicos proporcionam para os consumidores que contribuíram para isto.

viii. Permitir aos consumidores a escolha de desenhos tarifários

As tarifas dinâmicas, mesmo que oferecidas em conjunto com as opções anteriores, podem ainda ser muito arriscadas para alguns consumidores. A

sugestão então seria facultar a estes a migração entre modalidades tarifárias. Exemplificando, se uma tarifa TOU com CPP for o padrão da distribuidora, os consumidores avessos ao risco poderiam migrar para uma tarifa TOU simples, enquanto consumidores que tomam risco poderiam optar por uma tarifa RTP. Outras opções seriam tarifas TOU com CPP com menores ou maiores intervalos de ponta ou mesmo com maior número de períodos de preço crítico.

3.6. Medição da resposta ao preço. Ou algumas considerações sobre