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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 Visão geral dos TACCs

Com base na tabela e nos recortes acima, o primeiro ponto que podemos verificar é a pouca quantidade de TACCs encontrados no curso com a temática gênero e sexualidade. Podemos também destacar a ausência de trabalhos entre os anos 2009 e 2012, ficando evidente que a periodicidade em que se encontra esses trabalhos não é constante.

O pouco número de trabalhos com a temática gênero e sexualidade observada pode ser reflexo da não abordagem desse conteúdo no curso. O fato de não ter a disciplina de Educação Sexual de forma obrigatória na grade curricular impede que esse conhecimento, que considero imprescindível na formação docente, chegue aos discentes, impossibilitando a tomada de consciência da importância de discutir a sexualidade e suas questões com crianças e adolescentes.

Não há um documento normativo que estabeleça a abordagem do gênero e sexualidade nas licenciaturas, e mesmo com tantos debates entre os cursos, reconhecendo a relevância da educação sexual na formação inicial docente, poucos são os investimentos para adotá-la como conteúdo obrigatório nos cursos.

A falta de trabalhos sobre tais temas entre os anos 2009 e 2012 pode ser explicada pela ausência de disciplinas, mesmo que optativas, na grade curricular do curso. Outro fator observado é a inconstancia na periodicidade das publicações, sugerindo que nem sempre os alunos recorrem a disciplina de educação sexual já que não é conteúdo obrigatório. Em ambas as situações os discentes ficam impossibilitados do acesso ao conhecimento e ao debate durante o curso, tendo como consequencia a falta de interesse em realizar pesquisas na área de educação sexual.

Outro ponto que merece destaque é a forma de como alguns desses trabalhos apresentam a discussão sobre sexualidade e gênero. O termo gênero é pouco mencionado e raramente discutido entre os trabalhos. Maioria foca em gravidez indesejada e ISTs como problemas sociais, e suas ações estão voltadas para a saúde sexual e reprodutiva, associando orientação sexual à saúde. Assim, quando analisamos a forma de desenvolvimento de cada trabalho e o que cada um sugere em termos de Educação Sexual, como o simples fornecimento de informações ou as sugestões de discussão sobre as diversas questões da sexualidade e diálogo para esclarecimento de dúvidas, as abordagens médica e pedagógica da educação sexual aparecem com maior frequência, sendo a abordagem emancipatória, a qual considero mais apropriada em qualquer fase tanto na escola como na família, pouco trabalhada.

Em relação ao conteúdo, os trabalhos priorizam a fase de adolescência, o que evidencia mais uma lacuna, já que a sexualidade está presente em todas as fases do desenvolvimento humano. Como o foco é da adolescência, a sexualidade é tratada prioritariamente em seus aspectos reprodutivos, deixando de lado a discussão e diálogo sobre diversidade e respeito, discriminação, violências, abuso sexual, desigualdades de gênero, etc. A sexualidade como construção social é negligenciada. Nesse sentido, Furlani (2013) enfatiza:

A negação da existência de manifestações da sexualidade na infância tem sido usada para acentuar o disciplinamento sexual sobre crianças na infância e pré-adolescentes e tem tomado os cursos de formação de professoras (es) cada vez mais distantes desses conteúdos, o que torna cada vez mais urgente a necessidade de substituir essa visão restrita do enfoque reprodutivo (FURLANI, 2013, p. 74).

A sexualidade, quando trabalhada na visão reducionista e superficial, focando em aspectos reprodutivos e na promoção de saúde, realmente fica difícil disvincular do professor de Ciências e Biologia o papel de educador sexual. É válido lembrar que os alunos, crianças e adolescentes, apresentam interesse em discutir a temática e curiosidade que envolvem seus diversos aspectos, porém não são ouvidos já que os professores não possuem preparo para promover o debate e a educação sexual.

Todos os trabalhos reconhecem a importância da família e da escola na educação sexual dos educandos, e apontam que para o trabalho seja realizado na escola há necessidade de uma formação adequada para os professores, sendo a formação continuada citada como importante por quase todos. Vale mencionar que a formação inicial não aparece em nenhum dos trabalhos, ou seja, não há questionamentos sobre a falta de conhecimentos de sexualidade e gênero no curso de Biologia.

Bonfim (2009) faz o seguinte apontamento com relação as produções acerca do reducionismo presente no tratamento da sexualidade na área de Biologia:

Se fizermos um levantamento das pesquisas produzidas na área das Ciências Biológicas, é possível verificarmos que há poucas pesquisas e articulações teóricas com outras áreas, ou seja, as pesquisas no campo de sexo e sexualidade se caracterizam em sua grande maioria reducionistamente dentro da Biologia, o que mostra a falta de consciência de muitos professores sobre a importância da sexualidade de maneira integral e também a insensibilidade de alguns docentes sobre a questão da sexualidade na maioria das vezes reduzindo a fala sobre sexualidade na escola às informações sobre DST´s e métodos anticoncepcionais (BONFIM, 2009, p. 171)

Entre os conhecimentos considerados relevantes na discussão sobre gênero e sexualidade estão os conceitos dos termos utilizados, a historicidade da educação sexual, contextualização com a problemática social de desigualdade de gênero, violências, discriminações, sexismo, etc., entendimento das manifestações da sexualidade, as formas de trabalhar a educação sexual na escola, entendimento da sexualidade como construção social. Além disso, é essencial um tratamento crítico e reflexivo sobre os documentos oficiais de educação que determinam e sugerem ações para o desenvolvimento da educação, como BNCC, PNE, LDB e PCNs, a fim de identificar lacunas, como a ausência e supressão dos termos gênero e sexualidade, e através disso poder questionar e ser capaz de modificar os modelos que seguimos de educação sexual.

Apesar de fazer as apontamentos anteriores, reconhecemos que os trabalhos analisados são importantes, pois contribuem com experiências em campo e muito conhecimento teórico acerca da temática em questão, apontamento de metodologias ideais para o trabalho de educação sexual, como o diálogo, sugestões para desenvolvimentos de projetos e principalmente por reconhecerem a importância da educação sexual na formação dos educandos.

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