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VISÃO SINTÉTICA DA ESTRUTURA HIERÁRQUICA BATISTA

A organização e funcionamento da Igreja Batista no Brasil, de acordo com a 79ª Convenção Batista Brasileira (1998, p.52 a 77), reproduz o modelo estrutural norte- americano, desde o estabelecimento da Convenção Batista Brasileira em 1907, ou seja, com uma Convenção nacional, Convenções estaduais e Associações regionais.

As Igrejas Batistas constroem sua normatização a partir da aplicação de princípios bíblicos às igrejas locais. Landers (1987) em Teologia dos Princípios Batistas traz uma lista de 10 princípios, que são adotados pelas igrejas no Brasil, mas ainda há outra lista com seis princípios constantes da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira e o texto Princípios Batistas, que sempre são entregues pelas Convenções Batistas dos estados às igrejas filiadas.

Segundo Duduch (2001, p. 33), a Igreja Batista é uma instituição jurídica de caráter religioso, sem fins lucrativos, dotada de estatuto e regimento próprios, presidida em princípio e tradicionalmente por seu pastor titular, vinculada à Convenção Batista de seu respectivo estado e à Convenção Batista Brasileira. A participação de todos os membros é voluntária (não obrigatória e não remunerada) e o único cargo de caráter religioso dentro da igreja local passível de remuneração é o de pastor.

ILUSTRAÇÃO 1

ORGANOGRAMA DE UMA IGREJA BATISTA

FONTE: O autor desta dissertação

Embora o organograma da Igreja Batista se apresente colocando a assembléia como superior ao pastor e demais cargos, é bom lembrar que essa forma se aplica às tomadas de decisões em assembléias. O pastor é o dirigente espiritual e administrativo da igreja. Ele é a pessoa mais influente na estrutura de poder dessa instituição religiosa, onde sua palavra e decisões são determinantes também no andamento e pauta das assembléias.

Sobre o ministério público feminino nas Igrejas Batistas, sempre existiu desde os primórdios da organização, uma vez que no início do trabalho missionário, muitos pastores se deslocavam para determinadas regiões com suas esposas, as quais assumiam ministérios auxiliares, outrora chamados de departamentos, ou então era enviada uma missionária para onde os homens não se sentiam vocacionados a ir. As mulheres nunca foram proibidas, de trabalhar e exercer cargos nas igrejas e organizações, porém lhes eram oferecidos os cargos que as colocavam na condição de leigas e sob a supervisão masculina.

Em sua obra Mulher sem nome: refletindo sobre a figura da mulher do pastor, Dusilek (1995), uma das mais atuantes lideranças femininas batistas do Brasil, afirma:

A esposa de pastor parece, realmente, uma pessoa que lhe esqueceram de dar um nome quando ela nasceu nessa nova família – a de pastores. Raramente pronunciam o seu nome. Mesmo quando ela vai falar ou cantar, alguns irmãos, na sua displicência inocente, apresentam a oradora ou solista, dizendo de quem ela é esposa, falando sobre seus estudos, o que vai falar ou cantar, mas não dizem o seu nome. É uma mulher sem identidade própria. Vive como uma sombra do marido (DUSILEK, 1995, p. 10)

Reproduzindo o padrão geral, como se pode observar, até na forma como funcionava o ministério pastoral, já se denunciava como seria visto o papel da mulher que vive como esposa ao lado de um pastor. O problema se agravaria caso seu cônjuge falecesse, pois muitas

ASSEMBLÉIA

PASTOR

MINISTÉRIOS

esposas de pastores enfrentavam a partir desse momento, grandes dificuldades financeiras, pois os pastores batistas não têm carteira assinada, como em algumas denominações e algumas igrejas não recolhem o auxilio ministerial, que é utilizado para pagar como autônomo o INSS, a fim de aposentadoria no fim da carreira. Geralmente, as igrejas contratavam outro pastor após a morte do titular e acabavam abandonando a família do falecido. Em alguns casos, há até o despejo da casa pastoral, ficando a família da viúva sem ter para onde ir.

A aparente liberdade que julgavam ter as mulheres na Igreja Batista era, na verdade, acompanhada pela visão masculina, uma vez que seu raio de ação estava bem delimitado pelos homens.

As mulheres, nas igrejas, se reúnem para oração, praticam a beneficência, estudam, promovem reuniões de evangelização ou estudo bíblico nas casas, cuidam das crianças e das moças, para as quais também foram criadas sociedades, eventualmente pregam e se dedicam a outras atividades, em geral com grande dedicação (YAMABUCHI, 2009, p. 126).

A pregação feita por uma mulher seria uma função eventual, mas não a principal, porque se referia a uma atividade caracteristicamente masculina, pertencente à função pastoral. Pregar era, portanto, função “sagrada” do homem. O que se percebe é que as mulheres estavam destinadas a ofícios que lidavam com o cuidado maternal e doméstico: ensino, apoio e assistência, o que inclui a dos demais membros da sua igreja. Os homens reforçavam isso através da elaboração de discursos que procuravam naturalizar padrões de gênero, estabelecendo, com isso, relações de poder social e sexualmente hierarquizadas.

Quanto à missionária, figura feminina que existia em algumas denominações antes de a mulher ser cogitada ao pastorado, é o protótipo das atuais pastoras na igreja evangélica tradicional, pode-se assim dizer. O trabalho evangelístico, doutrinário e de discipulado era realizado através do seu desempenho, que sempre se deslocava, aonde geralmente os homens não queriam ir.

Talvez devido às poucas oportunidades dadas a ela, e também pelo amor para com os que se encontravam nas áreas distantes dos centros das cidades ou devido o chamado específico para evangelizar os povos, as missionárias espalharam-se por muitos lugares do Brasil. Na década de 70 há registros na história da Igreja Batista no Brasil da saída da primeira missionária em missões transculturais.

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