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COMPONENTE EMPÍRICA

CAPÍTULO 1 – ASPETOS METODOLÓGICOS

D. Interações sociais com os pares no espaço de convívio no Projeto

1. Análise categorial dos discursos

1.1. Visão sobre as suas relações de amizade

A primeira dimensão de análise prendeu-se com a perceção da criança sobredotada sobre as suas relações de amizade, para isso definimos as seguintes subcategorias de análise:

Número de amigos para as brincadeiras.

Gostos da criança vs. gostos dos amigos.

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Descrição psicológica do melhor amigo.

Características valorizadas na escolha do melhor amigo.

Aspetos que distinguem amigos de melhores amigos.

A análise das unidades de registo significativas relativas às representações dos Entrevistados, sobre esta primeira dimensão de análise, permitiu-nos perceber que as crianças sobredotadas estabelecem relações de amizade que se distinguem em determinados aspetos.

Analisando o discurso número de amigos para as brincadeiras, constatámos que apenas quatro crianças sobredotadas (B, C, F e G), de ambos os sexos, assumem ter muitos amigos para as suas brincadeiras. A Entrevistada D indica que “quase sempre” tem muitos amigos.

As restantes crianças sobredotadas do estudo, igualmente de ambos os sexos, partilham das dificuldades de não terem muitos amigos para as suas brincadeiras. Neste âmbito, a Entrevistada A é perentória em afirmar que tem “mais ou menos” muitos amigos para as suas brincadeiras. Na mesma linha, o Entrevistado E refere ter apenas alguns amigos com quem partilha as suas brincadeiras: “tenho alguns”.

Quando questionados sobre os seus gostos e os dos seus amigos, todos os Entrevistados são unânimes em indicar que partilham gostos com, pelo menos, alguns dos seus amigos. No entanto, a Entrevistada D acrescenta que: “Eu dou-me melhor com os meninos que também têm os mesmos gostos que

eu, gostam das mesmas cores, mas também gosto de ter amigos que gostam de outras coisas para as nossas brincadeiras serem mais variadas.

Ainda a este respeito, a análise das unidades de registo permitiu-nos elencar alguns gostos que as crianças sobredotadas do nosso estudo partilham com os seus amigos: “gosto de desenhar paisagens” (Entrevistada A); “gosto

de estudar, jogar futebol e de brincar às apanhadinhas” (Entrevistado B); “gosto de descobrir coisas novas”; “gosto de saber mais, gosto de ser curiosa”

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pintar. Os meus amigos gostam de... (pausa) brincar comigo, de aprender, eu também gosto” (Entrevistada G).

Mais ainda, da análise dos gostos dos nossos atores neste processo, registámos alguns que caracterizam as crianças sobredotadas: “gosto de estudar” (Entrevistado B); “gosto de descobrir coisas novas”; “gosto de saber

mais, gosto de ser curiosa” (Entrevistada C); “Os meus amigos gostam de... (pausa) brincar comigo, de aprender, eu também gosto” (Entrevistada G).

A partilha de gostos mostra-se assim como um elemento importante na escolha de um amigo. Tendo em conta os interesses particulares das crianças sobredotadas, as dificuldades de relacionamento entre pares surgem devido à dificuldade em encontrarem crianças que compartilhem os seus interesses.

No que concerne à subcategoria existência de melhor amigo, todos os Entrevistados mencionam ter pelo menos um melhor amigo. Somente os Entrevistados D e E referem possuir dois melhores amigos.

Esta subcategoria anterior relaciona-se profundamente com outras duas subcategorias: descrição psicológica do melhor amigo e características

valorizadas na escolha dos melhores amigos, assim torna-se imprescindível

analisar os discursos proferidos pelas crianças sobredotadas a este respeito. Através da análise dos discursos na subcategoria descrição psicológica

do melhor amigo, verificámos que as crianças sobredotadas procuram no(a)

seu(sua) melhor amigo(a):

um(a) companheiro(a) de brincadeiras – “brinca comigo

sempre” (Entrevistado E); “Brinca comigo sempre que eu quero”

(Entrevistado F).

uma pessoa para conversar – “também é inteligente como eu” (Entrevistado E); “também gosta de aprender” (Entrevistada G).

ajuda e incentivo – “sempre que estou triste ela apoia-me” (Entrevistada C); “nunca me deixam sozinha e estão sempre a

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maioria dos meninos não está de acordo comigo ele é o único que está de acordo comigo” (Entrevistado E).

Mais ainda, as crianças sobredotadas indicam como características psicológicas do(a) melhor amigo(a): “muito simpática” (Entrevistada A); “divertido” (Entrevistado B); “simpática e... (pausa) gosta de partilhar” (Entrevistada C); “muito queridas para mim” (Entrevistada D); “brincalhona” (Entrevistada G).

Quando questionadas sobre o que mais gostam no(a) seu(sua) melhor amigo(a), as crianças sobredotadas destacam as seguintes características:

simpático(a): “simpática com toda a gente” (Entrevistada A); “O

serem tão simpáticas” (Entrevistada D); “Ser simpática”

(Entrevistada G).

amistoso(a): “tão minhas amigas” (Entrevistada D); “muito

amigável” (Entrevistado E).

solidário(a)/companheiro(a): “Gosto dela ser solidária... (pausa) em muitos momentos eu posso precisar e ela está sempre lá para me apoiar” (Entrevistada C); “não me deixarem para trás”

(Entrevistada D); “Ele nunca se chateia comigo” (Entrevistado F).

feliz: “estar sempre feliz” (Entrevistado E).

pequenino(a): “É de ser pequenino. Posso dar abraços...” (Entrevistado B).

Cruzando as subcategorias descrição psicológica do melhor amigo e

características valorizadas na escolha dos melhores amigos sobressaem dados

com pertinência para o nosso estudo.

As crianças sobredotadas mostram estabelecer relações mais próximas de amizade com quem partilham interesses e os estimam com sentimentos de aceitação e compreensão, sendo que este último aspeto é sobrevalorizando pelas crianças sobredotadas.

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As ilações que foram sendo feitas corroboram na íntegra com o discurso das crianças sobredotadas na subcategoria aspetos que distinguem amigos de

melhores amigos. Assim, reconhecemos os seguintes aspetos:

Partilha de gostos: “Porque tem gostos mais parecidos com os

meus.” (Entrevistado F)

Com quem passa mais tempo: “Uns são mais chegados e

outros não”; “Alguns eu ando sempre (faz entoação crescente) com eles.” (Entrevistada A); “Anda mais tempo comigo”; “Brinca a maior parte do tempo comigo.” (Entrevistado B); “Porque eles brincam comigo mais vezes.” (Entrevistado E)

Conhecem-se há mais tempo: “Eu distingua porque foi uma

pessoa que eu já tinha conhecido há muito tempo, desde o infantário.” (Entrevistada G)

Apoio:

“Ela é solidária, os outros são pouco, ela é muito... (pausa); Sim, comigo e com

todos os seus amigos. Às vezes na escola eu zango-me com alguns amigos e ela ajuda-me a ultrapassar. Ela brinca comigo e faz com que eu esqueça isso e no dia seguinte já está tudo bem. Já não tou zangada com ninguém.” (Entrevistada C)

Confiança:

“Porque eu não tenho tanta confiança nos amigos menos chegados e porque sei

que lhes posso dizer qualquer coisa sem elas... (pausa) sem elas não contarem a ninguém por exemplo segredos ou assim e contar os meus medos que elas não vão dizer a ninguém.” (Entrevistada D)

Pelo exposto, concluímos que as crianças sobredotadas do nosso estudo desenvolvem amizades especiais com uma ou duas pessoas, com as quais têm interesses em comum.

Mais ainda, torna-se clarividente que enquanto algumas crianças procuram no seu melhor amigo um companheiro de brincadeiras, outras já se encontram num estádio mais complexo das relações, na medida em que para algumas crianças a partilha de interesses constitui um aspeto essencial na escolha de um amigo, a fim de encontrar nele um excelente parceiro de conversas. Enquanto que, para outras crianças, num estádio ainda mais complexo, o melhor amigo tem o papel de oferecer ajuda, apoiar e incentivar.

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